sexta-feira, 6 de abril de 2018

Memorativo da Armada


O encalhe e perda da lancha “Fataça”, da fiscalização da pesca

Sines, 22 - Hoje, pouco depois das 0 horas, a lancha de fiscalização “Fataça”, comandada pelo sr. Segundo-tenente Aldegário Baptista Borges, encalhou nas rochas do cabo de Sines, a 10 metros de terra. Alguns pescadores andavam perto, e um deles, Jacinto Abenta, veio para terra dar conhecimento do que acontecera.
À 1 hora e meia, não tendo a lancha conseguido safar-se pelos próprios meios, foram lançados de bordo foguetes e disparadas rajadas de metralhadora. Dois tripulantes desembarcaram e dirigiram-se ao farol, tomando providências.
As sereias dos bombeiros deram o alarme e seguiu para o local a traineira deste porto “Maria Isabel”, levando como mestre Francisco Maria Pacheco. Seguiram, também, o cabo do mar Manuel André da Silva e os irmãos António e Marques Leonor, que têm sido incansáveis. Toda a população de Sines, supondo outra coisa, veio para a rua.
Àquela hora, não conseguindo ligação telefónica para Setúbal, o delegado marítimo, sr. comandante José Antunes, mandou um táxi para lá no sentido de prevenir as autoridades marítimas e pedir socorros. O sr. delegado marítimo esteve no local até ao amanhecer, bem como os bombeiros, Guarda-fiscal e centenas de populares.
De bordo da “Fataça”, pela T.S.F. foram pedidos socorros para Lisboa e o rádio foi captado pelo barco de pesca de arrasto “Açor”, que se dirigiu ao local mas não conseguiu prestar auxílio, devido à pouca profundidade do mar. De manhã, chegou também ao local o vapor dos pilotos de Setúbal e mais tarde, cerca das 12 horas, a canhoneira “Faro” e o barco de socorros “Altair”.
Aguardaram a preia-mar da tarde para tentar salvar o navio, que já está com rombos e adornado a estibordo. A tripulação, auxiliada por alguns pescadores, começou a retirar coisas de bordo.
Veio a esta vila e esteve no local o sr. capitão do porto de Setúbal, sr. comandante Duarte de Almeida Carvalho.
*
O sr, Ministro da Marinha deu ordem para que o navio patrulha “Santa Maria” seguisse para Sines, a fim de prestar socorro ao “Fataça”.
Este navio, construído no Arsenal, foi lançado à água em Junho de 1945, juntamente com o “Espadilha”, também da fiscalização da pesca.
(In jornal “O Século”, Domingo, 23 de Janeiro de 1949)

Desenho do navio patrulha N.R.P. "Fataça", por Luís Filipe Silva

Características da lancha de fiscalização “Fataça”
Nº Oficial: 55 - Iic: C.T.B.F. - Registo: Lisboa
Construtor: Arsenal de Marinha, Lisboa, Junho de 1945
Arqueação: Tab 274,04 tons - Tal 60,90 tons
Dimensões: Pp 41,00 mts - Boca 6,50 mts - Pontal 4,86 mts
Propulsão: 1:Di - 2:Tp - 7:Ci - Velocidade: 17 milhas/ hora
Armamento: 2 metralhadoras «Oerlinkons» de 20 m/m
Armamento: 2 metralhadoras «Dreyse» de 7,92 m/m
Guarnição: 5 oficiais, 8 sargentos e 18 praças

Encalhou a lancha “Fataça”, que se considera perdida
Em Sines, encalhou a lancha “Fataça”, da fiscalização da pesca.
O navio considera-se perdido e não houve desastres pessoais.
(In jornal “Comércio do Porto”, segunda-feira, 24 de Janeiro de 1949)

O encalhe da lancha “Fataça”
Continua na mesma posição, encalhado sobre uns rochedos, a 10 metros da praia de Sines, a lancha de fiscalização da costa “Fataça”, do comando do sr. tenente Baptista Borges. Junto dela, encontram-se varias embarcações, algumas delas idas de Lisboa, com pessoal do Arsenal de Marinha.
Não se perderam ainda as esperanças de salvar a lancha, apesar disso constituir tarefa difícil. O rebocador “Cabo da Roca” já regressou a Lisboa, visto que os navios que se encontram no local do sinistro têm capacidade para safar a “Fataça”, no caso de tal ser possível.
As condições do mar melhoraram consideravelmente, tendo o navio sido aliviado de peso. A tripulação encontra-se a bordo em permanente contacto com o delegado marítimo, sr. tenente José Antunes e com outras autoridades marítimas.
(In jornal “Comércio do Porto”, terça-feira, 25 de Janeiro de 1949)

A lancha “Fataça” continua na mesma posição
Apesar dos esforços empregados pelo pessoal do Arsenal do Alfeite no sentido de a fazer reflutuar, mantém-se ainda sobre os rochedos onde encalhou, a 10 metros da praia de Sines, a lancha de fiscalização da costa “Fataça”.
Ontem, de manhã, alguns mergulhadores tentaram verificar a extensão dos rombos, o que não puderam fazer visto os rochedos terem penetrado no casco, encobrindo-os.
O estado do mar voltou a piorar o que dificulta os trabalhos, embora não tenha ainda sido posta de parte a ideia de salvar o navio. Para esse efeito, foi nomeado o sr. Capitão-tenente Júlio Ferreira David, para dirigir os trabalhos de tentativa de desencalhe.
(In jornal “Comércio do Porto”, quarta-feira, 26 de Janeiro de 1949)

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