domingo, 8 de abril de 2018

História trágico-marítima (CCXLVIII)


O ataque e afundamento do vapor “Dago”, ao largo de Peniche

Foi afundado o vapor inglês “Eagle” (?) tendo sido salvos
trinta e sete náufragos, cinco dos quais estão feridos
Ontem, pelas 8 horas, o Posto Semafórico do Cabo Carvoeiro solicitou para Peniche a saída do barco salva-vidas a fim de ir em auxílio de duas baleeiras, que tinham a bordo náufragos de um vapor inglês, que pouco antes tinha sido sobrevoado por um avião trimotor, e afundado à bomba ao largo da costa.
Pouco depois saiu de Peniche o salva-vidas “Sousa e Faro”, dirigindo-se ao local indicado pelo Posto Semafórico, encontrando as duas baleeiras com 37 náufragos, cinco dos quais se encontravam feridos. Dando-lhes reboque, conduziu as baleeiras para Peniche, onde desembarcou os náufragos.
Pelas declarações daqueles tripulantes, soube-se que eles faziam parte da equipagem do vapor inglês “Eagle”, que foi afundado por um avião inimigo, depois de ter sobrevoado o referido navio, antes de o meter no fundo, durante hora e meia.
Os cinco náufragos feridos foram conduzidos ao Hospital da Misericórdia de Peniche. Três deles foram pensados por ferimentos leves e os outros dois ficaram hospitalizados, apresentando um destes a perna fracturada e o último ferimentos graves numa perna, pelo que teve de ser operado pelo sr. dr. Ernesto Moreira.
Os restantes náufragos hospedaram-se nas pensões Central e Peninsular, ficando entregues aos cuidados do vice-cônsul da Inglaterra.
(In jornal “Comércio do Porto”, segunda-feira, 16 de Março de 1942)

Os náufragos do vapor inglês afundado ao largo
da costa, chegaram, ontem, a Lisboa
Chegaram, ontem, ao fim da tarde, a Lisboa, vindos de Peniche, os náufragos do vapor inglês que foi afundado por um avião ao largo da costa, em frente do Cabo Carvoeiro. Em Peniche, antes de entrarem para a caminheta que os transportou a Lisboa, foi-lhes oferecido conhaque e tabaco.
O navio afundou-se entre 5 a 6 minutos, tendo os tripulantes, apenas, tido tempo para se meterem nas baleeiras.
No hospital de Peniche ficaram hospitalizados os dois náufragos que ali recolheram, ante-ontem. O capitão e mais três oficiais estiveram na capitania do porto de Lisboa a prestar declarações.
(In jornal “Comércio do Porto”, terça-feira, 17 de Março de 1942)

Foto do vapor "Dago" publicada previamente no blog «Pinturas
em Peniche», assinada pelo Sr. Francisco Germano Vieira

Características do vapor inglês “Dago”
Armador: Ellerman’s Wilson Line Ltd., Hull, Inglaterra
Nº Oficial: N/d - Iic: T.K.C.R. - Porto de registo: Hull
Construtor: Caledon Sb. & Engineering Co., Ltd., Dundee, 1902
Arqueação: Tab 1.757,00 tons - Tal 1.057,00 tons
Dimensões: Pp 90,22 mts - Boca 11,33 mts - Pontal 5,28 mts
Propulsão: Do construtor - 1:Te - 3:Ci - 196 Nhp
Equipagem: 37 tripulantes

Mereceu a gratidão do povo da Grã-Bretanha a abnegação
com que os pescadores de Peniche salvaram os náufragos
do “Dago”, afundado ao largo da costa portuguesa
Londres, 18 – O jornal Times publica um longo telegrama do seu correspondente em Lisboa, sobre o magnífico trabalho de salvamento realizado por um salva-vidas português, que conseguiu trazer para terra 37 tripulantes do navio britânico afundado por um bombardeiro alemão, ao largo de Peniche, no Domingo.
O correspondente exalta a coragem da tripulação do salva-vidas, que se arriscou a um mar encapelado a fim de ir ao encontro dos escaleres do navio afundado, um dos quais foi trazido para a praia por pescadores, que se meteram à água para evitar que ele se voltasse. Caíra já a noite e a cena foi iluminada pelos projectores dos bombeiros locais.
A notícia de que, mais uma vez, marinheiros britânicos são salvos da morte por pescadores portugueses, despertou a mais profunda gratidão do povo da Grã-Bretanha. A mútua herança de grandes e gloriosas tradições marítimas é um dos muitos laços que ligam a Grã-Bretanha a Portugal e a circunstância de que muitos marinheiros britânicos devem a sua vida hoje aos marinheiros portugueses, tornará esses laços mais fortes. De resto há ainda maior admiração pela especial coragem que foi precisa nas circunstâncias deste último salvamento.
No decorrer desta guerra selvagem, um salva-vidas português recolheu 37 marinheiros britânicos, que sem esse socorro afogar-se-iam. Acentua-se, aqui, que, numa época em que a destruição domina os sete mares, é reconfortante saber que existe ainda uma costa na qual se pratica o antigo código do mar e são respeitados os princípios da humanidade.
(In jornal “Comércio do Porto”, quinta-feira, 19 de Março de 1942)

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