quarta-feira, 30 de março de 2016

Histórias do mar português!


Vicissitudes do mar

Desenho de um patacho, sem correspondência ao texto

O patacho “Maria Camila” da praça de Lisboa, pertencente ao sr. José Maria Camilo de Mendonça navegava de Santos para Falmouth a receber ordens e com um carregamento completo de café.
No dia 8 de Dezembro, na altura da ilha das Flores e depois de 49 dias de viagem sofreu um tremendo temporal de O e ONO (Oeste e Oeste-Noroeste). A violência do vento e a fúria das ondas aterraram por tal modo a tripulação, que, julgando-se perdida, prometeu a vela de estai do convés a Nossa Senhora da Bonança, se pudesse escapar a tão medonho temporal.
Nesta ocasião o patacho deitava doze milhas por hora só com o velacho nos últimos rinzes e um punho do traquete.
Abonançando o tempo e estando já sossegada a tripulação, foi avistado um bote carregado com 17 pessoas, lutando com as ondas ainda encapeladas. Era a tripulação de uma galera inglesa que se submergira na véspera em consequência do temporal.
O sr. António Sabino Gonçalves, capitão do patacho, logo que avistou os pobres náufragos, tratou imediatamente de os salvar e recebeu-os a bordo.
Infelizmente, tornando-se os ventos ponteiros e prolongando-se a viagem, os mantimentos e aguada começaram a faltar. Quando faltaram de todo, a tripulação do patacho e a tripulação naufragada viam-se em grande apuro e cruel aflição.
Depois de vinte e dois dias de cruelíssímas privações, os últimos dos quais haviam já desesperado todos os maritímos, chegou o “Maria Camila” a Falmouth com a sua tripulação e a da galera inglesa, extenuadas de forças e quase mortas de fome e de sede.
(In jornal “Comércio do Porto”, sábado, 18 de Janeiro de 1862)

Sem comentários: