segunda-feira, 28 de março de 2016

História trágico-marítima (CLXXXVI)


O encalhe do vapor " Beiriz "

Pelas 12 horas do dia 31 de Agosto de 1933, depois de demandar a barra do Douro, seguindo rio acima com destino ao fundeadouro, devido ao nevoeiro desviou-se do canal, encalhando na areia, em frente a Sobreiras e muito próximo de terra. Para o local avançaram logo os rebocadores “Mars 2º” e o “Lusitânia”, que não chegaram a prestar serviço, pelo motivo do navio não correr perigo. No entanto os rebocadores conservaram-se por algum tempo fundeados no local na eventualidade de, ainda, se revelarem necessários.
Como depois de alguns esforços feitos com as máquinas do próprio vapor, e com muitas espias lançadas pela popa se tivesse verificado ser impossível nesse momento o seu desencalhe, tanto mais que a maré vazava, foi resolvido proceder-se ao alívio de alguma carga, utilizando-se para o efeito algumas barcaças, que ficaram atracadas à proa e à popa. O trabalho de descarga, que principiou às 14 horas, terminou próximo à preia-mar da noite. Depois deu-se início a novas tentativas para o desencalhe, sem sucesso.
Contudo não se descansou; esperou-se pela preia-mar e, às 11 horas e meia da noite, com o auxílio das máquinas do próprio navio e com espias passadas à popa, obrigaram o vapor a endireitar-se ao canal, conseguindo-se assim safar-se do banco de areia e seguir para o seu fundeadouro, no Vale da Piedade, a Massarelos, sem mais novidade. Durante a noite foi alijada muita carga do barco.
As manobras foram dirigidas pelo Sota-piloto-mor, Sr. António Matos e pelos Cabos dos pilotos Srs. Alexandre Meireles e Pereira, coadjuvados por alguns pilotos. Também prestaram serviços as lanchas motores da Corporação.
O vapor “Beiriz” procedia de Hamburgo com carga geral para o Porto e Lisboa, bem como mercadoria com destino a África, a ser transbordada em Lisboa. O navio é representado pela Sociedade Mercantil e Industrial, sita à rua Infante D. Henrique, na cidade do Porto.
(In jornal “Comércio do Porto”, sexta, 1 de Setembro de 1933)

Imagem do vapor "Beiriz"
Desenho de Luís Filipe Silva

Características do vapor “Beiriz”
1932-1936
Armador: Companhia Atlântica de Navegação, Lda.
Nº Oficial: 480-F - Iic: C.S.F.I. - Porto de registo: Lisboa
Construtor: Wood Skinner & Co Ltd., Newcastle, Escócia, 05-1902
ex “Paris”, London & Paris S.S. Co Ltd., Swansea, 1902-1912
ex “Willy”, W.H. Berhuys Coal Trade, Amesterdão, 1912-1932
Arqueação: Tab 1.275,85 tons - Tal 739,97 tons
Dimensões: Pp 76,58 mts - Boca 9,82 mts - Pontal 5,32 mts
Propulsão: Northeast M.E., Newcastle, 1902 - 1:Te - 1.100 Nhp
Equipagem: 22 tripulantes

Vapor adquirido em 1932, foi a primeira unidade a integrar a frota da Companhia Atlântica, com o objectivo de estabelecer um serviço regular de transporte de mercadorias entre Portugal e portos do Norte da Europa, designadamente Antuérpia, Roterdão e Hamburgo.
No dia 1 de Agosto de 1932, os agentes no Porto mandaram publicar o primeiro anúncio relacionado com a viagem inaugural do vapor, entrando posteriormente em Leixões no dia 3 de Agosto. No dia seguinte, o vapor, sob o comando do capitão Sr. Brito, deixou o porto com destino a Antuérpia e Hamburgo.
Acabou vendido para demolição a A. Andrade & Cª., de Lisboa, no último trimestre de 1936.

O caso do vapor “Beiriz”
A Capitania do porto de Lisboa não recebeu qualquer comunicação
de Tenerife sobre a fuga, dali, do navio português
A Capitania do porto de Lisboa ainda não recebeu qualquer comunicação das autoridades marítimas de Tenerife sobre o caso passado com o vapor “Beiriz”, que desapareceu daquele porto sem que fossem pagas às autoridades marítimas locais as despesas regulamentares.
O vapor é propriedade da Companhia Atlântica de Navegação, Limitada, a que pertence, também, o vapor “Aviz”, que se encontra fundeado no «mar da palha», próximo à Cova da Piedade, navio onde têm sido praticados sucessivos roubos.
O “Beiriz”, devido a dificuldades financeiras da Companhia, estava entregue ao Tribunal do Comércio, por falta de pagamento de várias contas a credores. Consentiu o Tribunal que o vapor fizesse uma viagem a Las Palmas, para levar com o seu material os elementos duma companhia que apresentou várias atracções no Luna-Parque. Segundo parece, o caso tem de ser tratado pelas vias diplomáticas.
O “Beiriz” deve chegar ao Tejo durante a próxima semana.
(In jornal “Comércio do Porto”, sexta, 17 de Janeiro de 1936)

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