segunda-feira, 7 de março de 2016

História trágico-marítima (CLXXXV)


A explosão e afundamento do couraçado "Aquidabã"


A explosão a bordo do couraçado brasileiro “Aquidabã”,
na enseada de Jacuecanga, perto de Angra dos Reis
Rio de Janeiro, Janeiro 21 – Os cruzadores “Almirante Barroso” e “Tiradentes” e o couraçado “Aquidabã” estavam na enseada de Jacuecanga, perto de Angra dos Reis, tendo conduzido a missão de estudar o local para o porto militar e o novo Arsenal de Marinha. Esta comissão era composta por oficiais superiores da armada e o próprio ministro da marinha, Vice-almirante Noronha, estava a bordo do “Almirante Barroso”.
O “Aquidabã” servia de dormitório a muitos oficiais superiores e entre eles os almirantes Rodrigo Rocha, Cândido Brazil, Calheiros da Graça, capitão de mar-e-guerra Alves de Barros, dois capitães de corveta, capitão Santos Porto, sub-chefe da casa militar do presidente da República, Ribeiro da Silva, lente da Escola Naval, o comandante do navio, capitão-de-fragata Serra Pinto, o imediato, capitão-de-corveta Luiz de Noronha, doze 2ºs tenentes e guardas-marinhas, oito oficiais maquinistas e doze ajudantes e praticantes de máquinas, sendo de 400 homens toda a tripulação, dos quais pereceram com os oficiais acima citados 223, isto em virtude da explosão do paiol do couraçado, pelas 10 horas e meia da noite.
De bordo dos outros navios não puderam fazer mais do que a salvação dos que por milagre não foram mortos pela explosão e que andavam nadando desesperadamente, estando entre eles alguns gravemente feridos que foram recolhidos ao cabo de muitos esforços. O couraçado submergiu-se em cinco minutos. Foram ordenadas exéquias nacionais. O Brasil esta de luto e nós, portugueses, estamos com ele de alma e coração na sua dor como costumamos estar nas suas alegrias.
O “Aquidabã” foi construído em 1882 pela casa Brothers de Londres e tinha as seguintes dimensões: comprimento 250 pés (76,20 mts), boca 52 pés (15,85 mts), pontal 27 pés (8,23 mts), com deslocamento de 5.000 toneladas. Custara 345.000 libras esterlinas e foi o navio a bordo do qual Custódio de Mello comandou a insurreição no tempo do governo de Floriano Peixoto.
(In “Ilustração Portuguesa”, 29 de Janeiro de 1906)

A explosão a bordo do couraçado "Aquidabã"
(Gravura na Ilustração Portuguesa, Nº 117 de 29.1.1906)
A catástrofe do “Aquidabã”
O ilustre cônsul do Brasil no Porto tomou a iniciativa de promover um espectáculo num dos teatros da cidade, cujo produto reverterá em favor das famílias dos marinheiros que pereceram na catástrofe.
Está assente que as exéquias se verifiquem na igreja da Trindade, em 21 de Fevereiro próximo, 30º dia após a pavorosa hecatombe.
Pelo comando da 3ª divisão militar foi dirigido ao sr. dr. Alberto Conrado um ofício de condolências, em nome do sr. general Luciano Cibrão e no da divisão militar do seu comando. Os srs. comandante e oficiais do 2º grupo de artilharia 5, aquartelados na Serra do Pilar, também enviaram pêsames.
Foram recebidos no consulado ofícios de varias colectividades e estiveram ali apresentando sentimentos pela grande desgraça que enlutou o Brasil, o presidente do Centro Comercial sr. Ezequiel Vieira de Castro, cônsul do México, vice-cônsules da França, da Bélgica e da Espanha; generais srs. Luciano Cibrão e Guedes Bacelar, coronel de artilharia sr. Brandão de Melo, administrador do bairro ocidental, etc.
O ministro do Brasil em Lisboa transmitiu ao sr. dr. Alberto Conrado as informações que sobre a catástrofe recebeu do ministro do exterior, que são, em parte identicas às recebidas por telegrama, já publicadas.
- A Sociedade de Beneficência Brasileira no Porto recebeu do ministro do Brasil em Lisboa o seguinte despacho:
«Agradeço e retribuo, vivamente penhorado, os sentimentos manifestados no vosso telegrama de ontem pelo motivo da nossa grande desgraça nacional». (ass.) Alberto Fialho
(In jornal “Comércio do Porto”, sábado, 27 de Janeiro de 1906)


A catástrofe do “Aquidabã”
Lisboa, 27 - Tem continuado a afluência de pessoas à legação e consulado do Brasil a fim de apresentar os seus pêsames.
Por comunicação oficial recebida hoje na legação, sabe-se que morreram na catástrofe do “Aquidabã”, os seguintes oficiais: 1ºs tenentes Jovino Dias e Valle Cabral; 2º tenente Moraes Silva; guardas-marinhas Celestino Cardoso, Magalhães Braga, Moraes silva, Horácio Guimarães, Óscar Suzano, Mário Noronha, Óscar Vianna, Dias Aguiar, Pereira Camargo e Arruda Câmara; sub-comissário Costa Pereira, farmacêutico Luiz Santos; maquinistas Luiz Santa Anna, Gomes da Silva, Gonzaga de Souza e Eneias Cadaval.
Feridos ou queimados e que se encontram em tratamento: médico Prudêncio Brandão; capitão-tenente Benjamim Goulart; 1ºs tenentes Luiz Belart, Raul Daltro e Guilherme Ricken; 2ºs tenentes Gonçalves Camillo e Cunha Lima; e maquinista Barbosa Sant’Anna. O único oficial que ficou ileso, tendo-se salvo a nado, foi o 2º tenente Raul Rosse.
A comissão da colónia brasileira reuniu hoje no consulado, resolvendo que a subscrição entre a colónia continue aberta até 10 de Fevereiro. As exéquias no Rio de Janeiro são no dia 21 de fevereiro.
(In jornal “Comércio do Porto”, sábado, 27 de Janeiro de 1906)

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