quarta-feira, 7 de julho de 2010

Pérolas...


Acredite, se quiser !

O capitão preto seguiu hoje no “Navegante II”, para a Terra Nova, a comandar uma tripulação de brancos.
(In “Jornal do Pescador”, 1949)

O tal capitão preto, que mereceu um tratamento desnecessário, impróprio e repulsivamente xenófilo, foi contratado pela empresa de João Maria Vilarinho, para comandar o referido navio. Chama-se João Tavares Juff Ramos e era natural de Cabo Verde.
Reparamos que foi extremamente infeliz nesta sua viagem à Terra Nova em 1949, pois por lá teve a infelicidade de perder o seu navio no dia 25 de Agosto, por motivo de mau tempo.
Talvez tenha sido essa a razão deste seu primeiro e único embarque nos navios da pesca longínqua. Assim, de episódio em episódio, tentamos reconstruir um pouco da história da grande epopeia dos bacalhoeiros.

1 comentário:

Rui Amaro disse...

Caro Reinaldo
Ao ler o teu post sobre o capitão Juff, fez-me relembrar um pequeno episódio, que presenciei por volta de 1950, num Domingo, e em que foi protagonista um piloto de raça Africana, que fazia parte da equipagem do lugre MARIA FREDERICO atracado no topo Oeste da doca nº 1 do porto de Leixões, que viera aliviar carga e aguardar melhor maré na barra de Aveiro, e que certamente era mesmo o capitão João Tavares Juff Ramos.
Como te deves lembrar naqueles tempos, o porto de Leixões era facultado a visitas sem restrições, fosse de dia, à noite ou mesmo de madrugada, pagava-se nas várias portarias uma coroa ($50) e podia-se permanecer dentro das docas o tempo que se quisesse, e se saísse para ir ao café próximo e regressasse à doca, o mesmo bilhete era válido, o que agora “infelizmente” é impensável, nem para entusiastas de navios e fotógrafos amadores. No molhe Sul era de borla, e de lá tirei milhentas de fotos de navios. Aos Sábados e Domingos os cais de Leixões ficavam enxameados de visitantes e até os comandantes facultavam a visita aos seus navios, até parecia que os paquetes como o ANGOLA, PÁTRIA, NOVA LISBOA, COLONIAL, NIASSA, UIGE, HILDEBRAND e muitos outros já estavam de largada com tanto visitante a bordo. Já agora em pequenos navios de carga, por vezes algum oficial mais malandreco accionava o sinal de alarme de exercício de salvamento, e então os visitantes ficavam em pânico, ao verem a tripulação equipada de coletes em correria desenfreada, a saltar para as baleeiras, forquetas e remos prontos a actuar, baleeiras suspensas nos turcos, etc. Aconteceu-me isso no Ellerman’s PALMELIAN e no Woerman’s TRANSVAAL, está claro que alguns tripulantes acalmavam os visitantes, dando uma explicação para o caso, que era deveras incomodativo.
Mas voltando ao motivo do meu comentário, acontece que aquele oficial náutico de estatura mediana mas um pouco anafado e de sotaque Ilhavense, que espairecia em terra junto ao seu lugre, fora interpelado por visitantes do porto de Leixões, gente da província, que o questionavam acerca daqueles pequenos barquinhos, empilhados no convés daquela “caravela” de costado com muita falha de tinta branca, e ao dizer-lhes qual era a sua patente a bordo, ficaram muito surpreendidos por um individuo de cor preta ser oficial do navio, muito possivelmente era o seu imediato, quase que duvidavam do que ele lhes tinha divulgado. Então o cavalheiro de cor preta, disse-lhes que na Marinha Mercante Portuguesa haviam muitos mais oficiais da sua raça, nomeadamente no arquipélago de Cabo Verde, o que não deixava de ser verdade, pois no consulado de Salazar houve intenções de lá se abrir uma escola náutica para formação de oficiais Cabo-verdianos. Aliás conheci alguns, e mais tarde na minha actividade de empregado de agência de navegação, encontrei oficiais e marinheiros da potencial marinha mercante Holandesa, apesar da sua nacionalidade Portuguesa, e que eram muito bem aceites por armadores do Benelux.
Saudações marítimo-entusiásticas
Rui Amaro