sexta-feira, 24 de agosto de 2018

História trágico-marítima (CCLXIII)


O encalhe do vapor "Açor", no rio Douro

Vapor “Açor”
Cerca das 2 horas da tarde de ante-ontem, vindo a entrar a barra o vapor português “Açor”, procedente das ilhas dos Açores, por Lisboa, com vários géneros e consignado aos srs. W. e Geo. Tait, guinou ao sul e bateu nas pedras denominadas «Folga-manada», abrindo água.
Largou um ferro e ciou a toda a força à ré, até que veio outra vez para o canal, suspendeu o ferro e seguiu barra dentro, vindo fundear em Santo António do Vale da Piedade, onde encalhou ontem para examinar os rombos e uma chapa que tem aluída.
(Jornal “Comércio do Porto”, sexta-feira, 29 de Março de 1895)

Imagem do vapor "Açor"
Desenho de Luís Filipe Silva

Características do vapor “Açor”
1877-1905
Armador: Empresa Insulana de Navegação, Lisboa
Nº Oficial: N/d - Iic: H.G.K.S. - Porto de registo: Lisboa
Construtor: Earle’s Shipbuilding Co., Ltd., Hull, 1877
Arqueação: Tab 1.204,17 tons - Tal 753,36 tons
Dimensões: Pp 72,63 mts - Boca 9,26 mts - Pontal 7,90 mts
Propulsão: 1 motor compound - 180 Ihp - 11,5 m/h

Vapor “Açor”
Este navio, que sofreu vários rombos quando vinha a entrar a barra, por motivo de ter batido nas pedras «Folga-manada», foi ontem vistoriado por peritos em Santo António do Vale da Piedade, onde se acha fundeado, informando o respectivo mergulhador que o vapor tem quatro rombos no costado, a estibordo, debaixo dos tanques de lastro, rombos que vão ser vedados com cunhas de madeira para depois ser esvaziada a água dos tanques, permitindo examinar as avarias sofridas e resolver as reparações a executar.
A carga está toda descarregada e não sofreu avaria.
(Jornal “Comércio do Porto”, sábado, 30 de Março de 1895)

O vapor “Açor”
Está praticamente concluída a vedação da água, que entrava pelas fendas nas chapas do costado do vapor “Açor”. Esperam que hoje fique completamente vedado, provisoriamente.
Depois de passar o tempo necessário para o cimento estar perfeitamente petrificado, o vapor seguirá para Lisboa ou Cadiz, a fim de receber novas chapas de ferro.
O sinistro sofrido pelo vapor “Açor” torna cada vez mais evidente a necessidade de ser construído o dique de reparações projectado para o porto de Leixões.
O dique de Cadiz está sendo constantemente utilizado por vapores que precisam de reparações, limpeza do fundo, etc., e por isso um dique em Leixões deveria ser também muito procurado para o mesmo fim. Basta mencionar que muitos vapores portugueses, quando precisam de limpar o fundo têm de ir a Cadiz, resultando em despesa e sacrifícios.
(Jornal “Comércio do Porto”, segunda-feira, 1 de Abril de 1895)

O vapor “Açor”
Este vapor, que já se acha provisoriamente reparado das avarias que sofreu quando entrou a barra do rio Douro, talvez saia depois de amanhã para Lisboa, indo para o dique do Arsenal da Marinha, a fim dali ser devidamente reparado.
Hoje realizar-se-á uma vistoria ao vapor, para ser verificado se está em condições de seguir para o Tejo.
(Jornal “Comércio do Porto”, terça-feira, 2 de Abril de 1895)

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