A chegada do aviso “Gonçalo Velho” a Lisboa
1ª Parte
Imagem da cerimónia do bota-abaixo do aviso "Gonçalo Velho"
em Hebburn-on-Tyne, 1933. Foto da colecção de Kevin Blair
em Hebburn-on-Tyne, 1933. Foto da colecção de Kevin Blair
O “Gonçalo Velho” entrou no Tejo
Milhares de pessoas têm admirado a nova
unidade da Marinha de Guerra Portuguesa
O acontecimento do dia em Lisboa foi a chegada do “Gonçalo Velho”, navio simbólico que marca na verdade o início prático do ressurgimento naval nacional.
Para Cascais foi ontem de tarde e hoje de manhã uma romaria contínua de gente desejosa de ver o navio cuja linha moderna e aspecto alteroso, lhe emprestam a silhueta de um vaso de guerra do nosso tempo.
Hoje de manhã veio a Lisboa o comandante do navio sr. capitão-de-fragata Francisco Luiz Rebelo, que esteve no Ministério da Marinha a receber instruções, após o que seguiu novamente para Cascais.
Durante toda a manhã seguiram para a barra, vapores, rebocadores, pequenas embarcações e alguns iates dos clubes náuticos completamente cheios de gente, indo em alguns deles bandas de música e charangas.
Na baía de Cascais o movimento começou pelas 12 horas. Aprestavam-se numerosos barcos que deveriam pouco depois tomar o cortejo de honra. Na praia e no passeio Maria Pia iam engrossando sempre os grupos de curiosos. Muitos dos edifícios estavam embandeirados. Via-se um interesse manifesto pelo acontecimento.
Seriam 13 horas quando surgiram os primeiros aviões voando a grande altura. A chaminé elegante do “Gonçalo Velho” já fumegava. Havia azafama a bordo. Dentro em pouco o navio ia largar, para a entrada triunfal no Tejo, em cujas margens milhares de pessoas o esperavam.
Para Cascais foi ontem de tarde e hoje de manhã uma romaria contínua de gente desejosa de ver o navio cuja linha moderna e aspecto alteroso, lhe emprestam a silhueta de um vaso de guerra do nosso tempo.
Hoje de manhã veio a Lisboa o comandante do navio sr. capitão-de-fragata Francisco Luiz Rebelo, que esteve no Ministério da Marinha a receber instruções, após o que seguiu novamente para Cascais.
Durante toda a manhã seguiram para a barra, vapores, rebocadores, pequenas embarcações e alguns iates dos clubes náuticos completamente cheios de gente, indo em alguns deles bandas de música e charangas.
Na baía de Cascais o movimento começou pelas 12 horas. Aprestavam-se numerosos barcos que deveriam pouco depois tomar o cortejo de honra. Na praia e no passeio Maria Pia iam engrossando sempre os grupos de curiosos. Muitos dos edifícios estavam embandeirados. Via-se um interesse manifesto pelo acontecimento.
Seriam 13 horas quando surgiram os primeiros aviões voando a grande altura. A chaminé elegante do “Gonçalo Velho” já fumegava. Havia azafama a bordo. Dentro em pouco o navio ia largar, para a entrada triunfal no Tejo, em cujas margens milhares de pessoas o esperavam.
De Cascais ao Arsenal
O “Gonçalo Velho” suspendeu do ancoradouro pouco antes das 14 horas, assistindo à partida o sr. Presidente da República, de uma das janelas da Cidadela.
Formou-se então o grande cortejo de embarcações de todas as formas e tamanhos, apinhados de gente, navegando à frente o novo vaso de guerra com as peças desencapadas. De terra acenavam muitos lenços brancos e ouviam-se vivas à Pátria, à República e à Armada.
O cortejo que oferecia um aspecto soberbo, sempre acompanhado por esquadrilhas de aviões militares e navais fez-se de rumo à barra, onde foi engrossado com outros barcos que ali o esperavam. Por todas as praias e outros pontos das margens, milhares de pessoas aglomeravam-se admirando o belo espectáculo do mar de que foi teatro hoje o estuário do rio Tejo.
Eram dezenas e dezenas de embarcações embandeiradas, donde saíam a cada momento saudações entusiásticas, de mistura com os acordes da Maria da Fonte e de marchas militares, que as charangas de bordo executavam. Em frente da Torre de Belém quando a artilharia do “Gonçalo Velho” troou, o entusiasmo atingiu o auge. O cortejo abrandou a marcha e o aviso esteve por vezes quase cercado de embarcações. Depois lá seguiram todos de novo rio acima. Quando o “Gonçalo Velho” chegou em frente do Arsenal, as guarnições de todos os navios da esquadra formaram em continência, içando-se em todos os mastros sinais de saudação.
O novo navio descreveu uma curva elegante e foi passar junto da fragata “D. Fernando II e Glória”, o mais velho navio da Armada Nacional. Houve novas continências e o “Gonçalo Velho” amarrou por fim à bóia que lhe estava destinada em frente do Terreiro do Paço e pela proa do “Patrão Lopes”.
Formou-se então o grande cortejo de embarcações de todas as formas e tamanhos, apinhados de gente, navegando à frente o novo vaso de guerra com as peças desencapadas. De terra acenavam muitos lenços brancos e ouviam-se vivas à Pátria, à República e à Armada.
O cortejo que oferecia um aspecto soberbo, sempre acompanhado por esquadrilhas de aviões militares e navais fez-se de rumo à barra, onde foi engrossado com outros barcos que ali o esperavam. Por todas as praias e outros pontos das margens, milhares de pessoas aglomeravam-se admirando o belo espectáculo do mar de que foi teatro hoje o estuário do rio Tejo.
Eram dezenas e dezenas de embarcações embandeiradas, donde saíam a cada momento saudações entusiásticas, de mistura com os acordes da Maria da Fonte e de marchas militares, que as charangas de bordo executavam. Em frente da Torre de Belém quando a artilharia do “Gonçalo Velho” troou, o entusiasmo atingiu o auge. O cortejo abrandou a marcha e o aviso esteve por vezes quase cercado de embarcações. Depois lá seguiram todos de novo rio acima. Quando o “Gonçalo Velho” chegou em frente do Arsenal, as guarnições de todos os navios da esquadra formaram em continência, içando-se em todos os mastros sinais de saudação.
O novo navio descreveu uma curva elegante e foi passar junto da fragata “D. Fernando II e Glória”, o mais velho navio da Armada Nacional. Houve novas continências e o “Gonçalo Velho” amarrou por fim à bóia que lhe estava destinada em frente do Terreiro do Paço e pela proa do “Patrão Lopes”.
À saída da baía de Cascais
Eram 14 horas e dez minutos quando o “Gonçalo Velho” levantou ferro. O aviso marchou para o sul a toda a força e o “Cabo Raso” da Administração do porto de Lisboa perseguiu-o durante algum tempo. Depois de uma larga volta, o “Gonçalo Velho” enfiou pela barra Sul. Já nessa altura era seguido e ladeado por cerca de duas dezenas de barcos, embandeirados, carregados de estudantes, de senhoras, de gente de todas as categorias. À medida que se ia aproximando de Lisboa o cortejo ia engrossando.
Em frente de Belém
Ao chegar em frente de Belém, às 15 horas e trinta e cinco minutos o número de barcos era já superior a 30. As sirenes e os apitos não cessavam e de bordo dos rebocadores soltavam-se vivas e acenavam com lenços. O primeiro avião a aparecer sobre o “Gonçalo Velho” foi o «juncker’s» de Plácido de Abreu, que descreveu caprichosa acrobacia. Depois, mais cinco aparelhos da Aviação Noval e mais uma dezena do exército e da marinha.
Durante todo o trajecto magotes de populares estacionavam à beira do rio, sobretudo na margem Norte. Junto da Torre de Belém, havia algumas centenas de pessoas. De bordo fez-se o rebentar do foguete e morteiros foram lançados em terra.
Durante todo o trajecto magotes de populares estacionavam à beira do rio, sobretudo na margem Norte. Junto da Torre de Belém, havia algumas centenas de pessoas. De bordo fez-se o rebentar do foguete e morteiros foram lançados em terra.
No Terreiro do Paço
Às 15 horas e quarenta e cinco minutos o “Gonçalo Velho”, que já deixara muito para trás todo o cortejo fluvial, passou em frente do Terreiro do Paço. Os barcos de carreira de Cacilhas, que iam cheios de passageiros aclamavam entusiasticamente os tripulantes do navio de guerra. Às 15 horas e quarenta e sete minutos trocaram-se as salvas de estilo entre os canhões da fragata “D. Fernando” e as peças anti-aéreas do “Gonçalo Velho”.
Os marinheiros da “Sagres” formaram nas vergas enquanto a charanga de bordo tocava o hino nacional. As guarnições de todos os outros navios de guerra formaram nas toldas soltando «hurras» à passagem do “Gonçalo Velho” entre toques militares.
O aspecto que ofereciam o Terreiro do Paço e as imediações era surpreendente. Milhares e milhares de pessoas contemplavam o novo navio de guerra, que parou em frente à Praça do Comércio a pouca distância de terra às 16 horas entre o ensurdecedor e prolongado ruído de sirenes e apitos.
Um enxame de barcos que rodeavam o “Gonçalo Velho”, todos eles cheios de gente que aclamava a tripulação e o Governo, distinguindo-se nas manifestações a academia. A primeira entidade oficial a entrar no “Gonçalo Velho” foi o sr. Segundo-tenente Castro e Silva, representante do chefe das forças navais surtas no Tejo. Às 16 horas e trinta minutos aproximou-se do “Gonçalo Velho” um gasolina com o Governo, que foi muito aclamado por todos os passageiros dos barcos. No mesmo gasolina vinham outras altas entidades entre as quais o Comandante Geral da Armada, e o Governador Militar de Lisboa, srs. Almirante Magalhães Correia e comandante Pereira da Silva.
Os marinheiros da “Sagres” formaram nas vergas enquanto a charanga de bordo tocava o hino nacional. As guarnições de todos os outros navios de guerra formaram nas toldas soltando «hurras» à passagem do “Gonçalo Velho” entre toques militares.
O aspecto que ofereciam o Terreiro do Paço e as imediações era surpreendente. Milhares e milhares de pessoas contemplavam o novo navio de guerra, que parou em frente à Praça do Comércio a pouca distância de terra às 16 horas entre o ensurdecedor e prolongado ruído de sirenes e apitos.
Um enxame de barcos que rodeavam o “Gonçalo Velho”, todos eles cheios de gente que aclamava a tripulação e o Governo, distinguindo-se nas manifestações a academia. A primeira entidade oficial a entrar no “Gonçalo Velho” foi o sr. Segundo-tenente Castro e Silva, representante do chefe das forças navais surtas no Tejo. Às 16 horas e trinta minutos aproximou-se do “Gonçalo Velho” um gasolina com o Governo, que foi muito aclamado por todos os passageiros dos barcos. No mesmo gasolina vinham outras altas entidades entre as quais o Comandante Geral da Armada, e o Governador Militar de Lisboa, srs. Almirante Magalhães Correia e comandante Pereira da Silva.
Visitas dos membros do Governo
Os membros do governo visitaram demoradamente o navio, acompanhados pelo seu comandante sr. Capitão-de-fragata Francisco Luiz Rebelo, a quem foi entregue um ramo de flores, oferecido pelo presidente do município.
Recepção aos ministros e o Porto de Honra
Na Câmara do comandante do navio realizou-se depois a recepção aos ministros, a quem foi servido um Porto de Honra.
Discurso do ministro da Marinha
Em seguida, o ministro da Marinha dirigindo-se ao chefe do Governo agradeceu, em nome da Armada Portuguesa, descerrando um retrato do presidente do Ministério, que ficará na Câmara do comandante. O sr. Comandante Mesquita Guimarães, ministro da Marinha disse depois para os oficiais da Armada:
- Tem sido sempre uma aspiração suprema dispor daquele mínimo material naval a que a sua competência técnica e o seu patriotismo dêem a eficiência necessária que o transformem num núcleo de defesa do Estado capaz de garantir na parte que lhe cabe os direitos à independência, integridade de nação na hora incerta, em que as circunstancias nos obriguem a recorrer ao mais extremo meio de assegurar aquela defesa, as deficiências de orientação, a falta de continuidade do critério e até a falta de verdadeiro conhecimento da importância da Marinha no prestígio, como na defesa do Estado. Por um lado as dificuldades financeiras e o espírito de contínua improvisação, pelo outro tudo fez com que se chegasse à grande guerra sem possuirmos aquele mínimo aquém do qual as despesas da Nação com a sua defesa, à força de não poderem realizar o seu objectivo, quase que podem considerar como improdutivas. Foi necessário improvisar-se tudo e aqueles que já hoje são velhos e outros que ainda são novos, recordou quantas torturas sofreram seu espírito, o seu amor próprio e a sua vontade de bem servir a Pátria e quantas horas amargas viveram nos anos que para nós durou a guerra, querendo servir e não dispondo para tal dos meios indispensáveis.
Veio a paz e com ela mais uma vez era de recear que predominasse a nossa tendência para descurar ainda mais se possível a nossa defesa. Mas os ensinamentos de ordem material, não menos que os de ordem moral eram demasiado convincentes para que a corporação da Armada não pugnasse pela modificação de um tal estado de coisas. Contudo o país passada a hora do perigo, pouco se interessava pelos problemas da defesa nacional. Era necessário criar nele a consciência da necessidade dessa defesa e no nosso caso na reconstrução da marinha como na corporação que criara e cimentara durante a guerra, a consciência profissional lhe permitisse definir claramente o que essa marinha devia ser.
O sr. Ministro da Marinha historiou em seguida as diversas fases por que passou o plano de ressurgimento da Armada, pondo em destaque o papel que a imprensa desempenhou para a propaganda dessa luta de ressurgimento.
E prosseguindo:
- A situação era porém daquelas que impunham as maiores restrições nas despesas. Em 1928 a situação financeira com o orçamento do Estado fortemente desequilibrado exigia dos diferentes ministérios cortes draconianos de despesa a que os ministérios militares não podiam escapar, impunha-os a situação, impunha-os na exacta compreensão dela, do sr. dr. Oliveira Salazar chamado a pôr ordem na administração financeira, o que exigia o saneamento em toda a administração do Estado.
Era necessário reduzir e o dilema que a todos foi posto, ou os ministros reduziam as despesas dos seus departamentos pela forma que menos prejudicasse o funcionamento e a eficiência do serviço ou ele teria de cortar impetuosamente a cota parte da redução e que à marinha coube, andou à volta de 40.000 contos, o que num orçamento de 180.000 contos se afigurava de difícil realização. Esse esforço da corporação da armada na hora de sacrifícios financeiros, prosseguiu o ministro, foi devidamente apreciado pelo sr. dr. Oliveira Salazar, que ao afirmar que a marinha tinha compreendido melhor do que ninguém a sua intenção e concorrido para que ela tivesse uma imediata realização, solenemente me declarava também que ela seria dotada com os meios necessários ao exercício da Pátria, que lhe cabe na elevada missão da guarda e defesa dos direitos e da integridade da Nação, uma vez que, realizado o seu plano, o tempo trouxesse o desafogo financeiro que permitisse começar as fases da reconstituição nacional e essa promessa foi integralmente cumprida, sabem-no os que me escutam. O sr. dr. Oliveira Salazar está a restituir à marinha capital e juros, as economias realizadas nos seus orçamentos.
E prosseguiu:
- O “Gonçalo Velho”, a primeira unidade a incorporar-se no efectivo da marinha é aos olhos dos portugueses também a primeira prova palpável do que seu plano de defesa naval começou a ter realização prática. A curtos intervalos outras unidades se seguirão sem esquecer aquelas que, dentro dos nossos recursos de construção estão a ser construídas no Arsenal e nos estaleiros particulares nacionais. Por isso, este momento é de intenso júbilo, não só para a marinha como para a Nação consciente da necessidade de assegurar a sua defesa e confiante que ela está posta em mãos firmes, entregue a inteligências lúcidas, servindo um elevado patriotismo e uma sólida vontade de bem servir.
Terminou manifestando o reconhecimento da Armada a todos aqueles que contribuíram para o seu ressurgimento.
- Tem sido sempre uma aspiração suprema dispor daquele mínimo material naval a que a sua competência técnica e o seu patriotismo dêem a eficiência necessária que o transformem num núcleo de defesa do Estado capaz de garantir na parte que lhe cabe os direitos à independência, integridade de nação na hora incerta, em que as circunstancias nos obriguem a recorrer ao mais extremo meio de assegurar aquela defesa, as deficiências de orientação, a falta de continuidade do critério e até a falta de verdadeiro conhecimento da importância da Marinha no prestígio, como na defesa do Estado. Por um lado as dificuldades financeiras e o espírito de contínua improvisação, pelo outro tudo fez com que se chegasse à grande guerra sem possuirmos aquele mínimo aquém do qual as despesas da Nação com a sua defesa, à força de não poderem realizar o seu objectivo, quase que podem considerar como improdutivas. Foi necessário improvisar-se tudo e aqueles que já hoje são velhos e outros que ainda são novos, recordou quantas torturas sofreram seu espírito, o seu amor próprio e a sua vontade de bem servir a Pátria e quantas horas amargas viveram nos anos que para nós durou a guerra, querendo servir e não dispondo para tal dos meios indispensáveis.
Veio a paz e com ela mais uma vez era de recear que predominasse a nossa tendência para descurar ainda mais se possível a nossa defesa. Mas os ensinamentos de ordem material, não menos que os de ordem moral eram demasiado convincentes para que a corporação da Armada não pugnasse pela modificação de um tal estado de coisas. Contudo o país passada a hora do perigo, pouco se interessava pelos problemas da defesa nacional. Era necessário criar nele a consciência da necessidade dessa defesa e no nosso caso na reconstrução da marinha como na corporação que criara e cimentara durante a guerra, a consciência profissional lhe permitisse definir claramente o que essa marinha devia ser.
O sr. Ministro da Marinha historiou em seguida as diversas fases por que passou o plano de ressurgimento da Armada, pondo em destaque o papel que a imprensa desempenhou para a propaganda dessa luta de ressurgimento.
E prosseguindo:
- A situação era porém daquelas que impunham as maiores restrições nas despesas. Em 1928 a situação financeira com o orçamento do Estado fortemente desequilibrado exigia dos diferentes ministérios cortes draconianos de despesa a que os ministérios militares não podiam escapar, impunha-os a situação, impunha-os na exacta compreensão dela, do sr. dr. Oliveira Salazar chamado a pôr ordem na administração financeira, o que exigia o saneamento em toda a administração do Estado.
Era necessário reduzir e o dilema que a todos foi posto, ou os ministros reduziam as despesas dos seus departamentos pela forma que menos prejudicasse o funcionamento e a eficiência do serviço ou ele teria de cortar impetuosamente a cota parte da redução e que à marinha coube, andou à volta de 40.000 contos, o que num orçamento de 180.000 contos se afigurava de difícil realização. Esse esforço da corporação da armada na hora de sacrifícios financeiros, prosseguiu o ministro, foi devidamente apreciado pelo sr. dr. Oliveira Salazar, que ao afirmar que a marinha tinha compreendido melhor do que ninguém a sua intenção e concorrido para que ela tivesse uma imediata realização, solenemente me declarava também que ela seria dotada com os meios necessários ao exercício da Pátria, que lhe cabe na elevada missão da guarda e defesa dos direitos e da integridade da Nação, uma vez que, realizado o seu plano, o tempo trouxesse o desafogo financeiro que permitisse começar as fases da reconstituição nacional e essa promessa foi integralmente cumprida, sabem-no os que me escutam. O sr. dr. Oliveira Salazar está a restituir à marinha capital e juros, as economias realizadas nos seus orçamentos.
E prosseguiu:
- O “Gonçalo Velho”, a primeira unidade a incorporar-se no efectivo da marinha é aos olhos dos portugueses também a primeira prova palpável do que seu plano de defesa naval começou a ter realização prática. A curtos intervalos outras unidades se seguirão sem esquecer aquelas que, dentro dos nossos recursos de construção estão a ser construídas no Arsenal e nos estaleiros particulares nacionais. Por isso, este momento é de intenso júbilo, não só para a marinha como para a Nação consciente da necessidade de assegurar a sua defesa e confiante que ela está posta em mãos firmes, entregue a inteligências lúcidas, servindo um elevado patriotismo e uma sólida vontade de bem servir.
Terminou manifestando o reconhecimento da Armada a todos aqueles que contribuíram para o seu ressurgimento.
Fala o sr. Presidente do Ministério
Seguiu-se no uso da palavra o sr. Presidente do Ministério. O sr. dr. Oliveira Salazar proferiu o seguinte discurso:
- Dois pensamentos contrários me dominam neste momento: é preciso que tenhamos descido muito baixo para que seja um acontecimento nacional a chegada de um pequeno navio para a Marinha Portuguesa; é preciso que vá já muito alto no seu caminho ascensional a reorganização do país, para que este haja saído da sua indiferença, do seu triste conformismo, como todos os aviltamentos e venha saudar tão entusiasticamente a reorganização da sua gloriosa Marinha de Guerra.
Eu não tenho hoje, porém, senão um dever – alegrar-me com todos os que se alegram apesar de não ser susceptível do entusiasmo exuberante por temperamento e pela convicção de que as coisas não acontecem por acaso, mas porque se prepararam e porque se merecem.
E é esse o caso. Começam chegando ao Tejo ou vão sendo construídos nele os navios da nova esquadra. É a realização do que muitos julgavam um sonho e tantos uma impossibilidade. Eu sou testemunha da longa luta no Ministério da Marinha com esse estado de espírito de descrença, de desconfiança, de hipocretinismo doentio que ainda vem dos velhos tempos que tudo azeda, que tudo destrói e que ainda nada pode construir.
O povo não: esse reanimou a chama da sua fé patriótica e esperou. Esperou através de sacrifícios, nas restrições injustas, nas contrariedades da crise, do feroz egoísmo internacional e o plano da sua reconstrução fosse sendo executado. E quando tudo estava preparado ele o foi nesta parte.
Este pequeno navio entrou nas águas portuguesas, pago, antecipadamente pago, integralmente pago, todo com dinheiro de portugueses; a Armada portuguesa a renovar-se nos mesmos anos em que o país colheu todo o pão para comer. Os políticos do acaso encontrarão nisto uma simples coincidência; mas eu afirmo que está aí a base fundamental e a razão desse custoso empreendimento.
Nós não teríamos ouro para pagamento imediato da nova esquadra se pelas campinas não houvessem florido as searas abundantemente. Para que pudessem sulcar nos mares os navios portugueses foi preciso que a charrua sulcasse mais extensamente e melhor as terras da Pátria, poupando à Nação largas somas do seu ouro. Para que estará fadado agora este pequena navio? Para a guerra? Para a paz? Nós queremos firmemente que não seja para a guerra; nós queremos firmemente que seja para a paz. Mas seja qual for o seu destino, o que queremos é que albergue sempre portugueses, testemunhe sempre o valor dos nossos marinheiros, afirme sempre o heroísmo da raça portuguesa e a glória incólume da nossa Pátria. Embaixador de Portugal por todos os mares, nós queremos que ela seja sempre a afirmação clara da nossa herança passada e do nosso presente, a expressão mais alta dos nossos princípios que tornaram possível e fizeram ressurgir a paz interna, a ordem pública, a compreensão do interesse nacional, a unidade da Pátria, a seriedade da administração e os sacrifícios de todos, em prol do bem comum.
Sob a bandeira de Portugal vai este pequeno navio cruzar os mares distantes, visitar os longínquos países, os portugueses espalhados por todas as partes do mundo.
Não há, senhores oficiais e valentes marinheiros que esconder a face, mas que erguer altivamente o rosto. É uma pátria renascida cercada do prestígio que lhe granjearam o seu esforço próprio e os seus processos de governo. E já me não custa agora, a mim, falar da alta estirpe dos marinheiros portugueses porque sinto fortes os vossos ombros para levar a sua pesada herança.
Senhor ministro, cumprimento na pessoa de V. Excelência a Marinha de Guerra e permita-me saudar, no comandante deste navio, essa futura esquadra portuguesa – uma esquadra nova, que seja uma nova esquadra.
Em seguida todo o governo desembarcou, tendo as peças anti-aéreas salvado com 21 tiros. O aviso “Gonçalo Velho” atracou mais tarde à ponte da Alfandega, onde estará durante quatro dias exposto ao público.
- Os cumprimentos dos oficiais e do comandante do navio realizam-se na próxima segunda-feira.
- O navio logo que tenha a lotação completa, além de visitar o Porto e Setúbal irá à Madeira e Açores. Consta que vai substituir o cruzador “Adamastor” em Macau.
- O sr. ministro do interior recebeu hoje o seguinte telegrama: Évora, 1 – Os representantes da guarnição militar, União Nacional, funcionalismo público e o povo desta cidade, reunidos no mesmo gabinete, manifestaram o sentir e profundo regozijo pela entrada em águas portuguesas da primeira unidade da reorganização do poderio naval português. (a) Governador civil, Gomes Pereira.
- No ministério do Interior foram também recebidos inúmeros telegramas de vários pontos do País, felicitando o Governo pela chegada do “Gonçalo Velho”.
- Em reunião da direcção da Associação Industrial Portuguesa foi aprovado um voto de congratulação pelo ressurgimento da Marinha de Guerra Portuguesa.
(In jornal “Comércio do Porto”, Domingo, 2 de Abril de 1933)
- Dois pensamentos contrários me dominam neste momento: é preciso que tenhamos descido muito baixo para que seja um acontecimento nacional a chegada de um pequeno navio para a Marinha Portuguesa; é preciso que vá já muito alto no seu caminho ascensional a reorganização do país, para que este haja saído da sua indiferença, do seu triste conformismo, como todos os aviltamentos e venha saudar tão entusiasticamente a reorganização da sua gloriosa Marinha de Guerra.
Eu não tenho hoje, porém, senão um dever – alegrar-me com todos os que se alegram apesar de não ser susceptível do entusiasmo exuberante por temperamento e pela convicção de que as coisas não acontecem por acaso, mas porque se prepararam e porque se merecem.
E é esse o caso. Começam chegando ao Tejo ou vão sendo construídos nele os navios da nova esquadra. É a realização do que muitos julgavam um sonho e tantos uma impossibilidade. Eu sou testemunha da longa luta no Ministério da Marinha com esse estado de espírito de descrença, de desconfiança, de hipocretinismo doentio que ainda vem dos velhos tempos que tudo azeda, que tudo destrói e que ainda nada pode construir.
O povo não: esse reanimou a chama da sua fé patriótica e esperou. Esperou através de sacrifícios, nas restrições injustas, nas contrariedades da crise, do feroz egoísmo internacional e o plano da sua reconstrução fosse sendo executado. E quando tudo estava preparado ele o foi nesta parte.
Este pequeno navio entrou nas águas portuguesas, pago, antecipadamente pago, integralmente pago, todo com dinheiro de portugueses; a Armada portuguesa a renovar-se nos mesmos anos em que o país colheu todo o pão para comer. Os políticos do acaso encontrarão nisto uma simples coincidência; mas eu afirmo que está aí a base fundamental e a razão desse custoso empreendimento.
Nós não teríamos ouro para pagamento imediato da nova esquadra se pelas campinas não houvessem florido as searas abundantemente. Para que pudessem sulcar nos mares os navios portugueses foi preciso que a charrua sulcasse mais extensamente e melhor as terras da Pátria, poupando à Nação largas somas do seu ouro. Para que estará fadado agora este pequena navio? Para a guerra? Para a paz? Nós queremos firmemente que não seja para a guerra; nós queremos firmemente que seja para a paz. Mas seja qual for o seu destino, o que queremos é que albergue sempre portugueses, testemunhe sempre o valor dos nossos marinheiros, afirme sempre o heroísmo da raça portuguesa e a glória incólume da nossa Pátria. Embaixador de Portugal por todos os mares, nós queremos que ela seja sempre a afirmação clara da nossa herança passada e do nosso presente, a expressão mais alta dos nossos princípios que tornaram possível e fizeram ressurgir a paz interna, a ordem pública, a compreensão do interesse nacional, a unidade da Pátria, a seriedade da administração e os sacrifícios de todos, em prol do bem comum.
Sob a bandeira de Portugal vai este pequeno navio cruzar os mares distantes, visitar os longínquos países, os portugueses espalhados por todas as partes do mundo.
Não há, senhores oficiais e valentes marinheiros que esconder a face, mas que erguer altivamente o rosto. É uma pátria renascida cercada do prestígio que lhe granjearam o seu esforço próprio e os seus processos de governo. E já me não custa agora, a mim, falar da alta estirpe dos marinheiros portugueses porque sinto fortes os vossos ombros para levar a sua pesada herança.
Senhor ministro, cumprimento na pessoa de V. Excelência a Marinha de Guerra e permita-me saudar, no comandante deste navio, essa futura esquadra portuguesa – uma esquadra nova, que seja uma nova esquadra.
Em seguida todo o governo desembarcou, tendo as peças anti-aéreas salvado com 21 tiros. O aviso “Gonçalo Velho” atracou mais tarde à ponte da Alfandega, onde estará durante quatro dias exposto ao público.
- Os cumprimentos dos oficiais e do comandante do navio realizam-se na próxima segunda-feira.
- O navio logo que tenha a lotação completa, além de visitar o Porto e Setúbal irá à Madeira e Açores. Consta que vai substituir o cruzador “Adamastor” em Macau.
- O sr. ministro do interior recebeu hoje o seguinte telegrama: Évora, 1 – Os representantes da guarnição militar, União Nacional, funcionalismo público e o povo desta cidade, reunidos no mesmo gabinete, manifestaram o sentir e profundo regozijo pela entrada em águas portuguesas da primeira unidade da reorganização do poderio naval português. (a) Governador civil, Gomes Pereira.
- No ministério do Interior foram também recebidos inúmeros telegramas de vários pontos do País, felicitando o Governo pela chegada do “Gonçalo Velho”.
- Em reunião da direcção da Associação Industrial Portuguesa foi aprovado um voto de congratulação pelo ressurgimento da Marinha de Guerra Portuguesa.
(In jornal “Comércio do Porto”, Domingo, 2 de Abril de 1933)
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