Marinha Militar
A partir do zero naval
A partir do zero naval
Quando, no dia 29 de Maio de 1926, o Governo se demitiu perante a adesão do país ao movimento nacional que eclodira na véspera, na cidade de Braga, a Marinha de Guerra portuguesa tinha chegado a um período de dramática decadência, que reflectia bem a desordem na administração pública e nos espíritos, a par da penúria financeira que afligia a nação.
Deixava o poder um Ministro da Marinha que, em gabinetes sucessivos e durante três anos, se batera com denodo pela reorganização da Armada, sem todavia conseguir fazer mais do que levar os poucos e fatigados navios que restavam a navegar tanto quanto possível e deixar uma legislação que ficaria a constituir, sob vários aspectos, a base para a nova orgânica da Marinha: uma organização de serviços do Ministério, incluindo os fundamentos do Estatuto dos Oficiais da Armada; a criação do Estado-Maior Naval; o germe das Escolas de Mecânicos e de Alunos Marinheiros e um navio-escola à vela, que tão útil se revelaria para a instrução do pessoal da Armada em contacto com o mar.
O material naval arrastava-se, mantido penosamente por custosas reparações (quando havia verba para as fazer); o Arsenal de Marinha trabalhava num ritmo precário e, quanto a novas construções, um programa naval elaborado pelo ministro cessante e tornado público adormecia nas gavetas do Palácio de S. Bento, sem que se vislumbrasse a possibilidade sequer de o discutir e muito menos de o aprovar e, sobretudo, de o fazer executar.
Foi esse o quadro, que todos os dias adensava as preocupações do ministro Pereira da Silva e de todos os marinheiros portugueses, que dominou o seu pensamento e o encorajou a lutar contra a incompreensão, contra as limitações do erário público, contra o marasmo da Administração, enfim, contra os ventos da adversidade que, varrendo o País, atingiam a Marinha de Guerra, levando à estagnação e ao desânimo e minando os próprios fundamentos essenciais de uma corporação militar – a disciplina.
In (A Marinha nos últimos 40 anos, 1926-1966, Ministério da Marinha)
Deixava o poder um Ministro da Marinha que, em gabinetes sucessivos e durante três anos, se batera com denodo pela reorganização da Armada, sem todavia conseguir fazer mais do que levar os poucos e fatigados navios que restavam a navegar tanto quanto possível e deixar uma legislação que ficaria a constituir, sob vários aspectos, a base para a nova orgânica da Marinha: uma organização de serviços do Ministério, incluindo os fundamentos do Estatuto dos Oficiais da Armada; a criação do Estado-Maior Naval; o germe das Escolas de Mecânicos e de Alunos Marinheiros e um navio-escola à vela, que tão útil se revelaria para a instrução do pessoal da Armada em contacto com o mar.
O material naval arrastava-se, mantido penosamente por custosas reparações (quando havia verba para as fazer); o Arsenal de Marinha trabalhava num ritmo precário e, quanto a novas construções, um programa naval elaborado pelo ministro cessante e tornado público adormecia nas gavetas do Palácio de S. Bento, sem que se vislumbrasse a possibilidade sequer de o discutir e muito menos de o aprovar e, sobretudo, de o fazer executar.
Foi esse o quadro, que todos os dias adensava as preocupações do ministro Pereira da Silva e de todos os marinheiros portugueses, que dominou o seu pensamento e o encorajou a lutar contra a incompreensão, contra as limitações do erário público, contra o marasmo da Administração, enfim, contra os ventos da adversidade que, varrendo o País, atingiam a Marinha de Guerra, levando à estagnação e ao desânimo e minando os próprios fundamentos essenciais de uma corporação militar – a disciplina.
In (A Marinha nos últimos 40 anos, 1926-1966, Ministério da Marinha)
O N.R.P."Viana do Castelo"
O patrulha oceânico em Viana durante as provas de mar
Foto de Malheiro do Vale - Blog "The Pilot Boat"
Foto de Malheiro do Vale - Blog "The Pilot Boat"
Porque a história se repete a cada trinta, quarenta ou quase cinquenta anos, foi com decepção que verificava a tristeza que reinava no meio naval, pela falta de meios e pelo cansaço que advinha do facto das equipagens estarem ao serviço em navios, que à muito ultrapassaram a condição de obsoletos. De milagre em milagre, os poucos patrulhas resistentes lá se foram aguentando, aos quais se juntou o velho “Schultz Xavier”, para ser possível cumprir as imprescindíveis missões de apoio, prevenção e fiscalização da gigantesca dimensão da Zona Económica Exclusiva. Isto para além do atropelo moral, levado a cargo pelo Governo, ao colocar a Guarda Republicana no mar, em absurda competição e concorrência com a Armada, originando um difícil entendimento relativamente à duplicação de serviço no exercicío da mesma actividade.
Raramente acontece debruçar-me sobre os assuntos da Marinha, porque normalmente muito se diz e pouco se sabe. Hoje, através da notícia publicada nos jornais, que refere a entrega do primeiro navio patrulha oceânico à Armada, o N.R.P. “Viana do Castelo”, fez-me acreditar que os tais ventos mencionados no texto acima, comecem a soprar de feição para reavivar o orgulho marítimo, que se foi perdendo ao longo dos tempos.
É verdade que a construção dos navios foi demorada, face à recusa do Almirante Melo Gomes e da Armada, de aceitar os navios até que estivessem a funcionar em pleno. Julgo entender esse raciocínio relativamente à grande utilização a que vão estar sujeitos, para além do tempo em que as habituais dificuldades os vão expor.
Acredito e faço fé, que a experiência adquirida pelo pessoal dos Estaleiros de Viana, com a construção do “Viana do Castelo” e do “Sines”, permitam uma melhor sintonia entre ambas as partes interessadas, com vista à rápida evolução do projecto de construção do “Figueira da Foz” e dos outros patrulhas oceânicos que se seguirão. E obviamente do navio de apoio logístico, que os atrasos tem infelizmente levado a uma secundarização, quanto aos objectivos de modernização da esquadra em curso, quando se lhe reconhece extrema necessidade e urgência.
Raramente acontece debruçar-me sobre os assuntos da Marinha, porque normalmente muito se diz e pouco se sabe. Hoje, através da notícia publicada nos jornais, que refere a entrega do primeiro navio patrulha oceânico à Armada, o N.R.P. “Viana do Castelo”, fez-me acreditar que os tais ventos mencionados no texto acima, comecem a soprar de feição para reavivar o orgulho marítimo, que se foi perdendo ao longo dos tempos.
É verdade que a construção dos navios foi demorada, face à recusa do Almirante Melo Gomes e da Armada, de aceitar os navios até que estivessem a funcionar em pleno. Julgo entender esse raciocínio relativamente à grande utilização a que vão estar sujeitos, para além do tempo em que as habituais dificuldades os vão expor.
Acredito e faço fé, que a experiência adquirida pelo pessoal dos Estaleiros de Viana, com a construção do “Viana do Castelo” e do “Sines”, permitam uma melhor sintonia entre ambas as partes interessadas, com vista à rápida evolução do projecto de construção do “Figueira da Foz” e dos outros patrulhas oceânicos que se seguirão. E obviamente do navio de apoio logístico, que os atrasos tem infelizmente levado a uma secundarização, quanto aos objectivos de modernização da esquadra em curso, quando se lhe reconhece extrema necessidade e urgência.
2 comentários:
O nomes dos novos patrulhas oceânicos relativos a cidades onde se tem comemorado o Dia da Marinha não estará mal de todo, mas se fosse nomes dos principais rios de Portugal que tem existido nos nossos vasos de guerra, como NRP LIMA, DOURO, VOUGA, TEJO, DÃO, SADO, AVE, etc, não ficava pior.
Saudações maritimo-entusiásticas
Rui Amaro
Olá Rui!
Boas vindas ao ano do futuro.
Ainda bem que nem sempre estamos de acordo. Os navios que foram baptizados com nomes de rios são parte de um passado relativamente recente, merecendo continuar assim
mesmo pela sua qualidade, história e longevidade.
Lembro-me de ter escrito para a Chefia do Estado Maior, em época anterior à construção dos patrulhas oceânicos, sugerindo que as futuras construções tivessem nomes de cidades. Simultaneamente propunha que essas mesmas cidades, agora representadas, mantivessem um elo de ligação ao navio, inclusivé no apoio à Marinha, para custear parte da respectiva operação. Da mesma forma, como resultado dessa ligação, parte da guarnição do navio deveria estar presente nas festas das cidades. Essa intenção visava uma maior aproximação da população à Armada, pondo um ligeiro travão à triste campanha de desmaritimização que grassa no país.
Um grande abraço,
Reinaldo Delgado
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