O abandono do lugre "Fernanda"
Está desfeito o enigma, a resposta às questões em aberto existe e como era previsível, estava disponível em Viana do Castelo.
A odisseia do lugre “Fernanda” começou a 15 de Outubro, data que assinala a saída da embarcação de Viana do Castelo para Lisboa, com um carregamento completo de madeira, depois de efectuar um transporte de sacos de cimento desde Setúbal, que entretanto descarregou em Viana.
Desde então as viagens efectuadas decorreram sob condições de mau tempo, com o mar muito agitado, encontradas ao longo da costa, agravadas consideravelmente durante os três dias - (Domingo <30> a Terça-feira <1>) – anteriores à decisão de abandonar o navio, que teve lugar nesse dia, quando o lugre se encontrava a cerca de 20 milhas a Oeste de Viana do Castelo.
Nessa ocasião no comando do “Fernanda” continuava o mestre Bazilio Vieira de Carvalho, já referido anteriormente e de quem não se discute a competência, em função da experiência adquirida, tendo por companheiros de jornada os tripulantes José Gonçalves, contramestre, Leopoldo Vale, Custódio Vieira, Luís Vieira Carvalho, António Fernandes Verde, João Coelho Oliveira, Manuel Rodrigues e Eduardo Nascimento, marinheiros.
Ao contrário do que tínhamos previamente suposto a equipagem do lugre foi mesmo desembarcada do navio “Ange Schiaffino” em Lisboa, onde eram aguardados por diversos representantes da imprensa escrita da capital. Ouvido o mestre do “Fernanda”, todas as explicações sobre o sucedido convergem no protesto à fúria do mar, cuja violência foi de tal ordem que por ter rebentado a amura de bombordo, permitia a entrada das vagas sobre a coberta, despegando os encerados de cobertura às escotilhas e metendo água no convés, sem que a bombagem desse vazão, apesar dos muitos esforços feitos nesse sentido.
Que viveram a bordo dois dias de “medonho” temporal, sem que pudessem lograr descanso, como da mesma forma se revelou impossível cozinhar, pelo que sem dormir e sem comer, foram vividas a bordo horas de angustia e completo desespero. Entretanto partiu-se uma verga, que a muito custo foi substituída, pelo que a determinado momento acharam que era inútil tentar salvar o lugre, ficando à espera dum socorro providencial.
Decidido o abandono do lugre, avistaram um vapor americano, que ignorou os sinais que lhes fizeram de bordo e pelas 1300 horas perceberam que um navio francês navegava na sua direcção, à distância de poder ser feita a transferência da tripulação, que terminou por volta das 1345 horas. Do navio francês foi descida uma baleeira de grandes dimensões, que muito embora enfrentando grande dificuldade e perigo, os transportou para bordo do navio, onde foram carinhosamente recebidos.
Foi assim deixado o “Fernanda” à deriva, na perspectiva que o temporal o afundasse ou em última instância o atirasse para uma qualquer praia, só que tal não aconteceu, qual casca de noz sobre um oceano em fúria. O navio dinamarquês completou-lhe o resto da derrota, rebocando-o até Vigo, onde ficou em segurança.
O valor estimado do lugre foi orçado em Esc. 40.000$00 e da carga transportada (não especificada) era de Esc. 15.000$00. De acordo com as leis do direito marítimo, um terço dessa importância foi pago pelo resgate dos salvados. O “Fernanda” ultrapassado o drama regressou a Viana, onde foi reparado. Mantido a operar no trafego de cabotagem costeira por mais 15 anos, acabou por terminar o seu extenso rol de navegações nas Berlengas, num misterioso dia de nevoeiro.
Os meus agradecimentos ao amigo Manuel de Oliveira Martins, por ter mais uma vez colaborado com os seus apontamentos, permitindo encontrar o fim deste episódio do nosso Portugal Marítimo.
A odisseia do lugre “Fernanda” começou a 15 de Outubro, data que assinala a saída da embarcação de Viana do Castelo para Lisboa, com um carregamento completo de madeira, depois de efectuar um transporte de sacos de cimento desde Setúbal, que entretanto descarregou em Viana.
Desde então as viagens efectuadas decorreram sob condições de mau tempo, com o mar muito agitado, encontradas ao longo da costa, agravadas consideravelmente durante os três dias - (Domingo <30> a Terça-feira <1>) – anteriores à decisão de abandonar o navio, que teve lugar nesse dia, quando o lugre se encontrava a cerca de 20 milhas a Oeste de Viana do Castelo.
Nessa ocasião no comando do “Fernanda” continuava o mestre Bazilio Vieira de Carvalho, já referido anteriormente e de quem não se discute a competência, em função da experiência adquirida, tendo por companheiros de jornada os tripulantes José Gonçalves, contramestre, Leopoldo Vale, Custódio Vieira, Luís Vieira Carvalho, António Fernandes Verde, João Coelho Oliveira, Manuel Rodrigues e Eduardo Nascimento, marinheiros.
Ao contrário do que tínhamos previamente suposto a equipagem do lugre foi mesmo desembarcada do navio “Ange Schiaffino” em Lisboa, onde eram aguardados por diversos representantes da imprensa escrita da capital. Ouvido o mestre do “Fernanda”, todas as explicações sobre o sucedido convergem no protesto à fúria do mar, cuja violência foi de tal ordem que por ter rebentado a amura de bombordo, permitia a entrada das vagas sobre a coberta, despegando os encerados de cobertura às escotilhas e metendo água no convés, sem que a bombagem desse vazão, apesar dos muitos esforços feitos nesse sentido.
Que viveram a bordo dois dias de “medonho” temporal, sem que pudessem lograr descanso, como da mesma forma se revelou impossível cozinhar, pelo que sem dormir e sem comer, foram vividas a bordo horas de angustia e completo desespero. Entretanto partiu-se uma verga, que a muito custo foi substituída, pelo que a determinado momento acharam que era inútil tentar salvar o lugre, ficando à espera dum socorro providencial.
Decidido o abandono do lugre, avistaram um vapor americano, que ignorou os sinais que lhes fizeram de bordo e pelas 1300 horas perceberam que um navio francês navegava na sua direcção, à distância de poder ser feita a transferência da tripulação, que terminou por volta das 1345 horas. Do navio francês foi descida uma baleeira de grandes dimensões, que muito embora enfrentando grande dificuldade e perigo, os transportou para bordo do navio, onde foram carinhosamente recebidos.
Foi assim deixado o “Fernanda” à deriva, na perspectiva que o temporal o afundasse ou em última instância o atirasse para uma qualquer praia, só que tal não aconteceu, qual casca de noz sobre um oceano em fúria. O navio dinamarquês completou-lhe o resto da derrota, rebocando-o até Vigo, onde ficou em segurança.
O valor estimado do lugre foi orçado em Esc. 40.000$00 e da carga transportada (não especificada) era de Esc. 15.000$00. De acordo com as leis do direito marítimo, um terço dessa importância foi pago pelo resgate dos salvados. O “Fernanda” ultrapassado o drama regressou a Viana, onde foi reparado. Mantido a operar no trafego de cabotagem costeira por mais 15 anos, acabou por terminar o seu extenso rol de navegações nas Berlengas, num misterioso dia de nevoeiro.
Os meus agradecimentos ao amigo Manuel de Oliveira Martins, por ter mais uma vez colaborado com os seus apontamentos, permitindo encontrar o fim deste episódio do nosso Portugal Marítimo.
4 comentários:
Caro Reimar
Mais uma pequena achega ao final trágico do lugre “Santa Madalena” ex "Fernanda" da praça de Viana. Tendo ao comando o mestre José Cadilha, acabou as suas mareações em Outubro de 1947, quando debaixo de forte cerração foi vítima de encalhe junto ao Cabo Carvoeiro.
Saudações marinheiras
Luis Filipe Morazzo
Caro amigo,
É com imenso prazer que noto o seu regresso aos comentários no blog. Mais uma vez para lhe agradecer uma informação, que não dispunha e que me vai permitir completar o histórico comercial deste navio.
Antecipo desde já votos de Festas Felizes e até breve,
Cumprimentos,
Reinaldo Delgado
Segundo consta o mestre BazÍlio passou dias sem sair de casa com o desgosto de perder o navio. No entanto o armador manteve a confiança nele e mandou buscar o navio a Vigo e manteve como capitão do navio durante muito tempo.
Da tripulação o marinheiro Luís Vieira de Carvalho era filho dele.
João Maria Carvalho Ferraz (neto do mestre Bazílio).
Caro João Ferraz,
Fico deveras contente por lhe proporcionar a recordação dum acontecimento, que envolve pessoas cuja memória certamente lhe são muito gratas. E o meu agradecimento pela informação complementar, relativa ao senhor seu avô, que fecha com chave de ouro este episódio.
Muitos cumprimentos,
reinaldo Delgado
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