quarta-feira, 20 de outubro de 2021

A renovação to "titan" do molhe sul de Leixões


Projecto “Titan – O renascer”
Tendo por base o lançamento da primeira pedra do paredão de abrigo do molhe norte, em 23 de Julho de de 1884, é de certa forma admissível considerar, que os guindastes (titãs) utilizados na construção dos molhes, que deram origem ao porto de Leixões, já pudessem ter chegado da oficina francesa, para entrega ao adjucatário da obra, srs. Dauderni, Duparchy & Cª., pela firma construtora, a Fives, de Lille. Estes guindastes, autênticos monstros de ferro, com pesos na ordem das 365 toneladas, tinham como se depreende um grande poder, estando preparados tanto para erguer zorras carregadas de material, como enormes blocos de granito com cerca de 50 toneladas. Terminada a construção dos molhes, coube ao sr. Engenheiro Tomás da Costa, director da 2.ª Circunscrição Hidráulica, tomar posse definitiva para o Estado, na sexta-feira, dia 29 de Março de 1895, por delegação do Governo, do porto de Leixões, terrenos anexos, linha férrea de Leixões às pedreiras de S. Gens, e de todo o material de construção que a empresa construtora do porto tinha obrigação de entregar ao Governo, no final do contrato em vigor. O Governo, nessa ocasião, para liquidação da empreitada, que orçou em 4.489 contos, pagou o restante do valor em dívida no montante de 200:000$000 réis.
Imagem do titan - Foto Alvão, Porto
Todo esse dinheiro, que o tempo provou ter sido bem gasto, serviu, segundo notícias da época, para construir 1.147,95 metros de molhe do lado sul e 1.579,47 metros do lado norte, mantendo uma distância de 1.100 metros entre os grandes alinhamentos paralelos dos dois paredões e um espaço de 220 metros entre as cabeças dos molhes, avançando o molhe norte 150 metros mais que o do sul, com farolins nas cabeças, simpáticamente oferecidos pelo jornal “Comércio do Porto”. Deve ainda ser salientado que, para além da extraordinária importância que os titãs tiveram na construção dos molhes, foram ainda durante muitos anos de extrema utilidade na reparação dos paredões, sempre que a implacável força do mar, durante várias situações de forte temporal, deslocava os blocos de pedra, abrindo buracos de considerável dimensão.
Em 12 de Abril de 2012, a Administração do Porto decididiu recuperar o titã, que é desde sempre um ex-libris da cidade, mas para tanto revelava-se indispensável ser desmontado, para permitir dar continuidade aos trabalhos. Porém, como a operação não correu de modo satisfatório, provocando-lhe a queda, o velho titã ficou completamente desconjuntado, permanecendo guardado peça por peça, na área portuária à espera de melhores dias. Dias esses que chegaram, no dia 27 de Novembro de 2019, após o anúncio por parte da Administração dos Portos do Douro, Leixões e Viana do Castelo, com a apresentação do projecto “Titan – o Renascer”, que visava dar início a diversos programas educativos e culturais, dinamizados pela empresa. O referido projecto que propunha o restauro do icónico guindaste, foi adjudicado à empresa Macwide, ficando o conjunto do investimento infraestrutural e de programação, orçado em cerca de Eur. 2 milhões, possibilitando a visita à infraestrutura, contando, ainda, com um programa que envolve toda a comunidade escolar e artística da região.
O anúncio do restauro do titã, que julgamos há muito aguardado, é de opinião do presidente da APDL, engº Nuno Araújo, ser da maior importância para «devolver à cidade de Matosinhos e a todo o seu litoral aquela que é uma memória paisagística da nossa costa. O valor patrimonial do Titan é inegável e, por isso, será visitável por todos num percurso que se pretende que integre os passeios das famílias, as visitas das escolas e as rotas dos turistas».
Os trabalhos de restauro estavam pensados terminar no Verão de 2020, tarefa que as contingências provocadas pela pandemia lamentavelmente não o permitiram. Porém, porque ultimamente foram levantadas restrições, os trabalhos continuaram em bom ritmo, pelo que se espera a curto prazo a sua conclusão. - Julho, 2021

O novo «titan» do molhe Sul de Leixões
O novo, velho titan, regressou finalmente ao local onde sempre esteve, para ser visto e admirado pelos habitantes da cidade de Matosinhos, do Porto, e de outras cidades cuja proximidade poderá motivar as pessoas a um pouco habitual passeio de fim de semana.
Em clara oposição ao que se pensava inicialmente, toda a estrutura metálica que compõe o esqueleto do guindaste foi construída de raiz, devido ao mau estado de conservação em que se encontrava o original. Porém, muitas das peças nas quais se inclui a maquinaria, tais como o sistema de vapor, receberam tratamento adequado, sendo devidamente reinstaladas.
A inauguração oficial
Para a administração portuária, a recuperação do "titã" subjacente ao projecto “O Renascer”, revelou-se obrigatório devolver uma parte importantíssima do património, em função das características, da história, e fundamentalmente pelo trabalho realizado na construção dos molhes.
Para a autarquia, a localização previligiada do guindaste, repõe no seu devido lugar um dos ex-líbris do município, recuperada que fica a memória paisagística da costa.
A inauguração oficial ocorreu dois dias antes da data dos dias designados, para consagrar com notoriedade a 12ª celebração do Dia do porto de Leixões. Primeiro a imprensa teve oportunidade de visitar o titan, a quem foi fornecido detalhados pormenores da sua fulcral e imprescindível utilidade, e durante a tarde foi oficializada a cerimónia da inauguração, presidida pelo ministro Pedro Nuno Santos, responsável pelas Infraestruturas e Habitação, e ainda pela presidente do município, Drª. Luísa Salgueiro.
Após uma eloquente explicação sobre os trabalhos realizados na construção do titan, pelo historiador Dr. Joel Cleto, para uma agradável plateia de convidados, usaram da palavra o presidente da Administração dos portos do Douro, Leixões e Viana do Castelo, a autarca matosinhense e o ministro Pedro Santos. Depois de acalorados discursos, as autoridades e convidados tiveram então a oportunidade de visitar o titan, tecendo rasgados elogios de vária ordem.

Dias 9 e 10 de Outubro - Os dias do porto de Leixões
Se a iniciativa visava trazer a população à área portuária, propiciando visitas ao titan e à estação de passageiros, o objectivo foi muito além das melhores espectativas. Durante o dia de sábado foram organizadas visitas guiadas e livres, entre as 14 e as 19 horas, e no Domingo foi ainda alargado o horário das visitas, a partir das 10 horas da manhã, até às 5 horas da tarde.
Dentro de leque das diversas actividades que constavam no programa de sábado, às 15 horas foi inaugurada a Exposição de Fotografia Sentir… Mais do que um porto!, a que se seguiu a entrega de prémios do referido concurso de fotografias. Meia hora depois, foi também feita a entrega do Prémio Escolar da APDL aos Melhores Alunos do Concelho de Matosinhos, e pelas 16 horas houve quem se tivesse deliciado com a Orquestra Jazz de Matosinhos, que preparou para o evento "Uma viagem pelos tempos do JAZZ".
Por sua vez no Domingo, foi possível apreciar as exposições “TITAN na Arte”, que reuniu obras das coleções da Câmara de Matosinhos e da APDL, e ainda um conjunto de pinturas sob o pretexto “1885/2021-TITAN”, assinadas pelo artista plástico Sobral Centeno.
Todos os trabalhos estavam e vão continuar expostos e abertos ao público, fazendo igualmente parte uma colecção de fotografias sobre “O Renascer do TITAN”, de Sérgio Jacques, um vídeo de Luis Morais documentando as diferentes fases da reconstrução do TITAN, e ainda, o trabalho “TITAN. O Renascer”, que será a partir de agora uma exposição itinerante sobre a história do TITAN e a origem do Porto de Leixões. - Outubro, 1922

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