segunda-feira, 3 de dezembro de 2018

História trágico-marítima (CCLXIIC)


O naufrágio do lugre "Nun'Alvares"

Anúncio publicado na imprensa (1)

Navio abandonado em chamas (2)
Um rádio, recebido ontem, dia 9 de Abril, às 15 horas, do vapor francês “Marrakech”, diz ter recebido a bordo a tripulação do lugre português “Nun’Alvares”, da praça de Aveiro, o qual ficou abandonado em chamas, na latitude 40º48’02”N e longitude 09º41’02”W de Greenwich, com perigo para a navegação. O vapor segue viagem com a tripulação para Casablanca.
O lugre “Nun’Alvares” saiu do Douro no dia 7 do corrente, com destino a Lisboa, em lastro. O vapor “Marrakech”, 1930/1951, de nacionalidade francesa, propriedade da Compagnie Genérale Transatlantique, construído em França em 1914, de 6.288 toneladas de registo bruto, pertencia à praça de Bordéus.

Desenho de navio do tipo lugre, sem correspondência ao texto

Características do lugre construído em madeira “Nun’Alvares“
1929 - 1931
Armador: Empresa Marítima Nun’Álvares, Lda., Aveiro
Nº Oficial: A-248 - Iic: H.N.U.A. - Registo: Capitania de Aveiro
Construtor: José L. Ferreira Maiato, Viana do Castelo, 11 Abril de 1921
ex “Brilhante”, Soc. Vianense de Cabotagem, V. do Castelo, 1921-1923
ex “Brilhante”, Soc. Nacional de Pesca, Viana do Castelo, 1923-1924
ex “Condestável”, Empresa Condestável, Lda., Aveiro, 1924-1929
Arqueação: Tab 371,20 tons - Tal 286,90 tons
Dimensões: Pp 41,98 mts - Boca 9,92 mts - Pontal 3,84 mts
Propulsão: À vela
Equipagem: 12 tripulantes
Lugre adquirido ao anterior proprietário por Esc. 141.000$00. Embarcação com 3 mastros, tinha proa de beque, popa redonda, 1 pavimento e a carena forrada com metal.

O incendio no lugre “Nun’Alvares” (3)
O lugre “Nun’Alvares” foi destruído por um incêndio quando há dias navegava ao largo de Casablanca. Os tripulantes em número de 12, foram salvos pelo vapor “Marrakech”, da Companhia Transatlântica, que os desembarcou ontem naquela cidade africana.
Os restos do navio trazidos pelas correntes marítimas, acabam de ser assinalados na costa portuguesa, constituindo um grave perigo para a navegação. Tendo alguns postos semafóricos e navios em viagem pela costa sul dado conta pela T.S.F. do aparecimento de fragmentos do lugre “Nun’Alvares”, o Ministério da Marinha tomou as providências necessárias ordenando ao princípio da tarde o rápido aprontamento do navio de pronto socorro “Patrão Lopes”, do comando do capitão-tenente sr. Fernando Amor de Barros.
O vapor começou os preparativos para a largada às 13 horas, recebendo o seu comandante instruções para realizar as pesquisas necessárias, a fim de localizar e proceder à destruição dos restos do lugre incendiado.

O naufrágio do lugre “Nun’Alvares” (4)
O comandante do vapor “Patrão Lopes” enviou ao Sr. ministro da Marinha, o seguinte rádio:
«Às 14 horas do dia 13, na posição 40º33’N e 9º33’W encontrei o salva-vidas e o painel da ponte, com o nome de “Nun’Alvares” - Aveiro, que recolhi a bordo. Após minuciosa busca feita ontem e hoje, com certeza que nada mais resta, do lugre “Nun’Alvares”».

Os tripulantes do lugre “Nun’Alvares” (5)
Apresentaram-se hoje no Instituto de Socorros a Náufragos, Jorge Troloró, Lopo de Oliveira, Francisco Branco, Manuel de São Marcos, João Caramonete, Manuel Patarrano, José Ferreira da Silva, Celestino Correia, Manuel Caramonete Júnior, Joaquim Passos, Alexandrino de Carvalho e Carlos Cordeiro Júnior, tripulantes do lugre “Nun’Alvares”, de Aveiro, naufragado em 9 do corrente e recolhidos por um navio francês. Receberam subsídio pecuniário e passagens de comboio, o 2º, 8º 9º e o último, para o Porto e os restantes para Aveiro.

Notícias publicadas no jornal “Comércio do Porto”, em: (1) sexta-feira, 19 de Novembro de 1930; (2) sexta-feira, 10 de Abril de 1931; (3) Domingo, 12 de Abril de 1931; (4) terça-feira, 14 de Abril de 1931; e (5) sábado, 18 de Abril de 1931

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