O naufrágio do patacho "Abalisado" e das escunas "Agnes" e "Edith"
Notícia de navios chegados ao rio Douro em 1862
Naufrágios
Naufrágios
Ontem, depois das 2 horas da tarde, houve três naufrágios na barra!
Aparecendo no castelo sinal de entrada, o navio inglês “Pearles” (ev. “Peerless”) que estava mais próximo, aproou à barra e entrou sem novidade.
Atrás deste veio o patacho português “Abalisado”, procedente de Setúbal, que, faltando-lhe o vento ao chegar à barra, não pode seguir nem retroceder, como o castelo lhe mandou, arriando a bandeira. A este tempo vinham também, já sobre a barra as escunas inglesas “Agnes” e “Edith”.
Uma destas escunas abalroou com o patacho “Abalisado” e arrombou-lhe a borda falsa, em consequência do que, foi o patacho encalhar em frente das pedras de Felgueiras.
Os dois navios ingleses, que pelo mesmo motivo de lhe faltar o vento, não podiam entrar nem desandar, puderam ainda assim, encalhar no Cabedelo, salvando-se as tripulações sem perigo.
Não se deu infelizmente o mesmo caso com a tripulação do “Abalisado”, que ficou encalhado muito ao mar, e sobre o qual se quebravam vagas alterosas e repetidas.
Quatro dos tripulantes vendo o grande perigo em que se achavam, quiseram salvar-se no bote, mas mal o arrearam dos turcos foi envolvido pelo mar, que o virou, levando três dos infelizes marinheiros, que não tornaram a aparecer. O quarto, como sabia nadar, sustentou-se ao lume de água, até que uma vaga o arrojou para a praia, onde pode firmar-se, salvando-se, porque logo lhe acudiram.
Dentro do navio achavam-se o capitão e quatro tripulantes, que não vendo outro meio de salvação lançaram ao mar uma pipa com um cabo amarrado. A pipa chegou à praia, onde ficou segura a extremidade da corda, porém a distância era grande, e o mar levando o cabo para o sul, numa grande curva, não podia ser estabelecido o cabo de vai-vem.
O salva-vidas saiu, mas conservou-se sempre a muita distância do navio, tornando-se por isso inútil para a salvação dos náufragos. Na praia do Cabedelo compareceram os srs. Intendente da Marinha e pilotos da barra.
Alguns capitães de navios ingleses, e um capitão americano, vendo que o salva-vidas não se aventurava a aproximar-se do navio naufragado, ofereceram-se para com alguns dos seus marinheiros tripular o salva-vidas, e ir a bordo do “Abalisado”. O sr. Intendente objectou dizendo que os oferentes se expunham a uma morte certa, e que se perderia o salva-vidas, único recurso para a salvação dos náufragos.
O sr. Machado, de Gaia, ouvindo isto, desapareceu dali, e, passados alguns minutos, foi visto já dentro de um barco, com cinco ou seis barqueiros portugueses, remando na direcção do navio, e, chegando a uma coroa de areia que ficava a pouca distância deste, saltaram nela, conquanto ainda estivesse coberta de água, e diligenciaram agarrar o cabo que estava preso ao navio, o que conseguiram com o auxílio dum corajoso varino, dentro uns poucos que também seguiram o barco do sr. Machado, e que, nadando, pôde prender uma corda ao cabo, e puxado este para a coroa de areia, pode então atesar-se, e por ele se salvaram os náufragos.
Só depois é que o salva-vidas se aproximou da coroa de areia, onde se achava o sr. Machado, os barqueiros e vareiros que o acompanharam.
O náufrago que pelo mar foi arrojado à praia ficou muito maltratado, ficando recolhido no hospital do salva-vidas.
O patacho “Abalisado” era propriedade do sr. João Francisco Gomes & Irmão, e vinha carregado de sal e arroz. Não se salva o casco nem a carga.
Os navios ingleses “Agnes” e “Edith”, ficaram direitos no sítio em que encalharam, e contam ser possível a salvação da carga, que é de material para o caminho-de-ferro. O primeiro vinha de Cardiff, à consignação dos srs. Chamiço Filho & Silva. O segundo vinha de Newport, consignado ao sr. Coverley.
O capitão deste último, está gravemente ferido na cabeça, porque vindo ao leme, uma vaga de mar o atirou de encontro ao molinete.
Durante a maré da noite foi salvo o velame dos navios naufragados.
Hoje continuam as diligências para o salvamento da carga dos navios ingleses.
(In jornal “Comércio do Porto”, quarta, 15 de Janeiro de 1862)
Aparecendo no castelo sinal de entrada, o navio inglês “Pearles” (ev. “Peerless”) que estava mais próximo, aproou à barra e entrou sem novidade.
Atrás deste veio o patacho português “Abalisado”, procedente de Setúbal, que, faltando-lhe o vento ao chegar à barra, não pode seguir nem retroceder, como o castelo lhe mandou, arriando a bandeira. A este tempo vinham também, já sobre a barra as escunas inglesas “Agnes” e “Edith”.
Uma destas escunas abalroou com o patacho “Abalisado” e arrombou-lhe a borda falsa, em consequência do que, foi o patacho encalhar em frente das pedras de Felgueiras.
Os dois navios ingleses, que pelo mesmo motivo de lhe faltar o vento, não podiam entrar nem desandar, puderam ainda assim, encalhar no Cabedelo, salvando-se as tripulações sem perigo.
Não se deu infelizmente o mesmo caso com a tripulação do “Abalisado”, que ficou encalhado muito ao mar, e sobre o qual se quebravam vagas alterosas e repetidas.
Quatro dos tripulantes vendo o grande perigo em que se achavam, quiseram salvar-se no bote, mas mal o arrearam dos turcos foi envolvido pelo mar, que o virou, levando três dos infelizes marinheiros, que não tornaram a aparecer. O quarto, como sabia nadar, sustentou-se ao lume de água, até que uma vaga o arrojou para a praia, onde pode firmar-se, salvando-se, porque logo lhe acudiram.
Dentro do navio achavam-se o capitão e quatro tripulantes, que não vendo outro meio de salvação lançaram ao mar uma pipa com um cabo amarrado. A pipa chegou à praia, onde ficou segura a extremidade da corda, porém a distância era grande, e o mar levando o cabo para o sul, numa grande curva, não podia ser estabelecido o cabo de vai-vem.
O salva-vidas saiu, mas conservou-se sempre a muita distância do navio, tornando-se por isso inútil para a salvação dos náufragos. Na praia do Cabedelo compareceram os srs. Intendente da Marinha e pilotos da barra.
Alguns capitães de navios ingleses, e um capitão americano, vendo que o salva-vidas não se aventurava a aproximar-se do navio naufragado, ofereceram-se para com alguns dos seus marinheiros tripular o salva-vidas, e ir a bordo do “Abalisado”. O sr. Intendente objectou dizendo que os oferentes se expunham a uma morte certa, e que se perderia o salva-vidas, único recurso para a salvação dos náufragos.
O sr. Machado, de Gaia, ouvindo isto, desapareceu dali, e, passados alguns minutos, foi visto já dentro de um barco, com cinco ou seis barqueiros portugueses, remando na direcção do navio, e, chegando a uma coroa de areia que ficava a pouca distância deste, saltaram nela, conquanto ainda estivesse coberta de água, e diligenciaram agarrar o cabo que estava preso ao navio, o que conseguiram com o auxílio dum corajoso varino, dentro uns poucos que também seguiram o barco do sr. Machado, e que, nadando, pôde prender uma corda ao cabo, e puxado este para a coroa de areia, pode então atesar-se, e por ele se salvaram os náufragos.
Só depois é que o salva-vidas se aproximou da coroa de areia, onde se achava o sr. Machado, os barqueiros e vareiros que o acompanharam.
O náufrago que pelo mar foi arrojado à praia ficou muito maltratado, ficando recolhido no hospital do salva-vidas.
O patacho “Abalisado” era propriedade do sr. João Francisco Gomes & Irmão, e vinha carregado de sal e arroz. Não se salva o casco nem a carga.
Os navios ingleses “Agnes” e “Edith”, ficaram direitos no sítio em que encalharam, e contam ser possível a salvação da carga, que é de material para o caminho-de-ferro. O primeiro vinha de Cardiff, à consignação dos srs. Chamiço Filho & Silva. O segundo vinha de Newport, consignado ao sr. Coverley.
O capitão deste último, está gravemente ferido na cabeça, porque vindo ao leme, uma vaga de mar o atirou de encontro ao molinete.
Durante a maré da noite foi salvo o velame dos navios naufragados.
Hoje continuam as diligências para o salvamento da carga dos navios ingleses.
(In jornal “Comércio do Porto”, quarta, 15 de Janeiro de 1862)
Os navios naufragados
O mar revolto e alteroso tem embaraçado os trabalhos para a salvação da carga dos três navios, que ante-ontem naufragaram na barra.
A escuna inglesa “Agnes” está já despedaçada.
O patacho “Abalisado” está partido em três pedaços. Durante a maré da noite salvaram-se da carga que tinha a bordo 16 cascos com azeite e alguns pequenos volumes. Da carga de arroz nada foi possível salvar.
A escuna “Edith” ainda se conserva direita.
(In jornal “Comércio do Porto”, quinta, 16 de Janeiro de 1862)
A escuna inglesa “Agnes” está já despedaçada.
O patacho “Abalisado” está partido em três pedaços. Durante a maré da noite salvaram-se da carga que tinha a bordo 16 cascos com azeite e alguns pequenos volumes. Da carga de arroz nada foi possível salvar.
A escuna “Edith” ainda se conserva direita.
(In jornal “Comércio do Porto”, quinta, 16 de Janeiro de 1862)
Comissão do salva-vidas
Na notícia de ontem dos naufrágios da véspera, não foi referida a circunstância que os srs governador civil, Amorim Braga, e Moser, membros da Comissão do salva-vidas, se apresentaram logo, na Foz, no hospital dos náufragos e depois no Cabedelo.
O sr. governador civil, com quanto estivesse incomodado de saúde, apenas soube a notícia dos sinistros, correu logo à Foz.
(In jornal “Comércio do Porto”, quinta, 16 de Janeiro de 1862)
O sr. governador civil, com quanto estivesse incomodado de saúde, apenas soube a notícia dos sinistros, correu logo à Foz.
(In jornal “Comércio do Porto”, quinta, 16 de Janeiro de 1862)
Navios naufragados
Os cascos do patacho “Abalisado” e dos navios ingleses “Agnes” e “Edith”, que na terça-feira naufragaram na barra, foram já despedaçados pelo mar.
A popa da escuna “Agnes” já veio à praia.
Da carga do patacho “Abalisado” só se salvaram os 16 cascos de azeite, já referidos e alguns pequenos volumes.
Da carga (ferro) da “Agnes” pouco se tem salvado, porque está assoreada.
A maior parte da carga da “Edith” está já salva. É também de ferro.
(In jornal “Comércio do Porto”, sábado, 18 de Janeiro de 1862)
A popa da escuna “Agnes” já veio à praia.
Da carga do patacho “Abalisado” só se salvaram os 16 cascos de azeite, já referidos e alguns pequenos volumes.
Da carga (ferro) da “Agnes” pouco se tem salvado, porque está assoreada.
A maior parte da carga da “Edith” está já salva. É também de ferro.
(In jornal “Comércio do Porto”, sábado, 18 de Janeiro de 1862)
Real Sociedade Humanitária
Já comentado anteriormente, foi confirmada a intenção da Comissão do salva-vidas da Real Sociedade Humanitária dar uma recompensa pecuniária a todos os indivíduos, que contribuíram para o salvamento dos tripulantes do patacho “Abalisado”, que se perdeu na barra do rio Douro no dia 14 de Janeiro, entregou à Intendência da Marinha a quantia que para esse fim destinou.
Em consequência disto foram chamados aquela repartição os srs. Manuel António, piloto supra da barra, Francisco dos Reis, José Joaquim Machado, João de Araújo e Manuel Joaquim, que foram os primeiros que acudiram em socorro dos náufragos, para receberem o prémio pecuniário que lhes estava destinado; todos o recusaram, tendo declarado que se consideravam bem recompensados com a consciência que tinham praticado uma boa acção, e pedindo que a quantia que se lhes queria dar fosse entregue a qualquer estabelecimento de caridade que o sr. Intendente da Marinha julgasse mais digno de preferência.
O sr. conselheiro Graça, autorizado assim para fazer a escolha, dirigiu ontem ao sr, conselheiro José Lourenço Pinto, digno presidente da comissão administrativa do Asilo das Raparigas Abandonadas, 54$000 réis, que tanto era o total da recompensa destinada aos corajosos marítimos, sendo a indicada quantia acompanhada de uma carta, em que o sr. Intendente da Marinha menciona todas as circunstâncias que aqui se encontram mencionadas.
Se são para louvar-se a abnegação, e os sentimentos generosos dos que renunciaram um prémio, mais que devido, em favor da humanidade infeliz, é também muito credora de elogio a preferência que o sr. Intendente de Marinha deu a um estabelecimento, que tanto a justifica, porque o seu único património é a caridade pública.
(In jornal “Comércio do Porto”, sábado, 15 de Março de 1862)
Em consequência disto foram chamados aquela repartição os srs. Manuel António, piloto supra da barra, Francisco dos Reis, José Joaquim Machado, João de Araújo e Manuel Joaquim, que foram os primeiros que acudiram em socorro dos náufragos, para receberem o prémio pecuniário que lhes estava destinado; todos o recusaram, tendo declarado que se consideravam bem recompensados com a consciência que tinham praticado uma boa acção, e pedindo que a quantia que se lhes queria dar fosse entregue a qualquer estabelecimento de caridade que o sr. Intendente da Marinha julgasse mais digno de preferência.
O sr. conselheiro Graça, autorizado assim para fazer a escolha, dirigiu ontem ao sr, conselheiro José Lourenço Pinto, digno presidente da comissão administrativa do Asilo das Raparigas Abandonadas, 54$000 réis, que tanto era o total da recompensa destinada aos corajosos marítimos, sendo a indicada quantia acompanhada de uma carta, em que o sr. Intendente da Marinha menciona todas as circunstâncias que aqui se encontram mencionadas.
Se são para louvar-se a abnegação, e os sentimentos generosos dos que renunciaram um prémio, mais que devido, em favor da humanidade infeliz, é também muito credora de elogio a preferência que o sr. Intendente de Marinha deu a um estabelecimento, que tanto a justifica, porque o seu único património é a caridade pública.
(In jornal “Comércio do Porto”, sábado, 15 de Março de 1862)
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