sábado, 17 de abril de 2010

Paquete “ Lusitania “ da Cunard, 1907-1915


Efeméride - 7 de Maio de 1915
95 anos sobre o naufrágio que mudou o curso da história…

Postal do naufrágio - a chamada às armas

Um dos navios Ingleses mais famosos, entre todos aqueles capazes de bater recordes e simultaneamente o último a operar com base em Liverpool, foi o paquete “Lusitania”, que em conjunto com o “Mauretania”, tiveram a velocidade aumentada em 2 milhas por hora, a cada travessia do Atlântico, sendo que foram também os maiores navios do seu tempo, por uma margem considerável.
O sucesso de ambas as construções, deveu-se ao aumento de 75 por cento de potência nas respectivas máquinas, com a aplicação de turbinas a vapor, iniciando uma nova era, que se prolongou ao longo de várias décadas. Esse extraordinário factor de progresso, garantiu inicialmente ao “Lusitania” e posteriormente ao “Mauretania” embandeirar a prestigiada “Flâmula Azul”, durante o período de vinte e dois anos.

O "Lusitania" - postal da companhia

Construtor : John Brown & Co., Clydebank, Escócia
Arqueação : Tab 31.550 toneladas
Comprimentos : Pp 232,30 metros > Boca 26,80 metros
Máquina : Wallsend, Newcastle, 1906 > 4:Tv > 25 m/h

Logo após estabelecido o consórcio “Marinha Mercante Internacional”, pensada para prestar serviço combinado entre o Governo Britânico e diversos armadores, ficou decidido que a companhia “Cunard”, de Londres, deveria receber financiamento do estado, promovendo a longo prazo a sua sobrevivência financeira. Na essência do acordo, era fundamental a aquisição de navios velozes, tendo por esse motivo sido nomeada uma comissão formada por oficiais do Almirantado, para promover e investigar os custos dessa operação. As sugestões apresentadas variavam numa comparticipação de trezentas e cinquenta mil libras, a serem gastos na aquisição de navios habilitados a navegar em velocidades entre as 20 e as 26 milhas por hora, para um valor total de construção estimado num milhão e duzentas e cinquenta mil libras. Para a necessária manutenção, a companhia receberia ainda um subsidio anual, previsto em duzentas e quatro mil libras.
Em resultado dessas negociações, foi de imediato acordada a ordem de construção dum par de navios, que pudessem assegurar 24,5 milhas por hora, cabendo ao Governo o financiamento de duzentas e cinquenta mil libras por unidade, acrescidos de um subsidio anual de cento e cinquenta mil libras, desde que a empresa assumisse o compromisso de entregar os navios ao Almirantado, quando justificado por qualquer emergência ou em situações de reconhecido interesse nacional.
Colocados os contratos às empresas construtoras, em Maio de 1905, o trabalho foi efectuado com tal celeridade que o “Lusitania” era deitado à água a 29 de Junho do ano seguinte, seguindo-se o “Mauretania”, no decorrer do mês de Setembro. Ambos os navios deveriam receber motores de quadrupla expansão, para cumprir os objectivos relativamente à velocidade; todavia, durante a construção a opção recaiu sobre as turbinas a vapor, que dispunham de mais potência e pela garantia de maior equilíbrio na navegação entre a boca e o comprimento dos navios, acrescendo um considerável aumento de estabilidade.
Apesar de aparentemente idênticos, os navios diferiam em diversos detalhes. Originalmente esteve previsto terem capacidade para transportar 560 passageiros em 1ª., 460 passageiros em 2ª e 1.180 passageiros na 3ª classe. As melhores previsões apontavam um consumo de carvão na ordem das 850 toneladas diárias, quando a navegar à força máxima, ou seja 25,4 milhas por hora para o “Lusitania” e 26,4 milhas por hora no caso do “Mauretania”.
Os cálculos foram confirmados na viagem inaugural do “Lusitania”, durante ambas as travessias do Atlântico, em Setembro de 1907, tempos esses ultrapassados na 1ª viagem do “Mauretania”, cuja partida foi agendada também desde Liverpool, no dia 16 de Novembro de 1907.
Em 1908 e 1909, os navios regressaram aos estaleiros para efectuarem modificações nas máquinas, sendo-lhes aplicadas hélices que apresentavam um design inovador, favorecendo-os num ganho extra de 1 milha por hora. As viagens seguintes serviram para definir o “Mauretania”, como o navio mais veloz.

Tempos registados pelo “Lusitania”, na travessia do Atlântico :
1907 - Cobh / Sandy Hook - 4 dias 19 hrs e 52 min (23,99 m/h)
1907 - Sandy Hook / Cobh - 4 dias 22 hrs e 53 min (23,61 m/h)
1908 - Cobh / Sandy Hook - 4 dias 15 hrs e 00 min (25,50 m/h)
1908 - Sandy Hook / Cobh - 5 dias 00 hrs e 37 min (24,32 m/h)

O naufrágio nas páginas da Ilustração Portuguesa, 1915

Entre Janeiro de 1909 e Novembro de 1911 os navios completaram 88 viagens, sendo que por 2 vezes navegaram a mais de 26 milhas, 46 vezes a mais de 25,6 milhas, 22 vezes a mais de 25 milhas, 15 vezes a mais de 24 milhas e apenas 3 vezes a uma velocidade inferior a 24 milhas por hora.
Como se percebe, houve desde as negociações com o Governo a antecipada intenção de transformar os navios em cruzadores auxiliares, numa eventual situação de conflito armado, mas chegados a Agosto de 1914, período que marca o início das hostilidades da Iª Grande Guerra Mundial, o Almirantado Britânico chegou à conclusão, que ambos os navios eram demasiado grandes para o efeito, mantendo o trafego habitual, muito embora durante 2 ou três viagens o destino fosse alterado para Halifax, por troca com Nova Iorque. Após Novembro de 1914, enquanto que o “Mauretania” ficava amarrado em Greenock, o “Lusitania” era mantido em serviço, contudo 6 das caldeiras foram desactivadas, por motivo de ordem económica, com a normal queda de velocidade para 21 milhas.

No dia 7 de Maio de 1915, na parte final de mais um regresso da América, encontrando-se o paquete a navegar a 10 milhas ao largo de Old Head of Kinsale, na Escócia, foi atingido por um torpedo disparado pelo submarino Alemão U.20, sob o comando do capitão Walter Schwieger, sem aviso prévio, atingindo em cheio a primeira das salas das caldeiras, levando ao afundamento do navio em apenas 18 minutos e contabilizando um total de 1.198 vitimas, entre os quais se encontravam 124 passageiros de origem Americana. Segundo testemunhos prestadas por muitos dos 671 sobreviventes ao naufrágio, terão sido ouvidas 2 explosões no navio, antes deste se afundar.

O naufrágio nas páginas da Ilustração Portuguesa, 1915

Decorridos 95 anos, ainda não foi possível determinar as reais causas do naufrágio, considerando que os Britânicos afirmam que o submarino disparou dois torpedos, enquanto que os Alemães sempre afirmaram que o navio transportava explosivos, causadores da segunda deflagração, corroborando tratar-se duma situação ilegal e outorgando-lhes o direito de considerar o ataque como ocorrência de guerra.
Todavia, apesar da enorme controvérsia criada à volta do assunto e devido às muitas criticas da quase totalidade dos líderes mundiais, o Governo Alemão viu-se na contingência de formalizar um pedido oficial de desculpas pelo sucedido ao Governo Americano. Simultaneamente existe quem ateste que o Almirantado descurou significativamente a protecção do navio, mantendo-o a navegar próximo da costa Escocesa e Inglesa, sem a presença de unidades para escolta, face à mais do que evidente ameaça submarina. A ser verdade, especulando a possibilidade de obrigar os Americanos a participar na guerra, foi evidente que a provocação gerada pelo ataque, deu o argumento que faltava aos Estados Unidos para alargar o conflito a todos os continentes. Volvidos 4 anos de guerra, o armistício sublinha o resultado que se antecipava justo, colocando o leão internacional vitorioso sobre as forças actuantes sob a égide da águia germânica.

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