segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

Navios bacalhoeiros da frota do Porto (III)


Os lugres (3)

Os dois únicos navios construídos nos estaleiros do norte do país (Figueira da Foz incluída), durante o ano de 1924, destinaram-se à pesca do bacalhau, tendo sido ambos registados na praça do Porto. Foram baptizados “Patriotismo” e “IIº Esperança”, ainda que o último seja mais facilmente identificado como “Navegador”. O percurso de ambos foi, como segue:

O “ Patriotismo “
1924 - 1941
Parceria Marítima Douro, Porto

O "Patriotismo" na barra do rio Douro
Imagem de autor desconhecido

Nº Oficial : B-182 > Iic.: C.S.L.N. > Porto de registo : Porto
Cttor.: José Dias dos Santos Borda Júnior, Fão, 12.04.1924
Arqueação : Tab 276,35 to > Tal 208,40 to
Cpmts.: Ff 44,81 mt > Pp 40,02 mt > Bc 8,64 mt > Ptl 3,92 mt
Navegou à vela até 1934. Recebeu motor auxiliar em 1935.
Máq.: Volund, Dinamarca, 1935 > 1:Sd > 170 Bhp > 8 m/h
Equipagem : 8 tripulantes
Capitães embarcados : Francisco d’Oliveira (1924 a 1929) e Jorge da Rocha Troloró (1934 a 1939)
Passa a operar comercialmente a partir de 1940.
Naufraga devido a ciclone, dando à costa a sul de Peniche, em 17.02.1941. A tripulação salvou-se no escaler de bordo, à excepção de uma vitima mortal.

No ano de 1928 a embarcação mais o conjunto de 36 dóris (41 depois de 1933), estava avaliada em 278 mil escudos. Transportou 43 tripulantes, que dispunham para a pesca 1.400 linhas com anzóis orçadas em 19.500 escudos. O valor total de peixe capturado não excedeu as 90 to. (1.500 quintais), que renderam 135 mil escudos. Período de fracas capturas de bacalhau durante os anos seguintes, só depois da alternância de pesqueiros entre a Terra Nova e a Gronelândia, após 1932, foi rentabilizada a larga capacidade do navio. O melhor ano de pesca, apresenta-se ter sido 1934, cuja captura de bacalhau atingiu quase 295 to. (4.617 quintais), avaliadas muito próximo dos 550 mil escudos.

O “ Navegador “
1929 - 1942
Parceria Marítima Douro, Porto

O "Navegador" na barra do rio Douro
Imagem de autor desconhecido

Nº Oficial : B-181 > Iic.: C.S.L.P. > Porto de registo : Porto
Construtor : José Linhares, Fão, 1924
ex “IIº Esperança”, Emp. Marít. Esperança, Porto, 1924-1928
Arqueação : Tab 283,46 to > Tal 204,56 to
Cpmts.: Ff 43,64 mt > Pp 39,10 mt > Bc 9,25 mt > Ptl 3,87 mt
Navegou à vela até 1934. Recebeu motor auxiliar em 1935.
Máq.: Volund, Dinamarca, 1935 > 1:Sd > 170 Bhp > 8 m/h
Equipagem : 10 tripulantes
Capitães embarcados como “IIº Esperança” e “Navegador” : Francisco António Bichão (1924 a 1929) e Francisco d’Oliveira (1934 a 1939).
A partir de 1940 passou ao comércio.
Vendido em 1942 a Augusto Fernandes Bagão, Maria Ondina Gaioso Henriques Vaz, Gumercinda Gaioso de Penha Garcia Henriques, António Máximo Gaioso Henriques e João Gaioso Henriques. Mudou o nome para “Maria Ondina” e transferiu o registo para a praça de Aveiro. Foi reconstruído em 1943.
Naufragou por encalhe no Cabedelo da barra do rio Douro, em 16.04.1946. Transportava um carregamento de 600 to. de fosfatos, consignados à firma M. de Almeida Santos, do Porto. A tripulação foi salva pelas lanchas de pilotagem.

No ano de 1929 esta embarcação encontrava-se avaliada com o mesmo valor e equipada com os mesmos utensílios referidos para o lugre “Patriotismo”. O valor total de peixe capturado não excedeu as 62 to. (1.033 quintais), negociadas por 297 mil escudos. Face aos problemas mencionados previamente, também recai sobre 1934 o melhor ano de pesca, com capturas de bacalhau na ordem das 264 to. (4.400 quintais), que renderam 528 mil escudos.

1 comentário:

Rui Amaro disse...

Reinaldo Amigo, o Porto está contigo!
Bonito, lugres da célebre Casa Gouveia, do Sr. Joaquim Gouveia, da Parceria Marítima do Douro, que também possuía estaleiro naval no lugar da Alumiara, Canidelo, V.N. de Gaia. O seu escritório e o estabelecimento de aprestos marítimos estavam localizados na R. Nova da Alfandega, Porto, este há poucos anos encerrado.
A 28/05/1935, o NAVEGADOR foi fazer experiências da máquina com que fora equipado, e regular agulhas, tendo saído a barra e regressado mais tarde, amarrando no quadro dos navios bacalhoeiros em Massarelos, sob a orientação do piloto José Fernandes Amaro Júnior. Este navio, alguns anos mais tarde, foi adquirido por Augusto Fernandes Bagão e Outros, Aveiro, que o registou com o nome de MARIA ONDINA, nome de uma das sócias, e o colocou no tráfego comercial.
A 16/04/1946, eu assisti a todo o desenrolar do encalhe, e lembro-me de ver o navio com a máquina em pleno e por fim com pano içado, pouco se movia, devido a águas de “ronhenta”, que foram motivo de muitos encalhes na barra, ou melhor ia descaindo para cima da restinga, acabando por se deter encalhado. Pena foi não estar por perto um rebocador ou mesmo uma traineira, que de certeza o retiravam da crítica situação. O mar estava relativamente calmo, mas no cabeço e na restinga, quer esteja mar chão ou não, há sempre ondulação, e mesmo ainda hoje com a nova barra, assim sucede.
A lancha de pilotos P4, timonada pelo seu mestre Eusébio Fernandes Amaro (meu tio), um destemido homem da barra, juntamente com o motorista e o camarada, foi em socorro dos náufragos, e em lugar de fundos irregulares, por vezes a lancha batia no fundo, mas conseguiu resgatar a maior parte da tripulação e o piloto da barra Jaime Martins, ficando a bordo o capitão e o piloto, que se lançaram à água e foram recolhidos pelo salva-vidas dos heróicos pescadores do centro piscatório da Afurada.
A 31 do mesmo mês, é a vez do PATRIOTISMO, conduzido pelo mesmo piloto do NAVEGADOR, efectuar experiências de máquina com que fora equipado, e regular agulhas. Largou de Massarelos, foi atracar à prancha da Shell, na Arrábida, e depois de abastecido de gasóleo, saiu a barra e concluída as experiências, demandou a barra e foi amarrar no quadro dos navios bacalhoeiros de Massarelos. Estes dois últimos lugres bacalhoeiros rumaram aos mares gelados do Noroeste do Atlântico, dois dias mais tarde, na sua primeira campanha com motor auxiliar.
Em ambas as imagens, que devem ser de finais da década de 20, vislumbra-se a catraia de pilotar, mais conhecida pela “catraia da pensão” e a pouca distância a “catraia da assistência ou do piloto-mor”.
Saudações marítimo-entusiásticas
Rui Amaro