terça-feira, 25 de novembro de 2008

Pesca do bacalhau - Figueira da Foz - 1900 / 1910


Os bacalhoeiros da Figueira da Foz
1ª Parte

A frota Figueirense

Postal da F. da Foz - ao fundo o "Mindello"

Desde o princípio da aventura do bacalhau, os armadores e navios Figueirenses marcaram presença constante na pesca. Nem o desastre económico que resultou das companhas até 1857 e que levaram ao fim da terceira epopeia portuguesa, foram motivo para deixar de arriscar. Se é verdade que no período de 1883 a 1886, da Figueira viram sair 14 embarcações de Lisboa, Porto, Viana e Açores, é também verdade que nos anos seguintes a praça da Figueira retoma o bulício de anos passados. Foi o tudo por tudo, apesar das eternas contrariedades levantadas pelo governo do reino, sempre a prejudicar quem pretendia tirar o sustento do mar. Primeiro foram os impostos, uns insultuosos 33,5 reis por quilo, conforme a pauta da Direcção Geral das Alfândegas, que dava o peixe como produto importado. Depois de inúmeras reclamações, quer de Instituições Oficiais, quer de particulares, a portaria de 14 de Abril de 1886 abre boas perspectivas, baixando o valor do imposto ad valorem para 6,6 reis por quilo, com alguns adicionais, ficando porém a pesca limitada aos navios utilizados no ano de 1885.
Penam os Figueirenses pela decisão, não bastasse o amargor das avarias nos navios, em encalhes consecutivos provocados pelos assoreamentos na barra, situação que se manteve pelo menos até 1901, ano em que as portarias anteriores são revogadas através do Decreto-Lei de 12 de Junho. A nova lei contempla o pagamento do imposto de 12 reis por quilo, para o bacalhau fresco, em salmoura ou simplesmente salgado, pescado por navios nacionais, com tripulações exclusivamente portuguesas. É simultaneamente liberalizada a actividade, pondo fim ao odioso monopólio instituído pelos comerciantes, que se fizeram valer durante décadas do seu considerável poder económico.
Entre 1901 e 1902 três navios da Figueira (o “Santiago” do armador Adolpho Santiago & Cª., o “Mindello” da Soc. Africana e o “Trombetas”, de Eduardo Águas & Cª., pescaram 517.330 quilos de peixe, tendo o valor da venda atingido 41.386 mil reis. Paralelamente ao aumento anual de navios a pescar, criam-se inicialmente estaleiros para reparação da frota, mais tarde preparados e melhorados para a construção naval, em pleno funcionamento a partir de 1915. São esses navios que nos propomos recordar.

Patacho " Santiago "
1902 - 1906
ADOLPHO SANTIAGO & Cª.,
Figueira da Foz

Nº Oficial : n/ teve > Iic H.J.N.C. > Registo : Lisboa
Construtor : José Maria Bolais Mónica, Aveiro, 22.12.1901
ex “Rio Minho” - Adolpho Santiago & Cª., Figueira, 1901-1902
Tonelagens : Tab 132,33 to > Tal 126,00 to
Comprimentos : Pp 27,60 mt > Boca 7,90 mt > Pontal 3,00 mt
Equipagem : -??- tripulantes
Naufragou nos bancos da Terra Nova devido a incêndio em 1906

Lugre “ Trombetas “
1902 - 1917
ADRIANO ÁGUAS & Cª.,
Figueira da Foz

O lugre "Trombetas" encalhado na barra da Figueira em 1913
Imagem da Ilustração Portuguesa

Nº Oficial : 393-B > Iic.: H.K.M.P.. > Registo : Lisboa
Alterou o registo para a Figueira da Foz em 1904 e passa à propriedade da empresa Lusitânia- Companhia Portuguesa de Pesca, desde 1907)
Construtor : António Dias dos Santos, Fão, 1896
ex "União" - Joaquim Gomes Soares, Viana, 1896-1902
Tonelagens : Tab 235,30 to >Tal 223,53 to
Cpmts.: Pp 30,42 mt > Boca 7,04 mt > Pontal 3,51 mt
Equipagem : 42 tripulantes
Capitães embarcados: António Leite (1902), João Francisco Grilo (1903-1906) e João Gonçalves Grilo (1907-1910).
Afundado após ataque de submarino próximo aos Açores em 22.11.1917, em viagem dos bancos para a Figueira. O Capitão era João dos Santos Redondo. A indemnização pelos danos provocados foi paga pelo governo Alemão em 1939.

Lugre-patacho “ Mindello “
1902 - 1921
SOC. AFRICANA DE PESCA DO BACALHAU,
Figueira da Foz.

O "Mindello" e o Capitão Gaspar, na Figueira em 1910
Foto de José Gonçalves - Ilustração Portuguesa

Nº Oficial : 270 > Iic.: H.B.C.W. > Registo : Lisboa
(alterou o registo para a Figueira da Foz em 1908)
Construtor : S. Olsen, Sandefjord, Noruega, 1891
ex lugre-patacho “Alf” - registo Norueguês, 1891-1902
Tonelagens : Tab 302,95 to > Tal 233,24 to
Cpmts.: Pp 43,78 mt > Boca 8,65 mt > Pontal 3,60 mt
Equipagem : 15 tripulantes
Capitães embarcados: Manoel dos Santos Ré (1909), Patrício Lino Gaspar (1910)
Vendido a João Pires Correia, de Lisboa, em 1921. Mudou o nome para “Elvira”.

Lugre-patacho “ Leopoldina “
1903 - 1947
COMP. PORTUGUESA DE PESCA “LUSITÂNIA”,
Figueira da Foz


O "Leopoldina" na Figueira da Foz
Imagem (c) colecção Delfim Nora / Napesmat

Nº Oficial : 419-B > Iic.: H.G.R.S. > Registo : Lisboa
(alterou o registo para a Figueira da Foz em 1906)
Construtor : António Dias dos Santos, Caminha, 1899
ex “Valladares” - José Maria Valladares, Caminha, 1899-1900
ex “Valladares” - M.M. Rato & Filho, Lisboa, 1900-1903
Tonelagens : Tab 267,49 to > Tal 254,12 to
Cpmts.: Pp 34,56 mt > Boca 8,15 mt > Pontal 3,53 mt
Equipagem : 42 tripulantes
Capitães embarcados: João Gonçalves Grilo (1903) e José Maria Joaquim Pata (1906-1910)
Naufragou no Virgin Rocks, Terra Nova, por alquebramento em 1947.

2 comentários:

J.pião disse...

O Leopoldina o lugre que o meu avô Manuel Fangueiro deu muitas viagens ao bacalhau.Uma história então contada por ele aí pelos anos 30 ou 40 ,com o lugre a pescar na Groenlandia ,más já nos fins da safra e com os botes todos dentro ao começar a escala do bacalhau apanhado desse dia ,começou a cair temporal ,que os obrigou a suspender a ancora e por o navio de capa ,entretanto os trabalhos no convés já éra difiçil e então limparam o bacalhau e puseram tudo para o porão a uso e as órdens do Capitão foi pear tudo bém peado e prepararem-se para o pior e o pior aconteçeu ,com um ciclone forte o Lugre foi obrigado a correr ém arvore seca como quem diz a popa só aguentar o leme com as vélas enroladas mesmo assim o navio éra um horror a ir a encarrelhar para sotavento ! A certa altura já com o homem do leme amarrado e só no convés ,o Sre Capitão pôs-se aos gritos dizendo ,ai Fangueiro que desta não escapamos ,o Fangueiro viru-se e desferi-lhe um soco na cara e gritou ,o Sre não presta ,vá já la para baixo ! Assim passou aquele homém agarrado ao leme a noite toda ,quando chegou o dia o vento já éra menos de metade então o Capitão veio para sima e disse ó homém salvastenos a todos ,más o homem do leme estáva mais morto que vivo ,entretanto a rapaziada vieram para cima e todos foram abraçar o teu Fangueiro,que com órdens do Capitão levaram o Teu Fangueiro para a sala dos Ófiçiais para tratarem dele ,as cordas o frio todo molhado e as porradas do mar ,sim um navio de convés barrido com os temporais éra mesmo para hóméns de barba rija !O lugre quase ficou sem dóris aqui e ali com avarias ,então o Capitão chamou a rapaziada a popa e disse vamos preparar tudo ,os ventos já são favoraveis e vamos içar as vélas e vamos com Deus fazer viagém para Portugal,claro o navio estáva com o porão cheio e com metade dos dóris, já não fazia nada nos bancos da Groenlandia ,e assim foi, fizeram uma boa viagém e chegaram ao porto de destino sãos e salvos ,graças a heroiçidade dos bravos Homéns dos bacalhaus ! Saúdações Maritimas .Jaime Pontes .

virita disse...

Que maravilha de relato....Como está linda esta descrição do que aconteceu .Espero que a tenha guardado ,pois parecia que estava lendo uma narrativa do Fernão Mendes Pinto.