quinta-feira, 3 de junho de 2021

História trágico-marítima (CCCXIII)


O naufrágio do rebocador “Aveiro”

O rebocador “Aveiro” afundou-se ontem, em frente de Cabo Ruivo,
tendo-se salvo a tripulação com dificuldade
Ontem de manhã, no Tejo, em frente de Cabo Ruivo, deu-se um acidente que, felizmente, não ocasionou desastres pessoais, por ter submergido, em parte, o rebocador “Aveiro”, da Companhia Nacional de Navegação, adquirido há pouco tempo nos Estados Unidos.
Cerca das 8 horas e meia, o “Aveiro” e mais dois rebocadores, estavam a proceder à manobra para fazer sair do cais da «Atlantic», em Cabo Ruivo, o navio-tanque norueguês “Marathon”, chegado há dias de Puerto de la Cruz, com combustíveis líquidos, que já descarregara.
O rebocador da Companhia Nacional de Navegação tinha um cabo amarrado à popa do navio, e, ao que parece, no decorrer da manobra, não foi solto o cabo tão rapidamente quanto necessário, adernando e começando a meter água, até submergir. Isso levou a que o “Aveiro” tivesse ficado com a popa submersa e a proa fora da água.
Os tripulantes lançaram-se à água, sendo recolhidos, com dificuldade, pelo rebocador “Rata”, da Companhia Italo-Portuguesa. São eles o mestre Pablo Muciano, o contra-mestre João Francisco de Almeida, marinheiros Eduardo dos Santos, José Fino da M. Catita, e moços José Salvador P. Gonçalves, e Luciano Domingos R. Damaso, motoristas Jaime Baptista e Viriato Francisco Borges; ajudantes de motoristas Quirino da Costa Arruda e Francisco Fernandes Nunes Constante.
Ficaram feridos o moço Luciano Damaso e o ajudante de motorista Francisco Constante. O motorista Jaime Baptista quase morreu afogado, por ter bebido muita água, pelo que o seu estado chegou a ser considerado grave.
Chamados os socorros, com o intuito de salvar o “Aveiro”, não o deixando afundar por completo, logo compareceram vários rebocadores da Companhia Nacional de Navegação, o “Cabo Raso” da Administração Geral do porto de Lisboa, a cábrea da Administração Geral, e mergulhadores, começando logo os trabalhos de salvamento. Para o efeito, os mergulhadores fixaram cabos de arame em volta do “Aveiro”, para a cábrea erguer o rebocador e depois as bombas escoarem a água. Os trabalhos continuam, por enquanto, sem resultados práticos.
Jornal “Comércio do Porto”, sábado, 16 de Abril de 1949
Foto do rebocador “Aveiro” de Luís Miguel Correia
(lmcshipsandthesea.blogspot.com)

Características do rebocador “Aveiro”
Armador: Companhia Nacional de Navegação, Lisboa - (24.Jul.1948)
Nº Oficial: H363 - Iic: C.S.T.M. - Porto de registo: Lisboa
Construtor: Montreal Drydocks., Ltd., de Montreal, QC, Canadá, 1944
ex HMCT “Alberton” (W48 – class British Norton) Marinha do Canadá
Arqueação: Tab 242,22 tons - Tal 47,40 tons
Dimensões: Ff 33,68 mt - Pp 31,90 mt - Boca 8,13 mt - Ptl 3,41mt
Propulsão: Dominion Eng. Works Ltd., 1:Di - 9:Ci - 1.000 Bhp - 12 nós
Adquirido pela Companhia Nacional de Navegação, Sarl, em 1947, e matriculado na Capitania de Lisboa em 24 de Julho de 1948, para operar no serviço portuário de apoio à sua frota de navios de longo curso e batelões; vendido em 1972 à firma Navegação Fluvial e Costeira de Rui da Cruz e Júlio da Cruz, Lda., de Lisboa, mantendo o mesmo nome; 2004 entrou em “laid up”; 2005 vendido para sucata à firma Baptistas, de Alhos Vedros; 2008 foi desmantelado.

Os trabalhos para pôr a flutuar o rebocador “Aveiro”
Recomeçaram ontem os trabalhos para reflutuar o rebocador “Aveiro”, que ante-ontem de manhã se afundou em frente de Cabo Ruivo. No local do sinistro encontra-se material da Administração do porto de Lisboa e vários técnicos, sob a direcção do cmdte. Eduardo Correia, adjunto dos serviços marítimos daquele departamento do Estado.
As operações, por serem difíceis, devem demorar muito tempo. A Polícia Marítima vai proceder a averiguações sobre as causas do acidente, a fim de determinar as responsabilidades.
Jornal “Comércio do Porto”, Domingo, 17 de Abril de 1949

Os trabalhos para o reflutuamento do rebocador “Aveiro”
Apesar da neblina que caiu sobre o Tejo, recomeçaram ontem de manhã os trabalhos para o reflutuamento do rebocador “Aveiro”, afundado há dias em frente a Cabo Ruivo.
O sr. comandante Correia, da Administração do porto de Lisboa, dirigiu os trabalhos. As cábreas “Engenheiro Loureiro” e “Engenheiro Aguiar” fora levadas para o local do sinistro, a fim de, com o seu auxílio, ser conseguido pôr a flutuar o “Aveiro”, que se encontra com toda a popa fora de água. Os trabalhos prosseguem, sendo esperado que o “Aveiro” fique hoje a flutuar.
Jornal “Comércio do Porto”, terça-feira, 19 de Abril de 1949

O rebocador “Aveiro” foi retirado da posição em que se encontrava
Durante o dia de ontem prosseguiram os trabalhos de salvamento do rebocador “Aveiro”, que há dias se afundou em frente a Cabo Ruivo.
Os técnicos que empregaram diverso material flutuante nas referidas operações, dirigidas pelo sr. engenheiro Sá Nogueira, administrador geral do porto de Lisboa, conseguiram levantar um pouco a proa do rebocador e retirá-lo da posição em que se encontrava.
Ao começo da madrugada de hoje o “Aveiro”, foi finalmente retirado da situação em que se encontrava, prosseguindo os trabalhos durante a noite para tratarem do esgotamento da água.
Jornal “Comércio do Porto”, quarta-feira, 20 de Abril de 1949

O afundamento do rebocador "Aveiro"
Na capitania do porto de Lisboa, foi lida ontem a sentença que condena a empresa proprietária do rebocador norueguês "Maraton", em 1.466 contos, pelo afundamento do rebocador "Aveiro", da Comp. Nacional de Navegação, em Abril do ano findo, em frente de Cabo Ruivo.
Jornal “Comércio do Porto”, sábado, 24 de Junho de 1950

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