quarta-feira, 30 de maio de 2018
terça-feira, 29 de maio de 2018
História trágico-marítima (CCLIV)
Na praia de Santo André, ao norte da Póvoa,
um navio panamiano encalha no areal
A praia de Santo André, no limite das freguesias contiguas de
A-Ver-o-Mar e a Aguçadoura, local de grande vocação turística
(ali se situa a moderna estalagem de 60 quartos), foi ontem local
de visitas para uns (os mirones) e de grandes preocupações para
outros (as autoridades marítimas).
Cerca das 4 horas da madrugada, e por motivos que se desconhecem, a que não deve ser estranho o denso nevoeiro que cobriu a costa, o navio “Panda Star”, com bandeira panamiana, mas de armador inglês, com 72 metros e de 1.434 toneladas, encalhou na areia daquela praia, ficando totalmente atravessado.
Dado o alerta, foram solicitados os socorros dos Bombeiros Voluntários da Póvoa de Varzim, que, por não disporem de material de socorros a náufragos, não chegaram a sair, cabendo aos seus congéneres de Esposende montar um cabo de vai-vem, com cesta para salvamentos. Igualmente se deslocaram o capitão do porto, capitão-tenente Vidigal Aragão e o comandante da Guarda-fiscal na cidade, tenente Alves Pereira, acompanhado por alguns subordinados, que actuaram de conformidade com a situação do navio.
A tripulação é constituída por três portugueses, dois cabo-verdianos, um espanhol, um tanzaniano (maquinista), um oficial e o comandante, ingleses. A bordo viaja ainda a esposa do comandante.
O navio, na maré-vaza, ficou com fácil acesso desde o areal da praia, por escada de «quebra-costas», tendo por ela saído os tripulantes portugueses José Fernando Gomes da Silva, Zacarias Gomes Bastos e seu sobrinho Fernando Cação Gomes Bastos, todos de Matosinhos, que, cerca das 11 horas se dirigiram à Estalagem de Santo André para fazerem um telefonema, voltando para bordo.
Pouco depois, o José Fernando e o Fernando Cação, acompanhados do cabo-verdiano Vitorino Fortes e do espanhol Manuel Piñero Ribas, munidos das suas malas abandonaram o navio, regressando a casa e declarando que aguardariam por ele em Leixões, se conseguisse safar-se da areia. Caso contrário, procurariam outro local de trabalho. O José Fernando era a primeira vez que embarcava no “Panda Star”.
O capitão do porto ouviu o comandante do navio, que declarou ter a bordo 900 toneladas de madeira, em toros, 40 toneladas de gasóleo, ter saído de Villagarcia (Espanha) e dirigir-se para a Argélia. Recusou auxílios de rebocador, informando que iria tentar safar o navio pelos próprios meios, na maré cheia, portanto entre as 15 e as 16 horas.
Confirmando as previsões dos pescadores da Aguçadoura, a tentativa não surtiu efeito, pese embora todos os esforços da tripulação que restou. O motor foi posto a funcionar em marcha-à-ré, para arrancar o navio da areia, quando já estava totalmente a flutuar, mas sem êxito.
Entretanto, os Voluntários de Esposende montaram preventivamente os lança foguetes para a hipótese do navio se afastar e bater nos rochedos que o ladeavam à proa e à ré. Refira-se que os pescadores sublinhavam a sorte do comandante, por ter conseguido entrar pelo «buraco da agulha», o canal, como lhe chamam, a uma nesga de mar de escassos cem metros de largo, entre maciços de penedia.
As autoridades receavam que, na tentativa de salvamento, o navio pudesse abrir um rombo, derramando o gasóleo, se por acaso batesse nos penedos. Daí a vigilância permanente do capitão do porto.
Ao fim da tarde, o comandante do navio, em face do fracasso da tentativa feita pelos seus próprios meios, acedeu à intervenção de rebocadores em próximas tentativas.
Dado o alerta, foram solicitados os socorros dos Bombeiros Voluntários da Póvoa de Varzim, que, por não disporem de material de socorros a náufragos, não chegaram a sair, cabendo aos seus congéneres de Esposende montar um cabo de vai-vem, com cesta para salvamentos. Igualmente se deslocaram o capitão do porto, capitão-tenente Vidigal Aragão e o comandante da Guarda-fiscal na cidade, tenente Alves Pereira, acompanhado por alguns subordinados, que actuaram de conformidade com a situação do navio.
A tripulação é constituída por três portugueses, dois cabo-verdianos, um espanhol, um tanzaniano (maquinista), um oficial e o comandante, ingleses. A bordo viaja ainda a esposa do comandante.
O navio, na maré-vaza, ficou com fácil acesso desde o areal da praia, por escada de «quebra-costas», tendo por ela saído os tripulantes portugueses José Fernando Gomes da Silva, Zacarias Gomes Bastos e seu sobrinho Fernando Cação Gomes Bastos, todos de Matosinhos, que, cerca das 11 horas se dirigiram à Estalagem de Santo André para fazerem um telefonema, voltando para bordo.
Pouco depois, o José Fernando e o Fernando Cação, acompanhados do cabo-verdiano Vitorino Fortes e do espanhol Manuel Piñero Ribas, munidos das suas malas abandonaram o navio, regressando a casa e declarando que aguardariam por ele em Leixões, se conseguisse safar-se da areia. Caso contrário, procurariam outro local de trabalho. O José Fernando era a primeira vez que embarcava no “Panda Star”.
O capitão do porto ouviu o comandante do navio, que declarou ter a bordo 900 toneladas de madeira, em toros, 40 toneladas de gasóleo, ter saído de Villagarcia (Espanha) e dirigir-se para a Argélia. Recusou auxílios de rebocador, informando que iria tentar safar o navio pelos próprios meios, na maré cheia, portanto entre as 15 e as 16 horas.
Confirmando as previsões dos pescadores da Aguçadoura, a tentativa não surtiu efeito, pese embora todos os esforços da tripulação que restou. O motor foi posto a funcionar em marcha-à-ré, para arrancar o navio da areia, quando já estava totalmente a flutuar, mas sem êxito.
Entretanto, os Voluntários de Esposende montaram preventivamente os lança foguetes para a hipótese do navio se afastar e bater nos rochedos que o ladeavam à proa e à ré. Refira-se que os pescadores sublinhavam a sorte do comandante, por ter conseguido entrar pelo «buraco da agulha», o canal, como lhe chamam, a uma nesga de mar de escassos cem metros de largo, entre maciços de penedia.
As autoridades receavam que, na tentativa de salvamento, o navio pudesse abrir um rombo, derramando o gasóleo, se por acaso batesse nos penedos. Daí a vigilância permanente do capitão do porto.
Ao fim da tarde, o comandante do navio, em face do fracasso da tentativa feita pelos seus próprios meios, acedeu à intervenção de rebocadores em próximas tentativas.
Hoje de tarde nova tentativa de desencalhe
Para tanto, estarão hoje reunidos, às 9 horas da manhã, com o comandante do navio, o capitão do porto da Póvoa, um representante do armador, a empresa «Cotandre», do Porto, um mestre de rebocadores e um oficial da APDL. Só depois desta reunião será decidida a forma como irá ser feita nova tentativa de desencalhe, o que virá a ter lugar, em caso de se ter de fazer na preia-mar, às 16,30 horas.
Entretanto, o navio está já a ser aliviado de parte da carga (a que se encontrava no convés), cerca de 2.500 toneladas de toros de madeira de razoável porte, pelo que foi feito aviso à navegação deste facto.
Porque é lícito recear um provável arrombamento de fundos, foi solicitada a colaboração dos Bombeiros Sapadores do Porto para procederem à trasfega das 40 toneladas de gasóleo que se encontram no navio, para evitar risco de poluição nas praias da costa poveira.
A Câmara Municipal, preocupada com a defesa das suas praias, mobilizou todos os meios que ali chegaram vindos do Sul para Norte. Também naquela tarde teriam sido vistas sair grandes nuvens de fumo negro de bordo. Outras testemunhas afirmam que, já depois da meia-noite, o navio, iluminado, mantinha a proximidade da costa.
Entretanto, um outro navio, do tipo butaneiro, mantém-se estacionado ao largo, desde a madrugada, desconhecendo-se os motivos.
Enfim, há assunto de sobra para as autoridades averiguarem.
(Jornal “Comércio do Porto”, sexta-feira, 10 de Agosto de 1979)
O encalhe do “Panda Star”
O navio sé deverá safar-se com as marés vivas do fim do mês
Entretanto, o navio está já a ser aliviado de parte da carga (a que se encontrava no convés), cerca de 2.500 toneladas de toros de madeira de razoável porte, pelo que foi feito aviso à navegação deste facto.
Porque é lícito recear um provável arrombamento de fundos, foi solicitada a colaboração dos Bombeiros Sapadores do Porto para procederem à trasfega das 40 toneladas de gasóleo que se encontram no navio, para evitar risco de poluição nas praias da costa poveira.
A Câmara Municipal, preocupada com a defesa das suas praias, mobilizou todos os meios que ali chegaram vindos do Sul para Norte. Também naquela tarde teriam sido vistas sair grandes nuvens de fumo negro de bordo. Outras testemunhas afirmam que, já depois da meia-noite, o navio, iluminado, mantinha a proximidade da costa.
Entretanto, um outro navio, do tipo butaneiro, mantém-se estacionado ao largo, desde a madrugada, desconhecendo-se os motivos.
Enfim, há assunto de sobra para as autoridades averiguarem.
(Jornal “Comércio do Porto”, sexta-feira, 10 de Agosto de 1979)
Imagem do navio "Panda Star" encalhado sobre a areia da praia
(minha colecção)
(minha colecção)
O encalhe do “Panda Star”
O navio sé deverá safar-se com as marés vivas do fim do mês
O cargueiro “Panda Star”, encalhado na praia de Santo André, na Aguçadoura, a 6 quilómetros a Norte da cidade da Póvoa de Varzim, mantém-se em situação estável e ali deve permanecer talvez até ao dia 23 do corrente, na melhor das hipóteses, pois a partir dessa data e até ao dia 29 se verificarão as maiores marés-vivas do mês. A esta conclusão chegaram os técnicos da APDL e dos rebocadores, o capitão do porto da Póvoa, o comandante do navio encalhado e o representante dos armadores, em reunião realizada no local, na manhã de ontem.
Porque o navio, embora mais adornado para o lado do mar, os seus ocupantes não correm perigo imediato. Os Bombeiros Voluntários de Esposende desmontaram o cabo de vai-vem e o lança foguetões e retiraram. Entretanto, mantém-se no local elementos da Guarda-fiscal e da Capitania do porto da Póvoa de Varzim, para tomar quaisquer atitudes, que sejam recomendadas em caso de emergência.
O capitão do porto da Póvoa de Varzim recomendou que o “Panda Star” seja escorado na borda do lado do mar, do que se encarregará o gasoleiro “S. Bonifácio”, do porto da Póvoa.
Ontem, ao fim da tarde, chegou ao Porto, de avião, vindo de Londres, um representante dos armadores ingleses, para tomar decisões quanto ao destino do navio. Assim, ou o navio é descarregado da totalidade da sua carga, composta por 975 toneladas de madeira em toros e 40 de gasóleo, e posteriormente será feita nova tentativa de o safar, já com ajuda de rebocador; ou então será dado como perdido e competirá às autoridades portuguesas decidir do seu destino.
Porque o navio, embora mais adornado para o lado do mar, os seus ocupantes não correm perigo imediato. Os Bombeiros Voluntários de Esposende desmontaram o cabo de vai-vem e o lança foguetões e retiraram. Entretanto, mantém-se no local elementos da Guarda-fiscal e da Capitania do porto da Póvoa de Varzim, para tomar quaisquer atitudes, que sejam recomendadas em caso de emergência.
O capitão do porto da Póvoa de Varzim recomendou que o “Panda Star” seja escorado na borda do lado do mar, do que se encarregará o gasoleiro “S. Bonifácio”, do porto da Póvoa.
Ontem, ao fim da tarde, chegou ao Porto, de avião, vindo de Londres, um representante dos armadores ingleses, para tomar decisões quanto ao destino do navio. Assim, ou o navio é descarregado da totalidade da sua carga, composta por 975 toneladas de madeira em toros e 40 de gasóleo, e posteriormente será feita nova tentativa de o safar, já com ajuda de rebocador; ou então será dado como perdido e competirá às autoridades portuguesas decidir do seu destino.
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A propósito das declarações de algumas testemunhas, pode desde já ficar esclarecido que o navio que se encontrava estacionado ao largo era o butaneiro “Cidla”, com avaria na casa das máquinas, o qual terá tido um princípio de incêndio que provocou os fumos que as testemunhas afirmavam ter visto de terra. O navio, já depois de reparada a avaria e já depois, também, de ter sido contactado por um navio-patrulha da Marinha de Guerra Portuguesa, que fiscalizava a área, pôde prosseguir viagem cerca das 3 horas da madrugada.
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O dia de ontem foi de verdadeira romaria para a praia de Santo André, depois que a população tomou conhecimento do que estava a acontecer. Muitos dos condutores, imprevidentemente, estacionaram as suas viaturas ao longo da estreita estrada de acesso, impedindo a livre circulação das viaturas dos bombeiros e das autoridades.
Numa emergência será difícil prestar socorro, se as viaturas continuarem a entupir a estrada. O capitão do porto, comandante Vidigal Aragão, que tem acompanhado esta ocorrência com a maior eficiência e usado de toda a ponderação, sem abdicar da necessária firmeza, apela aos automobilistas que pretendam dirigir-se a Santo André, para que estacionem os seus carros fora da estrada, evitando, assim, impedir o livre acesso às viaturas de socorro.
(Jornal “Comércio do Porto”, sábado, 11 de Agosto de 1979)
Numa emergência será difícil prestar socorro, se as viaturas continuarem a entupir a estrada. O capitão do porto, comandante Vidigal Aragão, que tem acompanhado esta ocorrência com a maior eficiência e usado de toda a ponderação, sem abdicar da necessária firmeza, apela aos automobilistas que pretendam dirigir-se a Santo André, para que estacionem os seus carros fora da estrada, evitando, assim, impedir o livre acesso às viaturas de socorro.
(Jornal “Comércio do Porto”, sábado, 11 de Agosto de 1979)
Ainda sobre o encalhe do “Panda Star”
Como que ainda a «fazer praia» no acolhedor areal da Póvoa de Varzim, o navio “Panda Star”, arvorando bandeira do Panamá, mantém-se «pousado» a aguardar maré que o possa safar.
Ontem, milhares de pessoas estiveram a vê-lo e a tecer, à volta do caso as mais díspares opiniões, não faltando, entre a multidão, os que eram «capazes de o safar dali num abrir e fechar de olhos»; enfim, talentos perdidos… Estiveram a bordo, dois peritos ingleses. À boa maneira britânica, viram, apreciaram, mas nada disseram que se ouvisse.
Diz-se que só lá para fins de Setembro haverá maré capaz de permitir a reflutuação do navio. Diz-se também, que rebocadores virão, antes disso, tentar safar o navio, para já assente na areia que as ondas, aos poucos, vão cavando do lado do mar.
Será isto uma ameaça para o “Panda Star”?
Haverá, realmente, interesse em recuperá-lo?
São perguntas que andam no ar, enquanto o navio está bem assente no chão, ou melhor, na areia.
(Jornal “Comercio do Porto”, segunda-feira, 13 de Agosto de 1979)
Ontem, milhares de pessoas estiveram a vê-lo e a tecer, à volta do caso as mais díspares opiniões, não faltando, entre a multidão, os que eram «capazes de o safar dali num abrir e fechar de olhos»; enfim, talentos perdidos… Estiveram a bordo, dois peritos ingleses. À boa maneira britânica, viram, apreciaram, mas nada disseram que se ouvisse.
Diz-se que só lá para fins de Setembro haverá maré capaz de permitir a reflutuação do navio. Diz-se também, que rebocadores virão, antes disso, tentar safar o navio, para já assente na areia que as ondas, aos poucos, vão cavando do lado do mar.
Será isto uma ameaça para o “Panda Star”?
Haverá, realmente, interesse em recuperá-lo?
São perguntas que andam no ar, enquanto o navio está bem assente no chão, ou melhor, na areia.
(Jornal “Comercio do Porto”, segunda-feira, 13 de Agosto de 1979)
Foto do navio "Panda Star" a entrar no porto de Leixões
(Imagem da Fotomar, Matosinhos)
Encalhado na Póvoa há 25 dias - Longo trabalho de
especialistas consegue salvar o navio “Panda Star”
(Imagem da Fotomar, Matosinhos)
Encalhado na Póvoa há 25 dias - Longo trabalho de
especialistas consegue salvar o navio “Panda Star”
Eram 4 horas e meia da tarde de ontem quando o navio panamiano “Panda Star” entrou no porto de Leixões, depois de ter conseguido «safar-se» das areias da praia da Aguçadoura, na Póvoa de Varzim, onde encalhara na madrugada do dia 8 do mês passado. Tendo acostado ao cais novo de contentores, o navio esperará agora que a Capitania lhe faça uma vistoria ao casco, passando-lhe o respectivo certificado de segurança, seguindo tão cedo quanto possa à sua vida.
A «história» do “Panda Star”, propriedade de um armador inglês, que tem os seus navios sob a nacionalidade panamiana, começou quando os habitantes das freguesias de A-Ver-o-Mar e Aguçadoura viram sair do denso nevoeiro, que fazia na referida madrugada do dia 8 de Agosto passado, um enorme navio que iria encalhar na areia, e que o mar colocaria paralelamente à praia. Os motivos deste acidente, mais um dos têm feito das costas nortenhas um verdadeiro cemitério de navios, não se conseguiram apurar, sendo porém provável que se tenha devido exactamente ao denso nevoeiro que se fazia sentir.
Depois de repetidas tentativas falhadas para desencalhar o navio, com o auxílio das marés-altas, o proprietário fez um acordo com a empresa holandesa Wijsmuller B.v., especialista nestas operações, e representada em Portugal pela agência de navegação Jervell & Knudsen, segundo o qual o proprietário só pagaria a tentativa de desencalhar o navio caso esta resultasse.
Foi assim que há cerca de 15 dias o capitão A. Christiaans tomou conta do “Panda Star”, com a missão de o retirar da praia da Aguçadoura, onde parecia estar de «pedra e cal».
A «história» do “Panda Star”, propriedade de um armador inglês, que tem os seus navios sob a nacionalidade panamiana, começou quando os habitantes das freguesias de A-Ver-o-Mar e Aguçadoura viram sair do denso nevoeiro, que fazia na referida madrugada do dia 8 de Agosto passado, um enorme navio que iria encalhar na areia, e que o mar colocaria paralelamente à praia. Os motivos deste acidente, mais um dos têm feito das costas nortenhas um verdadeiro cemitério de navios, não se conseguiram apurar, sendo porém provável que se tenha devido exactamente ao denso nevoeiro que se fazia sentir.
Depois de repetidas tentativas falhadas para desencalhar o navio, com o auxílio das marés-altas, o proprietário fez um acordo com a empresa holandesa Wijsmuller B.v., especialista nestas operações, e representada em Portugal pela agência de navegação Jervell & Knudsen, segundo o qual o proprietário só pagaria a tentativa de desencalhar o navio caso esta resultasse.
Foi assim que há cerca de 15 dias o capitão A. Christiaans tomou conta do “Panda Star”, com a missão de o retirar da praia da Aguçadoura, onde parecia estar de «pedra e cal».
Ninguém acreditava que o salvamento do navio fosse possível
Foi exactamente com o capitão Christiaans que a reportagem falou, depois de ter sido possível subir a bordo do “Panda Star”, ainda a manobra de atracação não tinha terminado. Visivelmente satisfeito, e num inglês cuja pronúncia possivelmente flamenga se tornava de difícil entendimento, este especialista da Wijsmuller em operações de desencalhe, começaria por dizer que «ninguém na Póvoa acreditava que fosse possível salvar o navio», mas que a operação «correu maravilhosamente», não tendo acontecido nenhuma avaria.
O processo usado – explicaria o capitão Christiaans – foi o de retirar com «bulldozers» a areia junto ao navio que se encontrava em paralelo à praia e a ele encostada. Mais, uma âncora ficou presa no mar ligada a um cabo com 900 metros. Isto, evidentemente, depois de ter sido retirada a carga que levava (toros de madeira), assim como quase totalmente esvaziadas as reservas de combustível.
E assim, retirada a areia necessária, o navio esperou pelas marés-vivas que se costumam fazer sentir com mais volume, nos princípios do corrente mês de Setembro. Na manhã de ontem, durante a maré cheia, o navio começou a mover-se para sul, do lado da ré, de forma que, logo que a hélice pôde trabalhar o navio saiu mesmo de ré, fazendo então uma difícil manobra entre os bancos de areia donde tinha saído e os rochedos que mais ao largo abundavam, conseguindo sair de proa evitando-os a todos.
O processo usado – explicaria o capitão Christiaans – foi o de retirar com «bulldozers» a areia junto ao navio que se encontrava em paralelo à praia e a ele encostada. Mais, uma âncora ficou presa no mar ligada a um cabo com 900 metros. Isto, evidentemente, depois de ter sido retirada a carga que levava (toros de madeira), assim como quase totalmente esvaziadas as reservas de combustível.
E assim, retirada a areia necessária, o navio esperou pelas marés-vivas que se costumam fazer sentir com mais volume, nos princípios do corrente mês de Setembro. Na manhã de ontem, durante a maré cheia, o navio começou a mover-se para sul, do lado da ré, de forma que, logo que a hélice pôde trabalhar o navio saiu mesmo de ré, fazendo então uma difícil manobra entre os bancos de areia donde tinha saído e os rochedos que mais ao largo abundavam, conseguindo sair de proa evitando-os a todos.
Há mais de dez anos que nenhum navio
encalhado na costa nortenha conseguia safar-se
encalhado na costa nortenha conseguia safar-se
Esta «operação de salvamento» constituiu uma verdadeira vitória, tanto mais que, para além de possíveis prejuízos de poluição que evitou, foi a primeira vez que, pelo menos nestes dez últimos anos, um navio encalhado na costa a Norte de Espinho consegue safar-se.
O capitão A. Christiaans, responsável por esta proeza, haveria também de agradecer o próximo auxílio da empresa portuguesa Ferrinha, de Leça, que acompanhou toda a operação, assim como ao proprietário da Estalagem de Santo André, que forneceu à tripulação água potável e onde foi lavada a respectiva roupa.
Sobre o preço por que terá ficado ao armador proprietário do “Panda Star” toda esta bem-sucedida operação de salvamento, o capitão Christiaans disse «ser um técnico não sabe essas coisas de dinheiro», sendo no entanto de esperar que, pelo tipo de contrato estabelecido, a verba a receber pela empresa Wijsmuller não seja pequena, tanto mais que o navio se encontra na mesma como quando encalhou.
(Jornal “Comercio do Porto”, segunda-feira, 4 de Setembro de 1979)
O capitão A. Christiaans, responsável por esta proeza, haveria também de agradecer o próximo auxílio da empresa portuguesa Ferrinha, de Leça, que acompanhou toda a operação, assim como ao proprietário da Estalagem de Santo André, que forneceu à tripulação água potável e onde foi lavada a respectiva roupa.
Sobre o preço por que terá ficado ao armador proprietário do “Panda Star” toda esta bem-sucedida operação de salvamento, o capitão Christiaans disse «ser um técnico não sabe essas coisas de dinheiro», sendo no entanto de esperar que, pelo tipo de contrato estabelecido, a verba a receber pela empresa Wijsmuller não seja pequena, tanto mais que o navio se encontra na mesma como quando encalhou.
(Jornal “Comercio do Porto”, segunda-feira, 4 de Setembro de 1979)
sexta-feira, 25 de maio de 2018
Histórias do mar português!
Caça à baleia gerou incidente
“Sierra” e “Sea Shepherd” permanecem em Leixões
Guardo ainda na memória, a presença dos navios referidos na abaixo mencionada notícia, em Leixões, muito embora só me tivesse parecido merecer algum relevo a segunda e terceira parte do episódio, do qual fiz algumas fotos.
A segunda parte da história está relacionada com o arresto do “Sea Shepherd”, pelo juiz do Tribunal de Matosinhos, que conduziu o processo, e a longa demora para decidir sobre a venda do navio em hasta pública, no sentido de serem ressarcidas as despesas com a reparação do navio-baleeiro “Sierra”. Esta ideia, antecipada ao parecer judicial, era voz corrente por corresponder à decisão habitual.
Daí que a pouca tripulação a bordo do “Sea Shepherd”, optando não esperar mais pela decisão judicial, agravada pelo facto de não lhes ser favorável, abriram as válvulas dos tanques do navio, provocando-lhe o afundamento. E, lá ficou durante muito tempo, a ocupar espaço junto ao cais, privando outros navios de efectuar operações portuárias, num local que privilegia a descarga de graneis sólidos.
Obviamente, já numa fase posterior, havia que dar solução a este embaraço e para tal foi contratada uma empresa para remover o destroço do “Sea Shepherd” e levá-lo para demolir. Apesar desta situação, que levou à total destruição do navio, há também notícias publicadas sensivelmente na mesma época, a dar conhecimento do afundamento do navio-baleeiro “Sierra”, em Lisboa, devido a explosão.
Em função deste resultado, perfeitamente descrita e explicada na notícia, não terá sido do agrado de nenhum dos intervenientes, resumindo-se tudo apenas a mais uma história, das muitas que há para descobrir, passadas no mar português.
Imagem do navio-baleeiro "Sierra"
Permanecem em Leixões os dois navios que recentemente, há pouco mais de um mês, foram intérpretes de um incidente estranho e curioso pelas formas de que se revestiu: não é, com efeito, habitual pelo menos desde que a pirataria deixou de sulcar os mares, uma embarcação abalroar propositadamente uma outra. Mas foi exactamente isso que aconteceu e por razões que se situam no campo da defesa da natureza, concretamente na preservação da fauna marinha.
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O caso passou-se a cerca de 200 milhas do porto de Leixões, em 16 de Julho. O “Sea Shepherd” (Pastor do Mar), tripulado normalmente por 17 homens provenientes de cinco países diferentes, mas naquela investida reduzido a três elementos, zarpou de Leixões a toda a velocidade para abalroar um baleeiro cipriota, de origem espanhola, o “Sierra”, pertencente a um armador sul-africano.
Tratava-se, afinal, de um velho ajuste de contas. De há muito que a embarcação analisava a actividade do “Sierra”, concentrada na pesca da baleia, que o considerava «pirata» e como tal definia-a como um inimigo a abater.
Daí, a acção de represália empreendida pelo “Sea Shepherd” em nome da salvação dos cetáceos que ainda restam nos oceanos. Mas nem toda a tripulação esteve de acordo com o abalroamento proposto.
Apenas três elementos, com efeito, entre os quais Paul Watson, jornalista canadiano que abandonou a profissão para se dedicar de corpo e alma à luta contra os navios, que fazendo tábua rasa da regulamentação internacional, pescam baleias em diferentes pontos do globo, aceitaram a operação.
A «vingança» acabaria, pois, por suceder com o abalroamento do navio cipriota que, após a colisão propositada, ficou com um rombo na proa junto à linha de água, que o fez vir até Leixões com água aberta.
O «Pastor do Mar», entretanto, apesar de se dirigir para o alto mar seria, algumas horas mais tarde, apresado pelo navio-patrulha “Limpopo”, mandada sair logo que a tripulação do “Sierra”, reclamando socorro, alertaram as autoridades marítimas portuguesas.
A partir de então, o “Sea Shepherd”, ficaria aprisionado em Leixões onde ainda se encontra, aguardando o desenrolar do processo judicial que lhe foi movido pelos representantes do armador do navio baleeiro abalroado. Este, por seu turno, espera também em Leixões que sejam reparados os danos que o impedem de navegar.
Tratava-se, afinal, de um velho ajuste de contas. De há muito que a embarcação analisava a actividade do “Sierra”, concentrada na pesca da baleia, que o considerava «pirata» e como tal definia-a como um inimigo a abater.
Daí, a acção de represália empreendida pelo “Sea Shepherd” em nome da salvação dos cetáceos que ainda restam nos oceanos. Mas nem toda a tripulação esteve de acordo com o abalroamento proposto.
Apenas três elementos, com efeito, entre os quais Paul Watson, jornalista canadiano que abandonou a profissão para se dedicar de corpo e alma à luta contra os navios, que fazendo tábua rasa da regulamentação internacional, pescam baleias em diferentes pontos do globo, aceitaram a operação.
A «vingança» acabaria, pois, por suceder com o abalroamento do navio cipriota que, após a colisão propositada, ficou com um rombo na proa junto à linha de água, que o fez vir até Leixões com água aberta.
O «Pastor do Mar», entretanto, apesar de se dirigir para o alto mar seria, algumas horas mais tarde, apresado pelo navio-patrulha “Limpopo”, mandada sair logo que a tripulação do “Sierra”, reclamando socorro, alertaram as autoridades marítimas portuguesas.
A partir de então, o “Sea Shepherd”, ficaria aprisionado em Leixões onde ainda se encontra, aguardando o desenrolar do processo judicial que lhe foi movido pelos representantes do armador do navio baleeiro abalroado. Este, por seu turno, espera também em Leixões que sejam reparados os danos que o impedem de navegar.
Imagem do afundamento do "Sea Shepherd"
«Tentativa de homicídio»
«Tentativa de homicídio»
Arrestado em Matosinhos como «fiança» pelos prejuízos que provocou, o “Sea Shepherd” também sofreu alguns danos, o que não lhe impedem contudo, de navegar, devido à colisão havida. Os seus tripulantes responsáveis pela «vingança» ecológica ficaram com os passaportes apreendidos e tiveram que pagar caução para esperar em liberdade o julgamento do caso. Só que, mesmo sem passaportes, acabariam por deixar o nosso país continuando ausentes.
O «Pastor do Mar» terá que responder por uma acção movida pelo “Sierra”, que aguarda a sua vez no Tribunal de Matosinhos, por «tentativa de homicídio».
Objectivamente, a embarcação que provocou propositadamente o abalroamento incorreu em franca ilegalidade que a obrigará, certamente, a pagar uma pesada indemnização. Mas terá o crime de Watson e companheiros compensado?
Para eles, o importante era denunciar o desrespeito flagrante, a cumplicidade do silêncio com que conta um baleeiro como o “Sierra”, despertar a atenção da opinião pública e de organismos internacionais para a necessidade de proteger certas espécies em vias de extinção. Tê-lo-ão, de facto, conseguido, mas agora quem paga os prejuízos?
O «Pastor do Mar» terá que responder por uma acção movida pelo “Sierra”, que aguarda a sua vez no Tribunal de Matosinhos, por «tentativa de homicídio».
Objectivamente, a embarcação que provocou propositadamente o abalroamento incorreu em franca ilegalidade que a obrigará, certamente, a pagar uma pesada indemnização. Mas terá o crime de Watson e companheiros compensado?
Para eles, o importante era denunciar o desrespeito flagrante, a cumplicidade do silêncio com que conta um baleeiro como o “Sierra”, despertar a atenção da opinião pública e de organismos internacionais para a necessidade de proteger certas espécies em vias de extinção. Tê-lo-ão, de facto, conseguido, mas agora quem paga os prejuízos?
O “Sierra” transforma-se em arrastão
Embora o armador não se encontre actualmente entre nós, é provável que o “Sierra” abandone as suas actuais características para ser transformado em arrastão. O que deixa pressupor uma certa vitória para o “Sea Shepherd” que, assim, não voltará a ter que denunciar a actividade pouco clara da embarcação registada em Chipre. Esta, para já, terá de ser reparada antes de se dirigir rumo a um estaleiro nacional para ser concretizada a sua transformação. A sua reparação que irá processar-se em Matosinhos, foi objecto de concurso, prevendo-se que o orçamento para reparar os danos provocados pela colisão ultrapassarão os mil contos.
Para Paul Watson, o antigo jornalista que comandou o abalroamento, o “Sierra” é pertença de duas companhias, a Taiyo, japonesa com 75 por cento do capital e uma outra norueguesa, o Banco Furrentnings, que não se quer assumir como tal, pois esse facto traria problemas internacionais aos governos dos respectivos países, que assinaram convenções que não se preocupam em cumprir.
O “Sea Shepherd”, capitaneado por Lavis Sellers, um dos 14 elementos que se recusou a participar na operação de abalroamento, que tem na sua torre a inscrição «salvem as Baleias», um apelo que lhe serve de palavra de ordem, é um navio oceanográfico que sulca os mares para estudar e proteger a fauna, denominando-se por isso, de «Pastor do Mar». Desta vez, porém, a sua função sofreu um ligeiro desvio, para punir pelas suas próprias mãos um navio «inimigo»… das baleias!
Para Paul Watson, o antigo jornalista que comandou o abalroamento, o “Sierra” é pertença de duas companhias, a Taiyo, japonesa com 75 por cento do capital e uma outra norueguesa, o Banco Furrentnings, que não se quer assumir como tal, pois esse facto traria problemas internacionais aos governos dos respectivos países, que assinaram convenções que não se preocupam em cumprir.
O “Sea Shepherd”, capitaneado por Lavis Sellers, um dos 14 elementos que se recusou a participar na operação de abalroamento, que tem na sua torre a inscrição «salvem as Baleias», um apelo que lhe serve de palavra de ordem, é um navio oceanográfico que sulca os mares para estudar e proteger a fauna, denominando-se por isso, de «Pastor do Mar». Desta vez, porém, a sua função sofreu um ligeiro desvio, para punir pelas suas próprias mãos um navio «inimigo»… das baleias!
Imagens do "Sea Shepherd" reposto a flutuar
Deve ser proibida!
Deve ser proibida!
Enquanto o director das Pescas Portuguesas afirmava, pouco depois do incidente, que o nosso país nada tinha a ver com este escândalo, o Núcleo Português de Estudo e Protecção da Vida Selvagem defendia em comunicado que «a caça às baleias deve ser proibida nas águas portuguesas, assim como a entrada de baleeiros nos nossos portos».
«Mas não podemos concordar com o processo de contestação agora usado pelo “Sea Shepherd” em relação ao baleeiro “Sierra”» – esclarece o NPEPVS no seu comunicado.
Acrescentando que «é, no entanto, sintomático que um organismo profundamente empenhado na conservação das baleias, depois de usar todos os processos de actuação possíveis, se veja obrigado a recorrer a um abalroamento para ser ouvido».
Apesar das reservas feitas no caso presente o núcleo exprime o seu «apoio global» ao referido organismo, a Greenpeace Foundation (Fundação Paz Verde), proprietária do “Sea Shepherd”, «que só em 1978 – diz-se no comunicado – salvou mais de 1.400 baleias».
O NPEPVS observa «que nos últimos 50 anos foram mortas mais de dois milhões de baleias, o que significa mais de cem por dia ou quatro a cinco por hora». «É necessário alterar esta situação, no sentido de não provocar mais uma catástrofe ecológica de consequências imprevisíveis» - salienta o comunicado.
Ao enumerar as «medidas mais urgentes a tomar» a nível internacional, o Núcleo indica a proibição total da captura de baleias até melhor se conhecerem os efectivos destas, uma resolução da Comissão Baleeira Internacional (IWC – International Whaling Comission) que proíba a caça à baleia durante dez anos e a criação de reservas internacionais para aqueles animais.
A caça à baleia á actualmente controlada, a nível mundial, pela IWC, que estabelece os limites anuais de captura para cada espécie. Porém, o NPEPVS afirma serem os critérios em vigor «puramente teóricos» e «incapazes de proteger a espécie».
Em abono desta crítica, o NPEPVS argumenta que «em 1972 foram abatidas 38.600 baleias, ao passo que em 1977 apenas se chegou a 17.830, e as baleias capturadas eram, em regra, mais pequenas».
O comunicado do NPEPVS termina revelando estatísticas que indicam ser a baleia boreal e a baleia branca, duas espécies, aliás, hoje totalmente protegidas, as mais atingidas. Quanto à primeira, cujos efectivos antes da comercialização e da caça eram de 50 mil exemplares, está hoje reduzida a dois mil. No caso da segunda espécie, o decréscimo foi de 50 mil para quatro mil.
A situação das restantes espécies traduz-se pelos seguintes quantitativos, também respeitantes aos efectivos antes da comercialização e da caça e aos estimados actualmente: cachalote fêmea, 570 mil/ 390 mil; baleia anã, 360 mil/ 300 mil; cachalote macho, 530 mil/ 230 mil; baleia ordinária, 450 mil/ 100 mil; rorqual boreal, 200 mil/ 75 mil; porqual de bryde, 100 mil/ 40 mil; baleia azul, 210 mil/ 13 mil; baleia cinzenta, 15 mil/ 11 mil e jubarte, 100 mil/ 7 mil.
Jornal Comércio do Porto, Setembro de 1979
«Mas não podemos concordar com o processo de contestação agora usado pelo “Sea Shepherd” em relação ao baleeiro “Sierra”» – esclarece o NPEPVS no seu comunicado.
Acrescentando que «é, no entanto, sintomático que um organismo profundamente empenhado na conservação das baleias, depois de usar todos os processos de actuação possíveis, se veja obrigado a recorrer a um abalroamento para ser ouvido».
Apesar das reservas feitas no caso presente o núcleo exprime o seu «apoio global» ao referido organismo, a Greenpeace Foundation (Fundação Paz Verde), proprietária do “Sea Shepherd”, «que só em 1978 – diz-se no comunicado – salvou mais de 1.400 baleias».
O NPEPVS observa «que nos últimos 50 anos foram mortas mais de dois milhões de baleias, o que significa mais de cem por dia ou quatro a cinco por hora». «É necessário alterar esta situação, no sentido de não provocar mais uma catástrofe ecológica de consequências imprevisíveis» - salienta o comunicado.
Ao enumerar as «medidas mais urgentes a tomar» a nível internacional, o Núcleo indica a proibição total da captura de baleias até melhor se conhecerem os efectivos destas, uma resolução da Comissão Baleeira Internacional (IWC – International Whaling Comission) que proíba a caça à baleia durante dez anos e a criação de reservas internacionais para aqueles animais.
A caça à baleia á actualmente controlada, a nível mundial, pela IWC, que estabelece os limites anuais de captura para cada espécie. Porém, o NPEPVS afirma serem os critérios em vigor «puramente teóricos» e «incapazes de proteger a espécie».
Em abono desta crítica, o NPEPVS argumenta que «em 1972 foram abatidas 38.600 baleias, ao passo que em 1977 apenas se chegou a 17.830, e as baleias capturadas eram, em regra, mais pequenas».
O comunicado do NPEPVS termina revelando estatísticas que indicam ser a baleia boreal e a baleia branca, duas espécies, aliás, hoje totalmente protegidas, as mais atingidas. Quanto à primeira, cujos efectivos antes da comercialização e da caça eram de 50 mil exemplares, está hoje reduzida a dois mil. No caso da segunda espécie, o decréscimo foi de 50 mil para quatro mil.
A situação das restantes espécies traduz-se pelos seguintes quantitativos, também respeitantes aos efectivos antes da comercialização e da caça e aos estimados actualmente: cachalote fêmea, 570 mil/ 390 mil; baleia anã, 360 mil/ 300 mil; cachalote macho, 530 mil/ 230 mil; baleia ordinária, 450 mil/ 100 mil; rorqual boreal, 200 mil/ 75 mil; porqual de bryde, 100 mil/ 40 mil; baleia azul, 210 mil/ 13 mil; baleia cinzenta, 15 mil/ 11 mil e jubarte, 100 mil/ 7 mil.
Jornal Comércio do Porto, Setembro de 1979
terça-feira, 22 de maio de 2018
Divulgação!
Vila do Conde
Um porto para o Mundo
Com referência às decisões aprovadas no Congresso Internacional sobre Construção Naval, Arte, Técnica e Património, que decorreu em Vila do Conde, de 23 a 25 de Maio de 2016, com o propósito de ter como mais-valia a construção naval em madeira, para ser lançada a candidatura desta actividade a Património Imaterial da Humanidade, foi lançado um livro versando os assuntos discutidos, com a promessa de que outros se seguirão a curto prazo.
À apresentação do livro, que teve lugar no último sábado, no edifício da Alfândega, em Vila do Conde, presidiu a presidente da Câmara Municipal, Dra. Elisa Ferraz, acompanhada pela presidente da Comissão Científica do Projecto «Vila do Conde: um porto para o Mundo», Prof. Dra. Amélia Polónia, e pelo presidente da Comissão de Honra do projecto, Dr. António Carmo Reis.
Na nota introdutória a Dra. Amélia Polónia sustenta que «a realização do Congresso Internacional, que deu origem a esta publicação I…I prossegue uma intenção de cruzar olhares, que incluem as perspectivas e os saberes de agentes locais, investigadores e técnicos, com os de investigadores e especialistas portugueses e estrangeiros, que nos dão o privilégio da sua presença e do seu saber. Um saber que se quer comparativo, critico e analítico – três componentes essenciais para a validação de qualquer conhecimento – e por isso também daquele que se pretende que venha a sustentar o projecto Vila do Conde: um porto para o Mundo.»
O livro contém um conjunto de temas divididos em três partes distintas: Na primeira parte relacionada com a «Construção Naval, Politicas Régias e Empreendedorismo Local», os textos são assinados por Liliana Oliveira, Amélia Polónia, António do Carmo Reis, António José Carmo, e José Nunez.
Na segunda parte do livro sobre a «Construção Naval, Agentes e Comunidades», os textos são da autoria de Carlos Valentim, Amândio Barros, e Sílvio Rodrigues. Já os últimos textos sobre a «Construção Naval, Patrimónios», os assuntos tratados são da autoria de Carlos Carvalho, António Costa Canas e Cristina Giesteira.
Com os habituais agradecimentos pela presença de todos os convidados, a presidente da edilidade vilacondense deu por encerrada a cerimónia, lembrando que está viva a vontade de ver ultrapassada a demora do governo, para agilizar este projecto da maior importância para a cidade.
À apresentação do livro, que teve lugar no último sábado, no edifício da Alfândega, em Vila do Conde, presidiu a presidente da Câmara Municipal, Dra. Elisa Ferraz, acompanhada pela presidente da Comissão Científica do Projecto «Vila do Conde: um porto para o Mundo», Prof. Dra. Amélia Polónia, e pelo presidente da Comissão de Honra do projecto, Dr. António Carmo Reis.
Na nota introdutória a Dra. Amélia Polónia sustenta que «a realização do Congresso Internacional, que deu origem a esta publicação I…I prossegue uma intenção de cruzar olhares, que incluem as perspectivas e os saberes de agentes locais, investigadores e técnicos, com os de investigadores e especialistas portugueses e estrangeiros, que nos dão o privilégio da sua presença e do seu saber. Um saber que se quer comparativo, critico e analítico – três componentes essenciais para a validação de qualquer conhecimento – e por isso também daquele que se pretende que venha a sustentar o projecto Vila do Conde: um porto para o Mundo.»
O livro contém um conjunto de temas divididos em três partes distintas: Na primeira parte relacionada com a «Construção Naval, Politicas Régias e Empreendedorismo Local», os textos são assinados por Liliana Oliveira, Amélia Polónia, António do Carmo Reis, António José Carmo, e José Nunez.
Na segunda parte do livro sobre a «Construção Naval, Agentes e Comunidades», os textos são da autoria de Carlos Valentim, Amândio Barros, e Sílvio Rodrigues. Já os últimos textos sobre a «Construção Naval, Patrimónios», os assuntos tratados são da autoria de Carlos Carvalho, António Costa Canas e Cristina Giesteira.
Com os habituais agradecimentos pela presença de todos os convidados, a presidente da edilidade vilacondense deu por encerrada a cerimónia, lembrando que está viva a vontade de ver ultrapassada a demora do governo, para agilizar este projecto da maior importância para a cidade.
sábado, 19 de maio de 2018
terça-feira, 15 de maio de 2018
Navio francês "Le Marité”
O último veleiro de madeira francês da pesca na Terra Nova
Imagem do "Le Marité", retirada da página oficial do navio
Este navio foi fortuitamente encontrado em 1922 pelo armador Charles Le Borgne, já parcialmente construído, num estaleiro de Fécamp, concebido de acordo com a legislação de 1920, para aumentar a frota francesa da pesca do arenque.
Ainda em 1922, o navio permanece em estaleiro, e durante o período de um ano, recebe as transformações necessárias para armar em lugre-patacho, para futura operação na pesca do bacalhau na Terra Nova. No início navegava com uma equipagem composta por 24 tripulantes, que utilizavam uma dúzia de canoas na pesca. Partiu de Fécamp para a primeira campanha em 11 de Abril de 1924.
A cerimónia do bota-abaixo ocorreu durante o verão de 1923, devendo ter sido baptizado com o nome “Marie-Thérèse”, porém, como já existia um outro navio com este nome, a opção recaiu sobre o diminutivo “Marité”, que foi mantido ao longo dos anos, independentemente do facto de ter mudado várias vezes de proprietário.
Pode ser complementada esta informação através da página oficial do navio, no sítio www.lemarite.com
Este navio foi fortuitamente encontrado em 1922 pelo armador Charles Le Borgne, já parcialmente construído, num estaleiro de Fécamp, concebido de acordo com a legislação de 1920, para aumentar a frota francesa da pesca do arenque.
Ainda em 1922, o navio permanece em estaleiro, e durante o período de um ano, recebe as transformações necessárias para armar em lugre-patacho, para futura operação na pesca do bacalhau na Terra Nova. No início navegava com uma equipagem composta por 24 tripulantes, que utilizavam uma dúzia de canoas na pesca. Partiu de Fécamp para a primeira campanha em 11 de Abril de 1924.
A cerimónia do bota-abaixo ocorreu durante o verão de 1923, devendo ter sido baptizado com o nome “Marie-Thérèse”, porém, como já existia um outro navio com este nome, a opção recaiu sobre o diminutivo “Marité”, que foi mantido ao longo dos anos, independentemente do facto de ter mudado várias vezes de proprietário.
Pode ser complementada esta informação através da página oficial do navio, no sítio www.lemarite.com
O "Le Marité" de visita ao Porto, atracado no cais de Gaia
Características do navio “Le Marité”
Características do navio “Le Marité”
Construído em madeira, tem 3 mastros, arma em lugre-patacho
Construtor: Desconhecido, Fécamp, França, 1923
Peso total: 250 toneladas
Dimensões: Pp 44,90 mts - Boca 8,00 mts - Pontal 2,60 mts
Superfície velica: 16 velas - 650 m2
Propulsão: 1:Diesel - 450 Cv
Equipagem: 5 a 6 tripulantes - 74 passageiros
Construtor: Desconhecido, Fécamp, França, 1923
Peso total: 250 toneladas
Dimensões: Pp 44,90 mts - Boca 8,00 mts - Pontal 2,60 mts
Superfície velica: 16 velas - 650 m2
Propulsão: 1:Diesel - 450 Cv
Equipagem: 5 a 6 tripulantes - 74 passageiros
De visita à cidade do Porto, o navio esteve atracado no cais de Gaia, de 7 a 11 de Maio p.p., tendo chegado procedente de Alicante. Encontra-se a efectuar um cruzeiro de promoção patrocinado pela “Exotic Taste of Europe”. Continuou esta viagem com destino ao porto de Nantes.
O objectivo da escala no Porto, visou mostrar através de uma exposição fotográfica, produtos agrícolas menos conhecidos de regiões ou locais com proximidade ao centro da Europa.
Naturalmente, exibe também uma considerável quantidade de informação e imagens, do glorioso passado em que esteve ligado à pesca do bacalhau.
O objectivo da escala no Porto, visou mostrar através de uma exposição fotográfica, produtos agrícolas menos conhecidos de regiões ou locais com proximidade ao centro da Europa.
Naturalmente, exibe também uma considerável quantidade de informação e imagens, do glorioso passado em que esteve ligado à pesca do bacalhau.
sábado, 12 de maio de 2018
História trágico-marítima (CCLIII)
O naufrágio do navio-motor “Sea Star”, no Cabo Raso
Salvos os sete tripulantes de um cargueiro dinamarquês
encalhado ao largo do Guincho
Pelas 12 horas e 30 minutos de ontem, encalhou nos rochedos, junto do farol do Cabo Raso, ao largo do Guincho, o cargueiro dinamarquês “Sea Star”, de 980 toneladas, que era aguardado no porto de Lisboa.
Trazendo um carregamento de peças de automóvel para serem montadas em Portugal, aquele navio era tripulado por sete marítimos, dois dos quais portugueses. Às 14 horas, estes homens já se encontravam em terra, sãos e salvos.
O alarme foi dado pelo chefe do farol do Cabo Raso, João Félix Francisco, tendo avançado brigadas de socorro, o barco salva-vidas de Paço de Arcos, e, por terra, pessoal e material do serviço de Socorros a Náufragos dos Bombeiros Voluntários de Cascais. Foi, também, solicitado o auxílio do barco dos pilotos da barra.
Apesar do mar bravio, foi possível estabelecer um cabo de comunicação com o navio, processando-se a operação de salvamento dos tripulantes.
O “Sea Star” vinha de Bordéus com um comandante novo, escalando, habitualmente, os portos de Leixões, Lisboa e Setúbal. Com 59 metros de comprimento, foi construído em 1968 e está registado em Hundested, na Dinamarca. Vinha consignado à agência Orey Antunes, e, pela posição crítica em que ficou, considera-se perdido.
Os náufragos portugueses são: António Augusto Marques, de 37 anos, da Torreira; e Fernando Correia dos Santos, de 32 anos, de Aveiro.
(In jornal “Comércio do Porto”, 27 de Dezembro de 1972)
Trazendo um carregamento de peças de automóvel para serem montadas em Portugal, aquele navio era tripulado por sete marítimos, dois dos quais portugueses. Às 14 horas, estes homens já se encontravam em terra, sãos e salvos.
O alarme foi dado pelo chefe do farol do Cabo Raso, João Félix Francisco, tendo avançado brigadas de socorro, o barco salva-vidas de Paço de Arcos, e, por terra, pessoal e material do serviço de Socorros a Náufragos dos Bombeiros Voluntários de Cascais. Foi, também, solicitado o auxílio do barco dos pilotos da barra.
Apesar do mar bravio, foi possível estabelecer um cabo de comunicação com o navio, processando-se a operação de salvamento dos tripulantes.
O “Sea Star” vinha de Bordéus com um comandante novo, escalando, habitualmente, os portos de Leixões, Lisboa e Setúbal. Com 59 metros de comprimento, foi construído em 1968 e está registado em Hundested, na Dinamarca. Vinha consignado à agência Orey Antunes, e, pela posição crítica em que ficou, considera-se perdido.
Os náufragos portugueses são: António Augusto Marques, de 37 anos, da Torreira; e Fernando Correia dos Santos, de 32 anos, de Aveiro.
(In jornal “Comércio do Porto”, 27 de Dezembro de 1972)
Imagem do navio encalhado, publicada no referido jornal
Características do navio-motor “Sea Star”
Características do navio-motor “Sea Star”
Armador: Starcoast K/S, Hundested, Dinamarca
Construtor: Oberwinter Ship Works, Oberwinter, Alemanha, 1968
Arqueação: Tab 400,00 tons
Dimensões: Pp 59,30 mts - Boca 10,80 mts
Propulsão: 1:Di - 12 m/h
Equipagem: 7 tripulantes
Construtor: Oberwinter Ship Works, Oberwinter, Alemanha, 1968
Arqueação: Tab 400,00 tons
Dimensões: Pp 59,30 mts - Boca 10,80 mts
Propulsão: 1:Di - 12 m/h
Equipagem: 7 tripulantes
O sinistro no farol do Cabo Raso
Agravou-se a situação do cargueiro dinamarquês – Só esta
tarde deve ser bombado para terra o combustível do navio
Agravou-se a situação do cargueiro dinamarquês – Só esta
tarde deve ser bombado para terra o combustível do navio
Orientadas pela Comissão de Defesa contra a Poluição Marítima do Ministério da Marinha, foram iniciados, ontem, as operações com vista a bombear 30 toneladas de gasóleo do cargueiro dinamarquês “Sea Star”, de 399 toneladas, encalhado junto ao farol do Cabo Raso, como foi ontem noticiado.
A situação do navio piorou, na medida em que avançou bastante para terra e estabilizou de tal maneira, sobre os rochedos, que, no entender dos técnicos, a sua recuperação é impossível. Com a maré baixa, quase se torna viável uma visita, a pé, ao navio encalhado.
Entretanto, as reservas de combustível do “Sea Star” tornaram-se altamente perigosas para os lagosteiros vizinhos, aliás já atingidos pelo óleo derramado pelo navio. Se não fôr possível retirar o gasóleo armazenado nos tanques, aquela zona da costa portuguesa – que alimenta em mariscos uma série de conhecidos restaurantes numa das mais intensas zonas turísticas do País – ficará de tal modo poluída que condenará a existência de viveiros por largos anos.
As operações para a bombagem tiveram início ontem de manhã, com o auxílio de um helicóptero da Força Aérea e dos Bombeiros Voluntários de Cascais. Dois elementos desta Corporação foram colocados a bordo do “Sea Star”, por aquele aparelho, permitindo assim a remontagem de um cabo de vai-vem e a ligação de mangueiras a um tanque da Sonap. Técnicos da Gazlimpo tem colaborado na tentativa. Porém, surgiu um grave problema: os depósitos de combustível encontram-se sob a carga transportada pelo navio, sendo quase certo terem de recorrer ao processo de ar comprimido para fazerem a bombagem.
Estas operações foram interrompidas ao cair da noite, por falta de algum material julgado necessário, esperando-se que recomecem ao princípio da tarde de hoje.
A empresa à qual o navio vinha consignado, Orey Antunes, informou, ontem à noite, que, logo que o tempo melhore, irá ser feita nova tentativa – aliás sem esperanças – para salvar o navio. Depois, o problema pertence às companhias seguradoras, que decidirão, inclusivamente, sobre o destino a dar à carga que puder ser recuperada.
Uma boa parte do carregamento era constituído por peças para as linhas de montagem dos automóveis «Peugeot» em Portugal.
Os tripulantes – 5 dinamarqueses e dois portugueses da região de Aveiro, que ontem foram identificados – encontram-se hospedados num hotel de Lisboa, até ao cumprimento das formalidades legais. Depois tratarão da sua vida.
(In jornal “Comércio do Porto”, 28 de Dezembro de 1972)
A situação do navio piorou, na medida em que avançou bastante para terra e estabilizou de tal maneira, sobre os rochedos, que, no entender dos técnicos, a sua recuperação é impossível. Com a maré baixa, quase se torna viável uma visita, a pé, ao navio encalhado.
Entretanto, as reservas de combustível do “Sea Star” tornaram-se altamente perigosas para os lagosteiros vizinhos, aliás já atingidos pelo óleo derramado pelo navio. Se não fôr possível retirar o gasóleo armazenado nos tanques, aquela zona da costa portuguesa – que alimenta em mariscos uma série de conhecidos restaurantes numa das mais intensas zonas turísticas do País – ficará de tal modo poluída que condenará a existência de viveiros por largos anos.
As operações para a bombagem tiveram início ontem de manhã, com o auxílio de um helicóptero da Força Aérea e dos Bombeiros Voluntários de Cascais. Dois elementos desta Corporação foram colocados a bordo do “Sea Star”, por aquele aparelho, permitindo assim a remontagem de um cabo de vai-vem e a ligação de mangueiras a um tanque da Sonap. Técnicos da Gazlimpo tem colaborado na tentativa. Porém, surgiu um grave problema: os depósitos de combustível encontram-se sob a carga transportada pelo navio, sendo quase certo terem de recorrer ao processo de ar comprimido para fazerem a bombagem.
Estas operações foram interrompidas ao cair da noite, por falta de algum material julgado necessário, esperando-se que recomecem ao princípio da tarde de hoje.
A empresa à qual o navio vinha consignado, Orey Antunes, informou, ontem à noite, que, logo que o tempo melhore, irá ser feita nova tentativa – aliás sem esperanças – para salvar o navio. Depois, o problema pertence às companhias seguradoras, que decidirão, inclusivamente, sobre o destino a dar à carga que puder ser recuperada.
Uma boa parte do carregamento era constituído por peças para as linhas de montagem dos automóveis «Peugeot» em Portugal.
Os tripulantes – 5 dinamarqueses e dois portugueses da região de Aveiro, que ontem foram identificados – encontram-se hospedados num hotel de Lisboa, até ao cumprimento das formalidades legais. Depois tratarão da sua vida.
(In jornal “Comércio do Porto”, 28 de Dezembro de 1972)
Começou a ser retirado o gasóleo do “Sea Star”
Adernado sobre bombordo, quase «encostado» à costa, o cargueiro dinamarquês “Sea Star” agoniza junto ao farol do Cabo Raso, preso de morte nos rochedos onde encalhou.
A iniciativa da Comissão de Defesa contra a Poluição Marítima, no sentido de retirar o combustível dos depósitos existentes no navio, começou, ontem, a dar os seus frutos, mas já era tarde pois uma ruptura num dos depósitos fizera derramar muito gasóleo.
Como último recurso, foi espalhado um detergente antitóxico para minorar os estragos nos viveiros de lagostas vizinhos. Agora, o maior perigo para estes reside na destruição do navio, que segundo os entendidos, não resistirá muito mais tempo à violência das ondas.
Entretanto, na Capitania do porto de Cascais, prestaram, ontem, declarações o maquinista e o 1º oficial do “Sea Star”, no auto de averiguações acerca do encalhe.
(In jornal “Comércio do Porto”, 29 de Dezembro de 1972)
A iniciativa da Comissão de Defesa contra a Poluição Marítima, no sentido de retirar o combustível dos depósitos existentes no navio, começou, ontem, a dar os seus frutos, mas já era tarde pois uma ruptura num dos depósitos fizera derramar muito gasóleo.
Como último recurso, foi espalhado um detergente antitóxico para minorar os estragos nos viveiros de lagostas vizinhos. Agora, o maior perigo para estes reside na destruição do navio, que segundo os entendidos, não resistirá muito mais tempo à violência das ondas.
Entretanto, na Capitania do porto de Cascais, prestaram, ontem, declarações o maquinista e o 1º oficial do “Sea Star”, no auto de averiguações acerca do encalhe.
(In jornal “Comércio do Porto”, 29 de Dezembro de 1972)
segunda-feira, 7 de maio de 2018
Leixões na rota do turismo! (2/2018)
Escala de navios em porto, no mês de Abril
Naturalmente, com o bom tempo e um mar acolhedor, é muito significativo o aumento das visitas de navios ao porto, confirmando as previsões de crescimento, em número de navios e passageiros, amplamente anunciadas através dos meios de comunicação social.
Porém, convirá lembrar que neste período os navios que escalaram o porto, estão sob operação de armadores que desde há vários anos mantém Leixões nos seus programas de cruzeiro pré-estabelecidos, face à sua localização privilegiada, entre o Funchal ou Lisboa, para o norte de Espanha, ou vice-versa, como ponto de passagem quase obrigatória.
Navio de passageiros "Azura"
No dia 10, chegou procedente de Lisboa, saiu com destino a Cherbourg
No dia 10, chegou procedente de Lisboa, saiu com destino a Cherbourg
Navio de passageiros "Le Soleal"
No dia 12, chegou procedente de Lisboa, saiu com destino a Bilbao
No dia 12, chegou procedente de Lisboa, saiu com destino a Bilbao
Navio de passageiros "Viking Sea"
No dia 15, chegou procedente de Lisboa, saiu para St. Peter Port
No dia 15, chegou procedente de Lisboa, saiu para St. Peter Port
Navio de passageiros "Saga Sapphire"
No dia 17, chegou procedente de Barcelona, saiu para Southampton
No dia 17, chegou procedente de Barcelona, saiu para Southampton
Navio de passageiros "Saga Pearl II"
No dia 19, chegou procedente de Portsmouth, saiu para Sevilha
No dia 19, chegou procedente de Portsmouth, saiu para Sevilha
Navio de passageiros "Viking Sky"
Ainda no dia 19, chegou procedente de Málaga, saiu para Falmouth
Ainda no dia 19, chegou procedente de Málaga, saiu para Falmouth
Navio de passageiros "Hamburg"
No dia 21, chegou procedente de Lisboa, saiu com destino à Corunha
No dia 21, chegou procedente de Lisboa, saiu com destino à Corunha
Navio de passageiros "Oriana"
No dia 22, chegou procedente da Corunha, saiu com destino a Lisboa
No dia 22, chegou procedente da Corunha, saiu com destino a Lisboa
Navio de passageiros "Marco Polo"
No dia 23, chegou procedente de Cadiz, saiu com destino à Corunha
No dia 23, chegou procedente de Cadiz, saiu com destino à Corunha
Navio de passageiros "Boudicca"
No dia 25, chegou procedente do Funchal, saiu com destino a Dover
No dia 25, chegou procedente do Funchal, saiu com destino a Dover
Navio de passageiros "Midnatsol"
Também no dia 25, chegou procedente de Bilbao, saiu para Lisboa
Também no dia 25, chegou procedente de Bilbao, saiu para Lisboa
sábado, 5 de maio de 2018
quinta-feira, 3 de maio de 2018
História trágico-marítima (CCLII)
O naufrágio do vapor Deister", barra do rio Douro
2ª parte
Imagem do navio, publicada na revista Panorama, Berlim
Características do vapor “Deister”
Armador: Rabien & Stadtlander, Bremen, 1928-1929
Operador: Neptun Linie, Bremen
Construtor: Howaldtswerke, Kiel, Alemanha, 1921
ex “Franziska”, C. Wohlenberg, Hamburgo, 1921-1928
Arqueação: Tab 1.746,00 tons - Tal 1.029,00 tons
Dimensões: Pp 79,55 mts - Boca 12,50 mts - Pontal 5,33 mts
Propulsão: Do construtor, 1:Te - 3:Ci - 149 Nhp
Equipagem: 24 tripulantes
Operador: Neptun Linie, Bremen
Construtor: Howaldtswerke, Kiel, Alemanha, 1921
ex “Franziska”, C. Wohlenberg, Hamburgo, 1921-1928
Arqueação: Tab 1.746,00 tons - Tal 1.029,00 tons
Dimensões: Pp 79,55 mts - Boca 12,50 mts - Pontal 5,33 mts
Propulsão: Do construtor, 1:Te - 3:Ci - 149 Nhp
Equipagem: 24 tripulantes
A tragédia de Domingo - Não se apagaram as primeiras impressões
Concretizando factos – Um homem viu tudo – O piloto era competente
Uma entrada estranha – Inquérito – Ronda penosa – O estado da barra
A gaveta do capitão – Os restos do navio – Mais cadáveres na costa
Diz o cônsul da Alemanha – Os Agentes de Navegação e o naufrágio
Concretizando factos – Um homem viu tudo – O piloto era competente
Uma entrada estranha – Inquérito – Ronda penosa – O estado da barra
A gaveta do capitão – Os restos do navio – Mais cadáveres na costa
Diz o cônsul da Alemanha – Os Agentes de Navegação e o naufrágio
Continua-se sob o domínio da impressão dolorosa que causou a grande desgraça da Foz. Por mais que as horas rolem, passados já três dias, ainda se sente bem nítida, diante dos olhos dos que a presenciaram e na alma de quantos a sentiram de algum modo – ainda se sente nítida essa tragédia formidável, que roubou a vida a 25 homens, nas circunstâncias mais horrorosas e após os sofrimentos mais lancinantes.
A notícia, na sua realidade nua e cruel, está dada, desde o primeiro dia, com informações postas a correr ao encontro da ansiedade do público. Todavia, enquanto se não desfizerem os últimos ruídos de semelhante catástrofe, justo é que acompanhemos os factos que se vão desenrolando, concretizando melhor este ou aquele pormenor mal apanhado nas horas indecisas da horrível tragédia.
De resto, a toda a hora vão chegando dos mais variados locais, pedidos ansiosos de informações complementares, o que marca perfeitamente o natural estado de espírito de todos quantos, a este tempo, se acham inteirados da desgraça.
A notícia, na sua realidade nua e cruel, está dada, desde o primeiro dia, com informações postas a correr ao encontro da ansiedade do público. Todavia, enquanto se não desfizerem os últimos ruídos de semelhante catástrofe, justo é que acompanhemos os factos que se vão desenrolando, concretizando melhor este ou aquele pormenor mal apanhado nas horas indecisas da horrível tragédia.
De resto, a toda a hora vão chegando dos mais variados locais, pedidos ansiosos de informações complementares, o que marca perfeitamente o natural estado de espírito de todos quantos, a este tempo, se acham inteirados da desgraça.
Concretizando os factos
O mar, ontem, quando, ao começo da tarde chegamos à Foz, estava manso e quieto como um lago! Nem uma onda mais áspera a lembrar-nos o seu poder imenso. E o sol doirado desfazendo-se em rutilas flechas, caía sobre a vastidão das águas como um beijo de Deus a abençoar os elementos.
Não gemia o vento agreste dos dias trágicos e do mar largo vinha até à praia o sopro delicado duma viração amena. E lá ao longe, precisamente no local onde o “Deister” se sumiu, o sol refulgente, incidindo com força doirava as águas mortas, num círculo de fogo vivo e cores variadas – como se fosse uma coroa gigantesca composta pelas flores da nossa saudade toda!
E a água, naquele ponto, formava, às vezes, largos borbulhões, como se a notar aos que da praia espreitavam que era ali, naquele coval imenso, que o “Deister” estava a desfazer-se…
A ironia do destino! Aquele mar que, há três dias mal passados ainda, parecia apostado em absorver o mundo, estava agora tão quieto como o lago mais sereno dum jardim, a pontos de se confundir com o próprio rio.
Ante o mar assim, com o sol a beijar-nos meigamente e de olhos postos no sítio onde a tragédia se desenrolou, concretizamos alguns factos importantes, já que o acaso nos pôs à disposição os elementos necessários.
Não gemia o vento agreste dos dias trágicos e do mar largo vinha até à praia o sopro delicado duma viração amena. E lá ao longe, precisamente no local onde o “Deister” se sumiu, o sol refulgente, incidindo com força doirava as águas mortas, num círculo de fogo vivo e cores variadas – como se fosse uma coroa gigantesca composta pelas flores da nossa saudade toda!
E a água, naquele ponto, formava, às vezes, largos borbulhões, como se a notar aos que da praia espreitavam que era ali, naquele coval imenso, que o “Deister” estava a desfazer-se…
A ironia do destino! Aquele mar que, há três dias mal passados ainda, parecia apostado em absorver o mundo, estava agora tão quieto como o lago mais sereno dum jardim, a pontos de se confundir com o próprio rio.
Ante o mar assim, com o sol a beijar-nos meigamente e de olhos postos no sítio onde a tragédia se desenrolou, concretizamos alguns factos importantes, já que o acaso nos pôs à disposição os elementos necessários.
Um homem que viu tudo
O sr. José Soares Júnior, telegrafista, que estava de serviço no posto da Cantareira, presenciou desde o primeiro instante, toda a formidável tragédia. Este senhor achava-se de serviço na manhã de Domingo, tendo acompanhado as evoluções do “Deister”, com um poderoso óculo, desde que ele surgiu, ali na barra.
Do alto da torre do seu posto, numa posição excepcional, munido dum esplêndido óculo foi-lhe possível assistir, gravar, para toda a vida, os dolorosos momentos daqueles 25 desgraçados, entre os quais um – o piloto – era seu compadre!
O sr. Soares, que ainda agora, ao reproduzir-nos o que viu, dá mostras duma emoção abaladora, não largando nunca o seu pobre compadre, nele conservando o óculo acertado, até que as ondas o devoraram. Então, apesar do ânimo que manteve, sentiu quebrarem-se-lhe as pernas e teve de deixar correr as lágrimas…
É que o inditoso piloto Jacinto sabia muito bem que o seu compadre, àquela hora, estava ali, no posto, a ver a tragédia toda com o auxílio do mesmo óculo, que os dois tantas vezes utilizaram em circunstâncias parecidas ou para espreitarem, lá fora, alguma embarcação.
O que esse óculo permitiu ver, já antes relatado, tem hoje para juntar que os três últimos náufragos, durante as longas horas que esperaram a morte, friccionaram-se, repetidas vezes, com líquidos alcoólicos, certamente, a fim de, por essa reacção, mais resistirem.
Para o fim, quando a última esperança começava a desfolhar-se, deram em beber, desesperadamente, como se os movesse a preocupação de receberem a morte numa inconsciência confortante, ou para com mais entusiasmo lutarem com as águas, nadando, ao caírem nelas.
Do cimo daquela torre, dominando a terra e o mar, a tragédia, desenrolada ali, a dois passos, tinha aspectos colossais! Vinham pelo óculo dentro, em ímpetos esmagadores, os gestos desesperados e as súplicas angustiosas dos desgraçados náufragos, cuja morte inevitável punha nos nervos de todos contorções de epilépticos e expressões incalculáveis!
O sr. José Soares viu o compadre despir o casaco, apertar o colete de salvação e, com os 24 desgraçados companheiros, esperar na ré a morte negra e cruel. E só o largou, quando ele, ao ver aproximar-se a vaga formidável que o levou para sempre, fez menção de ajoelhar, como se a dizer adeus à terra querida, à família e aos amigos! Então, não pode mais…
Do alto da torre do seu posto, numa posição excepcional, munido dum esplêndido óculo foi-lhe possível assistir, gravar, para toda a vida, os dolorosos momentos daqueles 25 desgraçados, entre os quais um – o piloto – era seu compadre!
O sr. Soares, que ainda agora, ao reproduzir-nos o que viu, dá mostras duma emoção abaladora, não largando nunca o seu pobre compadre, nele conservando o óculo acertado, até que as ondas o devoraram. Então, apesar do ânimo que manteve, sentiu quebrarem-se-lhe as pernas e teve de deixar correr as lágrimas…
É que o inditoso piloto Jacinto sabia muito bem que o seu compadre, àquela hora, estava ali, no posto, a ver a tragédia toda com o auxílio do mesmo óculo, que os dois tantas vezes utilizaram em circunstâncias parecidas ou para espreitarem, lá fora, alguma embarcação.
O que esse óculo permitiu ver, já antes relatado, tem hoje para juntar que os três últimos náufragos, durante as longas horas que esperaram a morte, friccionaram-se, repetidas vezes, com líquidos alcoólicos, certamente, a fim de, por essa reacção, mais resistirem.
Para o fim, quando a última esperança começava a desfolhar-se, deram em beber, desesperadamente, como se os movesse a preocupação de receberem a morte numa inconsciência confortante, ou para com mais entusiasmo lutarem com as águas, nadando, ao caírem nelas.
Do cimo daquela torre, dominando a terra e o mar, a tragédia, desenrolada ali, a dois passos, tinha aspectos colossais! Vinham pelo óculo dentro, em ímpetos esmagadores, os gestos desesperados e as súplicas angustiosas dos desgraçados náufragos, cuja morte inevitável punha nos nervos de todos contorções de epilépticos e expressões incalculáveis!
O sr. José Soares viu o compadre despir o casaco, apertar o colete de salvação e, com os 24 desgraçados companheiros, esperar na ré a morte negra e cruel. E só o largou, quando ele, ao ver aproximar-se a vaga formidável que o levou para sempre, fez menção de ajoelhar, como se a dizer adeus à terra querida, à família e aos amigos! Então, não pode mais…
O piloto era competente
Segundo os entendidos, o infeliz piloto Jacinto Pinto, era deveras competente, sabendo do seu ofício como aqueles que mais sabem. E, até, na opinião dos sabedores da matéria, o inditoso Pinto fez, ao tentar safar o “Deister”, uma das manobras mais perfeitas, que se tem visto fazer naquela barra.
O que parece também provado é que, tanto o piloto como o comandante do vapor, tiveram, no momento dessas manobras, a generosa preocupação de evitarem que o “Deister” ficasse encalhado às portas da barra, o que faria com que ele a impedisse por muito tempo.
E, então, desviaram o navio para o largo, talvez com a intenção de o encalhar, logo atrás, na praia do Ourigo. Simplesmente, a fatalidade a que não se foge, havia determinado que o “Deister”, ou porque estivesse arrombado ou por qualquer outro motivo, não lograsse passar do sítio onde caiu após safar-se da primeira contingência.
De qualquer modo, é necessário acentuar, honrando a memória sagrada desse infeliz, que a Foz em peso proclama os seus dotes de carácter, enquanto os técnicos o reputavam conhecedor do seu ofício.
O que parece também provado é que, tanto o piloto como o comandante do vapor, tiveram, no momento dessas manobras, a generosa preocupação de evitarem que o “Deister” ficasse encalhado às portas da barra, o que faria com que ele a impedisse por muito tempo.
E, então, desviaram o navio para o largo, talvez com a intenção de o encalhar, logo atrás, na praia do Ourigo. Simplesmente, a fatalidade a que não se foge, havia determinado que o “Deister”, ou porque estivesse arrombado ou por qualquer outro motivo, não lograsse passar do sítio onde caiu após safar-se da primeira contingência.
De qualquer modo, é necessário acentuar, honrando a memória sagrada desse infeliz, que a Foz em peso proclama os seus dotes de carácter, enquanto os técnicos o reputavam conhecedor do seu ofício.
Uma entrada estranha
O “Deister”, já o dissemos e agora repetimos, nunca devia ter tentado entrar a barra do Douro, tal como ela se encontrava nessa fatídica manhã.
- Porquê?
Responde um entendido:
- Porque verificadas as condições em que se encontrava a barra, agravadas pela corrente da água que no Domingo se notava, a entrada considerava-se perigosa, principalmente para navios daquela tonelagem. E a entrar, nunca devia ter vindo sem um rebocador à proa. Esta opinião, que aliás anda na boca de toda a gente, é, como sempre acontece nestes casos, uma consideração que a fatalidade inclemente só deixa fazer, depois do mal estar feito.
- Porquê?
Responde um entendido:
- Porque verificadas as condições em que se encontrava a barra, agravadas pela corrente da água que no Domingo se notava, a entrada considerava-se perigosa, principalmente para navios daquela tonelagem. E a entrar, nunca devia ter vindo sem um rebocador à proa. Esta opinião, que aliás anda na boca de toda a gente, é, como sempre acontece nestes casos, uma consideração que a fatalidade inclemente só deixa fazer, depois do mal estar feito.
Um inquérito
Ontem, à tarde, estiveram no Departamento Marítimo do Norte a prestar declarações sobre o naufrágio, o piloto-mór e o cabo de pilotos, a fim de, por aquela autoridade marítima, ser dado andamento ao respectivo inquérito. As suas declarações, como se sabe, ficaram em segredo de justiça.
Uma ronda penosa
Logo que a grande tragédia se consumou, os pilotos srs. Elísio da Silva Pereira, José Fernandes Amaro, Joaquim Alves e Carlos Sousa Lopes, meteram-se, a pé, pela costa abaixo, seguindo sob a chuva inclemente e açoitados pela ventania brava, à procura dos cadáveres.
O que estes homens passaram, nessa jornada humanitária, é bem digno das grandes almas. Depois de terem calcorreado léguas e léguas, com as roupas encharcadas, tiveram de descalçar as botas para que os pés gelados pela água pudessem reagir. E assim foram, em meias, ao princípio, quase descalços quando elas se rasgaram, até que deram com os cadáveres, já antes referidos.
Longas e penosas foram as suas pesquisas, mas a dedicação e os sacrifícios resultaram inúteis, pois que nem o seu desventurado companheiro, nem mesmo qualquer outro dos tripulantes o mar lhes deixou ver.
E assim regressaram, como que vindos de passar as mais duras privações, - sempre pela costa fora, com os olhos postos nesse mar raivoso que lhes tragara o amigo dedicado e companheiro muito querido!
O que estes homens passaram, nessa jornada humanitária, é bem digno das grandes almas. Depois de terem calcorreado léguas e léguas, com as roupas encharcadas, tiveram de descalçar as botas para que os pés gelados pela água pudessem reagir. E assim foram, em meias, ao princípio, quase descalços quando elas se rasgaram, até que deram com os cadáveres, já antes referidos.
Longas e penosas foram as suas pesquisas, mas a dedicação e os sacrifícios resultaram inúteis, pois que nem o seu desventurado companheiro, nem mesmo qualquer outro dos tripulantes o mar lhes deixou ver.
E assim regressaram, como que vindos de passar as mais duras privações, - sempre pela costa fora, com os olhos postos nesse mar raivoso que lhes tragara o amigo dedicado e companheiro muito querido!
O estado da barra
A barra do Douro continua impedida, não havendo, por isso, qualquer movimento. Lá ao largo, distanciados da barra uns trezentos ou quatrocentos metros, vêem-se parados, numa quietude enervante, 5 vapores que aguardam o momento de poderem entrar, coisa que hoje não lhes foi permitida porque a corrente do rio, ainda que menos forte do que no Domingo, continua violenta.
Por volta da meia hora da tarde, o rebocador “Lusitânia”, vindo de Leixões, entrou na barra do Douro, com o piloto sr. Manuel Alegre a bordo, tendo feito diversas sondagens para verificar o estado da barra.
Constatou-se que o “Deister” não obstruiu a barra, achando-se para o sul do canal e quase à superfície da água, tanto que, ocasionalmente, mostra partes do costado.
Por volta da meia hora da tarde, o rebocador “Lusitânia”, vindo de Leixões, entrou na barra do Douro, com o piloto sr. Manuel Alegre a bordo, tendo feito diversas sondagens para verificar o estado da barra.
Constatou-se que o “Deister” não obstruiu a barra, achando-se para o sul do canal e quase à superfície da água, tanto que, ocasionalmente, mostra partes do costado.
A gaveta do capitão
Ontem, foi encontrada por um guarda-fiscal, que andava de serviço ao longo da costa, por alturas da Madalena, uma gaveta, quase intacta, que era a do gabinete do comandante do “Deister”. Dentro, achavam-se, também em bom estado, posto que molhados, diversos documentos, retratos, cartas, etc.
Os restos do “Deister”
Ao longo da costa, em vários pontos, têm aparecido os mais diversos artigos que faziam parte da carga do vapor naufragado. Por isso mesmo, é grande o número de pessoas que se aproximam do mar, na ânsia de caçarem o que possam, pilhagem que obrigou a guarda-fiscal a reforçar as rondas.
No posto de Lavadores, encontram-se muitos destroços do vapor, entre os quais um salva-vidas, um colete de salvação, uma agulha de marear, bastante carga, etc.
No posto de Lavadores, encontram-se muitos destroços do vapor, entre os quais um salva-vidas, um colete de salvação, uma agulha de marear, bastante carga, etc.
Mais dois cadáveres dão à costa
Ontem, ao meio da tarde, chegou a indicação, entretanto confirmada oficialmente, de que numa ronda a cavalo, da guarda-fiscal, tinha encontrado, próximo da praia do Furadouro, ao sul de Ovar, mais dois cadáveres dos inditosos tripulantes do “Deister”.
São, portanto, já 4 corpos que o mar expulsou. Mas ainda faltam 21…
Declarações do sr. cônsul da Alemanha
São, portanto, já 4 corpos que o mar expulsou. Mas ainda faltam 21…
Declarações do sr. cônsul da Alemanha
O sr. Stuve, representante consular da Alemanha nesta cidade, entrevistado ontem, nada mais tem a acrescentar. Lamenta, como homem e alemão, a perda daquelas 25 vidas, sentindo imenso não poder, como era seu desejo, sepultá-los todos juntos, em lugar reservado.
Era a derradeira homenagem que o seu coração de patriota desejaria poder prestar, mas que o mar parece não consentir, atirando-os a terra, um a um. O sr. cônsul está a ultimar o seu relatório oficial a enviar ao governo do seu país.
Era a derradeira homenagem que o seu coração de patriota desejaria poder prestar, mas que o mar parece não consentir, atirando-os a terra, um a um. O sr. cônsul está a ultimar o seu relatório oficial a enviar ao governo do seu país.
Os agentes de navegação e o naufrágio
Reuniu a direcção da Associação dos Armadores Marítimos e Agentes de Navegação do Porto e Leixões, sob a presidência da firma Kendall, Pinto Basto & Cª., Lda., estando presentes os vogais Tait & Cª., Bernhard Leuschner, Delegação Marítima do Banco Burnay e J.T. Pinto de Vasconcelos, Lda.
Aberta a sessão foi apreciado o naufrágio do vapor alemão “Deister” na barra do Douro, no passado Domingo, que custou a vida a toda a sua tripulação e ao piloto da barra do porto, que o acompanhava. Em seguida foram propostos e aprovados os seguintes votos de condolências; À corporação dos Pilotos da barra do Porto, pela perda do piloto Jacinto José Pinto, vítima do naufrágio do “Deister”.
Resolveram oficiar os srs. W. Stuve & Cª., na qualidade de agentes do “Deister”, indo uma comissão, composta por dois membros desta direcção, representantes das firmas Bernhard Leuschner e Delegação Marítima do Banco Burnay, apresentar sentimentos.
Resolveram também abrir uma subscrição a favor da viúva e filhos do piloto Jacinto Pinto, a fim de atenuar a sua miséria, e, pedir à Corporação dos Pilotos para tratar da organização da sua Caixa de Socorros para estes casos, pois que as taxas de pilotagem pagas actualmente dão margem para este humanitário fim.
Foi também, por um membro da direcção, solicitado ao sr. capitão do porto do Douro, para que fosse colocada uma bóia, onde se acha afundado o vapor grego “Virginia”, pois tendo já perdido um dos mastros, logo que o temporal faça desaparecer o outro, constituirá um perigo para a navegação entre o Porto e Leixões.
Aquela autoridade disse já estar em Lisboa a informação sobre a conveniência dessa marcação. Foi resolvido renovar os instantes pedidos feitos à Junta Autónoma das Instalações do Douro e Leixões para que sejam efectuados trabalhos de quebramento de rochas e desassoreamento do canal da barra do Porto.
Sendo apreciado o estado da mesma barra mais se evidenciou ainda a inadiável necessidade das obras no porto de Leixões.
(In jornal “Comércio do Porto”, quarta-feira, 6 de Fevereiro de 1929)
Aberta a sessão foi apreciado o naufrágio do vapor alemão “Deister” na barra do Douro, no passado Domingo, que custou a vida a toda a sua tripulação e ao piloto da barra do porto, que o acompanhava. Em seguida foram propostos e aprovados os seguintes votos de condolências; À corporação dos Pilotos da barra do Porto, pela perda do piloto Jacinto José Pinto, vítima do naufrágio do “Deister”.
Resolveram oficiar os srs. W. Stuve & Cª., na qualidade de agentes do “Deister”, indo uma comissão, composta por dois membros desta direcção, representantes das firmas Bernhard Leuschner e Delegação Marítima do Banco Burnay, apresentar sentimentos.
Resolveram também abrir uma subscrição a favor da viúva e filhos do piloto Jacinto Pinto, a fim de atenuar a sua miséria, e, pedir à Corporação dos Pilotos para tratar da organização da sua Caixa de Socorros para estes casos, pois que as taxas de pilotagem pagas actualmente dão margem para este humanitário fim.
Foi também, por um membro da direcção, solicitado ao sr. capitão do porto do Douro, para que fosse colocada uma bóia, onde se acha afundado o vapor grego “Virginia”, pois tendo já perdido um dos mastros, logo que o temporal faça desaparecer o outro, constituirá um perigo para a navegação entre o Porto e Leixões.
Aquela autoridade disse já estar em Lisboa a informação sobre a conveniência dessa marcação. Foi resolvido renovar os instantes pedidos feitos à Junta Autónoma das Instalações do Douro e Leixões para que sejam efectuados trabalhos de quebramento de rochas e desassoreamento do canal da barra do Porto.
Sendo apreciado o estado da mesma barra mais se evidenciou ainda a inadiável necessidade das obras no porto de Leixões.
(In jornal “Comércio do Porto”, quarta-feira, 6 de Fevereiro de 1929)
terça-feira, 1 de maio de 2018
História trágico-marítima (CCLII)
O naufrágio do vapor Deister", na barra do rio Douro
1ª parte
Grande tragédia marítima
O mar engole um vapor e mata os seus 25 tripulantes
Como se deu a tragédia – Os socorros – Uma marcha para a morte
Derradeiras esperanças – A resignação estóica dos tripulantes
O chefe do distrito e o naufrágio – Consternação geral
Estão de luto todas as almas sós!
Pesam sobre nós, como abóbada de chumbo distendida por aí fora, o manto negro da morte! Vinte e cinco homens, vinte e quatro alemães e um português perderam a vida, ali na Foz, à entrada da barra, após uma luta titânica com os elementos em fúria!
Que se diga isto baixinho, como numa prece sentida, para bem se traduzir a enorme consternação que vai em todas as almas que assistiram, esmagadas, vencidas, ao pavoroso drama cuja visão será eterna nos olhos e na memória de toda a gente.
O oceano amigo, que tantos favores nos tem prestado; que nos deu o caminho da glória e que às vezes nos beija as praias de tão manso como um lago; esse mar sem fim que dá o pão das nossas gentes da costa e que sempre foi amigo, tem momentos de cólera insuperável e então infunde pânico e provoca as maiores tragédias da vida!
Domingo, ao amanhecer, o mar estava assim. As ondas, formadas em cordilheiras fantásticas, vinham de longe, rolando como monstros enraivecidos, até aos rochedos das margens, neles se desfazendo com espantoso fragor.
O vento assobiava, em fúria louca, como víbora picada, em todas as direcções; e a chuva, constante, ininterrupta, completava o quadro horrendo, que tinha como fundo a negridão distante do nevoeiro denso, donde vinha um rumor surdo que mais parecia a voz macabra de animal fabuloso do que a trágica expressão dos elementos em fúria!
Por entre este mar assim, como borboleta dourada atravessando uma fogueira crepitante, passa, a caminho do rio Douro, um vapor que leva dentro 25 homens.
A água enraivece-se. E, como que num desejo de vingança, atira-se aos inditosos mareantes, embrulhando-os nas suas ondas e matando-os todos, a dois passos de terra firme, como se tivesse havido a preocupação de os deixar ver terra e muita gente para a agonia ser maior e a saudade picar mais!
Há muito que não lembra uma tragédia assim. E cem tragédias que tenha havido, nunca se morreu em circunstâncias mais custosas do que agora! São 25 homens, a duas centenas de metros de terra, metidos num vapor a desfazer-se, com os olhos especados nas margens firmes, vendo milhares de pessoas – e não achando uma que lhes desse a mão, arrastando-os daquele cativeiro!
São 25 homens durante 6 horas e meia, naquelas circunstâncias, gelando no corpo e na alma, à espera da morte, sem a menor esperança! 25 homens que o mar engoliu, de um trago, e que, agora, vai vomitando, aos poucos, amachucados, mortos…
Que Deus, ao menos, tenha salvo as suas almas, já que o poder dos homens lhes não valeu aos corpos!
Pesam sobre nós, como abóbada de chumbo distendida por aí fora, o manto negro da morte! Vinte e cinco homens, vinte e quatro alemães e um português perderam a vida, ali na Foz, à entrada da barra, após uma luta titânica com os elementos em fúria!
Que se diga isto baixinho, como numa prece sentida, para bem se traduzir a enorme consternação que vai em todas as almas que assistiram, esmagadas, vencidas, ao pavoroso drama cuja visão será eterna nos olhos e na memória de toda a gente.
O oceano amigo, que tantos favores nos tem prestado; que nos deu o caminho da glória e que às vezes nos beija as praias de tão manso como um lago; esse mar sem fim que dá o pão das nossas gentes da costa e que sempre foi amigo, tem momentos de cólera insuperável e então infunde pânico e provoca as maiores tragédias da vida!
Domingo, ao amanhecer, o mar estava assim. As ondas, formadas em cordilheiras fantásticas, vinham de longe, rolando como monstros enraivecidos, até aos rochedos das margens, neles se desfazendo com espantoso fragor.
O vento assobiava, em fúria louca, como víbora picada, em todas as direcções; e a chuva, constante, ininterrupta, completava o quadro horrendo, que tinha como fundo a negridão distante do nevoeiro denso, donde vinha um rumor surdo que mais parecia a voz macabra de animal fabuloso do que a trágica expressão dos elementos em fúria!
Por entre este mar assim, como borboleta dourada atravessando uma fogueira crepitante, passa, a caminho do rio Douro, um vapor que leva dentro 25 homens.
A água enraivece-se. E, como que num desejo de vingança, atira-se aos inditosos mareantes, embrulhando-os nas suas ondas e matando-os todos, a dois passos de terra firme, como se tivesse havido a preocupação de os deixar ver terra e muita gente para a agonia ser maior e a saudade picar mais!
Há muito que não lembra uma tragédia assim. E cem tragédias que tenha havido, nunca se morreu em circunstâncias mais custosas do que agora! São 25 homens, a duas centenas de metros de terra, metidos num vapor a desfazer-se, com os olhos especados nas margens firmes, vendo milhares de pessoas – e não achando uma que lhes desse a mão, arrastando-os daquele cativeiro!
São 25 homens durante 6 horas e meia, naquelas circunstâncias, gelando no corpo e na alma, à espera da morte, sem a menor esperança! 25 homens que o mar engoliu, de um trago, e que, agora, vai vomitando, aos poucos, amachucados, mortos…
Que Deus, ao menos, tenha salvo as suas almas, já que o poder dos homens lhes não valeu aos corpos!
Como se deu a tragédia
No dia 31 de Janeiro entrou em Leixões, vindo de Antuérpia, com carga diversa consignada à firma W. Stuve & Cª., desta cidade, o vapor alemão “Deister”, que ali se recolheu para aliviar carga a fim de, em seguida, demandar a barra do Douro. Depois, no sábado passado, o “Deister” tentou entrar no Douro, tentativa que nem chegou a levar por diante em virtude do forte e denso nevoeiro que vedava o horizonte.
Mas, Domingo, manhã cedo, levantou ferro, dirigindo-se para a barra, com o piloto Jacinto José Pinto a bordo, tentando demandá-la por voltas das 8 horas e meia.
Porém, ao chegar em frente à «Ponta do dente», desgovernou para bombordo, tendo largado, então o ferro de estibordo. Pouco depois, obedecendo às manobras do seu comandante, o “Deister” endireitava para o canal, tendo de abandonar o ferro.
Mas, já quando vinha pela barra dentro, voltou a guinar para bombordo, largando, nesse momento o segundo ferro. E, então, todos os cuidados parece terem sido dirigidos no sentido de endireitar o vapor para o canal, operação essa em que se empregaram todos os esforços.
Quis a fatalidade que o navio, após manobras feitas nesse sentido, depois de terem suspendido o segundo ferro, fosse encalhar na restinga do Cabedelo, tendo, na ocasião, ao que parece, batido com fragor nalguns rochedos, que lhe abriram largo rombo na proa.
O mar estava em fúria. As ondas, enraivecidas, erguiam-se em montanhas colossais, agitando, no seu seio o “Deister”, como se tratasse dum brinquedo de folheta. Por seu turno a chuva, inclemente, completava aquele cenário de tragédia, caindo ininterruptamente. Então, o capitão, medindo o perigo, mandou pôr as máquinas a apitar, lugubremente, enquanto o telegrafista, à pressa, supõe-se, emitia desesperados S.O.S.
Mas, Domingo, manhã cedo, levantou ferro, dirigindo-se para a barra, com o piloto Jacinto José Pinto a bordo, tentando demandá-la por voltas das 8 horas e meia.
Porém, ao chegar em frente à «Ponta do dente», desgovernou para bombordo, tendo largado, então o ferro de estibordo. Pouco depois, obedecendo às manobras do seu comandante, o “Deister” endireitava para o canal, tendo de abandonar o ferro.
Mas, já quando vinha pela barra dentro, voltou a guinar para bombordo, largando, nesse momento o segundo ferro. E, então, todos os cuidados parece terem sido dirigidos no sentido de endireitar o vapor para o canal, operação essa em que se empregaram todos os esforços.
Quis a fatalidade que o navio, após manobras feitas nesse sentido, depois de terem suspendido o segundo ferro, fosse encalhar na restinga do Cabedelo, tendo, na ocasião, ao que parece, batido com fragor nalguns rochedos, que lhe abriram largo rombo na proa.
O mar estava em fúria. As ondas, enraivecidas, erguiam-se em montanhas colossais, agitando, no seu seio o “Deister”, como se tratasse dum brinquedo de folheta. Por seu turno a chuva, inclemente, completava aquele cenário de tragédia, caindo ininterruptamente. Então, o capitão, medindo o perigo, mandou pôr as máquinas a apitar, lugubremente, enquanto o telegrafista, à pressa, supõe-se, emitia desesperados S.O.S.
Os socorros
Logo que o “Deister” se localizou, com grave perigo, na restinga, foi dado alarme, para ele se dirigindo, a toda a pressa, por entre montanhas de ondas, o rebocador “Burnay II”, que se encontrava na Cantareira. Porém, a despeito da coragem dos seus tripulantes, o “Burnay II” nada conseguiu porque, a certa altura, os vagalhões redobraram de intensidade, a pontos que o barquito se tornou inútil.
Mais feliz, e beneficiando, de um momento em que as serras de água se haviam afundado, o rebocador “Júpiter”, que também apareceu logo, atreveu-se quanto pôde, conseguindo passar uma amarreta à proa do “Deister””. A fatalidade perseguia-os e, assim, a amarreta que podia ter sido uma tábua de salvação, partiu-se.
Ante este desespero, nova amarreta foi lançada. Esta vingou, tendo o rebocador puxado o vapor pela parte sul, conseguindo que ele desse de si. Mas, também esta amarreta, precisamente quando já era uma esperança alentadora, quebrou e com ela o entusiasmo de todos.
A esse tempo, o mar redobrava a sua fúria, erguendo mais e mais as suas ondas furiosas. Já não era possível uma terceira tentativa, e os rebocadores afastaram-se para não serem engolidos ou desfeitos contra o “Deister”, que já era pasto das águas.
Foi nesta altura que, de terra, os pilotos lançaram o primeiro foguetão, pelo qual foi estabelecido um cabo de arame para o cais do «Touro», sendo amarrado ao peoris que ali se encontra.
De bordo começaram a esticar esse cabo; e, a breve trecho, conseguiam desencalhar o “Deister”, que seguiu pela barra fora. E, então, a breve trecho, foi que o capitão e tripulantes perceberam que essa retirada era…
Mais feliz, e beneficiando, de um momento em que as serras de água se haviam afundado, o rebocador “Júpiter”, que também apareceu logo, atreveu-se quanto pôde, conseguindo passar uma amarreta à proa do “Deister””. A fatalidade perseguia-os e, assim, a amarreta que podia ter sido uma tábua de salvação, partiu-se.
Ante este desespero, nova amarreta foi lançada. Esta vingou, tendo o rebocador puxado o vapor pela parte sul, conseguindo que ele desse de si. Mas, também esta amarreta, precisamente quando já era uma esperança alentadora, quebrou e com ela o entusiasmo de todos.
A esse tempo, o mar redobrava a sua fúria, erguendo mais e mais as suas ondas furiosas. Já não era possível uma terceira tentativa, e os rebocadores afastaram-se para não serem engolidos ou desfeitos contra o “Deister”, que já era pasto das águas.
Foi nesta altura que, de terra, os pilotos lançaram o primeiro foguetão, pelo qual foi estabelecido um cabo de arame para o cais do «Touro», sendo amarrado ao peoris que ali se encontra.
De bordo começaram a esticar esse cabo; e, a breve trecho, conseguiam desencalhar o “Deister”, que seguiu pela barra fora. E, então, a breve trecho, foi que o capitão e tripulantes perceberam que essa retirada era…
Uma marcha para a morte
Já fora da barra, safo, portanto, e entregue às ondas furiosas o “Deister” começou a afocinhar a prôa, motivo porque de lá começara a apitar, sem parar, num pedido de socorro que era já um grito de angústia, arrancado no estertor da morte.
E o monstro, qual paquiderme ferido de emborcada, ia abaixando a prôa, enquanto num desespero atroz, a tripulação tentava numa manobra habilidosa, na esperança de encalhar o vapor junto à praia do Ourigo, onde ficariam em lugar seguro. Era já tarde, infelizmente.
O “Deister”, que se supõe ter sofrido grandes rombos no costado, antes mesmo que disso se apercebesse os seus tripulantes, meteu-se de cabeça, para o fundo, deixando de fora apenas a ré e a mastreação, onde os seus 25 tripulantes se juntaram à espera de um salvamento que, afinal, nunca chegou.
Desfeita a esperança de atirar o vapor para a praia do Ourigo e impossibilitados de qualquer manobra, porque a ré estava tão empinada que a hélice já não apanhava a água, aqueles desgraçados viram, impotentes, o “Deister” a descair para sul até dar no cabeço de sudoeste da barra, onde ficou até ao momento de se submergir de vez.
E o monstro, qual paquiderme ferido de emborcada, ia abaixando a prôa, enquanto num desespero atroz, a tripulação tentava numa manobra habilidosa, na esperança de encalhar o vapor junto à praia do Ourigo, onde ficariam em lugar seguro. Era já tarde, infelizmente.
O “Deister”, que se supõe ter sofrido grandes rombos no costado, antes mesmo que disso se apercebesse os seus tripulantes, meteu-se de cabeça, para o fundo, deixando de fora apenas a ré e a mastreação, onde os seus 25 tripulantes se juntaram à espera de um salvamento que, afinal, nunca chegou.
Desfeita a esperança de atirar o vapor para a praia do Ourigo e impossibilitados de qualquer manobra, porque a ré estava tão empinada que a hélice já não apanhava a água, aqueles desgraçados viram, impotentes, o “Deister” a descair para sul até dar no cabeço de sudoeste da barra, onde ficou até ao momento de se submergir de vez.
Últimos socorros – Derradeiras esperanças
Após esta fatal retirada para o mar largo, que nunca devia ter acontecido, desde que o vapor esteve dentro da barra em perigo grave, a catástrofe avolumou-se, todas as almas começando, intimamente, a rezar pela sorte daqueles infelizes.
Num último arranco de humanitarismo, saíram de Leixões os rebocadores “Lusitânia” e “Júpiter”, este levando a reboque o salva-vidas, que tentaram aproximar-se ainda dos náufragos. Debalde. A natureza do mar, que parecia querer vomitar um mundo de água, em goles colossais, sobre tudo e contra todos, não consentiu, sequer, que aqueles barcos tentassem aproximar-se.
Simultaneamente, de terra, os Bombeiros Voluntários do Porto e de Matosinhos-Leça, atiravam, em direcção ao “Deister” foguetões, e mais foguetões, na esperança que algum pudesse levar às mãos dos pobres marinheiros a corda da salvação.
Tudo em vão. A raiva do mar, a impetuosidade das ondas e à inclemência da chuva outro contra se juntava: era o vento que, soprando forte e agreste, brincava com os foguetões, desviando-os de modo que nenhum atingiu o alvo.
Enquanto isto se fazia, lá longe, muito ao largo, o vapor alemão “Stahleck”, em resposta ao S.O.S. do “Deister”, tentava aproximar-se. Mas era impossível. Sós, o vapor e tripulantes, ficavam, resignadamente, de olhos postos na terra que branquejava ali perto com os corações alanceados.
Num último arranco de humanitarismo, saíram de Leixões os rebocadores “Lusitânia” e “Júpiter”, este levando a reboque o salva-vidas, que tentaram aproximar-se ainda dos náufragos. Debalde. A natureza do mar, que parecia querer vomitar um mundo de água, em goles colossais, sobre tudo e contra todos, não consentiu, sequer, que aqueles barcos tentassem aproximar-se.
Simultaneamente, de terra, os Bombeiros Voluntários do Porto e de Matosinhos-Leça, atiravam, em direcção ao “Deister” foguetões, e mais foguetões, na esperança que algum pudesse levar às mãos dos pobres marinheiros a corda da salvação.
Tudo em vão. A raiva do mar, a impetuosidade das ondas e à inclemência da chuva outro contra se juntava: era o vento que, soprando forte e agreste, brincava com os foguetões, desviando-os de modo que nenhum atingiu o alvo.
Enquanto isto se fazia, lá longe, muito ao largo, o vapor alemão “Stahleck”, em resposta ao S.O.S. do “Deister”, tentava aproximar-se. Mas era impossível. Sós, o vapor e tripulantes, ficavam, resignadamente, de olhos postos na terra que branquejava ali perto com os corações alanceados.
A resignação estóica dos tripulantes
Desfeitas as últimas esperanças, quando já não restava a mais pequena ilusão, os 25 homens que se encontravam no “Deister”, com uma coragem espartana e uma resignação inaudita, despiram os seus casacos, vestiram os coletes de salvação e prepararam-se, enfim, para o último lance.
Ao tempo, as ondas, em cavalgadas ciclópicas que nos lembravam as investidas dos monstros fabulosos, atravessavam o “Deister”, de lado a lado, limpando tudo o que nele encontravam. E, então, os 25 inditosos, unidos como um só homem, numa disciplina que comove, juntaram-se na ré, único ponto, como foi dito, do vapor onde a água, se chegava, pelo menos não parava.
E, ali, batidos pela chuva inclemente, cortados pelo vento anavalhante e envolvidos, a espaços, pelos vagalhões medonhos que os fustigavam, esses desgraçados estiveram, horas e horas…
Ao tempo, as ondas, em cavalgadas ciclópicas que nos lembravam as investidas dos monstros fabulosos, atravessavam o “Deister”, de lado a lado, limpando tudo o que nele encontravam. E, então, os 25 inditosos, unidos como um só homem, numa disciplina que comove, juntaram-se na ré, único ponto, como foi dito, do vapor onde a água, se chegava, pelo menos não parava.
E, ali, batidos pela chuva inclemente, cortados pelo vento anavalhante e envolvidos, a espaços, pelos vagalhões medonhos que os fustigavam, esses desgraçados estiveram, horas e horas…
À espera da negra morte
Não há pena, seja ela a mais capaz, que possa interpretar aquele momento de angústia, aquelas horas de atrocíssima incerteza!
25 homens, cheios de vida, com as ilusões e sonhos de todos nós, ali, em pleno mar, apinhados num espaço de 3 ou 4 metros, sem um recurso, a mais leve esperança de salvamento! Bastava isto, para nos estalar os nervos e comover as almas mais duras.
Porém, se considerarmos que o desastre se deu à vista de terra, a dois passos do Passeio Alegre, pode dizer-se que a tragédia redobra, quintuplicando a angústia daqueles desgraçados!
Calcule-se o debate íntimo, a saudade compungente e o desespero atroz que não teria acometido esses pobres homens, ao olharem lá do mar, por entre os vagalhões medonhos que os iam comer, a terra linda da salvação, e os milhares de pessoas que, à beira mar, assistiam, desesperadas, à cena lancinante – sem nada poderem fazer, sem nada poderem tentar!
Que dor imensa, como poucas vezes se há-de ter sentido, deve ter sido a do pobre piloto, que era ali da Foz, e que, durante as longas horas em que aguardava a morte, pôde descobrir os contornos da casinha onde, às noites, repousava no seio abençoado de seus quatro filhinhos tão queridos e da esposa dedicada!
Pobre homem! Morrer a pouco e pouco, de pé, entre as ondas bravas, olhando a terra querida ali tão perto, fitando milhares de concidadãos e adivinhando os tectos do seu lar, - sem poder ao menos, fazer ouvir um derradeiro adeus! Que tragédia lancinante!
25 homens, cheios de vida, com as ilusões e sonhos de todos nós, ali, em pleno mar, apinhados num espaço de 3 ou 4 metros, sem um recurso, a mais leve esperança de salvamento! Bastava isto, para nos estalar os nervos e comover as almas mais duras.
Porém, se considerarmos que o desastre se deu à vista de terra, a dois passos do Passeio Alegre, pode dizer-se que a tragédia redobra, quintuplicando a angústia daqueles desgraçados!
Calcule-se o debate íntimo, a saudade compungente e o desespero atroz que não teria acometido esses pobres homens, ao olharem lá do mar, por entre os vagalhões medonhos que os iam comer, a terra linda da salvação, e os milhares de pessoas que, à beira mar, assistiam, desesperadas, à cena lancinante – sem nada poderem fazer, sem nada poderem tentar!
Que dor imensa, como poucas vezes se há-de ter sentido, deve ter sido a do pobre piloto, que era ali da Foz, e que, durante as longas horas em que aguardava a morte, pôde descobrir os contornos da casinha onde, às noites, repousava no seio abençoado de seus quatro filhinhos tão queridos e da esposa dedicada!
Pobre homem! Morrer a pouco e pouco, de pé, entre as ondas bravas, olhando a terra querida ali tão perto, fitando milhares de concidadãos e adivinhando os tectos do seu lar, - sem poder ao menos, fazer ouvir um derradeiro adeus! Que tragédia lancinante!
Um embrulho colossal e macabro
Pertence a Deus, neste momento, o segredo daquelas horas indescritíveis, que vão desde que o “Deister” encalhou até que desapareceu. Porque ninguém pôde estabelecer com ele o mais insignificante contacto, resultando, por conseguinte, meras hipóteses ou simples produtos de observações à distância, tudo quanto se diga dos últimos momentos daqueles pobres desgraçados.
Porém, graças às observações feitas, de local apropriado, com um óculo de grande alcance, reconstituir o drama dos 25 infelizes. Contemos, pois, o que nos foi posto ante os olhos assombrados, por um jogo de lentes poderosas.
Pouco depois dos tripulantes se fixarem na ré do navio, à espera da morte inevitável, o mar, agitando-se como víbora enraivecida desenleou duas ondas formidáveis, que se ergueram 5 ou 6 metros, avançando em direcção ao vapor, de aspecto horrendo. Ao verem aquele mar erguido, numa atitude ameaçadora, capaz de arrasar um mundo, os pobres homens contraíram-se, quebrando os joelhos, como para orar, e, de mãos erguidas, aguardaram o embate.
E os vagalhões medonhos, entrando pela ré, varreram-na de fora a fora, arrastando, num embrulho colossal e macabro, 21 homens, que foram aos trambolhões, nas dobras apertadas das ondas, pelo mar dentro.
Daí a pouco, o óculo ajustado mais para o largo, traria aos nossos olhos assombrados num misto de terror e emoção, aquelas 21 cabeças, debatendo-se com o mar, num esforço colossal, que só visto se acredita.
Mas, o seu estado de fadiga e o profundo abatimento moral em que deviam ter caído durante aquelas horas inigualáveis, em breve terminavam por os vencer de vez. Mais uns minutos e nunca mais se viram…
Porém, graças às observações feitas, de local apropriado, com um óculo de grande alcance, reconstituir o drama dos 25 infelizes. Contemos, pois, o que nos foi posto ante os olhos assombrados, por um jogo de lentes poderosas.
Pouco depois dos tripulantes se fixarem na ré do navio, à espera da morte inevitável, o mar, agitando-se como víbora enraivecida desenleou duas ondas formidáveis, que se ergueram 5 ou 6 metros, avançando em direcção ao vapor, de aspecto horrendo. Ao verem aquele mar erguido, numa atitude ameaçadora, capaz de arrasar um mundo, os pobres homens contraíram-se, quebrando os joelhos, como para orar, e, de mãos erguidas, aguardaram o embate.
E os vagalhões medonhos, entrando pela ré, varreram-na de fora a fora, arrastando, num embrulho colossal e macabro, 21 homens, que foram aos trambolhões, nas dobras apertadas das ondas, pelo mar dentro.
Daí a pouco, o óculo ajustado mais para o largo, traria aos nossos olhos assombrados num misto de terror e emoção, aquelas 21 cabeças, debatendo-se com o mar, num esforço colossal, que só visto se acredita.
Mas, o seu estado de fadiga e o profundo abatimento moral em que deviam ter caído durante aquelas horas inigualáveis, em breve terminavam por os vencer de vez. Mais uns minutos e nunca mais se viram…
Uma atitude sintomática
Dos três desgraçados que se refugiaram na torre do mastro da proa, um ao ver os dois companheiros levados pelas vagas e compreendendo que igual sorte lhe cabia, dirigiu-se para a ré e, num rasgo de coragem e emoção, lançou a mão à adriça da bandeira da sua pátria, descendo-a até meia haste!
Depois, num gesto de desprezo pela vida e numa solidariedade formidável com os camaradas e compatriotas, atirou-se ao mar, juntando-se com os outros, com eles enfrentando, até à morte, as fúrias do mar! Este gesto, observado pela lente dum óculo poderoso, tinha qualquer coisa de heróico, comovendo profundamente.
Depois, num gesto de desprezo pela vida e numa solidariedade formidável com os camaradas e compatriotas, atirou-se ao mar, juntando-se com os outros, com eles enfrentando, até à morte, as fúrias do mar! Este gesto, observado pela lente dum óculo poderoso, tinha qualquer coisa de heróico, comovendo profundamente.
O princípio do fim
Quando aquelas duas ondas formidáveis, caíram como duas montanhas sobre a ré do vapor, embrulhando 21 dos tripulantes do “Deister”, quis o destino que quatro escapassem a esse primeiro embate, para mais extenso ser o seu drama colossal. E, assim, três dos que ficaram subiram para a torre do mastro da popa, ficando o outro, que se presume ser o supercargo, de nome W. Elster, completamente isolado pela água no cimo da ponte de comando.
Nesses lugares, ultimo reduto duma batalha perdida e que a todos traria a morte, estiveram, gelados de corpo e alma, vendo os 21 camaradas a morrer aos poucos entre as ondas, até às 3 horas e 20 da tarde, portanto durante quase 5 horas e meia!
Calcule-se, se é possível, o sofrimento desses desgraçados! Mas, não obstante, nunca desistiram. Às vezes, os vagalhões cresciam para eles tentando abocanhá-los. Mas os valentes, num esforço heróico, colossal, sobre-humano, firmavam-se nas grades, e, de cabeça, enfrentavam a fúria das ondas, cortando-as de meio a meio.
A luta foi memorável. Por fim venceu o mais forte. Tinha que ser. Podia lá um homem, para mais exausto e sem esperanças, domar a fúria dos elementos! Não. E, assim, - eram 3 horas e 20 minutos, precisos! – uma serra de água que ao longe se ergueu veio até eles derreando a mastreação onde os três se refugiavam.
E, então, viu-se uma cena compungente. Enquanto a torre se desfazia e os homens iam tombando, o outro que estava em baixo, na torre de comando, erguendo um braço, disse aos companheiros num agitar de mãos fúnebres, comovente, o último adeus!... E ficou sozinho...
O fim da tragédia
Nesses lugares, ultimo reduto duma batalha perdida e que a todos traria a morte, estiveram, gelados de corpo e alma, vendo os 21 camaradas a morrer aos poucos entre as ondas, até às 3 horas e 20 da tarde, portanto durante quase 5 horas e meia!
Calcule-se, se é possível, o sofrimento desses desgraçados! Mas, não obstante, nunca desistiram. Às vezes, os vagalhões cresciam para eles tentando abocanhá-los. Mas os valentes, num esforço heróico, colossal, sobre-humano, firmavam-se nas grades, e, de cabeça, enfrentavam a fúria das ondas, cortando-as de meio a meio.
A luta foi memorável. Por fim venceu o mais forte. Tinha que ser. Podia lá um homem, para mais exausto e sem esperanças, domar a fúria dos elementos! Não. E, assim, - eram 3 horas e 20 minutos, precisos! – uma serra de água que ao longe se ergueu veio até eles derreando a mastreação onde os três se refugiavam.
E, então, viu-se uma cena compungente. Enquanto a torre se desfazia e os homens iam tombando, o outro que estava em baixo, na torre de comando, erguendo um braço, disse aos companheiros num agitar de mãos fúnebres, comovente, o último adeus!... E ficou sozinho...
O fim da tragédia
Ficou, como se viu um homem só. 24 viu ele serem lambidos pelas vagas. Pois este homem singular, extraordinário, não perdeu o ânimo. Era o super-cargo, W. Elster, que fez a guerra, tendo perdido até uma perna, motivo porque usava uma de borracha.
Este infeliz, agarrou-se, como náufrago que era, às grades da torre de comando e aí se conservou até ao fim de tudo, vendo descer o pano sobre aquela enorme tragédia. Bateu-se com a chuva inclemente, lutou contra as ondas enraivadas e, de olhos postos em terra, como se estivesse à espera duma tabua de salvação, não saiu dali enquanto teve onde se fixar. Mas, às tantas, uma cordilheira pavorosa que se diria ter sido feita por toda a água do mar, desabou sobre a torre de comando, onde ele estava, escangalhando-a como se fôra uma caixinha de sabão.
E só então é que o desgraçado se rendeu ao mar. Vêmo-lo cair, de joelhos, e erguer ao céu os braços numa prece. E depois, sumiu-se para não ser mais visto.
Consumatum est! Caíra o pano. De um vapor, cheio de rica carga só havia, como sinais de excelência, alguns bidões de gasolina e caixotes de madeira, vomitados na ânsia da morte. E dos 25 tripulantes – restava uma saudosa e trágica lembrança.
Este infeliz, agarrou-se, como náufrago que era, às grades da torre de comando e aí se conservou até ao fim de tudo, vendo descer o pano sobre aquela enorme tragédia. Bateu-se com a chuva inclemente, lutou contra as ondas enraivadas e, de olhos postos em terra, como se estivesse à espera duma tabua de salvação, não saiu dali enquanto teve onde se fixar. Mas, às tantas, uma cordilheira pavorosa que se diria ter sido feita por toda a água do mar, desabou sobre a torre de comando, onde ele estava, escangalhando-a como se fôra uma caixinha de sabão.
E só então é que o desgraçado se rendeu ao mar. Vêmo-lo cair, de joelhos, e erguer ao céu os braços numa prece. E depois, sumiu-se para não ser mais visto.
Consumatum est! Caíra o pano. De um vapor, cheio de rica carga só havia, como sinais de excelência, alguns bidões de gasolina e caixotes de madeira, vomitados na ânsia da morte. E dos 25 tripulantes – restava uma saudosa e trágica lembrança.
A multidão dispersa, orando!
Mal se deu a última derrocada, a multidão que das margens assistia à tragédia, percebeu que havia descido o pano sobre o último acto. E, então, foi como se por entre essas centenas de pessoas passasse uma rajada de neve que gelasse as almas! Silenciou-se tudo. Tudo emudeceu. As senhoras choravam tragicamente e nos olhos dos homens desciam lágrimas sentidas.
E, por entre a multidão, corria um sussurro fúnebre: - eram os crentes a rezar por aquelas 25 almas perdidas de um modo tão cruel. E a chorar e a rezar intimamente, debandou aquela multidão que, decerto, jamais esquecerá a formidável cena que presenciou.
E, por entre a multidão, corria um sussurro fúnebre: - eram os crentes a rezar por aquelas 25 almas perdidas de um modo tão cruel. E a chorar e a rezar intimamente, debandou aquela multidão que, decerto, jamais esquecerá a formidável cena que presenciou.
O mar começou a arremessar à praia os cadáveres
Às 3 horas da tarde de Domingo, quando andavam na praia da Aguda os pescadores Sebastião da Silva e Joaquim Gonçalves Paquete notaram que nas ondas que iam desfazer-se na praia traziam, como que embrulhados na espuma, dois cadáveres.
Logo se meteram ao mar tentando apanhá-los, pois eram, de facto, dois corpos de homens que o mar para acolá ia arremessar. Mas no movimento da maré, em breve viram sumir-se um dos corpos, lançando mão, não sem custo, que a maresia era forte, ao que não desaparecera.
Era o primeiro cadáver dos desditosos náufragos do “Deister” arrojado à costa. Vinha nu, trazendo apenas um pé calçado numa bota preta. O corpo, extraordinariamente inchado, tinha indícios de uma violenta luta – combate titânico de horas, de momentos, quem sabe? – com o mar e com a morte. Contusões aqui e acolá, sangue na face semi-coberta de areia.
Era um homem robusto, alto, espadaúdo, rosto largo e cheio, cabelo aloirado em brosse, sombreado de bigode à americana. Era o tipo perfeito alemão, que por aí encontramos como turista ou como tripulante desta navegação que frequenta o Douro.
A expressão, se não fôra os olhos muito cerrados, as pálpebras quase ligadas, não definia a tragédia que vivera aquele homem possante, atlético, de carnes endurecidas do norte. Aparenta 40 anos.
Estava, quando o vimos, deitado numa maca no Posto de Socorros a Náufragos da Aguda, para onde fôra conduzido depois de entregue ao regedor de Arcozelo, autoridade a quem ficou confiado.
O outro cadáver visto, que o mar repuxara, chamara de novo a si, para o guardar ainda por quanto tempo, dizem os pescadores que trazia calças pretas e suspensórios claros. E como esse, 24 corpos que o mar ainda retém avaramente – toda a tragédia de Domingo, arrepiantemente dolorosa, a dor do homem habituado a vencer e a triunfar e que sucumbe obrigado a reconhecer a sua impotência, a sua pequenez diante da força indomável dos elementos, do formidável poder da Natureza crua.
E como que a formar um cortejo sinistro, destroços da carga do “Deister”, arremessados à praia aqui e acolá, numa miscelânea que era como os despojos da luta travada – caixotes com carrinhos de linha, dois contadores de luz eléctrica, um relógio-contador, um pneumático, dois fardos de papel, cinco bandeiras, uma caixa com envelopes comerciais…
Eram certamente da carga do “Deister”. As bandeiras, essas, enroladas como que em funeral, talvez tenham seguido os cadáveres para os amortalharem. Eram pedaços da pátria que em terra estranha os vinham beijar, numa caricia de mãe compungida, alucinada ao saber dos filhos mortos…
Mas a gente do mar só tem este como pátria. As vagas embalam por vezes os seus primeiros sonos e o último… Seus irmãos são todos os que no mar vivem, que ele conhece, que dele fazem a existência e nele encontram a morte…Por isso os pescadores da Aguda derramaram as suas lágrimas sobre aquele cadáver do seu irmão fulminado, caído, vencido no seu posto…
Lágrimas benditas essas em que há dor e revolta, vagas que valem as que os esperam num dia de temporal desfeito como o de Domingo!
Ontem, de manhã, pelas 7 horas, o mar arrojou à praia de Paramos o cadáver de um dos infelizes marinheiros, o qual foi recolhido pelo piloto da barra do Porto, sr. Elísio Pereira, que andava percorrendo a costa a fim de ver se o cadáver do seu infeliz colega aparecia. O sr. Elísio reconheceu o náufrago como sendo o 2º engenheiro maquinista do “Deister”, pois que o conhecia, quando esteve a bordo, em Leixões, no referido navio naufragado.
O sr. regedor de Paramos, logo que teve conhecimento do aparecimento do náufrago, que estava completamente nu, arranjou roupas para o vestir e mandou fazer o caixão, onde se encontra, para amanhã ser enterrado, mas só o será depois daqui vir o sr. cônsul da Alemanha no Porto, que telefonou ao cabo do mar sr. Silva, para não ser realizado o enterro antes da sua chegada.
A Guarda-fiscal encontra-se a vigiar a costa, por motivo deste triste naufrágio.
Logo se meteram ao mar tentando apanhá-los, pois eram, de facto, dois corpos de homens que o mar para acolá ia arremessar. Mas no movimento da maré, em breve viram sumir-se um dos corpos, lançando mão, não sem custo, que a maresia era forte, ao que não desaparecera.
Era o primeiro cadáver dos desditosos náufragos do “Deister” arrojado à costa. Vinha nu, trazendo apenas um pé calçado numa bota preta. O corpo, extraordinariamente inchado, tinha indícios de uma violenta luta – combate titânico de horas, de momentos, quem sabe? – com o mar e com a morte. Contusões aqui e acolá, sangue na face semi-coberta de areia.
Era um homem robusto, alto, espadaúdo, rosto largo e cheio, cabelo aloirado em brosse, sombreado de bigode à americana. Era o tipo perfeito alemão, que por aí encontramos como turista ou como tripulante desta navegação que frequenta o Douro.
A expressão, se não fôra os olhos muito cerrados, as pálpebras quase ligadas, não definia a tragédia que vivera aquele homem possante, atlético, de carnes endurecidas do norte. Aparenta 40 anos.
Estava, quando o vimos, deitado numa maca no Posto de Socorros a Náufragos da Aguda, para onde fôra conduzido depois de entregue ao regedor de Arcozelo, autoridade a quem ficou confiado.
O outro cadáver visto, que o mar repuxara, chamara de novo a si, para o guardar ainda por quanto tempo, dizem os pescadores que trazia calças pretas e suspensórios claros. E como esse, 24 corpos que o mar ainda retém avaramente – toda a tragédia de Domingo, arrepiantemente dolorosa, a dor do homem habituado a vencer e a triunfar e que sucumbe obrigado a reconhecer a sua impotência, a sua pequenez diante da força indomável dos elementos, do formidável poder da Natureza crua.
E como que a formar um cortejo sinistro, destroços da carga do “Deister”, arremessados à praia aqui e acolá, numa miscelânea que era como os despojos da luta travada – caixotes com carrinhos de linha, dois contadores de luz eléctrica, um relógio-contador, um pneumático, dois fardos de papel, cinco bandeiras, uma caixa com envelopes comerciais…
Eram certamente da carga do “Deister”. As bandeiras, essas, enroladas como que em funeral, talvez tenham seguido os cadáveres para os amortalharem. Eram pedaços da pátria que em terra estranha os vinham beijar, numa caricia de mãe compungida, alucinada ao saber dos filhos mortos…
Mas a gente do mar só tem este como pátria. As vagas embalam por vezes os seus primeiros sonos e o último… Seus irmãos são todos os que no mar vivem, que ele conhece, que dele fazem a existência e nele encontram a morte…Por isso os pescadores da Aguda derramaram as suas lágrimas sobre aquele cadáver do seu irmão fulminado, caído, vencido no seu posto…
Lágrimas benditas essas em que há dor e revolta, vagas que valem as que os esperam num dia de temporal desfeito como o de Domingo!
Ontem, de manhã, pelas 7 horas, o mar arrojou à praia de Paramos o cadáver de um dos infelizes marinheiros, o qual foi recolhido pelo piloto da barra do Porto, sr. Elísio Pereira, que andava percorrendo a costa a fim de ver se o cadáver do seu infeliz colega aparecia. O sr. Elísio reconheceu o náufrago como sendo o 2º engenheiro maquinista do “Deister”, pois que o conhecia, quando esteve a bordo, em Leixões, no referido navio naufragado.
O sr. regedor de Paramos, logo que teve conhecimento do aparecimento do náufrago, que estava completamente nu, arranjou roupas para o vestir e mandou fazer o caixão, onde se encontra, para amanhã ser enterrado, mas só o será depois daqui vir o sr. cônsul da Alemanha no Porto, que telefonou ao cabo do mar sr. Silva, para não ser realizado o enterro antes da sua chegada.
A Guarda-fiscal encontra-se a vigiar a costa, por motivo deste triste naufrágio.
No consulado da Alemanha identificam-se os mortos
Com o intuito de obter informações, dirigimo-nos ao consulado alemão, sito nos escritórios da firma W. Stuve & Cª., firma comercial que, simultaneamente, é a agência da Neptun Linie, companhia de navegação que fretara o vapor “Deister”.
O sr. W. Stuve Júnior, filho do sr. cônsul da Alemanha, e procurador da citada agência, recebe-nos dispensando a mais apreciável gentileza, e esclarece:
O vapor “Deister” foi construído em 1921, nos estaleiros Howaldstwerke, em Kiel, e pertencia à firma Rabien & Stadtlander, do porto de Bremen. Esta é a terceira vez que, transportando mercadorias, vinha a Leixões e ao Douro, havendo, para esta viagem sido fretado pela Neptun Linie, de que somos agentes. Partira de Bremen, fazendo escala por Antuérpia, e transportava carga avulsa diversa, na maioria quinquilharias, brinquedos, gramofones e mais miudezas, toda ela destinada a Leixões – onde ainda descarregou uma pequena parte – depois seria o Porto, Lisboa e Setúbal.
A tão inesperada como lamentável tragédia veio surpreender-nos, logo às primeiras horas da manhã de Domingo e, pode crer, que a impressão dolorosa que conservo das cenas lancinantes não mais me passará da memória. Também a colónia alemã está profundamente consternada e de luto pela fatal ocorrência, que custou a vida a tantos compatriotas meus. E, não sei se já reparou, que somos acompanhados neste doloroso transe pela população do Porto e por todas as demais agencias das Companhias de Navegação estrangeiras, que conservam nas suas sedes as bandeiras a meia-haste. Creia, não me lembro haver assistido a catástrofe tão horrorosa como a de Domingo. Foi horripilante…
- E sobre as causas do sinistro, que opinião tem V.Exª.?
- Que quer que eu pense?! Ninguém poderá, com absoluta certeza, precisar quais os motivos que a tal levaram!
Nesta altura, o sr. Stuve Júnior, confirma a opinião corrente acerca das causas do desastre. E, acrescenta:
- Porque creio que a hélice do navio se tenha partido, eis aqui a causa principal, pois se assim não fosse o “Deister” podia ter apanhado a corrente e safar-se à primeira tentativa.
- E a tripulação?
- Era toda constituída por alemães, e não se encontravam a bordo mulheres algumas, como por aí pretendem propalar, dando à tragédia ainda maior valor do que ela, realmente e muito lamentavelmente já tem. Além da tripulação viajava a bordo, como encarregado da Companhia fretadora, o super-cargo Walter Elster.
- E da Alemanha, que dizem?
- Da triste nova imediatamente transmitida para o nosso país, ainda não tivemos resposta. E nada mais nos pode dizer o nosso simpático entrevistado.
Segundo a lista que nos foi gentilmente franqueada no consulado alemão, a tripulação do “Deister” era assim composta:
Capitão, August Becken; 1º oficial, Hermann Lerch; 2º oficial, Heinrich Behlmer; 1º maquinista, Georg Behrmann; 2º maquinista, Hermann Krag; 3º maquinista, Karl Radbrock; telegrafista, Fritz Gringmann; super-cargo da Neptun, Walter Elster; cozinheiro, Fritz Schildmuller; criado, Georg Muller; groom, Ernst Dura; carpinteiro, Friedrich Nitsch; marinheiros: Walter Reinke, Augustin Selitsch, Fritz Dorgeloh, Emil Horn e Arthur Kuhn; untador, Johann Fenska; fogueiros: Paul Tiebe, Max Steinle, Johann Hohmann, Leon Koralewski e Hinrich Bruns; e o moço, Georg Delfs.
O sr. W. Stuve Júnior, filho do sr. cônsul da Alemanha, e procurador da citada agência, recebe-nos dispensando a mais apreciável gentileza, e esclarece:
O vapor “Deister” foi construído em 1921, nos estaleiros Howaldstwerke, em Kiel, e pertencia à firma Rabien & Stadtlander, do porto de Bremen. Esta é a terceira vez que, transportando mercadorias, vinha a Leixões e ao Douro, havendo, para esta viagem sido fretado pela Neptun Linie, de que somos agentes. Partira de Bremen, fazendo escala por Antuérpia, e transportava carga avulsa diversa, na maioria quinquilharias, brinquedos, gramofones e mais miudezas, toda ela destinada a Leixões – onde ainda descarregou uma pequena parte – depois seria o Porto, Lisboa e Setúbal.
A tão inesperada como lamentável tragédia veio surpreender-nos, logo às primeiras horas da manhã de Domingo e, pode crer, que a impressão dolorosa que conservo das cenas lancinantes não mais me passará da memória. Também a colónia alemã está profundamente consternada e de luto pela fatal ocorrência, que custou a vida a tantos compatriotas meus. E, não sei se já reparou, que somos acompanhados neste doloroso transe pela população do Porto e por todas as demais agencias das Companhias de Navegação estrangeiras, que conservam nas suas sedes as bandeiras a meia-haste. Creia, não me lembro haver assistido a catástrofe tão horrorosa como a de Domingo. Foi horripilante…
- E sobre as causas do sinistro, que opinião tem V.Exª.?
- Que quer que eu pense?! Ninguém poderá, com absoluta certeza, precisar quais os motivos que a tal levaram!
Nesta altura, o sr. Stuve Júnior, confirma a opinião corrente acerca das causas do desastre. E, acrescenta:
- Porque creio que a hélice do navio se tenha partido, eis aqui a causa principal, pois se assim não fosse o “Deister” podia ter apanhado a corrente e safar-se à primeira tentativa.
- E a tripulação?
- Era toda constituída por alemães, e não se encontravam a bordo mulheres algumas, como por aí pretendem propalar, dando à tragédia ainda maior valor do que ela, realmente e muito lamentavelmente já tem. Além da tripulação viajava a bordo, como encarregado da Companhia fretadora, o super-cargo Walter Elster.
- E da Alemanha, que dizem?
- Da triste nova imediatamente transmitida para o nosso país, ainda não tivemos resposta. E nada mais nos pode dizer o nosso simpático entrevistado.
Segundo a lista que nos foi gentilmente franqueada no consulado alemão, a tripulação do “Deister” era assim composta:
Capitão, August Becken; 1º oficial, Hermann Lerch; 2º oficial, Heinrich Behlmer; 1º maquinista, Georg Behrmann; 2º maquinista, Hermann Krag; 3º maquinista, Karl Radbrock; telegrafista, Fritz Gringmann; super-cargo da Neptun, Walter Elster; cozinheiro, Fritz Schildmuller; criado, Georg Muller; groom, Ernst Dura; carpinteiro, Friedrich Nitsch; marinheiros: Walter Reinke, Augustin Selitsch, Fritz Dorgeloh, Emil Horn e Arthur Kuhn; untador, Johann Fenska; fogueiros: Paul Tiebe, Max Steinle, Johann Hohmann, Leon Koralewski e Hinrich Bruns; e o moço, Georg Delfs.
A viúva e filhos do inditoso piloto
Como se depreende, a pobre esposa do infeliz piloto, fica agora, se dela não se cuida, nas mais penosas dificuldades. Com quatro encantadoras crianças, verdadeiros botões de rosa mal desabrochados ainda, o mais velho dos quais tem apenas 6 anos, sem o braço protector do pai amigo e extremoso que o mar lhes roubou, que será dos pobres inocentinhos!?
O sr. coronel Nunes da Ponte, zeloso chefe do distrito, já recebeu, ontem, uma comissão de pilotos, que lhe foi pedir a sua valiosa interferência no sentido de que à inditosa viúva seja arbitrada uma pensão, desde já, pelo cofre da sua Corporação, o que o sr. Nunes da Ponte ficou de recomendar, com empenho, ao sr. ministro da Marinha.
O sr. coronel Nunes da Ponte, zeloso chefe do distrito, já recebeu, ontem, uma comissão de pilotos, que lhe foi pedir a sua valiosa interferência no sentido de que à inditosa viúva seja arbitrada uma pensão, desde já, pelo cofre da sua Corporação, o que o sr. Nunes da Ponte ficou de recomendar, com empenho, ao sr. ministro da Marinha.
O chefe do distrito e o naufrágio
O sr. governador civil do Porto, esteve no consulado da Alemanha, a apresentar condolências pelo falecimento dos náufragos, que compunham a tripulação do vapor “Deister”. O sr. tenente-coronel Nunes da Ponte também recomendou, a todas as autoridades, as maiores facilidades para o transporte dos cadáveres que venham a dar à costa, tendo igualmente telegrafado ao sr. governador civil de Aveiro solicitando iguais facilidades.
Consternação geral – Notas de sentimento
É geral, na cidade, Foz e Matosinhos, como, de resto, a este tempo, em toda a parte, a consternação causada pelo horrível naufrágio. Nas ruas, nos cafés, em todos os locais, só se fala com os termos mais saudosos, do trágico acontecimento, com toda a gente a curtindo a mágoa do sofrimento atroz, que dominou esses 25 desgraçados. Na Foz, em Leixões, no Porto e em todos os vapores surtos nas nossas águas colocaram-se bandeiras, a meia adriça, em sinal de sentimento.
Nota final
Nota final
O conhecido armador sr. José Maria da Silva, está encarregado dos funerais dos náufragos que aparecerem.
(In jornal “Comércio do Porto”, terça-feira, 5 de Fevereiro de 1929)
(In jornal “Comércio do Porto”, terça-feira, 5 de Fevereiro de 1929)
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