terça-feira, 10 de maio de 2016

Histórias do mar português!


No mar, em frente a Aveiro, o salva-vidas a motor
“Carvalho Araújo” teve um acidente – Os socorros

Ontem, pela 1 hora e meia da madrugada, entrou no porto de Leixões o vapor de pesca belga “Charles Henri”, conduzindo a reboque o barco salva-vidas “Carvalho Araújo”, que tinha sofrido um acidente por alturas de Aveiro.
Este acidente foi motivado por ter-se ensarilhado no hélice do barco salva-vidas, um cabo que servia de reboque aos nove barcos de pesca de Buarcos, que há tempo, devido ao temporal, tinham arribado a Leixões e que agora eram levados pelo “Carvalho Araújo”, para aquela praia.
O percalço deu-se pelas 5 horas de ante-ontem, estando durante a manhã e parte da tarde sem assistência, tendo por esse motivo de pedir socorro.
Como, por força da agitação do mar, não pudesse sair qualquer embarcação de Aveiro, para o socorrer, pelas 13 horas, um hidro-avião da Base de S. Jacinto levantou vôo seguindo em direcção ao mar à procura de qualquer navio que pudesse prestar auxílio ao salva-vidas “Carvalho Araújo”.

Foto do salva-vidas "Carvalho Araújo"
Imagem da Foto-Mar, Matosinhos

Avistando na sua faina o vapor de pesca belga “Charles Henri”, lançou-lhe uma mensagem acompanhada por uma bóia, a qual, foi apanhada por aquele vapor de pesca, que, imediatamente seguiu para o local que lhe foi indicado, passando um cabo de reboque ao salva-vidas “Carvalho Araújo”, conduziu-o para Leixões.
As tripulações que seguiam nos nove barcos de pesca que o “Carvalho Araújo levava a reboque, por intermédio de um daqueles barcos, passaram-se para bordo do salva-vidas, vindo nele para Leixões, deixando ficar abandonados no mar os referidos barcos que ficaram fundeados.
Quanto à traineira “Santa Rita”, que tinha saído de Leixões em socorro do salva-vidas “Carvalho Araújo”, quando chegou ao local já ele vinha a reboque do vapor de pesca belga, motivo pelo que não foram necessários os seus serviços.
O capitão do vapor de pesca belga Charles Lambregt, declarou às autoridades marítimas não querer nada pelo seu serviço, não só por ter cumprido com a sua obrigação, como ainda, às boas relações existentes entre os dois países.
O vapor de pesca “Charles Henri” é da praça de Ostende, e como nota curiosa pertence à mesma empresa proprietária do vapor de pesca “Konig Albert”, que também em 16 de Outubro de 1934 tinha entrado em Leixões conduzindo a bordo 7 tripulantes de um barco de pesca de Vila do Conde, que tinha naufragado nas alturas de Aveiro.
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O rebocador “Tritão” saiu ontem, pelas 11 horas e meia, de Leixões, levando a bordo as tripulações dos barcos que ficaram abandonados no local do acidente, a fim de, caso ainda fossem encontrados, levá-los a reboque para Buarcos.
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O vapor de pesca “Charles Henri”, depois de ter dado conhecimento do sucedido ao sr. cônsul da Bélgica, que compareceu em Leixões, e ao capitão do porto, seguiu ao seu destino, tendo saído de Leixões pelas 19 horas.
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Este acidente, que alarmou a classe piscatória de Matosinhos, perante os boatos, um tanto desencontrados, felizmente, não teve consequências de maior, dada a rápida intervenção, não só, do hidro-avião da Base de S. Jacinto, que prestou um excelente serviço, como da assistência do referido vapor de pesca, que teve de abandonar a sua faina. (a)
(In jornal “Comércio do Porto”, sexta, 24 de Abril de 1936)

(a) Este acidente na realidade serviu, também, para que fosse identificado pelo comando dos serviços de vigilância da Marinha Portuguesa, uma muito provável actividade de pesca ilegal, nas nossas águas territoriais, por diversos vapores de pesca de nacionalidade Belga. Essa situação foi confirmada através da captura de um vapor encontrado a pescar na zona de Aveiro, logo apreendido e multado de acordo com a legislação em vigor, no decorrer desse mesmo ano.

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