O afundamento
1ª Parte
O “Cassequel” foi o terceiro navio de longo curso afundado por um submarino alemão durante a IIª Grande Guerra Mundial. Desta feita, o efeito rotina descambou para situações antagónicas. Presidencialmente, conforme se constata através das notícias publicadas na época, a Companhia Colonial recebeu pêsames pela perda do navio e a própria companhia teve a bandeira içada a meia haste, muito embora não se tivessem registado vítimas mortais. Por outro lado, no Funchal as boas vindas da população local aos tripulantes do navio, foi de tal forma apoteótica, que quase faz precipitar a ideia que valia a pena ser náufrago outra vez!
Numa análise mais abrangente, contextualiza-se a hipotética irrelevância do país perder mais uma unidade, por muita falta que pudesse fazer! Fica também provada a capacidade para vencer a batalha da sobrevivência, nos casos agora relatados, independentemente do custo e do sofrimento que a isso obrigou, apesar da perda de outros navios e da vida de tripulantes, nos ataques a que estiveram sujeitos navios de menor porte.
Volvidos todos estes anos, é possível perceber que a história se esqueceu de dar nome aos muitos anónimos colocados acidentalmente no teatro de uma guerra, que o governo de então fez jus não lhes pertencer. A nossa memória colectiva, depois de conhecidas e apreciadas as vicissitudes e os momentos tormentosos vividos pelos referidos náufragos, fará juízo de cada um como vitima ou herói, no reino das causas perdidas.
Numa análise mais abrangente, contextualiza-se a hipotética irrelevância do país perder mais uma unidade, por muita falta que pudesse fazer! Fica também provada a capacidade para vencer a batalha da sobrevivência, nos casos agora relatados, independentemente do custo e do sofrimento que a isso obrigou, apesar da perda de outros navios e da vida de tripulantes, nos ataques a que estiveram sujeitos navios de menor porte.
Volvidos todos estes anos, é possível perceber que a história se esqueceu de dar nome aos muitos anónimos colocados acidentalmente no teatro de uma guerra, que o governo de então fez jus não lhes pertencer. A nossa memória colectiva, depois de conhecidas e apreciadas as vicissitudes e os momentos tormentosos vividos pelos referidos náufragos, fará juízo de cada um como vitima ou herói, no reino das causas perdidas.
O vapor “Cassequel”
1926-1941
Armador: Companhia Colonial de Navegação, Lisboa
1926-1941
Armador: Companhia Colonial de Navegação, Lisboa
Imagem do vapor "Cassequel", supostamente no porto de Lisboa
Foto da colecção de Francisco Cabral
Foto da colecção de Francisco Cabral
Nº Oficial: 489-E - Iic.: C.S.A.L. - Porto de registo: Lisboa
Construtor: W. Gray & Co., Ltd., West Hartlepool, 04-1901
ex “Numantia”, Hamburg America Line, Alemanha, 1901-1916
ex “Pangim”, Transp. Marít. do Estado, Lisboa, 1916-1926
Arqueação: Tab 4.751,26 tons - Tal 3.324,74 tons
Dim.: Ff 121,20 mt - Pp 117,10 mt - Bc 15,88 mt - Ptl 7,80 mt
Propulsão: Mar. Eng. Works, 1:Te - 3:Ci - 369 Nhp - 10 m/h
Construtor: W. Gray & Co., Ltd., West Hartlepool, 04-1901
ex “Numantia”, Hamburg America Line, Alemanha, 1901-1916
ex “Pangim”, Transp. Marít. do Estado, Lisboa, 1916-1926
Arqueação: Tab 4.751,26 tons - Tal 3.324,74 tons
Dim.: Ff 121,20 mt - Pp 117,10 mt - Bc 15,88 mt - Ptl 7,80 mt
Propulsão: Mar. Eng. Works, 1:Te - 3:Ci - 369 Nhp - 10 m/h
O vapor “Cassequel”, da Companhia Colonial de Navegação
foi afundado, no Domingo último, no Atlântico
foi afundado, no Domingo último, no Atlântico
Foi afundado no dia 14 do corrente, portanto no Domingo, pelas 19 horas, o vapor de carga português “Cassequel”, da Companhia Colonial de Navegação. O navio tinha saído da capital no dia 13, véspera do acontecimento.
O “Cassequel” levava carga geral para os portos da África Portuguesa, parte da qual pertencia ao Estado Português e destinava-se a Angola. O navio deslocava 7.300 toneladas. Tinha de comprimento 121 metros. Pertencia à Companhia Colonial de Navegação, desde a fundação da empresa. Antes fora propriedade da frota dos Transportes Marítimos do Estado, com o nome “Pangim”, e pertenceu primeiramente a uma companhia alemã, tendo ao tempo o nome de “Numantia”. Foi construído em 1901, nos estaleiros de West Hartlepool, e tinha motores de 1.500 C.V., possuindo três caldeiras.
Há tempos foi restaurado nos estaleiros da C.U.F., após o incêndio que se registou a bordo, durante uma viagem de África para Lisboa. Este navio no princípio da actual guerra foi levado pela fiscalização inglesa para Gibraltar.
O Estado-Maior Naval emitiu, após ter conhecimento do incidente, um radio a toda a navegação para que os navios que naveguem próximo do local onde o barco foi afundado procedessem a pesquisas. Também dois hidroaviões partiram a fazer pesquisas na zona onde se presume que tenha sido afundado.
Ontem à noite, compareceram junto dos escritórios da Companhia Colonial de Navegação algumas pessoas das famílias dos passageiros e tripulantes, para receberem notícias dos seus entes queridos e colherem detalhes quanto às pessoas que tinham sido salvas.
A Companhia Colonial de Navegação içou a bandeira a meia-haste em sinal de sentimento.
A tripulação do “Cassequel” era a seguinte:
Sebastião Augusto da Silva, comandante; Hermenegildo Rodrigues do Paço, imediato; José Dias Furtado, 2º piloto; Vasco de Sá Jara de Carvalho, 3º piloto; Marcelino Fonseca Sequeira, praticante de piloto; José Pedro Ventura Simões, telegrafista; José Joaquim Rita Júnior, 1º maquinista; José Pedro, 2º maquinista: Alfredo José Vieira, 3º maquinista; José António de Jesus Júnior, ajudante de maquinista; Vasco Baptista Almeida Graça, enfermeiro; Manuel Fernandes, contra-mestre; José Napoleão Aquino Pereira, carpinteiro; Francisco da Silva Sacada, Manuel Espírito Santo Rocha, João Abreu dos Santos e José da Conceição, marinheiros-timoneiros; Manuel Almeida, marinheiro fiel de porão; António Nanim Pimentel, moço paioleiro; Carlos António, despenseiro; Jaime Bento Lampreia, Manuel Oliveira Júnior e José Mendes Romero, criados; João Ildefonso Machado Barbosa, cozinheiro; Carlos Nunes da Maia, ajudante de cozinheiro; Manuel Santos, padeiro; António Augusto Ruela, Mário Tomé Rebelo Santos, João Inácio Nunes, Elias Ramos, Joaquim Mealha Ferreira e Luís Figueiredo, chegadores; Manuel Cristiano Mendes, fogueiro-faroleiro; Bernardo Luís, José Simões, Joaquim Luís, Joaquim Fernandes, José Correia, Manuel Cristiano Mendes, Amaro Domingos Caldas, Guilherme Matos, António Francisco e António Dias, fogueiros; José Almeida, Mário Repolho, Orlando da Silva Saraiva e Mud-Bai, moços.
(In jornal “Comércio do Porto”, quinta, 18 de Dezembro de 1941)
O “Cassequel” levava carga geral para os portos da África Portuguesa, parte da qual pertencia ao Estado Português e destinava-se a Angola. O navio deslocava 7.300 toneladas. Tinha de comprimento 121 metros. Pertencia à Companhia Colonial de Navegação, desde a fundação da empresa. Antes fora propriedade da frota dos Transportes Marítimos do Estado, com o nome “Pangim”, e pertenceu primeiramente a uma companhia alemã, tendo ao tempo o nome de “Numantia”. Foi construído em 1901, nos estaleiros de West Hartlepool, e tinha motores de 1.500 C.V., possuindo três caldeiras.
Há tempos foi restaurado nos estaleiros da C.U.F., após o incêndio que se registou a bordo, durante uma viagem de África para Lisboa. Este navio no princípio da actual guerra foi levado pela fiscalização inglesa para Gibraltar.
O Estado-Maior Naval emitiu, após ter conhecimento do incidente, um radio a toda a navegação para que os navios que naveguem próximo do local onde o barco foi afundado procedessem a pesquisas. Também dois hidroaviões partiram a fazer pesquisas na zona onde se presume que tenha sido afundado.
Ontem à noite, compareceram junto dos escritórios da Companhia Colonial de Navegação algumas pessoas das famílias dos passageiros e tripulantes, para receberem notícias dos seus entes queridos e colherem detalhes quanto às pessoas que tinham sido salvas.
A Companhia Colonial de Navegação içou a bandeira a meia-haste em sinal de sentimento.
A tripulação do “Cassequel” era a seguinte:
Sebastião Augusto da Silva, comandante; Hermenegildo Rodrigues do Paço, imediato; José Dias Furtado, 2º piloto; Vasco de Sá Jara de Carvalho, 3º piloto; Marcelino Fonseca Sequeira, praticante de piloto; José Pedro Ventura Simões, telegrafista; José Joaquim Rita Júnior, 1º maquinista; José Pedro, 2º maquinista: Alfredo José Vieira, 3º maquinista; José António de Jesus Júnior, ajudante de maquinista; Vasco Baptista Almeida Graça, enfermeiro; Manuel Fernandes, contra-mestre; José Napoleão Aquino Pereira, carpinteiro; Francisco da Silva Sacada, Manuel Espírito Santo Rocha, João Abreu dos Santos e José da Conceição, marinheiros-timoneiros; Manuel Almeida, marinheiro fiel de porão; António Nanim Pimentel, moço paioleiro; Carlos António, despenseiro; Jaime Bento Lampreia, Manuel Oliveira Júnior e José Mendes Romero, criados; João Ildefonso Machado Barbosa, cozinheiro; Carlos Nunes da Maia, ajudante de cozinheiro; Manuel Santos, padeiro; António Augusto Ruela, Mário Tomé Rebelo Santos, João Inácio Nunes, Elias Ramos, Joaquim Mealha Ferreira e Luís Figueiredo, chegadores; Manuel Cristiano Mendes, fogueiro-faroleiro; Bernardo Luís, José Simões, Joaquim Luís, Joaquim Fernandes, José Correia, Manuel Cristiano Mendes, Amaro Domingos Caldas, Guilherme Matos, António Francisco e António Dias, fogueiros; José Almeida, Mário Repolho, Orlando da Silva Saraiva e Mud-Bai, moços.
(In jornal “Comércio do Porto”, quinta, 18 de Dezembro de 1941)
Todos os tripulantes e passageiros do “Cassequel”
afundado no Atlântico estão salvos
afundado no Atlântico estão salvos
Por um radio recebido ontem de tarde em Lisboa, soube-se que a baleeira, a bordo da qual tomaram lugar o comandante e 17 pessoas do vapor “Cassequel”, afundado no Atlântico no último Domingo, pelas 19 horas, um dia depois de ter partido de Lisboa, com destino aos portos portugueses de África, havia sido localizada em determinado ponto por elementos da nossa Marinha de Guerra que tinham saído para fazer pesquisas.
Em virtude desta informação, o Ministério da Marinha ordenou a recolha dos náufragos. Estão, portanto, salvos todos os passageiros e tripulantes do “Cassequel”.
Em Lisboa tinham embarcado, com destino aos portos da África Ocidental, 9 passageiros: Isilda Portela, de 43 anos, solteira, da Covilhã e Josefina Marques, de 49 anos, casada, de Maçãs de Dª. Maria, comerciante, ambas para São Tomé; Lino Pereira Pinto, de 23 anos, casado, torneiro, da Vila da Feira; Alfredo da Silva, de 50 anos, serralheiro, do Porto; Virgílio Santos Pinto, de 36 anos, casado, comerciante, de Moimenta da Beira; Mário Adelino Pires, de 15 anos, estudante em Matanga; e José António Costa, de 23 anos, estudante, de Bragança, todos para Luanda; Adérito dos Santos Tavares, de 19 anos, estudante, de Távora e António Mendes Negrão, de Lisboa, empregado no comércio, solteiro, ambos para o Lobito. Seguiam todos em 3ª classe.
Na melhor das hipóteses os náufragos chegaram a Lisboa de madrugada. De Gibraltar comunicaram às entidades competentes que tinham sido recolhidos por um barco estrangeiro 13 náufragos que chegaram já ali. São todos tripulantes do “Cassequel”: Hermenegildo do Paço, Vasco Almeida Graça, José Passos, José Simões, João Santos, Mud-Bai, José Oliveira, António Barros, Amaro Caldas, António Francisco, Joaquim Fernandes, José Correia e José Pereira.
(In jornal “Comércio do Porto”, sexta, 19 de Dezembro de 1941)
Em virtude desta informação, o Ministério da Marinha ordenou a recolha dos náufragos. Estão, portanto, salvos todos os passageiros e tripulantes do “Cassequel”.
Em Lisboa tinham embarcado, com destino aos portos da África Ocidental, 9 passageiros: Isilda Portela, de 43 anos, solteira, da Covilhã e Josefina Marques, de 49 anos, casada, de Maçãs de Dª. Maria, comerciante, ambas para São Tomé; Lino Pereira Pinto, de 23 anos, casado, torneiro, da Vila da Feira; Alfredo da Silva, de 50 anos, serralheiro, do Porto; Virgílio Santos Pinto, de 36 anos, casado, comerciante, de Moimenta da Beira; Mário Adelino Pires, de 15 anos, estudante em Matanga; e José António Costa, de 23 anos, estudante, de Bragança, todos para Luanda; Adérito dos Santos Tavares, de 19 anos, estudante, de Távora e António Mendes Negrão, de Lisboa, empregado no comércio, solteiro, ambos para o Lobito. Seguiam todos em 3ª classe.
Na melhor das hipóteses os náufragos chegaram a Lisboa de madrugada. De Gibraltar comunicaram às entidades competentes que tinham sido recolhidos por um barco estrangeiro 13 náufragos que chegaram já ali. São todos tripulantes do “Cassequel”: Hermenegildo do Paço, Vasco Almeida Graça, José Passos, José Simões, João Santos, Mud-Bai, José Oliveira, António Barros, Amaro Caldas, António Francisco, Joaquim Fernandes, José Correia e José Pereira.
(In jornal “Comércio do Porto”, sexta, 19 de Dezembro de 1941)
O afundamento do vapor “Cassequel”
Chegaram, ontem, a Lisboa alguns dos náufragos
Chegaram, ontem, a Lisboa alguns dos náufragos
Chegaram ontem, à tarde, a Lisboa, alguns dos náufragos do vapor “Cassequel” que foram recolhidos no alto mar por elementos da nossa Marinha de Guerra, e tinham tomado lugar a bordo de uma baleeira do navio, aquela que anteontem foi assinalada.
São o comandante sr. Sebastião da Silva e mais 17 pessoas, tripulantes e passageiros do “Cassequel”, que a não ser o cansaço resultante das horas difíceis que passaram a bordo da baleeira, se encontram de saúde.
O “Cassequel” foi torpedeado por um submarino cuja nacionalidade é, ainda, desconhecida. Trata-se, conforme previamente acentuado, dum novo acto brutal perpetrado contra um país que tem mantido, escrupulosa e exemplarmente, a sua neutralidade. É legítima a indignação que tal atentado provocou em todos os portugueses, ciosos da sua independência e da sua honra.
Em nome do sr. Presidente da República, o sr. General Amílcar Mota apresentou pêsames à direcção da Companhia Colonial de Navegação pela perda do “Cassequel”.
São o comandante sr. Sebastião da Silva e mais 17 pessoas, tripulantes e passageiros do “Cassequel”, que a não ser o cansaço resultante das horas difíceis que passaram a bordo da baleeira, se encontram de saúde.
O “Cassequel” foi torpedeado por um submarino cuja nacionalidade é, ainda, desconhecida. Trata-se, conforme previamente acentuado, dum novo acto brutal perpetrado contra um país que tem mantido, escrupulosa e exemplarmente, a sua neutralidade. É legítima a indignação que tal atentado provocou em todos os portugueses, ciosos da sua independência e da sua honra.
Em nome do sr. Presidente da República, o sr. General Amílcar Mota apresentou pêsames à direcção da Companhia Colonial de Navegação pela perda do “Cassequel”.
Os náufragos foram carinhosamente recebidos no Funchal
Funchal, 19 – O vapor português “Maria Amélia” fundeou neste porto ontem, às 14 e quarenta horas, trazendo a bordo 24 tripulantes e 7 passageiros do vapor português “Cassequel”. Na ponte-cais centenas de madeirenses aguardavam ansiosamente a chegada do “Maria Amélia”, que fora anunciada à população através dos «placards» dos jornais e por intermédio da capitania do porto.
Apenas o “Maria Amélia” lançou ferro, dirigiu-se imediatamente para junto daquele navio o gasolina da capitania do porto, levando a bordo o Patrão-mor e as autoridades sanitárias e alfandegárias. Depois de cumpridas as usuais formalidades os náufragos do “Cassequel” dirigiram-se para terra em dois gasolinas. Ao desembarcarem no cais foram alvo duma carinhosa recepção por parte de centenas de pessoas que se encontravam na ponte-cais e que lhes ofereceram frutas e garrafas de vinho da Madeira. Seguiram depois até à avenida Dr. Manuel de Arriaga e junto ao monumento a Gonçalves Zarco, descobridor da ilha, foram distribuídos por vários hotéis e pensões da cidade.
Os náufragos declararam que o “Cassequel foi afundado no domingo, 14, às 19 horas. Dois dias depois, na terça-feira, 17 do corrente, foram recolhidos, às 17 horas, pelo “Maria Amélia”, cuja oficialidade e tripulação os trataram com o maior carinho e desvelo, cuidando para que nada lhes faltasse e chegando mesmo alguns oficiais de bordo a ceder as suas acomodações.
Acrescentaram que uma das baleeiras era guiada pelo segundo-piloto do “Cassequel”, José Dias Furtado, e que a outra era conduzida pelo terceiro-piloto, Vasco de Carvalho. Ambos os oficiais não só deram mostras da maior coragem e sangue-frio, como ainda animaram os náufragos durante os dois dias em que as suas baleeiras vogaram ao sabor das ondas. Disseram ainda que os náufragos foram salvos pelo “Maria Amélia”, graças aos sinais que aquele navio recebeu.
Os 31 náufragos do “Cassequel” seguem para Lisboa no dia 24 do corrente, a bordo do vapor português “Lima”. Nenhum deles apresenta quaisquer ferimentos, mas mostram-se bastante fatigados, devido ao frio que sofreram durante os dois dias que navegaram no mar alto.
(In jornal “Comércio do Porto”, sábado, 20 de Dezembro de 1941)
Apenas o “Maria Amélia” lançou ferro, dirigiu-se imediatamente para junto daquele navio o gasolina da capitania do porto, levando a bordo o Patrão-mor e as autoridades sanitárias e alfandegárias. Depois de cumpridas as usuais formalidades os náufragos do “Cassequel” dirigiram-se para terra em dois gasolinas. Ao desembarcarem no cais foram alvo duma carinhosa recepção por parte de centenas de pessoas que se encontravam na ponte-cais e que lhes ofereceram frutas e garrafas de vinho da Madeira. Seguiram depois até à avenida Dr. Manuel de Arriaga e junto ao monumento a Gonçalves Zarco, descobridor da ilha, foram distribuídos por vários hotéis e pensões da cidade.
Os náufragos declararam que o “Cassequel foi afundado no domingo, 14, às 19 horas. Dois dias depois, na terça-feira, 17 do corrente, foram recolhidos, às 17 horas, pelo “Maria Amélia”, cuja oficialidade e tripulação os trataram com o maior carinho e desvelo, cuidando para que nada lhes faltasse e chegando mesmo alguns oficiais de bordo a ceder as suas acomodações.
Acrescentaram que uma das baleeiras era guiada pelo segundo-piloto do “Cassequel”, José Dias Furtado, e que a outra era conduzida pelo terceiro-piloto, Vasco de Carvalho. Ambos os oficiais não só deram mostras da maior coragem e sangue-frio, como ainda animaram os náufragos durante os dois dias em que as suas baleeiras vogaram ao sabor das ondas. Disseram ainda que os náufragos foram salvos pelo “Maria Amélia”, graças aos sinais que aquele navio recebeu.
Os 31 náufragos do “Cassequel” seguem para Lisboa no dia 24 do corrente, a bordo do vapor português “Lima”. Nenhum deles apresenta quaisquer ferimentos, mas mostram-se bastante fatigados, devido ao frio que sofreram durante os dois dias que navegaram no mar alto.
(In jornal “Comércio do Porto”, sábado, 20 de Dezembro de 1941)
2 comentários:
Desconhecia este triste acontecimento, mas hoje tive o privilégio de o ouvir na primeira pessoa. Despertou-me e fui procurar o acontecimento histórico.
O Sr.Aderito, actualmente com 94 anos, relatou exactamente o facto como se o estivesse a viver no dia 14 de dezembro de 1942.
Impressionante, e de salientar é que a baleeira, só foi descoberta a 19 de dezembro pelas 7h30. 7 noites sem comer, nem beber !
Adorei a pequena conversa, mas de grande sabedoria e experiência.
Curioso, o Sr. Aderito estava no momento do primeiro torpedo a jogar às cartas, e guardou o jogo que tinha no bolso. 6 cartas, 3 damas, 2 ases e 1 rei. Salvou o jogo, salvou a vida, teve 6 filhos, 3 damas e 3 reis.
Foi uma surpresa ver o seu comentário, o meu nome é André Aguiar Tavares Mendo, neto do Sr. Adérito Tavares, com 94 anos. Mostrei-lhe o seu comentário hoje, e ele agradece muito o seu interesse e manda cumprimentos. Ele pensa que será o único sobrevivente do naufrágio ainda vivo.
Há uma tradição de família na ceia de Natal, onde o meu Avô conta a sua aventura durante essas 7 noites. Ás 3 damas e aos 3 reis, deve acrescentar os 13 netos e 7 bisnetos.
Um abraço e boas festas,
André A. Tavares M.
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