O afundamento
2ª Parte
Foto de passageiros e tripulantes do vapor "Corte Real"
à chegada a Lisboa - Imagem do jornal "Comércio do Porto"
à chegada a Lisboa - Imagem do jornal "Comércio do Porto"
O torpedeamento do vapor português “Corte Real”
causou profunda impressão na opinião pública
causou profunda impressão na opinião pública
O torpedeamento do vapor português “Corte Real” causou, como não podia deixar de ser, profunda impressão na opinião pública. Apesar de ter corrido o boato, porque de outra coisa não se tratava senão de boato, de que o “Corte Real” transportava determinado minério, verificou-se já, até pelas declarações do comandante daquela unidade da nossa frota mercante, que nem uma grama desse minério ia a bordo.
A carga do “Corte Real” era constituída por um pequeno lote de cortiça, grande quantidade de relógios e anilinas. Tratava-se de mercadorias vindas da Suíça, e embarcadas num porto italiano, sob a fiscalização e controle das autoridades daquele país beligerante.
A perda do “Corte Real” representa um golpe para a nossa Marinha Mercante, que fica privada de uma das suas melhores unidades. O afundamento do vapor português “Corte Real” causou na opinião pública a mais legítima indignação e a mais dolorosa surpresa. Nada houve que justificasse tal procedimento, pois o “Corte Real” não transportava mercadoria que pudesse ser considerada como contrabando de guerra.
Portugal, que sempre manteve e mantem, ainda, relações amistosas com os países beligerantes, não merece este tratamento tão iniquo como injusto. Observando, sempre, com inexcedível escrúpulo uma política de neutralidade, o nosso país tem o direito de ser respeitado. O afundamento do “Corte Real” constitui, por isso, um atentado ao brio nacional, perante o qual não podemos ficar indiferentes. Tal procedimento é condenável e merece a mais enérgica reprovação dos portugueses que põem acima de tudo a honra nacional.
A carga do “Corte Real” era constituída por um pequeno lote de cortiça, grande quantidade de relógios e anilinas. Tratava-se de mercadorias vindas da Suíça, e embarcadas num porto italiano, sob a fiscalização e controle das autoridades daquele país beligerante.
A perda do “Corte Real” representa um golpe para a nossa Marinha Mercante, que fica privada de uma das suas melhores unidades. O afundamento do vapor português “Corte Real” causou na opinião pública a mais legítima indignação e a mais dolorosa surpresa. Nada houve que justificasse tal procedimento, pois o “Corte Real” não transportava mercadoria que pudesse ser considerada como contrabando de guerra.
Portugal, que sempre manteve e mantem, ainda, relações amistosas com os países beligerantes, não merece este tratamento tão iniquo como injusto. Observando, sempre, com inexcedível escrúpulo uma política de neutralidade, o nosso país tem o direito de ser respeitado. O afundamento do “Corte Real” constitui, por isso, um atentado ao brio nacional, perante o qual não podemos ficar indiferentes. Tal procedimento é condenável e merece a mais enérgica reprovação dos portugueses que põem acima de tudo a honra nacional.
O que dizem os jornais ingleses
Londres, 15 – A Grã-Bretanha sente e manifesta grande simpatia por Portugal, a propósito do afundamento do “Corte Real”. Todos os principais jornais inserem notícias dos seus correspondentes em Lisboa, principalmente o Times, que publica uma mensagem de 350 palavras na sua primeira página.
Londres, 15 – Acerca do afundamento do “Corte Real” os círculos autorizados de Londres salientam que a falta de humanidade do comandante do submarino, ficou demonstrada pelo facto de ter abandonado os tripulantes e passageiros em escaleres abertos, a 100 quilómetros da costa.
Visto o comandante alemão não ter dado qualquer razão para o afundamento de um navio neutral, que se deslocava em transportes neutros, a única explicação possível conforme se pensa na cidade, é tratar-se de um acto de intimidação dirigida contra um pequeno país neutro, mantendo o comércio pacífico e legitimo com outro país neutro.
A Alemanha deu, assim, a conhecer ao Mundo não estar livre de ataques de qualquer navio navegando no alto mar. Os círculos autorizados de Londres têm por certo que, Portugal com a sua gloriosa e secular tradição naval, insistirá no seu direito de manter em aberto operações de comércio legítimo.
(In jornal “Comércio do Porto”, quinta, 16 de Outubro de 1941)
Londres, 15 – Acerca do afundamento do “Corte Real” os círculos autorizados de Londres salientam que a falta de humanidade do comandante do submarino, ficou demonstrada pelo facto de ter abandonado os tripulantes e passageiros em escaleres abertos, a 100 quilómetros da costa.
Visto o comandante alemão não ter dado qualquer razão para o afundamento de um navio neutral, que se deslocava em transportes neutros, a única explicação possível conforme se pensa na cidade, é tratar-se de um acto de intimidação dirigida contra um pequeno país neutro, mantendo o comércio pacífico e legitimo com outro país neutro.
A Alemanha deu, assim, a conhecer ao Mundo não estar livre de ataques de qualquer navio navegando no alto mar. Os círculos autorizados de Londres têm por certo que, Portugal com a sua gloriosa e secular tradição naval, insistirá no seu direito de manter em aberto operações de comércio legítimo.
(In jornal “Comércio do Porto”, quinta, 16 de Outubro de 1941)
O torpedeamento do “Corte Real” - O comandante do submarino
alemão não acedeu ao pedido do capitão do navio português
no sentido de que, para ser poupado, a carga fosse lançada ao mar.
alemão não acedeu ao pedido do capitão do navio português
no sentido de que, para ser poupado, a carga fosse lançada ao mar.
Mantem-se viva e profunda a impressão de pesar nos portugueses pela notícia do afundamento, no Atlântico, do “Corte Real”, atendendo à situação de Portugal como país neutro. É que, de verdade, o acontecimento chega a ser inconcebível e merecedor dos mais duros e amargos comentários.
As autoridades de Marinha estão a ultimar o processo relativo ao afundamento do vapor “Corte Real”, que será enviado oportunamente ao Ministério dos Negócios Estrangeiros, a fim de habilitar o Governo a tomar sobre o caso as providencias que julgar necessárias.
Teve-se agora conhecimento de que o capitão do navio, sr. José Narciso Marques Júnior, ao falar com o comandante do submarino alemão que afundou o “Corte Real”, prontificou-se a lançar ao mar toda a carga que lhe fosse indicada ou a regressar a Lisboa, comprometendo-se, sob palavra de honra a descarregar aquela mercadoria e a não voltar a transportar não só os produtos que levava como todos aqueles que lhe fossem indicados. Estas propostas, porém, não foram aceites e o barco acabou por ser torpedeado, depois de não terem dado resultado as granadas incendiarias que sobre ele foram lançadas.
Passageiros e tripulantes foram, até certo ponto, rebocados pelo submarino, que a certa altura cessou o reboque. A odisseia dos náufragos durou cerca de treze horas, até serem avistados pelo caíque “A Deus”, que os trouxe para o porto de Lisboa.
O “Corte Real”, visitava com frequência o porto de Génova, não só levando mercadorias para Itália, algumas em trânsito, como tomando ali carga que transportava para outros destinos.
Deste afundamento resultam ainda algumas consequências pouco agradáveis, entre as quais, o benefício dos carregadores americanos, que desviam as cargas para as suas companhias de navegação, com o argumento de que os seus transportes estão a coberto de torpedeamentos.
As autoridades de Marinha estão a ultimar o processo relativo ao afundamento do vapor “Corte Real”, que será enviado oportunamente ao Ministério dos Negócios Estrangeiros, a fim de habilitar o Governo a tomar sobre o caso as providencias que julgar necessárias.
Teve-se agora conhecimento de que o capitão do navio, sr. José Narciso Marques Júnior, ao falar com o comandante do submarino alemão que afundou o “Corte Real”, prontificou-se a lançar ao mar toda a carga que lhe fosse indicada ou a regressar a Lisboa, comprometendo-se, sob palavra de honra a descarregar aquela mercadoria e a não voltar a transportar não só os produtos que levava como todos aqueles que lhe fossem indicados. Estas propostas, porém, não foram aceites e o barco acabou por ser torpedeado, depois de não terem dado resultado as granadas incendiarias que sobre ele foram lançadas.
Passageiros e tripulantes foram, até certo ponto, rebocados pelo submarino, que a certa altura cessou o reboque. A odisseia dos náufragos durou cerca de treze horas, até serem avistados pelo caíque “A Deus”, que os trouxe para o porto de Lisboa.
O “Corte Real”, visitava com frequência o porto de Génova, não só levando mercadorias para Itália, algumas em trânsito, como tomando ali carga que transportava para outros destinos.
Deste afundamento resultam ainda algumas consequências pouco agradáveis, entre as quais, o benefício dos carregadores americanos, que desviam as cargas para as suas companhias de navegação, com o argumento de que os seus transportes estão a coberto de torpedeamentos.
Comentários da imprensa inglesa
Londres, 16 – O afundamento do “Corte Real” continua a despertar grande atenção. Aguarda-se com enorme interesse, o resultado do inquérito oficial mandado fazer pelo Governo português.
O correspondente do Times em Lisboa informa: «Nada se deu que diminuísse a impressão geral que se sentiu em Portugal da extrema gravidade do assunto.»
(In jornal “Comércio do Porto”, sexta, 17 de Outubro de 1941)
O correspondente do Times em Lisboa informa: «Nada se deu que diminuísse a impressão geral que se sentiu em Portugal da extrema gravidade do assunto.»
(In jornal “Comércio do Porto”, sexta, 17 de Outubro de 1941)
O afundamento do “Corte Real”
O sr. Manuel Pinheiro Chagas, agente em Lisboa da Companhia Carregadores Açoreanos, continuou ontem a tratar do caso do torpedeamento do vapor “Corte Real”, propriedade daquela empresa. No escritório da agência estiveram o capitão do navio, sr. José Marques Júnior e alguns tripulantes. Estes aguardam a solução do seu caso, no sentido de lhes ser indicado outro navio da mesma Companhia para poderem continuar a governar a sua vida, agora prejudicada por motivo da perda do navio onde trabalhavam.
Tem continuado a elaboração do relatório sobre as causas do afundamento, o qual vai ser enviado ao Ministério dos Negócios Estrangeiros para habilitar o Governo a tomar as necessárias providências.
(In jornal “Comércio do Porto”, sábado, 18 de Outubro de 1941)
Tem continuado a elaboração do relatório sobre as causas do afundamento, o qual vai ser enviado ao Ministério dos Negócios Estrangeiros para habilitar o Governo a tomar as necessárias providências.
(In jornal “Comércio do Porto”, sábado, 18 de Outubro de 1941)
Factos e ocorrência
Às 14 horas do dia 12 de Outubro de 1941, o vapor “Corte Real” foi mandado parar para ser inspecionado pelo submarino alemão U-83, que se encontrava sob o comando do capitão Hans-Werner Kraus, a cerca de 80 milhas a Oeste de Lisboa.
Com base no princípio estabelecido que o navio transportava contrabando, por motivo da mercadoria ser destinada aos Estados Unidos e ao Canadá (país beligerante), o comandante do submarino decidiu ordenar que a tripulação e passageiros (entre eles mulheres e crianças) abandonassem o navio em três escaleres. Consumado o desembarque, o submarino abriu fogo contra o navio com o canhão do convés, tendo-se declarado incêndio a bordo, contudo face à provável demora no afundamento do navio, optaram pela destruição do mesmo com dois torpedos, às 16 horas e cinquenta e quatro minutos.
Entretanto, porque um dos escaleres do “Corte Real” se encontrava em mau estado e a meter água, a tripulação do submarino transferiu os náufragos para os dois restantes. Afundado o navio, o submarino procedeu ao reboque dos dois escaleres na direcção da costa portuguesa, durante três horas, até ao local que lhes pareceu oferecer segurança.
Com base no princípio estabelecido que o navio transportava contrabando, por motivo da mercadoria ser destinada aos Estados Unidos e ao Canadá (país beligerante), o comandante do submarino decidiu ordenar que a tripulação e passageiros (entre eles mulheres e crianças) abandonassem o navio em três escaleres. Consumado o desembarque, o submarino abriu fogo contra o navio com o canhão do convés, tendo-se declarado incêndio a bordo, contudo face à provável demora no afundamento do navio, optaram pela destruição do mesmo com dois torpedos, às 16 horas e cinquenta e quatro minutos.
Entretanto, porque um dos escaleres do “Corte Real” se encontrava em mau estado e a meter água, a tripulação do submarino transferiu os náufragos para os dois restantes. Afundado o navio, o submarino procedeu ao reboque dos dois escaleres na direcção da costa portuguesa, durante três horas, até ao local que lhes pareceu oferecer segurança.
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