O afundamento
2ª Parte
Foto do vapor "Cassequel" supostamente em Lisboa
Imagem da colecção de Francisco Cabral
O afundamento do “Cassequel”
Funchal, 20 – O segundo piloto do “Cassequel”, sr. José Dias Furtado, esteve esta manhã no Consulado Britânico, onde manifestou ao representante da Grã-Bretanha na ilha da Madeira, a gratidão dos 31 náufragos das duas baleeiras do “Cassequel”, que foram recolhidos pelo vapor português “Maria Amélia”, graças aos grandes esforços empregados pela tripulação de um avião inglês, que localizou as referidas baleeiras.
Os náufragos, interrogados pelo correspondente da United Press, foram unanimes em louvar a admirável coragem e serenidade do capitão do “Cassequel”, sr. Sebastião Augusto da Silva, que com a sua autoridade e saber proficiente consegui restabelecer imediatamente a serenidade a bordo e distribuir eficiente e rapidamente todos os tripulantes e passageiros pelas baleeiras de bordo, sem que se tivesse registado o menor desastre. Se não fosse a rápida e decidida acção do comandante do “Cassequel”, teria lavrado o pânico a bordo e a estas horas teríamos a lamentar perdas pessoais. Para se avaliar como foi a eficaz acção do capitão sr. Sebastião da Silva, basta dizer-se que o “Cassequel” se afundou dez minutos depois de ter sido torpedeado, após ter sido servido o jantar.
Amanhã, comparece na Polícia Marítima o sr. capitão Sebastião da Silva, comandante do vapor “Cassequel” para prestar declarações. Ontem, esteve naquela polícia o estudante Adérito Santos Tavares, um dos náufragos, que seguia para o Lobito ao encontro de seus pais, que não vê há seis anos, e que perdeu tudo o que levava.
Na Polícia Marítima, por ordem do seu comandante, 1º tenente sr. Sales Henriques, deram-lhe do cofre de assistência daquela polícia, dinheiro para as suas maiores necessidades, tendo já comprado vestuário. Aquele náufrago partiu ontem para Távora, sua terra natal, aguardando ali outro navio da C.C.N. para seguir para Angola.
(In jornal “Comércio do Porto”, Domingo, 21.12.1941)
Os náufragos, interrogados pelo correspondente da United Press, foram unanimes em louvar a admirável coragem e serenidade do capitão do “Cassequel”, sr. Sebastião Augusto da Silva, que com a sua autoridade e saber proficiente consegui restabelecer imediatamente a serenidade a bordo e distribuir eficiente e rapidamente todos os tripulantes e passageiros pelas baleeiras de bordo, sem que se tivesse registado o menor desastre. Se não fosse a rápida e decidida acção do comandante do “Cassequel”, teria lavrado o pânico a bordo e a estas horas teríamos a lamentar perdas pessoais. Para se avaliar como foi a eficaz acção do capitão sr. Sebastião da Silva, basta dizer-se que o “Cassequel” se afundou dez minutos depois de ter sido torpedeado, após ter sido servido o jantar.
Amanhã, comparece na Polícia Marítima o sr. capitão Sebastião da Silva, comandante do vapor “Cassequel” para prestar declarações. Ontem, esteve naquela polícia o estudante Adérito Santos Tavares, um dos náufragos, que seguia para o Lobito ao encontro de seus pais, que não vê há seis anos, e que perdeu tudo o que levava.
Na Polícia Marítima, por ordem do seu comandante, 1º tenente sr. Sales Henriques, deram-lhe do cofre de assistência daquela polícia, dinheiro para as suas maiores necessidades, tendo já comprado vestuário. Aquele náufrago partiu ontem para Távora, sua terra natal, aguardando ali outro navio da C.C.N. para seguir para Angola.
(In jornal “Comércio do Porto”, Domingo, 21.12.1941)
O torpedeamento do “Cassequel”
Os náufragos do vapor “Cassequel”, que foram recolhidos por um navio estrangeiro, que aportou a Gibraltar, onde os deixou, seguiram, ontem, para Espanha, devendo chegar, hoje, a Lisboa, de caminheta ou de comboio.
(In jornal “Comércio do Porto”, quinta, 23 de Dezembro de 1941)
(In jornal “Comércio do Porto”, quinta, 23 de Dezembro de 1941)
O afundamento do “Cassequel”
Chegaram ontem a Lisboa 31 náufragos
Chegaram ontem a Lisboa 31 náufragos
No paquete “Lima”, da Empresa Insulana de Navegação chegaram, ontem, a Lisboa, os 31 náufragos do vapor “Cassequel”, recolhidos pelo vapor português “Maria Amélia” e conduzidos ao Funchal.
Vêem gratos pela maneira hospitaleira e carinhosa como foram tratados na Madeira, tanto pelas autoridades locais, como pelo povo. Contaram a sua odisseia, e, através da sua narrativa, ficou um ou outro pormenor até agora desconhecido. Depois do primeiro torpedo, o “Cassequel” parou o andamento e, como se tivesse partido o eixo da hélice, a máquina começou a rodar desordenadamente.
- Foi um inferno -, exclamaram eles. O torpedo, apontado para meia-nau, devido ao andamento do vapor, atingira-o na popa, a estibordo, levando, ao que parece, a hélice e o leme. Depois de recolhidos nas baleeiras e de se terem apagado as luzes, subitamente, ouviram novo estrondo. Foi nesse instante que o navio se desfez em chamas. Um clarão enorme iluminou todos, mas, mesmo assim, não conseguiram ver o submarino que os atacou. Devido ao facto das duas baleeiras onde se recolheram terem a bordo gente mais nova e, portanto, com mais forças para remar, perderam-se das duas outras embarcações. Na manhã de terça-feira, os ocupantes dos dois salva-vidas, que andaram sempre mais ou menos juntos, avistaram pelas 11 horas o avião inglês, que se aproximava deles. A tarefa dos tripulantes deste aparelho e de outro que apareceu depois para os localizar não podem eles esquecer, como motivo de gratidão.
Até ali o desanimo tinha-se apossado de todos, mas, daí em diante, sentiram que tinham razão para não perder as esperanças de salvamento. Foi então, perto das 21 horas, com o auxílio de fachos luminosos, lançados do avião, que o capitão do “Maria Amélia” descobriu as duas baleeiras e se aproximou delas, recolhendo os seus ocupantes e levando-os para o Funchal, de onde chegaram ontem.
No cais eram esperados por pessoas de família. Parte dos náufragos embarcou no paquete “Mouzinho”, com destino aos portos da África Portuguesa.
(In jornal “Comércio do Porto”, Domingo, 28.12.1941)
Vêem gratos pela maneira hospitaleira e carinhosa como foram tratados na Madeira, tanto pelas autoridades locais, como pelo povo. Contaram a sua odisseia, e, através da sua narrativa, ficou um ou outro pormenor até agora desconhecido. Depois do primeiro torpedo, o “Cassequel” parou o andamento e, como se tivesse partido o eixo da hélice, a máquina começou a rodar desordenadamente.
- Foi um inferno -, exclamaram eles. O torpedo, apontado para meia-nau, devido ao andamento do vapor, atingira-o na popa, a estibordo, levando, ao que parece, a hélice e o leme. Depois de recolhidos nas baleeiras e de se terem apagado as luzes, subitamente, ouviram novo estrondo. Foi nesse instante que o navio se desfez em chamas. Um clarão enorme iluminou todos, mas, mesmo assim, não conseguiram ver o submarino que os atacou. Devido ao facto das duas baleeiras onde se recolheram terem a bordo gente mais nova e, portanto, com mais forças para remar, perderam-se das duas outras embarcações. Na manhã de terça-feira, os ocupantes dos dois salva-vidas, que andaram sempre mais ou menos juntos, avistaram pelas 11 horas o avião inglês, que se aproximava deles. A tarefa dos tripulantes deste aparelho e de outro que apareceu depois para os localizar não podem eles esquecer, como motivo de gratidão.
Até ali o desanimo tinha-se apossado de todos, mas, daí em diante, sentiram que tinham razão para não perder as esperanças de salvamento. Foi então, perto das 21 horas, com o auxílio de fachos luminosos, lançados do avião, que o capitão do “Maria Amélia” descobriu as duas baleeiras e se aproximou delas, recolhendo os seus ocupantes e levando-os para o Funchal, de onde chegaram ontem.
No cais eram esperados por pessoas de família. Parte dos náufragos embarcou no paquete “Mouzinho”, com destino aos portos da África Portuguesa.
(In jornal “Comércio do Porto”, Domingo, 28.12.1941)
Factos e ocorrência
O neutral e desprotegido vapor “Cassequel”, às 21 horas e cinquenta e sete minutos, do dia 14 de Dezembro de 1941, foi atingido à face da ré por um de dois torpedos disparados pelo submarino alemão U-108, sob o comando do capitão Klaus Scholtz, quando este se encontrava a cerca de 160 milhas a Sudoeste do Cabo de São Vicente. O vapor afundou-se rapidamente depois de atingido por um torpedo definido como o golpe de misericórdia a meio-navio, partindo-se em duas partes, pelas 22 horas e vinte e cinco minutos.
O vapor encontrava-se iluminado, mas não foi vista qualquer bandeira ou sinais identificativos à distância de 1.000 metros, pelo que o comandante do submarino decidiu-se pelo ataque e afundamento do mesmo, quando este se encontrava na posição longitude 35º08´N e latitude 11º14’O, pela impossibilidade de mandar parar um navio suspeito durante a noite.
No dia 15 de Dezembro o submarino alemão U-131, sob o comando do capitão Arend Baumann aproximou-se de duas baleeiras com náufragos do vapor “Cassequel”, tendo-lhes fornecido pão e água. Os sobreviventes nessa ocasião solicitaram ao comandante deste submarino, que os rebocasse até próximo da costa portuguesa, mas o pedido foi obviamente recusado.
O vapor encontrava-se iluminado, mas não foi vista qualquer bandeira ou sinais identificativos à distância de 1.000 metros, pelo que o comandante do submarino decidiu-se pelo ataque e afundamento do mesmo, quando este se encontrava na posição longitude 35º08´N e latitude 11º14’O, pela impossibilidade de mandar parar um navio suspeito durante a noite.
No dia 15 de Dezembro o submarino alemão U-131, sob o comando do capitão Arend Baumann aproximou-se de duas baleeiras com náufragos do vapor “Cassequel”, tendo-lhes fornecido pão e água. Os sobreviventes nessa ocasião solicitaram ao comandante deste submarino, que os rebocasse até próximo da costa portuguesa, mas o pedido foi obviamente recusado.
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