O afundamento do vapor “ Leça “
1916 – 1916
Armador: Transportes Marítimos do Estado, Lisboa
Imagem do vapor "Leça" em Lisboa - Foto de autor desconhecido
Nº Oficial: -?- - Iic.: H.L.E.C. – Porto de registo: Lisboa
ex “Enos” - Deutsche Levante Linie, Hamburgo, 1902-1916
Construtor: Helsingor Vaerft, Elsinore, Dinamarca, 03.05.1902
Arqueação: Tab 1.911,18 tons - Tal 1.210,27 tons
Dimensões: Pp 85,60 mts - Boca 12,30 mts
Propulsão: Dinamarca, 1902 - 1:Te - Veloc. 9 m/h
Torpedeado pelo submarino UC-18, sob o comando do capitão Wilhelm Kiel, próximo a Saint Nazaire, na posição 46º57’N 02º41’W, em 14.12.1916.
ex “Enos” - Deutsche Levante Linie, Hamburgo, 1902-1916
Construtor: Helsingor Vaerft, Elsinore, Dinamarca, 03.05.1902
Arqueação: Tab 1.911,18 tons - Tal 1.210,27 tons
Dimensões: Pp 85,60 mts - Boca 12,30 mts
Propulsão: Dinamarca, 1902 - 1:Te - Veloc. 9 m/h
Torpedeado pelo submarino UC-18, sob o comando do capitão Wilhelm Kiel, próximo a Saint Nazaire, na posição 46º57’N 02º41’W, em 14.12.1916.
A tripulação do vapor “Leça”
Segundo notícias recebidas no Ministério da Marinha, foi comunicado ter sido salva toda a tripulação do vapor “Leça”, antigo vapor alemão “Enos”, que se encontrava sob fretamento ao governo Inglês e atacado há dias por um submarino alemão.
(In jornal “Comércio do Porto”, sexta, 22 de Dezembro de 1916)
(In jornal “Comércio do Porto”, sexta, 22 de Dezembro de 1916)
O que diz o capitão do “Leça”, acerca do ataque inimigo
Chegado com a sua tripulação a Lisboa, em pleno dia de Natal, fomos ao encontro do comandante do vapor “Leça”, capitão António Ferreira da Piedade, para que nos dissesse em que condições tinha sido afundado o navio sob o seu comando.
O sr. capitão Piedade, que se apresenta ainda com a cabeça coberta de ligaduras, pois recebeu um grande ferimento a saltar para a baleeira, na ocasião do ataque do submarino, relata da seguinte forma os acontecimentos:
«O “Leça” saíra de Cardiff, carregado de carvão, com destino a Saint Nazaire. Observei rigorosamente as instruções do almirantado. Com prejuízo de tempo, alcançamos finalmente a costa francesa, dando-se o ataque, quando ele já nos parecia impossível.
A 14 do corrente encontrávamo-nos a 15 milhas do porto de destino. Subitamente o imediato chamou a nossa atenção, para qualquer coisa, que se assemelhava a uma boia. Não tivemos ilusões por muito tempo. Era um submarino, que fazia o seu aparecimento. Ao nosso lado navegava um vapor inglês, o “Glencoe”, por sinal.
O pirata, assim que surgiu, rodeou o vapor inglês, obrigando-o a parar. E, ao mesmo tempo, fez o primeiro tiro sobre nós. Era o aviso para o desembarque. Ambas as tripulações saltaram apara as baleeiras. Pouco depois disparou nove tiros sobre o “Leça” e, voltando-se para o inglês, enviou-lhe um torpedo. Como o nosso barco não tivesse submergido, disparou-lhe também um torpedo pela amura de estibordo. O encontro deu-se às 7 horas e meia da manhã e às 8 e tanto o nosso navio afundava-se completamente. Durante o ataque, dois outros submarinos pairavam a curta distancia.
Assim que presenciamos o completo afundamento do “Leça”, remamos com força, em direcção à costa, que se avistava. Depois de termos marchado algum tempo, veio ao nosso encontro o barco dos pilotos de Saint Nazaire, que tinham ouvido as detonações. Os 35 homens da tripulação do “Leça” foram imediatamente socorridos. Às 4 horas da tarde desembarcamos no porto, onde as autoridades marítimas nos dispensaram o mais cativante acolhimento. A oficialidade foi hospedada no hotel e o resto da tripulação recolhida no quartel de infantaria 147. Não se descreve a afetuosa receção que os soldados dispensaram à nossa gente. Os nossos homens, que tinham ficado sem roupas, receberam dos soldados aquilo de que careciam. E, quando deixamos a cidade, oficiais e soldados franceses acudiram à gare, fazendo-nos uma grande manifestação de simpatia.
O nome de Portugal foi aclamado entusiasticamente, e essa atmosfera de carinho compensou-nos bem do perigo que tínhamos corrido. De Saint Nazaire seguimos a Bordéus, daqui a San Sebastian e por último a Lisboa.»
(In jornal “Comércio do Porto”, terça, 26 de Dezembro de 1916)
«O “Leça” saíra de Cardiff, carregado de carvão, com destino a Saint Nazaire. Observei rigorosamente as instruções do almirantado. Com prejuízo de tempo, alcançamos finalmente a costa francesa, dando-se o ataque, quando ele já nos parecia impossível.
A 14 do corrente encontrávamo-nos a 15 milhas do porto de destino. Subitamente o imediato chamou a nossa atenção, para qualquer coisa, que se assemelhava a uma boia. Não tivemos ilusões por muito tempo. Era um submarino, que fazia o seu aparecimento. Ao nosso lado navegava um vapor inglês, o “Glencoe”, por sinal.
O pirata, assim que surgiu, rodeou o vapor inglês, obrigando-o a parar. E, ao mesmo tempo, fez o primeiro tiro sobre nós. Era o aviso para o desembarque. Ambas as tripulações saltaram apara as baleeiras. Pouco depois disparou nove tiros sobre o “Leça” e, voltando-se para o inglês, enviou-lhe um torpedo. Como o nosso barco não tivesse submergido, disparou-lhe também um torpedo pela amura de estibordo. O encontro deu-se às 7 horas e meia da manhã e às 8 e tanto o nosso navio afundava-se completamente. Durante o ataque, dois outros submarinos pairavam a curta distancia.
Assim que presenciamos o completo afundamento do “Leça”, remamos com força, em direcção à costa, que se avistava. Depois de termos marchado algum tempo, veio ao nosso encontro o barco dos pilotos de Saint Nazaire, que tinham ouvido as detonações. Os 35 homens da tripulação do “Leça” foram imediatamente socorridos. Às 4 horas da tarde desembarcamos no porto, onde as autoridades marítimas nos dispensaram o mais cativante acolhimento. A oficialidade foi hospedada no hotel e o resto da tripulação recolhida no quartel de infantaria 147. Não se descreve a afetuosa receção que os soldados dispensaram à nossa gente. Os nossos homens, que tinham ficado sem roupas, receberam dos soldados aquilo de que careciam. E, quando deixamos a cidade, oficiais e soldados franceses acudiram à gare, fazendo-nos uma grande manifestação de simpatia.
O nome de Portugal foi aclamado entusiasticamente, e essa atmosfera de carinho compensou-nos bem do perigo que tínhamos corrido. De Saint Nazaire seguimos a Bordéus, daqui a San Sebastian e por último a Lisboa.»
(In jornal “Comércio do Porto”, terça, 26 de Dezembro de 1916)
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