O encalhe do cruzador “Adamastor” no dia 4 de Outubro de 1929
Imagem do cruzador "Adamastor" - Postal ilustrado
O cruzador “Adamastor” foi construído no estaleiro dos Irmãos Orlando, em Livorno, na Itália, em 1896, em resultado duma subscrição pública efectuada no país, para possibilitar a respectiva compra. Entrou ao serviço da Marinha de Guerra Portuguesa em 3 de Agosto de 1897, tendo realizado um incontável número de missões, até ser abatido aos efectivos da Armada em 1934. Deslocava 1.757 toneladas, tinha 73,80 metros de comprimento e 10,70 metros de largura. A guarnição era composta por 206 tripulantes, oficiais, sargentos e praças. Podia navegar à velocidade de 18 nós, dispondo de uma autonomia na ordem das 5.400 milhas náuticas à velocidade de 10 nós.
A notícia do sinistro, cuja ocorrência é referida no texto abaixo transcrito, não justifica outros comentários, além da compreensão de uma determinada época, não muito distante, perfeitamente elucidativa da eterna disputa entre o privado e o público.
Foi julgada procedente a acção movida por motivo do seu salvamento
O cruzador “Adamastor” foi construído no estaleiro dos Irmãos Orlando, em Livorno, na Itália, em 1896, em resultado duma subscrição pública efectuada no país, para possibilitar a respectiva compra. Entrou ao serviço da Marinha de Guerra Portuguesa em 3 de Agosto de 1897, tendo realizado um incontável número de missões, até ser abatido aos efectivos da Armada em 1934. Deslocava 1.757 toneladas, tinha 73,80 metros de comprimento e 10,70 metros de largura. A guarnição era composta por 206 tripulantes, oficiais, sargentos e praças. Podia navegar à velocidade de 18 nós, dispondo de uma autonomia na ordem das 5.400 milhas náuticas à velocidade de 10 nós.
A notícia do sinistro, cuja ocorrência é referida no texto abaixo transcrito, não justifica outros comentários, além da compreensão de uma determinada época, não muito distante, perfeitamente elucidativa da eterna disputa entre o privado e o público.
Foi julgada procedente a acção movida por motivo do seu salvamento
Terminou ontem o julgamento, no Tribunal do 7º Juízo, em audiência presidida pelo juiz dr. Vasco Borges, do processo que a Sociedade de Comércio, Industria e Transportes, Lda., moveu contra o Estado ao qual exigiu 500 contos pelo auxílio que o vapor “Maria Amélia” prestou ao cruzador “Adamastor”, quando este navio de guerra encalhou em Outubro de 1924, na Ilha de Bolama. A audiência abriu pelos debates. O sr. dr. Humberto Pelágio advogado da Sociedade, com uma notável concisão começou as suas alegações descrevendo com copiosa soma de factos os esforços empregados pelo “Maria Amélia” para salvar o “Adamastor”.
Dirigindo-se aos júris disse:
«Em quatro de Outubro de 1929, dirigindo-se o cruzador “Adamastor”, para a Ilha de Bolama, encalhou na ponte oeste da mesma ilha e não podendo safar-se pelos seus próprios meios, foi ordenado pelo Chefe dos Serviços da Marinha da Guiné, que o vapor “Maria Amélia” fosse em seu auxílio. Este encontrava-se, então, em Bissau pronto a seguir viagem para Lisboa, carregado completamente com 1.533 toneladas de «mendobi» e à hora a que lhe foi dada ordem para ir em auxílio do cruzador, estava aguardando a chegada dos papéis de bordo para iniciar a sua viagem para Lisboa.
Embarcando a bordo, o chefe de Serviços da Marinha, o “Maria Amélia” dirigindo-se desde logo para o local do encalhe e, após uma conferência entre os respectivos comandantes dos navios, assistente e assistido, o “Maria Amélia” cerca das 17 e 30 horas, fundeou o mais próximo possível do “Adamastor” em 10 braças de água, pois os fundos ali passam de 9 braças para 3, e o navio achava-se em 17 pés e 9 polegadas de calado.
Estabeleceu-se o primeiro cabo de reboque que rebentou às 20 horas, devido à forte corrente de água, lançando-se o segundo, que logo a seguir rebentou pelo mesmo motivo. Eram 22 horas.
Como não houvesse tempo para ser passado novo cabo, visto ser preia-mar, o “Adamastor” tentou safar-se com o auxílio das suas máquinas e do rebocador “Bissau”, mas todas as tentativas foram inúteis.
No dia 5, pelas 08 horas e 5 minutos fundeou o “Maria Amélia” novamente a cerca de 500 metros do “Adamastor”, sendo estabelecido o terceiro cabo de reboque. Às 11 horas o “Adamastor” começou a trabalhar com as suas máquinas ajudado pelo rebocador “Bissau” e pelo “Maria Amélia” até que às 11 horas e 12 minutos, em virtude da força da corrente, o cabo de reboque deu um violento esticão, partindo-se mas desencalhando o “Adamastor” poucos minutos depois. A situação do “Adamastor” era em verdade assaz critica».
Dada a palavra ao sr. dr. Sousa Costa, o ilustre magistrado começou por tecer os melhores elogios ao seu colega, entrando depois no estudo da prova produzida, que reputou insuficiente para habilitar o tribunal a julgar a acção procedente.
Reunido o tribunal, este respondeu, dando a acção como procedente e provada, que o encalhe colocou o “Adamastor” na impossibilidade de safar-se pelas suas próprias forças e recursos, e na situação de perigo: que foi às 11 horas e 12 minutos que rebentou o terceiro cabo de reboque lançado pelo “Maria Amélia”, dando na ocasião um forte esticão ao “Adamastor”: que quando rebentou o segundo cabo o cruzador não conseguiu safar-se apesar de ser na ocasião máxima da preia-mar, apesar dos esforços do rebocador “Bissau” e apesar do esforço das suas próprias máquinas, actuando simultaneamente e em conjunto todos estes fatores: que o “Maria Amélia” prestou um útil serviço contribuindo para o desencalhe, etc.
Porém, atenta a dificuldade de determinar o valor do cruzador, e outras verbas, ficou o seu montante para se liquidar em execução de sentença.
(In jornal "Comércio do Porto", quarta, 18 de Julho de 1934)
Dirigindo-se aos júris disse:
«Em quatro de Outubro de 1929, dirigindo-se o cruzador “Adamastor”, para a Ilha de Bolama, encalhou na ponte oeste da mesma ilha e não podendo safar-se pelos seus próprios meios, foi ordenado pelo Chefe dos Serviços da Marinha da Guiné, que o vapor “Maria Amélia” fosse em seu auxílio. Este encontrava-se, então, em Bissau pronto a seguir viagem para Lisboa, carregado completamente com 1.533 toneladas de «mendobi» e à hora a que lhe foi dada ordem para ir em auxílio do cruzador, estava aguardando a chegada dos papéis de bordo para iniciar a sua viagem para Lisboa.
Embarcando a bordo, o chefe de Serviços da Marinha, o “Maria Amélia” dirigindo-se desde logo para o local do encalhe e, após uma conferência entre os respectivos comandantes dos navios, assistente e assistido, o “Maria Amélia” cerca das 17 e 30 horas, fundeou o mais próximo possível do “Adamastor” em 10 braças de água, pois os fundos ali passam de 9 braças para 3, e o navio achava-se em 17 pés e 9 polegadas de calado.
Estabeleceu-se o primeiro cabo de reboque que rebentou às 20 horas, devido à forte corrente de água, lançando-se o segundo, que logo a seguir rebentou pelo mesmo motivo. Eram 22 horas.
Como não houvesse tempo para ser passado novo cabo, visto ser preia-mar, o “Adamastor” tentou safar-se com o auxílio das suas máquinas e do rebocador “Bissau”, mas todas as tentativas foram inúteis.
No dia 5, pelas 08 horas e 5 minutos fundeou o “Maria Amélia” novamente a cerca de 500 metros do “Adamastor”, sendo estabelecido o terceiro cabo de reboque. Às 11 horas o “Adamastor” começou a trabalhar com as suas máquinas ajudado pelo rebocador “Bissau” e pelo “Maria Amélia” até que às 11 horas e 12 minutos, em virtude da força da corrente, o cabo de reboque deu um violento esticão, partindo-se mas desencalhando o “Adamastor” poucos minutos depois. A situação do “Adamastor” era em verdade assaz critica».
Dada a palavra ao sr. dr. Sousa Costa, o ilustre magistrado começou por tecer os melhores elogios ao seu colega, entrando depois no estudo da prova produzida, que reputou insuficiente para habilitar o tribunal a julgar a acção procedente.
Reunido o tribunal, este respondeu, dando a acção como procedente e provada, que o encalhe colocou o “Adamastor” na impossibilidade de safar-se pelas suas próprias forças e recursos, e na situação de perigo: que foi às 11 horas e 12 minutos que rebentou o terceiro cabo de reboque lançado pelo “Maria Amélia”, dando na ocasião um forte esticão ao “Adamastor”: que quando rebentou o segundo cabo o cruzador não conseguiu safar-se apesar de ser na ocasião máxima da preia-mar, apesar dos esforços do rebocador “Bissau” e apesar do esforço das suas próprias máquinas, actuando simultaneamente e em conjunto todos estes fatores: que o “Maria Amélia” prestou um útil serviço contribuindo para o desencalhe, etc.
Porém, atenta a dificuldade de determinar o valor do cruzador, e outras verbas, ficou o seu montante para se liquidar em execução de sentença.
(In jornal "Comércio do Porto", quarta, 18 de Julho de 1934)
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