quarta-feira, 10 de abril de 2013

História trágico-marítima (LXIX)


O afundamento do vapor “ Cascais “
1916 – 1916
Armador: Transportes Marítimos do Estado, Lisboa

Imagem do vapor Cascais desenhado por Luís Filipe Silva

Nº Oficial: -?- - Iic.: H.C.A.S. - Porto de registo: Lisboa
Cttor: Grangemouth Dockyard, Grangemouth, Inglat. 02-1899
ex “Electra” - D.G. Neptun, Bremen, Alemanha, 1899-1916
Arqueação: Tab 834,57 tons - Tal 417,03 tons
Dimensões: Pp 60,30 mts - Boca 9,20 mts - Pontal 4,08 mts
Propulsão: Hutson & Co., 1898 - 1:Te - Veloc. 10 m/h

08/1914 - Amarrou em Lisboa
02/1916 - Requisitado para os Transportes Marítimos do Estado
10/1916 - Entregue à Furness, subcontrato com o Gov. Francês.
17.12.1916 - Afundado por canhoneamento pelo submarino alemão UC-18, sob o comando do capitão Wilhelm Kiel, à entrada do porto de La Pallice, na posição 45º53’N 01º32’W.

O torpedeamento do “Cascaes”
Um telegrama do Lloyds recebido hoje em Lisboa, confirma, infelizmente, a notícia do torpedeamento do vapor “Cascaes” por um submarino inimigo. Informações complementares, dizem que o torpedeamento se deu à entrada de um porto francês. O “Cascaes” era um navio de 850 toneladas, tendo saído do Tejo ao serviço do governo britânico em 30 de Setembro último.
Era comandado pelo capitão sr. Raul Jorge Carlos Pinto, natural da Figueira da Foz e na sua tripulação, constituída por 52 homens, figuravam Manso Chagas da Silva, de Rocio, Abrantes; João Pereira Tudela, de Ílhavo; Alexandre Rodrigues Lobato, de Rocio, Abrantes; 1º maquinista Sebastião Rodrigues, de Santarém; fogueiro-azeitador Francisco Amorim, dos Arcos de Valdevez; fogueiro Mário Nunes, de Santarém; chegadores José Lourenço, de Tábua e Bernardino António Simões, de Ferreira do Zêzere; azeitadores António Maria Russo, da Guarda, António Maria de Castelo Branco e António dos Santos, da Guarda; fogueiros Basílio Augusto Nunes, de Coimbra, António Cunha, de Vila Real, Augusto Costa, de Viseu e Américo dos Santos, da Foz do Arouce; chegadores António Carvalhinho, da Guarda, José da Costa Mário, de Coimbra e José Jorge Loureiro, de Vila Real; e o criado Agostinho da Silva, de Coimbra.
(In jornal “Comércio do Porto”, sexta, 22 de Dezembro de 1916)

A tripulação do vapor “Cascaes”
Notícias recebidas dão como salva toda a tripulação do vapor “Cascaes”., torpedeado e metido no fundo pelo inimigo, à entrada de um porto francês. O respectivo comandante é esperado chegar a Lisboa amanhã, devendo apresentar o seu relatório à comissão de transportes marítimos.
(In jornal “Comércio do Porto”, sábado, 23 de Dezembro de 1916)

Entrevista com o capitão do “Cascaes”
O capitão do vapor “Cascaes”, afundado pelos alemães na costa francesa, tendo regressado com a sua tripulação, foi nesta data à capitania do porto, lavrar o respectivo protesto. Encontramo-nos com o jovem oficial, sr. Raul Jorge Pinto, momentos depois de haver cumprido essa formalidade, de quem recolhemos as seguintes declarações:
«O “Cascaes” saiu de La Pallice no dia 17 do corrente, às 7 horas e meia da manhã, com destino a Poucaut, que dista 160 milhas daquele porto. Cerca do meio-dia, navegando segundo as instruções recebidas do almirantado francês, passava próximo de Bordéus. Aproximava-se o navio das boias que se encontram a 18 milhas do porto, quando na alheta da popa, por estibordo, foi visto um submarino que navegava com grande velocidade, de forma a cortar a proa do “Cascaes”.
A primeira impressão foi de que se tratava de um submarino francês, tão próximo ele estava da costa. A dúvida, porem, desfez-se rapidamente, e, como o “Cascaes” não estava ainda armado, só havia um expediente a tomar: fugir e alcançar a costa. Era a única esperança; e, sem a menor hesitação, foi isso que se fez. O submarino, assim que deu pela manobra, abriu fogo contra o navio. A primeira granada passou-lhe a poucos metros da proa; as outras atingiram-no pela proa e na casa das máquinas.
Nesta altura foi dada ordem para que a tripulação saltasse para as baleeiras, enquanto o submarino continuava alvejando o barco. Não houve qualquer aviso e foram feitos 13 tiros. A tripulação, nas baleeiras, um pouco afastadas, assistiu ao afundamento do navio. No momento da imersão produziu-se uma explosão terrível, em consequência do resfriamento súbito da caldeira. O submarino mergulhou em seguida e, pouco depois, viu-se que ele afundava um vapor norueguês e um veleiro francês.
O submarino, que é o “U-8”, deve ter 75 metros de comprido e navegava com uma velocidade não inferior a 15 milhas. Vinha armado com dois canhões, um à popa e outro à proa, estando pintado de verde-mar.
A tripulação do “Cascaes” conservou-se nas baleeiras até às 3 da tarde, hora a que foi recolhida por uma chalupa, de cerca de 40 toneladas, que a transportou para Roian, à entrada da barra de Bordéus.
Os tiros do submarino foram feitos à distância de 10 metros, e o “Cascaes”, que se afundou de proa, deixou tremular até ao último instante a bandeira portuguesa. A tripulação foi carinhosamente recebida em Roian e alvo de todas as deferências em território francês.»
(In jornal “Comércio do Porto”, quarta, 27 de Dezembro de 1916)

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