sábado, 28 de agosto de 2010

O erro !...


Carta náutica do Norte de Portugal

Quero que saibam que encontrei esta carta náutica na Internet, disponibilizada através do site www.raremaps.com, sem preço e com a indicação de ter sido vendida. Confesso a decepção, porque admito que a beleza e a área coberta pela carta, faria qualquer um de nós muito feliz, sabendo-nos possuidor dum achado desta natureza. Não vou negar que fiz uma cópia em papel fotográfico, no tamanho A4, que resultou num quadro muito interessante. Portanto, fica a sugestão para que façam o mesmo, porque a cópia satisfaz e é barata.


Nos elementos que suportam a imagem, constata-te que o original teve origem em Antuérpia, apresentando-se como 1 dos 2 melhores trabalhos cartográficos da responsabilidade do piloto Holandês Lucas Janszoon Waghenaer, de Enchuijsen, com data de 1583. De grande preocupação estética, a carta cobre o espaço compreendido entre o rio Minho, quase chegando à margem direita do rio Mondego.

Mostra-nos também 2 monstros marinhos, 2 naus – sendo que uma é de comércio e a outra é de guerra -, 1 compasso em tons próximos do latão, 2 quadrículas decorativas com informação da escala e texto explicativo, resultados das sondagens e ancoradouros. Numa palavra: “genial”.

Mas… esconde um erro de palmatória, que depois de pensar um pouco julgo imaginar a respectiva causa. Fica portanto um desafio à perspicácia de quem me acompanha nestas deambulações históricas e já agora o porquê, para aquilatar do meu próprio julgamento ! Entretanto, soltem as respostas e boa sorte…

5 comentários:

Carlos Henriques disse...

bom dia,

Será a posição na Carta do Norte Geográfico o erro que fala?

Cumprimentos,

Carlos Henriques

reimar disse...

Caro Carlos Henriques,
Grato por ter tido a coragem de apresentar uma sugestão, para a resolução de uma questão que eu considero extremamente simples.
Quanto à sua resposta, porque o cartógrafo é simultaneamente piloto, não seria lógico admitir que ele ignorasse a localização dos pontos cardeais.
Mas porque era Holandês, não deu atenção a um importantíssimo centro de construção naval, que existe pelo menos a partir de 1419.
Portanto falta um pormenor, de elevada importância, que por tal motivo mereceu do Rei D. Sebastião a Carta Régia de elevação a Vila, a 19 de Agosto de 1572.
Resumindo, que local da costa em paralelo com Vila do Conde, eram construídas grandes embarcações, no período pré-quinhentista ?
Vou continuar a aguardar por mais sugestões, que agradeço antecipadamente.
Para si um grande abraço e obrigado,
Reinaldo Delgado

marmol disse...

Caro amigo Reinaldo,
Parabéns pelo precioso achado, nas pesquisas que vai constantemente efectuando para aprofundar o seu conhecimento histórico e o de todos nós que seguimos o seu blog.
Relativamente ao "erro", como lhe chama, para mim é óbvio que se trata da barra do rio Cávado, que uns autores dizem ter havido diferendo entre Esposende e Fão, conforme diz o padre António Carvalho da Costa "teve esta vila pleito com Fão sobre os direitos da barra", concluindo: "venceu Fão por mais antigo".
José Filgueiras, no livro "A pilotagem e os pilotos mores da barra de Esposende, (onde fui colher esta informação)não concorda com a conclusão do padre António Carvalho Costa, pondo em dúvida se Fão ganhou tal pleito e se porventura o ganhou não teve resultados práticos, isto é, não foi reconhecida como tal ao longo dos séculos.
Todos sabemos que Esposende e Fão foram importantes centros de construção naval ao longo dos séculos,pelo menos até fins do primeiro quartel do século XX,até 1924, ano em que se regista a saída do "Esperança 2.º" de 450 tons. no dia 22 de Abril a reboque do "Douro" e o "Patriotismo", construído em Fão por José Dias dos Santos Borda Júnior que permaneceu no rio Cávado por bastante tempo só vindo a sair em Maio de 1925 e por esse motivo não foi incluído no Registo dos Proventos dos Pilotos, conforme descobriu José Filgueiras no Arquivo Geral de Marinha em Lisboa.
Para além deste comentário, gostaria de referir que a extensão do mapa vai de Carreço (Carrico) ao Cabo Mondego (monte Mondego).
Existe ainda outro pormenor, é a representação gráfica do relevo da costa,na parte superior da carta, com Santa Luzia na barra de Viana e Monte Mondego no extremo sul da carta.
Outra representação interessante são as salinas de Aveiro,relevando a importância do sal para os povos da liga hansiática, como era o caso do autor.

reimar disse...

Caro amigo,
Afinal a resposta era simples, face à completa omissão do rio Cávado e da barra correspondente, que sabemos foi de grande importância durante muitos anos, tendo apenas perdido influência já no século XX, como refere muito a propósito.
Porquê a omissão? Talvez (não vamos nunca ter a certeza) devido a mais um dos muitos assoreamentos, com o inevitável fecho da barra, que os marítimos e pescadores de Esposende continuam a reclamar, volvidos todos estes anos.
Obrigado amigo Manuel Martins, que com o seu conhecimento possibilitou abrir uma barra, que o cartógrafo Holandês não encontrou.
Um grande abraço,
Reinaldo Delgado

marmol disse...

Caro amigo Reinaldo,

A omissão do cartógrafo holandês em não desenhar a barra do rio Cávado poderá estar associada ao assoreamento da barra de Fão cujo fecho ocorreu por finais do Séc. XV. Nessa época o rio Cávado desaguava em linha recta em Fão, sendo obrigado a mudar o curso para norte rompendo e alargando o canal para escoar e consequentemente dando origem ao desenvolvimento de Esposende e ao decréscimo de importância de Fão.
Por outro lado, Esposende jamais passou de um porto de navegação de cabotagem, apesar de no reinado de D. Sebastião que lhe deu o foral de vila em 19 de Agosto de 1572, ter registado "setenta para oitenta navios grandes".
O comércio marítimo internacional fazia-se entre os grandes portos, especialmente com o Norte da Europa. Possívelmente o cartógrafo,de origem holandesa, conscientemente terá omitido a barra de Esposende, uma vez que as cartas se destinavam aos navegadores que demandavam os principais portos de comércio marítimo internacional.
Esta é a minha conclusão, baseado em dados do Livro "A pilotagem e os pilotos mores da barra de Esposende" de José Felgueiras.