terça-feira, 24 de agosto de 2010

A pesca do bacalhau nos séculos XVIII e XIX


Notas sobre o "Portuguese Shore"

De vez em quando fico com vontade de falar sobre a pesca do bacalhau, que aprecio quando analisada pela vertente histórica. O desejo de voltar ao tema surgiu após a descoberta da gravura abaixo publicada, que retrata imagens de episódios da pesca e manuseamento do pescado, merecedores de comentários de pessoas com reconhecida experiência profissional. Porque apesar da diferença de métodos, existem seguramente similaridades, que só quem participou nas campanhas da pesca à linha, está habilitado a fornecer e classificar esses detalhes.

A gravura agora disponibilizada foi encontrada no livro “Traité général des péches et la histoire des poissons”, da autoria de M. Duhamel du Monceau, publicado em Paris, em 1769.

Cenas da pesca francesa em 1740
Imagem gentilmente cedida por Alexis Passechnikoff

Uma impressão aligeirada, leva-me a pensar que o navio à descarga, bem como o trabalho de preparação e seca do peixe, possa ter lugar na ilha de S. Pedro e Miquelon, onde os franceses por muitos anos montaram um posto avançado para tratamento das suas capturas, denominado “French Shore”.

E já que faço referência ao “French Shore”, gostaria de salientar que os portugueses acompanhando esta linha de raciocínio, tentaram igualmente conseguir um posto avançado, que ficou conhecido por “Portuguese Shore”. Discretos mas ambiciosos, esse local visava permitir a escala e permanência das embarcações num dos portos da costa Este da Terra Nova. Tinha por finalidade servir os arrais, mestres ou capitães e as tripulações dos navios nacionais, com armazéns, depósitos de carvão, viveres, apetrechos de pesca, iscos e a própria secagem do bacalhau, usufruindo do clima frio da região.

As negociações para que o país pudesse ter o “Portuguese Shore”, na Terra Nova foram entabuladas em 1842 pelo Sr. Capitão de Mar-e-Guerra Rocha e Cunha, brilhante oficial da Armada, nascido em Lisboa e radicado em Aveiro, sob os auspícios do Duque de Palmela, à época Ministro dos Negócios Estrangeiros.

Sobre o assunto discutido no Congresso dos Armadores de Bacalhau, que teve lugar nesse ano em Aveiro e no Porto, o distinto Oficial opinava da inutilidade de qualquer negociação diplomática, pois iria provocar grande surpresa no “Foreign Office” se fosse sugerido tal propósito.

Isto porque a Terra Nova, sabendo-se ter o seu Parlamento e um Governo responsável, apenas alguns anos antes dessa data, por consequência duma grave crise económica e financeira, havia transitado provisoriamente para o domínio Inglês. A base sustentável da economia na Terra Nova é a pesca, a preparação e exportação de bacalhau. Daí que nunca haveria de chegar a autorização para ter os navios portugueses naquelas paragens, a secar o peixe capturado, em detrimento do seu negócio de exportação.

Da mesma forma, a aproximação portuguesa ao “French Shore” na primeira metade do século XIX e alguns anos depois da realização do referido congresso, entre 1849 e 1850, junto do governo Francês para obter uma concessão de terrenos em S. Pedro e Miquelon, viram goradas à nascença a presença nacional próximo das áreas de pesca. Sem resolução à vista, a solução foi como sempre viver com a “prata da casa”.

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