Construído em Portugal, talvez sim, ou talvez não !…
Imagem (c) Agência Fotografica, Lisboa (minha colecção)
O "Gazela Primeiro" por volta de 1950, em Lisboa,
durante a cerimónia da benção dos bacalhoeirosImagem (c) Agência Fotografica, Lisboa (minha colecção)
Resumindo a tentativa de recuperar a história deste lugre-patacho, sugere-me antes de mais levantar a seguinte questão: Que armador mandaria reconstruir uma embarcação, contando esta apenas 9 anos de serviço? Esta pergunta prende-se à hipotética possibilidade do navio ter sido construído em Cacilhas, em 1883 e reconstruído de raiz no estaleiro de Setúbal, em 1901. A resposta, na minha modesta opinião, é: ninguém. Nesta conformidade, analiso as Listas de Navios Portugueses e constato o seguinte:
1º- De 1875 a 1882 o navio tem o nome “Gaselle”, integra o tipo patacho, tem o Indicativo Internacional H.B.T.L., 172,308 m3 de arqueação, estava registado no porto da Horta, ilha do Faial, Açores e era seu proprietário a empresa Bensaúde & Cª.
2º- Após 1883 e até 1900, o navio muda o nome para “Gazella”, integra o tipo patacho, tem o Indicativo Internacional H.G.V.Q., 179,990 m3 de arqueação, mudou o registo para o porto de Lisboa, continuando a ser propriedade da empresa Bensaúde & Cª.
A partir destes elementos verifica-se que a principal alteração efectuada em Cacilhas, pelo construtor naval J.A. Sampaio, em 1883, foi um aumento de 7,682 m3 na arqueação, completamente irrelevante em termos estruturais. A não ser que a mais que provável modernização do patacho, fosse simultaneamente a adaptação e transformação do navio para mais eficientemente participar na pesca da baleia. No diário de bordo relativo a 1886, esclarece: «Derrota que com o favor de Deus, segue d’este porto de Lisboa para a pesca da baleia o sobredito navio de que é comandante José Gaspar da Conceição». Entretanto, ficamos a saber um pouco mais, através do Lloyds de 1888, que adianta os seguintes elementos:
Tonelagem de arqueação bruta 161,00 tons. Comprimento entre perpendiculares 27,19 metros, boca 6,71 metros e de pontal 3,20 metros. O registo confirma-se como sendo no continente e o proprietário é ainda a firma Bensaúde & Cª., já estabelecida em Lisboa. Para os anos de 1887 e 1888, o nome do capitão é Leal, que, curiosamente, nunca antes foi referido nas várias publicações utilizadas para a pesquisa destes elementos.
Nesta altura, a referência à escuna “Creoula” continua a fazer sentido, pensando em termos de reconstrução e modernização, que efectuou em 1895, isto é, 33 anos sobre a data da sua construção em Brixham. Como se supõe, não devia haver condições para efectuar o seu alargamento, pelo que as atenções se terão concentrado no patacho “Gazella”, que recebe novo melhoramento em 1892, ano em que se nota um primeiro alargamento, passando a arqueação bruta para 164,01 toneladas e 464,595 metros de cubicagem.
Porque a necessidade aguça o engenho, para subverter uma lei injusta e desajustada, a nova sociedade criada pela empresa Bensaúde & Cª., que deu pelo nome de Parceria Geral de Pescarias, promoveu a reconstrução do navio no estaleiro de José M. Mendes, em Setúbal, durante os anos de 1900 e 1901. Efectivamente, como explica o Sr. Capitão de Fragata António Manuel Gonçalves, a única forma de ultrapassar a proibição de construir navios novos terá obrigado ao aproveitamento de parte da quilha, onde assentou uma nova estrutura de fabrico nacional. Essa reconstrução apresenta um navio completamente novo, conforme se percebe pelas Listas de Navios Portugueses de 1909, 1910 e 1914, onde já está classificado como lugre-patacho (3 mastros) e apresentando as seguintes características: Arqueação bruta 325,48 tons., arqueação líquida 309,21 tons., comprimento entre perpendiculares 41,70 metros, boca 8,22 metros e de pontal 5,12 metros.
As alterações contemplaram um aumento na arqueação bruta de 161,47 tons. (quase o dobro da arqueação anterior). O comprimento entre perpendiculares aumentou cerca de 14,50 metros, 1,50 metros de boca e quase 2,00 metros na dimensão do pontal. De resto nada mais se alterou; o porto de registo continuou a ser Lisboa e o Indicativo Internacional de Chamada respondia, como antes da reconstrução, pelas letras «H.G.V.Q.».
Continua…
1º- De 1875 a 1882 o navio tem o nome “Gaselle”, integra o tipo patacho, tem o Indicativo Internacional H.B.T.L., 172,308 m3 de arqueação, estava registado no porto da Horta, ilha do Faial, Açores e era seu proprietário a empresa Bensaúde & Cª.
2º- Após 1883 e até 1900, o navio muda o nome para “Gazella”, integra o tipo patacho, tem o Indicativo Internacional H.G.V.Q., 179,990 m3 de arqueação, mudou o registo para o porto de Lisboa, continuando a ser propriedade da empresa Bensaúde & Cª.
A partir destes elementos verifica-se que a principal alteração efectuada em Cacilhas, pelo construtor naval J.A. Sampaio, em 1883, foi um aumento de 7,682 m3 na arqueação, completamente irrelevante em termos estruturais. A não ser que a mais que provável modernização do patacho, fosse simultaneamente a adaptação e transformação do navio para mais eficientemente participar na pesca da baleia. No diário de bordo relativo a 1886, esclarece: «Derrota que com o favor de Deus, segue d’este porto de Lisboa para a pesca da baleia o sobredito navio de que é comandante José Gaspar da Conceição». Entretanto, ficamos a saber um pouco mais, através do Lloyds de 1888, que adianta os seguintes elementos:
Tonelagem de arqueação bruta 161,00 tons. Comprimento entre perpendiculares 27,19 metros, boca 6,71 metros e de pontal 3,20 metros. O registo confirma-se como sendo no continente e o proprietário é ainda a firma Bensaúde & Cª., já estabelecida em Lisboa. Para os anos de 1887 e 1888, o nome do capitão é Leal, que, curiosamente, nunca antes foi referido nas várias publicações utilizadas para a pesquisa destes elementos.
Nesta altura, a referência à escuna “Creoula” continua a fazer sentido, pensando em termos de reconstrução e modernização, que efectuou em 1895, isto é, 33 anos sobre a data da sua construção em Brixham. Como se supõe, não devia haver condições para efectuar o seu alargamento, pelo que as atenções se terão concentrado no patacho “Gazella”, que recebe novo melhoramento em 1892, ano em que se nota um primeiro alargamento, passando a arqueação bruta para 164,01 toneladas e 464,595 metros de cubicagem.
Porque a necessidade aguça o engenho, para subverter uma lei injusta e desajustada, a nova sociedade criada pela empresa Bensaúde & Cª., que deu pelo nome de Parceria Geral de Pescarias, promoveu a reconstrução do navio no estaleiro de José M. Mendes, em Setúbal, durante os anos de 1900 e 1901. Efectivamente, como explica o Sr. Capitão de Fragata António Manuel Gonçalves, a única forma de ultrapassar a proibição de construir navios novos terá obrigado ao aproveitamento de parte da quilha, onde assentou uma nova estrutura de fabrico nacional. Essa reconstrução apresenta um navio completamente novo, conforme se percebe pelas Listas de Navios Portugueses de 1909, 1910 e 1914, onde já está classificado como lugre-patacho (3 mastros) e apresentando as seguintes características: Arqueação bruta 325,48 tons., arqueação líquida 309,21 tons., comprimento entre perpendiculares 41,70 metros, boca 8,22 metros e de pontal 5,12 metros.
As alterações contemplaram um aumento na arqueação bruta de 161,47 tons. (quase o dobro da arqueação anterior). O comprimento entre perpendiculares aumentou cerca de 14,50 metros, 1,50 metros de boca e quase 2,00 metros na dimensão do pontal. De resto nada mais se alterou; o porto de registo continuou a ser Lisboa e o Indicativo Internacional de Chamada respondia, como antes da reconstrução, pelas letras «H.G.V.Q.».
Continua…
1 comentário:
Então GAZELLA, GAZELINHA E GAZELÃO.
CONSTRUIDO EM PORTUGAL, TALVEZ SIM, OU TALVEZ NÃO!...
Boa pesquisa de um persistente pesquisador.
Parabéns e há que continuar!
Saudações maritimo-entusiásticas
Rui Amaro
Enviar um comentário