segunda-feira, 15 de março de 2010

"Gazella", Gazelinha e Gazelão (3)


Construído em Portugal, talvez sim, ou talvez não !…

O "Gazela Iº" - durante os anos da IIª Grande Guerra
Imagem de autor desconhecido

O Gazelinha por ser pequeno, transformou-se em Gazelão, por pertencer ao grupo de navios maiores, que tomaram parte na frota de navios da pesca ao bacalhau, nos bancos da Terra Nova, no período em que muitos deles armavam simplesmente em iates (ou hiates). Voltaria a ser o Gazelinha anos mais tarde, quando comparado com os lugres de três e quatro mastros construídos mais recentemente. Quanto à questão da construção inicial, existe a opinião generalizada, que o coloca em Cacilhas em 1883. Outros ainda defendem que a construção teve lugar em Setúbal, devido à considerável alteração das especificidades de origem, conforme explicado anteriormente. Pessoalmente discordo de ambas as opiniões. A mesma lei injusta e desajustada, que proibia a construção de navios novos em Portugal, previamente referida, condiciona a possibilidade do navio ter sido feito no país, pelo que a alternativa é descobrir onde foi realmente construído.

Retomando a história comercial deste lugre-patacho, salto até 1930, ano em que o navio é outra vez rebaptizado, corrigindo o grafismo do nome para “Gazela” e recebendo o Nº Oficial «401-F» e o Indicativo Internacional de Chamada «H.G.Z.P.». Através da Lista de Navios Portugueses desse ano, verifica-se uma ligeira descida no valor das características do navio, passando a arqueação bruta para 320,96 tons. e a líquida para 249,82 tons. O comprimento entre perpendiculares também diminui, de 41,70 para 40,32 metros. Em 1932, sem que encontre justificação apropriada, o navio recebe novo baptismo, mudando a designação para “Gazela Iº”, nome que utilizou nas navegações até 1945, ano a que corresponde o armistício da IIª Grande Guerra Mundial. Já em 1934, a exemplo do que aconteceu com toda a frota de comércio e de pesca do país, a embarcação actualiza o Nº Oficial para «G-393» e o Indicativo Internacional de Chamada passa a «C.S.G.L.».

Com algum atraso em relação à grande maioria dos lugres bacalhoeiros em serviço, o “Gazela Iº” volta a estaleiro, em 1938, para mais uma das suas múltiplas modernizações. Desta feita, o objectivo contempla o reforço completo da ré, visando a motorização do navio. A máquina escolhida foi um motor diesel de 4 cilindros, da marca Benz M.W.M., fabricado em Mannheim, na Alemanha, nesse mesmo ano. Desenvolvia 180 cavalos de força, a 290 rpm’s, que lhe assegurava uma velocidade não superior a 5 ou 6 milhas por hora. Servia basicamente para se deslocar entre diversos locais nos bancos de pesca e facilitar a entrada nos portos e nas respectivas manobras de aproximação e largada dos cais. Como se justifica, considerando algumas modificações estruturais, o navio em paralelo dispõe de novas características. Altera a arqueação bruta para 323,89 tons. e a liquida para 220,96 tons. e apresenta pequenos acréscimos no comprimento fora a fora, agora com 47,74 metros e o comprimento entre perpendiculares com 41,13 metros.

Depois desta reconstrução, pouco mais se pode adiantar até à paralisação do navio em 1969, à excepção da última mudança do nome, em 1945 ou 1946, data desde quando recebe a designação “Gazela Primeiro”. Dá-se nessa ocasião a última actualização em termos de registo, ano em que fica matriculado com o Nº Oficial «LX-6-N», tal como alguns de nós o recordam. Reparo ainda que por volta de 1963, o navio baixou ligeiramente a arqueação líquida para 196,76 tons. Para terminar parece-me interessante salientar que até aos anos da IIª Grande Guerra, o navio manteve uma equipagem permanente de 11 tripulantes, alargada depois de motorizado para 16 tripulantes. Para a actividade piscatória nos bancos, transportava cerca de 30 canoas, chegando a contabilizar igual número de pescadores. A capacidade total de transporte de pescado rondava os 5.190 quintais, equivalentes a 311.400 toneladas.

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