domingo, 4 de outubro de 2009

O lugre "Gaspar" (Iº) de Viana do Castelo


Ainda sobre a frota Vianense

No sentido de colaborar na identificação de navios outrora construídos em Viana do Castelo, para um melhor conhecimento das embarcações à vela, que em determinadas épocas navegaram com a bandeira nacional, temos tido o privilégio de colaborar com amigos residentes na cidade. Por essa razão, revelou-se um imenso prazer trocar ideias e impressões com o Sr. Manuel Oliveira Martins, a quem publicamente agradeço a gentileza de me deixar publicar a primeira dessas conclusões, crente que pouco a pouco poderemos apresentar outros trabalhos realizados em conjunto.

O lugre “ Gaspar “
1919 – 1921
Armador : Empresa de Pescarias de Viana, Lda.
Viana do Castelo

O lugre "Gaspar", no estaleiro do Campo da Feira

Este lugre de 4 mastros (supostamente com 900 toneladas de arqueação bruta), foi mandado construir pela empresa armadora, no Estaleiro do Campo da Feira, actual Largo 5 de Outubro, sob a responsabilidade do construtor naval Sr. José Lopes Ferreira Maiato e lançado à água a 16 de Abril de 1919. O velame foi riscado e cortado pelo antigo Capitão da Marinha Mercante Sr. Camilo Ferrinho. Na primeira viagem carregou no Porto vinho para Bordéus, saindo em lastro para Nova Orleans, onde carregou aduela com destino ao rio Douro. Depois de uma viagem tormentosa, como a descreveu o Capitão Carrapichano ao jornal “A Aurora do Lima”, arribou a Vigo no dia 9 de Setembro de 1919 com água aberta. Imediatamente seguiu para Vigo o sócio-gerente Sr. João Baptista Ferreira, com o construtor Sr. José Ferreira Maiato, para tentar remediar a situação (conforme notícia publicada no citado jornal, Viana do Castelo, 1919).

O lugre "Gaspar" na cerimónia do bota-abaixo

Depois da comunicação atrás referida, acreditamos que o lugre tenho entrado em estaleiro, não referenciado, para reparar, sem que possamos ajuizar com rigor a gravidade das avarias verificadas. Somos por isso levados a concluir, que o navio possa ter amarrado em Viana, sem posterior utilização, muito embora o capitão Sr. José dos Santos Carrapichano, se mantivesse em funções até 1921.

Isto porque Manuel Maria Bolais Mónica, após terminada a construção dum lugre de 3 mastros na Figueira da Foz, com cerimónia de bota-abaixo a 24 de Agosto de 1919, sob encomenda da Sociedade Novas Pescarias de Viana, Lda., tenha sido registado nessa praça, sensivelmente no mesmo período, igualmente com o nome “Gaspar”.

Como é do nosso conhecimento, o 2º lugre manteve esse nome até 1948, obrigando à alteração do nome ao 1º lugre, que apuramos teria sido rebaptizado “Isabel” (LR 1922) e colocado à venda no mercado internacional. Uma situação deste tipo, leva-nos a especular tratar-se duma construção deficiente, com mau comportamento em ocasiões de mau tempo, como aconteceu noutras ocasiões, com navios de dimensão considerável, construídos em madeira.

Concretizada a venda durante o ano de 1921, o lugre foi adquirido pela empresa F. Benemeles & Cª., ficando registado em Havana, Cuba, com o nome “Esperanza”. Esta alteração permite-nos imaginar que as 900 toneladas de arqueação bruta, teriam correspondência ao peso morto (deadweight), porquanto a arqueação seria de 452 toneladas de registo bruto e 408 toneladas de registo liquido. Em relação ao comprimento, tinha 50,59 metros entre perpendiculares, 10,05 metros de boca e 4,57 metros de pontal (LR 1922).

Como não pesquisamos a continuação da história comercial deste navio, queremos apenas referir que as imagens utilizadas neste relato, foram retiradas do livro “Viana e o Mar”, editado pelo Grupo Desportivo e Cultural dos Estaleiros Navais de Viana do Castelo (GDCENVC).

2 comentários:

marmol disse...

Amigo Reinaldo:
Fez bem em realçar entre parêntesis (1º) para não confundir com o lugre bacalhoeiro "Gaspar" de três mastros.
Um abraço.

O.Martins

Rui Amaro disse...

Caro Reinaldo
Parabéns pelo excelente trabalho de pesquisa apresentado e continua de velas enfunadas ao vento para mais novidades, particularmente de navios à vela.
Há muitos anos ouvira falar deste quatro mastros GASPAR(1)que pelas datas origina uma certa confusão com o três mastros GASPAR (2), que ainda cheguei a conhecer.
Com um pouco de jeito ainda se vai descobrir a identidade do "navio mistério", cuja foto está postada no Blogue NAVIOS Á VISTA!
Saudações maritimo-entusiásticas
Rui Amaro