quinta-feira, 8 de setembro de 2016

Construção naval - navios "Lisboa" e "Lordello"


E quanto maior, pior!...

No ano de 1917 foram construídos 7 navios nos estaleiros do norte do país, para o serviço comercial e pesca longínqua, tendo ainda ocorrido uma reconstrução, porque a frota de pequena cabotagem e longo curso tinha ficado muito depauperada, devido à destruição em massa provocada pelos submarinos alemães.
Terminada a guerra, ainda no ano de 1918, os mesmos estaleiros do norte construíram 19 navios novos, a que se junta a reconstrução de 2 outros navios. Já em 1920, é estabelecido novo recorde com a construção de 31 navios, uma outra reconstrução, caso do lugre "Diamantino", referido em Junho deste ano no blog, aos quais se deve adicionar também mais 8 navios, todos eles em estado de usados, comprados no exterior.
Uma outra reconstrução ocorrida em 1920, que ocorreu a sul, no estaleiro do Barreiro, documentada através da notícia publicada na Ilustração Portuguesa e anexada ao texto, foi a do lugre "Lisboa", que a exemplo dos vários navios com este nome, deve muito provavelmente ter tido uma existência curta e atribulada, a começar pela cerimónia do bota-abaixo.


Características do lugre de 4 mastros "Lisboa"
1920-1923
Nº Oficial: N/s - Iic: N/s - Porto de registo: Lisboa
Armador: Sociedade de Navegação Algés, Lda.
Reconstrutor: Francisco Ferreira, Barreiro, Janeiro de 1920
Arqueação: Tab 532,00 tons - Tal 467,00 tons
Dimensões: Pp 49,45 mts - Boca 9,02 mts - Pontal 5,00 mts

Não me é dado imaginar qual possa ter sido o destino deste navio, mas é um facto não constar na lista de navios portugueses relativos a 1924, pelo que nestas circunstancias devo conseriderá-lo sem rasto.

Entretanto, confirmada que foi a prestimosa colaboração do mestre Manuel Maria Mónica, no sentido de ajudar a tirar o lugre do estaleiro, passamos à história dramática do vapor "Lordello" para entrar nas águas do Douro, cerca de meio ano depois, que pelos motivos a seguir expostos foi duplamente conflituosa.

O vapor “Lordello”
Aproveitando-se as marés vivas, foram ontem novamente feitas tentativas para ser lançado à água o vapor “Lordello”, mas ainda sem resultado.
Para esse efeito foram empregados alguns macacos hidráulicos, sendo conseguido apenas que o vapor deslizasse uns dois metros.
No local compareceu o pronto-socorro dos bombeiros voluntários.
Para hoje novos trabalhos estão preparados, empregando-se o auxílio de um rebocador.
(In jornal “Comércio do Porto”, sexta, 18 de Junho de 1920)

O vapor “Lordello”, será posto hoje a flutuar
Os trabalhos realizados ontem com o vapor “Lordello” deram resultados satisfatórios, pois foi conseguido que ele deslizasse para o rio cerca de 10 metros.
Hoje, na maré da tarde, segundo consta, o “Lordello” ficará a flutuar, quebrando-se o seu encanto. Será assim?...
(In jornal “Comércio do Porto”, Sábado, 19 de Junho de 1920)


O vapor “Lordello”, é posto a flutuar
Foi ontem, finalmente, posto a flutuar o vapor “Lordello”.
Depois das primeiras tentativas de há um mês, novos trabalhos se foram realizando há três dias, que só ontem tiveram o seu termo, com bom êxito.
Depois dos trabalhos realizados no estaleiro, que demoraram até às 5 horas da tarde, os rebocadores “Lusitânia” e “Magnete”, que haviam lançado amarretas para o “Lordello”, começaram a puxar pelo casco, que, após várias tentativas, deslizou pelas calhas e entrou totalmente na água singrando até meio do rio.
Na estrada marginal, próximo do estaleiro, grande número de pessoas presenciava os trabalhos, manifestando o seu contentamento quando o “Lordello” navegou até meio do Douro.
No estaleiro estiveram, como medida preventiva, os bombeiros voluntários, com o respectivo material.
O novo vapor ficou fundeado em frente ao estaleiro e em breve irá para junto do cais da Cábrea, a fim de receber o maquinismo e a mastreação.
(In jornal “Comércio do Porto”, Domingo, 20 de Junho de 1920)

As características do vapor não estão disponíveis nos registos nacionais ou nos estrangeiros, daí que o histórico comercial do navio resume-se à identificação do proprietário, a Companhia de Navegação Portuense, à matricula na Capitania do Douro, arqueando cerca de 790,00 toneladas. Por sua vez, a notícia publicada na Ilustração Portuguesa faz constar que o vapor tinha 62,20 metros de comprimento, 11,60 metros de boca e 5,80 metros de pontal.
Fico com muitas dúvidas que o navio tenha navegado em 1921, mas é provável que possa ter realizado uma ou outra viagem no decorrer do ano de 1922. A única certeza, que aponta para ter sido eventualmente abandonado por inavegável, termina desfeito em 1923, na margem sul do rio Douro, em local próximo ao cais da Afurada.

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