sexta-feira, 21 de março de 2014

História trágico-marítima (CXXXII)


O naufrágio da chalupa “Marie Yvonne”

No Cabo Raso afundou-se a chalupa francesa “Marie Yvonne”,
morrendo cinco dos seus tripulantes
No sítio denominado Baía de Prata, a leste do Cabo Raso, naufragou hoje (23.12.1927), pelas 2 horas da madrugada, uma chalupa francesa denominada “Marie Yvonne”, que andava na pesca da lagosta. (!)
Os tripulantes eram em número de seis. Completamente desamparados de socorros lutaram desesperadamente com as ondas. Mas, baldadamente o fizeram; só um deles, de nome Henri Marcel, conseguiu salvar-se a nado. Pode-se fazer ideia do anseio com que levou a cabo a sua dolorosa aventura.
Depois de lhe terem prestado auxílio no Posto de Socorros a Náufragos, o pobre marítimo veio para Lisboa. O seu estado não apresenta gravidade. Dirigiu-se ao consulado do seu país.
O pessoal do posto semafórico de Oitavos solicitou que fossem iniciados os trabalhos necessários para ver se é possível encontrar os cadáveres dos infortunados marinheiros.
(In jornal “Comércio do Porto”, sábado, 24.12.1927)

Imagem sem correspondência ao texto

(!) Seria porventura possível um navio estrangeiro encontrar-se a pescar em águas nacionais, certamente sem autorização, numa área que devia apresentar um considerável tráfego marítimo e, muito provavelmente, estar próximo de terra, considerando que um dos tripulantes conseguiu salvar-se a nado?
E ainda, se não fosse a circunstância do naufrágio, entrar num porto e vender o peixe, ou as lagostas, como se tratasse de produto importado?
Sim, era possível, porque a fiscalização exercida sobre os navios de pesca, e principalmente os estrangeiros, durante a noite, ou não existia, ou raiava os limites do absolutamente necessário. O motivo de tal alheamento passava pela inexistência de meios navais adequados a esse serviço, situação entretanto resolvida pela nossa Marinha, depois de razoável quantidade de reclamações sistematicamente apresentadas pelos pescadores, sujeitos a insultos e quantas vezes a propiciarem conflitos com dramática gravidade.
Tempos difíceis, somente ultrapassados anos depois com a modernização e a renovação das unidades de marinha, decapitando o exagero e a ousadia de explorar os recursos do mar, que nos pertence por herança e por direito.

1 comentário:

Rui Amaro disse...

Ainda na década de 50 fainavam na costa portuguesa chalupas lagosteiras francesas, à vela e motor auxiliar, oriundas nomeadamente da Bretanha. O viveiro era o próprio porão cheio de água, talvez com gradeamento no fundo para evitar a fuga das lagostas. Arribavam a Leixões e outros portos para bancas, abrigarem-se do mau tempo, avarias, apresadas, etc.
O meu pai, piloto da barra. deu entrada a algumas e os mestres davam algumas à lancha de pilotar, e ao piloto, pelo que cheguei a saborear a gostosa lagosta à pala das chalupas lagosteiras francesas.
http://www.revistademarinha.com/index.php?option=com_content&view=article&id=2150:as-chalupas-francesas-a-pesca-ilegal-da-lagosta-1909-1914&catid=101:actualidade-n
Saudações marítimo-entusiásticas
Rui Amaro