domingo, 27 de outubro de 2013

História trágico-marítima (LXXXIII)


Vapor inglês “Kate Forster”

Naufrágio a sul de Aveiro
Por telegrama oficial recebido no Porto, soube-se que naufragou ontem (13.10.1882) ao sul da barra de Aveiro o vapor inglês “Kate Forster”, procedente de Shields com um carregamento de carvão, consignado aos srs. D.M. Feuerheerd Júnior & Cª., com destino às minas do Braçal.
Ignoram-se por enquanto quaisquer pormenores com respeito ao estado em que se encontra o vapor, ao modo como se deu o sinistro e à sorte da tripulação.
Presume-se apenas que ao tentar a barra de Aveiro, de pouca água e poucas condições de navegabilidade para vapores de certa lotação, encalhasse no Cabedelo.
(In jornal “Comércio do Porto”, sábado, 14 de Outubro de 1882)

Identificação do navio
Armador: Fisher, Renwick & Co., Ltd., Newcastle
Construtor: Tyne Iron Shipbuilding Co., Newcastle, 09.1879
Arqueação: Tab 580,00 tons - Tal 373,00 tons
Dimensões: Pp 51,66 mts - Boca 8,29 mts - Pontal 3,84 mts
Propulsão: NEME, Sunderland - 1879 - 1:Cp - 2:Ci - 85 Nhp

Naufrágio
Com respeito ao vapor inglês “Kate Forster”, que ante-ontem naufragou a sul da barra de Aveiro, há ainda as seguintes informações:
Procederam desde logo à descarga do carvão que transportava; e se o mar continuar bom, há esperanças de salvar o navio. A fim de o fazer desencalhar e pôr a nado deve sair hoje do Porto, em direcção ao local do sinistro o rebocador “Victória”, levando a bordo o capitão náutico José Cláudio de Mesquita. A tripulação nada sofreu.
O “Kate Forster” vinha consignado aos srs. Carlos Coverley & Cª. e a carga aos srs. D.M. Feuerheerd Júnior & Cª., como anteriormente referido.
(In jornal “Comércio do Porto”, Domingo, 15 de Outubro de 1882)

Naufrágio
Relativamente ao naufrágio do vapor inglês “Kate Forster”, o jornal “Campeão das Beiras” noticiou o seguinte:
O vapor “Kate Forster” não entrou na quarta-feira como se esperava. Apenas ontem se aproximou da barra pela 1 e meia da tarde. Da torre dos sinais perguntaram-lhe a que horas tinha passado em frente do Porto. Responderam de bordo, que tinha sido às 10 horas e meia da manhã. Depois disseram-lhe de cá que a maré era só às 3 horas. Mas o vapor continuou a navegar, passou para o sul, e foi encostar-se à praia, onde se acha e de modo que só por milagre se poderá desenrascar.
Agora os pormenores que parecem ser os mais importantes:
De Aveiro partiu há dias para o Porto o piloto de número Ouvídio Lourenço, a fim de dirigir a manobra das aproximações da barra. Esteve no escritório de Belomonte, tendo ido com um empregado da Companhia das Minas do Braçal para a estação de pilotos da Cantareira. De bordo, porém, não quiseram recebê-lo.
Os pilotos ao avistarem o vapor dirigiram-se nas catraias à praia de S. Jacinto. Levavam uma bandeira e dali fizeram sinal para que o navio se fizesse ao mar. Também de bordo não fizeram caso. As manobras do vapor foram todas por conta do capitão. O resultado foi encalhar o navio na praia do sul do canal.
No local do sinistro achavam-se todo o pessoal da pilotagem, o sr. capitão do porto e o sr. engenheiro director das obras do porto. Esta na praia-mar tem mais 5 palmos de água do que a que exigia o vapor para navegar. Se o prático Ouvídio Lourenço, que o capitão não quis receber nas alturas do Porto, dirigisse a manobra, o “Kate Forster” estaria ancorado em porto, e não havia a registar mais um naufrágio por imperícia da tripulação.
O vapor vinha fretado por 500 libras esterlinas e procedia de Newcastle com carvão de pedra para as Minas do Braçal. Parece que se salvará toda a carga, que se acha segura. Só o casco é que se reputa condenado.
No local do sinistro compareceu logo a alfandega e o vice-cônsul inglês a residir em Aveiro. Não se podem deixar de considerar gravíssimas as acusações que faz o correspondente deste jornal em Aveiro, com respeito à origem do naufrágio.
(In jornal “Comércio do Porto”, terça, 17 de Outubro de 1882)

O “Kate Forster”
A respeito do casco deste vapor, naufragado em Aveiro, o jornal “Campeão das Províncias”, refere o seguinte:
O navio conserva-se na mesma posição em que pegou na areia. Procedem já à descarga, mas o processo empregue é moroso, quando era mais fácil baldear tudo na praia. Parece tudo muito primitivo. Mas como o carvão estava no seguro, é por conta dele que corre o negócio.
Quanto ao casco, parece que não há esperança de salvá-lo. O mar não o tem deteriorado por enquanto, mas existe o receio que nas águas vivas não se levante, por estar já bastante assoreado, principalmente ao centro.
(In jornal “Comércio do Porto”, sábado, 21 de Outubro de 1882)

Arrematação de salvados
Aveiro, 8 – do «Campeão das Províncias»: Realizou-se na última segunda-feira a arrematação dos salvados do “Kate Forster”, naufragado ao S (sul) da barra do porto de Aveiro. Foram arrematados todos os lotes, que ainda eram bastantes, sendo adjudicados a diversos negociantes da cidade, do Porto e de Ílhavo. Ignora-se por enquanto a importância total da arrematação.
A requerimento do respectivo consignatário, foi mandada arrematar no próximo dia 10 do corrente toda a carga salvada do mesmo vapor, e que consta de 250 toneladas de carvão.
(In jornal “Comércio do Porto”, quinta, 9 de Novembro de 1882)

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