sábado, 10 de novembro de 2012

História trágico-marítima


O encalhe e afundamento do iate “Três Amigos”

Imagem sem correspondência ao texto

Na sequência do anúncio de diversos naufrágios relatados no blog, é oportunidade para dar a conhecer um dos casos mais interessantes e curiosos, ocorridos na barra do rio Douro. Teve lugar do dia 26 de Fevereiro de 1877 e lembra personalidades ílhavenses, tais como os mestres José Ançã, outrora mestre e proprietário deste iate e ainda o capitão João Pereira Ramalheira (sénior), cujo percurso de vida ligado ao mar foi absolutamente brilhante, e cuja condição de excelência foi depois continuada pelos seus descendentes mais próximos.
Este é pois mais um naufrágio de uma longa, quase interminável, lista de ocorrências na barra do Douro, cujo desfecho por inesperado merece ser conhecido e divulgado. Para o efeito recorro ao leque de notícias publicadas na época, que explicam por si o evoluir da história, que desta vez por ser caso raro, teve um final feliz.
O navio da história é o iate “Três Amigos”, que imagino a exemplo de construções semelhantes, possa ter sido construído pelo reconhecido mestre José Fernandes Lapa, de Vila Nova de Gaia, muitas vezes convidado a deslocar-se a Aveiro, para ali construir excelentes navios, naquele que à época ficou conhecido por estaleiro da cidade, ou como também acontecia, em local não especificado na área da Gafanha da Nazaré.
O iate “Três Amigos”, também identificado pelas letras «H.F.M.Q.» do código internacional, estava matriculado na capitania do porto de Aveiro e media de arqueação 63,558 metros cúbicos. Eis portanto a história do seu encalhe e afundamento, com o seu quê de surpreendente, como segue:

Naufrágio
O iate “Três Amigos”, vindo a entrar a barra pelas 11 horas da manhã, bateu nas pedras denominadas “Felgueiras”, abrindo água. Pouco depois, indo para encalhar no Cabedelo, submergiu-se completamente. A tripulação foi toda salva por uma catraia.
(In jornal “Comércio do Porto”, terça, 27 de Fevereiro de 1877)
Iate “Três Amigos”
Acerca deste navio, naufragado no dia anterior na barra do rio Douro, confirma-se que os tripulantes foram desembarcados na Foz pouco tempo depois de o navio ir a pique. O “Três Amigos” procedia de Aveiro com carregamento de sal, consignado aos senhores Marcelino & Cª. e era propriedade do sr. José Ançã, de Ílhavo.
(In jornal “Comércio do Porto”, quarta, 28 de Fevereiro de 1877)
Iate “Três Amigos”
Durante a noite passada o mar arrojou ao Cabedelo o casco do iate “Três Amigos”, que ontem pela manhã tinha ido a pique na ocasião em que entrava a barra.
(In jornal “Comércio do Porto”, quarta, 28 de Fevereiro de 1877)
Iate “Três Amigos”
Da Foz foi ontem comunicado à Associação Comercial, que foi conseguido encalhar o iate “Três Amigos”, ultimamente naufragado, sobre o Cabedelo. O navio está a prumo, havendo esperanças de lhe ser tapado o rombo, que fez na ocasião em que bateu nas pedras.
(In jornal “Comércio do Porto”, sexta, 2 de Março de 1877)
Iate “Três Amigos”
Ao cabo de muitos esforços, foi ontem de tarde finalmente possível pôr a nado o iate “Três Amigos”, que por algum tempo permaneceu encalhado no Cabedelo. Este navio, vindo há tempos a entrar a barra do rio Douro, sob o comando do mestre Ramalheira, bateu nas pedras, fez um rombo, submergindo-se em seguida. No dia seguinte, o iate apareceu ao lume de água, em virtude de ter ficado aliviado do seu carregamento, que constava de sal. Por essa ocasião foi arrastado para o Cabedelo e ontem foi trazido para dentro do rio, onde permanece ancorado.
(In jornal “Comércio do Porto”, quinta, 15 de Março de 1877)
Iate “Três Amigos”
Este barco, naufragado há dias na barra e que ante-ontem foi posto a nado, veio ontem na maré da tarde rio acima, tendo fundeado em Massarelos. Todos os trabalhos para a salvação do casco foram dirigidos pelo hábil construtor naval, o sr. José Fernandes Lapa.
(In jornal “Comércio do Porto”, sexta, 16 de Março de 1877)

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