quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

Afinal, como foi ? - Parte 2


O naufrágio do vapor “Julian”, nos cavalos de Fão

Em aditamento ao post anterior, recebi do amigo e Sr. Manuel de Oliveira Martins, pessoa muito conhecida no meio marítimo e grande conhecedor dos assuntos do mar, a residir em Viana do Castelo, a quem desde já envio um enorme abraço de agradecimento, os recortes do jornal “Aurora do Lima”, com a história do naufrágio contada com melhor propósito.

Posto isto, o vapor era mesmo Espanhol, encontrando-se registado no porto de Gijon. Pertencia ao armador Locano y Cia., com sede em Olavarria, procedia de Barcelona e Cadiz, capitão José Guinéa, trazendo dois dias e meio de viagem. A tripulação era composta por 22 tripulantes e conduzia 17 passageiros, entre os quais 12 eram do sexo masculino, mais 3 senhoras e duas crianças, uma com 8 e outra com 12 anos. Igualmente, confirma-se o destino previsto como sendo efectivamente o porto de Vigo, onde era esperado pelo consignatário, a firma Viúda de Carvajal.

Especifica também o referido jornal, que o navio encalhou cerca das 3 horas e meia da madrugada, no sítio denominado Crasto, nos cavalos de Fão, devido a cerração, conforme nossa prévia suposição. Informa ainda que for força do encalhe, logo abriu água, submergindo de todo num curto espaço de tempo. Por esse motivo, equipagem e passageiros ficaram muito gratos devido aos actos de coragem e valentia demonstrados pelo Vianense Francisco da Silva Vianna, bem como por José Gonçalves Monteiro, ambos residentes em Esposende, eles que foram os principais responsáveis pelos salvamentos.

Enquanto os tripulantes ficaram entregues aos cuidados da Associação de Socorros a Náufragos, os passageiros foram recebidos em casas particulares de Esposende e acolhidos com as comodidades possíveis, destacando-se pela sua solidariedade no seio do grupo de moradores, o antigo capitão da marinha mercante Sr. Francisco Dias dos Santos Borda.

Quanto aos salvados do vapor a história é bem distinta do imaginável, dando à costa, entre a praia de Estela, na Póvoa de Varzim e Esposende, diversos produtos como vinho, cognac, pianos (!), tecidos e peças de seda de grande valor, etc., etc.
Porque os primeiros volumes foram logo subtraídos por populares, a Guarda-Fiscal montou de imediato postos de vigilância, instruindo no sentido das praias serem evacuadas, pois não seriam tolerados mais roubos. Face à resistência de vários larápios, que ousaram permanecer nos locais, provocando os elementos da Guarda, estes dispararam alguns tiros, causando aos mais atrevidos, nalguns casos, ferimentos sem gravidade.
Mesmo assim, nesta altura, ainda ficam duas questões por esclarecer :
1º.- Como é que os pianos, pesados como os conhecemos, conseguiram dar à costa?
2º.- Será que a anteriormente mencionada vandalização dos salvados, teria sido reflexo dos confrontos com a Guarda ?

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