quinta-feira, 26 de novembro de 2009

Companhias de Navegação Portuguesas


Real Companhia de Navegação a Vapor Anglo-Luso-Brazileira
1859 – 1860
1ª parte (A carreira do Brasil)

Depois da tentativa frustada, relativa à constituição em 1854, da Real Companhia de Navegação a Vapor, foi anunciado que o súbdito britânico J.O. Lever, adquiriu os navios duma empresa inglesa, entretanto extinta, conhecida por General Screw Steam Shipping Company, com o intuito de criar uma nova firma, em 1857, que seria denominada European & American Steam Shipping Company.
Os estatutos dessa empresa foram aprovados pelo Rei Português, a 22 de Junho de 1859, tendo como proposta o estabelecimento dum serviço correio mensal, com viagens redondas a iniciar no porto Inglês de Milford Haven, com escalas em Lisboa, São Vicente (Cabo Verde), Recife (Pernambuco), Salvador (Bahia) e Rio de Janeiro.
A firma abriu sede em Londres e filial em Lisboa, sob a denominação em epígrafe, sendo operada pelos gerentes ingleses, srs. John Arthur Roebuck, John William Wilson e Walter Thomas Sutton. Para presidente estatutário foi designado o Infante D. Luís, futuro Rei de Portugal, sendo designados seus directores no país o Duque de Saldanha e o Visconde de Atouguia. Conforme estabelecido no contrato, todos os navios passariam a navegar com a bandeira portuguesa.
O serviço foi inaugurado pelo paquete “Milford Haven”, após a largada do porto que lhe deu o nome, a 1 de Outubro de 1859, depois dum sumptuoso banquete oferecido por J.O. Lever, a assinalar o acontecimento, estando prevista a saída de Lisboa para o Brasil 8 dias depois. O segundo navio incluído neste serviço postal, chamou-se “Portugal”, com partida de Milford Haven, no dia 1 de Novembro.
O terceiro navio foi baptizado “Brazil”, tendo igualmente partido do mesmo porto, no dia 24 de Dezembro, todavia o “Brazil”, aquando da segunda viagem marcada para sair a 24 de Março, por não estar em condições, foi substituído por um quarto navio, com o nome “Jason”, fretado para o efeito.
A companhia efectuou no total 10 viagens, na carreira do Brasil, 4 vezes pelo “Milford Haven”, 3 vezes pelo “Portugal”, 2 vezes pelo “Brazil” e apenas 1 viagem pelo “Jason”, como previamente estipulado. Em Maio de 1860, a pedido de alguns dos negociantes mais influentes, ligados ao intercâmbio comercial com o Brasil, foi alterado o porto de partida dos paquetes para Liverpool, efectuando saídas regulares a 24 de cada mês, sem que fosse vislumbrado qualquer benefício para a companhia.

Tabela de preços de passagem para Portugal, Brasil e Inglaterra, nos quais se inclui cama, mesa com vinho corrente, roupas, propinas a criados e outras despesas, excluindo vinhos superiores, aguardente, cerveja, águas minerais e outros artigos cuja venda era facilitada a bordo.
Valores em mil reis, como segue:

1º Classe 2ª Classe 3ª classe
São Vicente
90.000 0.000 0.000
Recife
121.500 100.000 50.000
Bahia
130.000 108.000 50.000
Rio de Janeiro
166.000 121.500 50.000
Londres (#)
Liverpool (#)
Birmingham (#)
Manchester (#)
45.000 36.000 22.500

(#) Todas as passagens teriam como ponto de partida e chegada Milford Haven, estando incluído no preço a despesa de caminho de ferro, até ao destino final.

Nas viagens do Brasil para a Europa, estava programado um custo extra da 35.000 (mil reis) para a 1ª e 2ª classes e 9.000 (mil reis) para a 3ª classe. Do Porto e vice-versa, estava igualmente programado um adicional de 9.000 (mil reis) para a 1ª e 2ª classes e 3.000 (mil reis) para a 3ª classe. Estes valores foram publicados na imprensa diária do Porto, pelo consignatário da companhia na cidade, Sr. Justino Ferreira Pinto, com escritório sito em Cimo do Muro, Nº 103, estando igualmente mandatado, para tratar da angariação de cargas.

Os navios

Todos de tipo idêntico, conforme desenho de Luís Filipe Silva

“ Milford Haven “

Cttor.: C.J. Mare & Co., Blackwall, Londres, 1852
ex.: “Queen of the South”, General Screw St. Co., 1852-1857
ex.: “Queen of the South”, European & American, 1857-1859
Arqueação : Tab 1.850 to
Máquina : Do construtor, 1852 > 2:St > 2x300 Bhp
dp.: “Queen of the South”, East India & London Co., 1861-1872
«Colocado para operar entre a Europa para Madras e Calcutá»
dp.: “Malta”, (?) Após conversão em veleiro, 1872-1885
Perde-se por encalhe, próximo a Sandy Hook, E.U., a 24.11.1885

“ Portugal “

Cttor.: C.J. Mare & Co., Blackwall, Londres, 1852
ex.: “Calcutta”, General Screw Steam Shipping Co., 1852-1857
ex.: “Calcutta”, European & American St./Shpg Co., 1857-1859
Arqueação : Tab 2.260 to
Máquina : Do construtor, 1852 > 2:St > 2x300 Bhp
dp.: “Calcutta”, East India & London Shipping Co., 1861-1868
«Colocado para operar entre a Europa para Madras e Calcutá»
dp.: “Darling Downs”, Taylor, Sons & Co., Londres, 1868-1887
«Tal como o anterior, foi convertido em veleiro»
Naufragou por motivo de colisão, durante o ano de 1887

“ Brazil “

Cttor.: C.J. Mare & Co., Blackwall, Londres, 1852
ex.: “Lady Jocelyn”, General Screw St. Co., 1852-1857
ex.: “Lady Jocelyn”, European & American, 1857-1859
Arqueação : Tab 1.850 to
Máquina : Do construtor, 1852 > 2:St > 2x300 Bhp
dp.: “Brazil”, cumpre fretamento à Galway Line, 1860-1861
dp.: “Lady Jocelyn”, East India & London Shpg Co., 1861-1868
«Colocado para operar entre a Europa para Madras e Calcutá»
dp.: “Lady Jocelyn”, Park Bros., conv. em veleiro, 1868-1868
dp.: “Lady Jocelyn”, fretado a Shaw Savill & Albion, 1868-1883
dp.: “Lady Jocelyn”, vendido (?), 1883-1899
dp.: “Lady Jocelyn”, vendido à Shipping Federation, 1899-1922
«Transf. em pontão, amarra durante este período, em Londres»
Vendido para demolição na Holanda, durante o ano de 1926

Para pesquisar elementos sobre esta companhia, segundo armador de navios movidos por máquina a vapor, na ligação entre Portugal e o Brasil, vali-me da colaboração e apontamentos de Ted Finch, Francisco Cabral e Luís Filipe Silva, que agradeço.

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