As chalupas francesas - A pesca ilegal da lagosta
Em Março de 2014 foi abordado este tema no blog, relacionado com o naufrágio da chalupa “Marie Yvone”, que inicialmente julguei tratar-se de um caso isolado, ou quando muito haveria apenas algumas embarcações, poucas, que a coberto da noite, audaciosamente, pescavam próximo da linha de costa.
Imagem da chalupa francêsa "Belle Etoile"
(In blog "Caxinas... a Freguesia), de António Fangueiro
O conhecimento da realidade foi-me logo facultado pelo saudoso colega e amigo Rui Amaro, através do seu comentário, alertando para o facto desta pesca ilegal existir há muitos na nossa costa, como segue:
«Ainda na década de 50 fainavam na costa portuguesa chalupas lagosteiras francesas, à vela e com motor auxiliar, oriundas nomeadamente da Bretanha. O viveiro era o próprio porão cheio de água, com gradeamento no fundo para evitar a fuga das lagostas. Arribavam a Leixões e outros portos para bancas, abrigarem-se do mau tempo, com avarias, apresadas, etc.»
Simultaneamente chamava a atenção para uma publicação, cuja capa reproduzo a seguir, divulgada na Revista de Marinha, cujo texto passo a citar:
Capa do livro referenciado
(In blog "Caxinas... a Freguesia), de António Fangueiro
O conhecimento da realidade foi-me logo facultado pelo saudoso colega e amigo Rui Amaro, através do seu comentário, alertando para o facto desta pesca ilegal existir há muitos na nossa costa, como segue:
«Ainda na década de 50 fainavam na costa portuguesa chalupas lagosteiras francesas, à vela e com motor auxiliar, oriundas nomeadamente da Bretanha. O viveiro era o próprio porão cheio de água, com gradeamento no fundo para evitar a fuga das lagostas. Arribavam a Leixões e outros portos para bancas, abrigarem-se do mau tempo, com avarias, apresadas, etc.»
Simultaneamente chamava a atenção para uma publicação, cuja capa reproduzo a seguir, divulgada na Revista de Marinha, cujo texto passo a citar:
«As chalupas lagosteiras francesas frequentaram a costa oeste de Portugal a partir de 1909, depois de terem dizimado aquela espécie nas costas atlânticas da França e da Espanha. Eram na sua maioria provenientes de Audierne e Camaret-sur-Mer, na Bretanha, e tinham o porão, através de frinchas, em permanente comunicação com o mar, a fim de conservarem vivas as lagostas pescadas ou compradas (?) localmente.
Estas curiosas embarcações tinham um deslocamento de cerca de 30 toneladas, armavam dois mastros com pano latino, vela de estai e bujarrona, sendo tripuladas por 5 ou 6 homens apenas. Na pesca utilizavam armadilhas, os covos, mais aperfeiçoados e eficazes do que as armadilhas então utilizadas pelos pescadores portugueses.»
Estas curiosas embarcações tinham um deslocamento de cerca de 30 toneladas, armavam dois mastros com pano latino, vela de estai e bujarrona, sendo tripuladas por 5 ou 6 homens apenas. Na pesca utilizavam armadilhas, os covos, mais aperfeiçoados e eficazes do que as armadilhas então utilizadas pelos pescadores portugueses.»
O naufrágio da chalupa “Marie Yvonne”
No Cabo Raso afundou-se a chalupa francesa “Marie Yvonne”,
morrendo cinco dos seus tripulantes
No Cabo Raso afundou-se a chalupa francesa “Marie Yvonne”,
morrendo cinco dos seus tripulantes
No sítio denominado Baía de Prata, a leste do Cabo Raso, naufragou hoje (23.12.1927), pelas 2 horas da madrugada, uma chalupa francesa denominada “Marie Yvonne”, que andava na pesca da lagosta.
Os tripulantes eram em número de seis. Completamente desamparados de socorros lutaram desesperadamente com as ondas. Mas, baldadamente o fizeram; só um deles, de nome Henri Marcel, conseguiu salvar-se a nado. Pode-se fazer ideia do anseio com que levou a cabo a sua dolorosa aventura.
Depois de lhe terem prestado auxílio no Posto de Socorros a Náufragos, o pobre marítimo veio para Lisboa. O seu estado não apresenta gravidade. Dirigiu-se ao consulado do seu país.
O pessoal do posto semafórico de Oitavos solicitou que fossem iniciados os trabalhos necessários para ver se é possível encontrar os cadáveres dos infortunados marinheiros.
(In jornal “Comércio do Porto”, sábado, 24 de Dezembro de 1927)
O naufrágio da chalupa “Marie Yvone” permitiu-me perceber, que a forma mais segura para detectar estas embarcações seria quando naufragavam. E os sinistros foram-se repetindo, eventualmente sem fim à vista e talvez até aos anos 50, como se encontra acima referido. Outros casos conhecidos são:
Naufrágio em Peniche
Os tripulantes eram em número de seis. Completamente desamparados de socorros lutaram desesperadamente com as ondas. Mas, baldadamente o fizeram; só um deles, de nome Henri Marcel, conseguiu salvar-se a nado. Pode-se fazer ideia do anseio com que levou a cabo a sua dolorosa aventura.
Depois de lhe terem prestado auxílio no Posto de Socorros a Náufragos, o pobre marítimo veio para Lisboa. O seu estado não apresenta gravidade. Dirigiu-se ao consulado do seu país.
O pessoal do posto semafórico de Oitavos solicitou que fossem iniciados os trabalhos necessários para ver se é possível encontrar os cadáveres dos infortunados marinheiros.
(In jornal “Comércio do Porto”, sábado, 24 de Dezembro de 1927)
O naufrágio da chalupa “Marie Yvone” permitiu-me perceber, que a forma mais segura para detectar estas embarcações seria quando naufragavam. E os sinistros foram-se repetindo, eventualmente sem fim à vista e talvez até aos anos 50, como se encontra acima referido. Outros casos conhecidos são:
Naufrágio em Peniche
Por telegrama recebido no Ministério da Marinha, foi confirmada que por alturas de Peniche naufragou o barco lagosteiro “Ripe”, de nacionalidade francesa, salvando-se a tripulação.
O “Ripe”, que conduzia muitas lagostas, considera-se perdido.
(In jornal “Comércio do Porto”, terça-feira, 27 de Março de 1928)
Mesmo desconhecida a existência de notícias publicadas em jornais, relacionadas com outros sinistros, consta em documentos oficiais o naufrágio da chalupa “Ty-Onor”, na Papôa, Peniche, em 2 de Junho de 1931. Embarcação com 29,70 toneladas de arqueação bruta, encalhou na costa, por falta de vento.
Uma outra chalupa denominada “Fleur des Eaux”, com 34,00 toneladas de arqueação bruta, afundou-se com água aberta a cerca de 3 milhas a sul do Cabo Carvoeiro, em 9 de Junho de 1933. Os tripulantes foram resgatados com vida por uma traineira.
Como acrescentava no texto anterior, o motivo de tal alheamento que permitia esta actividade piscatória ilegal, passava pela inexistência de meios navais adequados ao serviço de fiscalização, situação entretanto resolvida pela Marinha, depois de uma razoável quantidade de reclamações sistematicamente apresentadas pelos pescadores, sujeitos a insultos e quantas vezes a propiciarem conflitos com dramática gravidade. Tempos difíceis, somente ultrapassados anos depois com a modernização e a renovação das unidades após 1933, decapitando o exagero e a ousadia de explorar os recursos do mar, que nos pertence por herança e por direito.
(In jornal “Comércio do Porto”, terça-feira, 27 de Março de 1928)
Mesmo desconhecida a existência de notícias publicadas em jornais, relacionadas com outros sinistros, consta em documentos oficiais o naufrágio da chalupa “Ty-Onor”, na Papôa, Peniche, em 2 de Junho de 1931. Embarcação com 29,70 toneladas de arqueação bruta, encalhou na costa, por falta de vento.
Uma outra chalupa denominada “Fleur des Eaux”, com 34,00 toneladas de arqueação bruta, afundou-se com água aberta a cerca de 3 milhas a sul do Cabo Carvoeiro, em 9 de Junho de 1933. Os tripulantes foram resgatados com vida por uma traineira.
Como acrescentava no texto anterior, o motivo de tal alheamento que permitia esta actividade piscatória ilegal, passava pela inexistência de meios navais adequados ao serviço de fiscalização, situação entretanto resolvida pela Marinha, depois de uma razoável quantidade de reclamações sistematicamente apresentadas pelos pescadores, sujeitos a insultos e quantas vezes a propiciarem conflitos com dramática gravidade. Tempos difíceis, somente ultrapassados anos depois com a modernização e a renovação das unidades após 1933, decapitando o exagero e a ousadia de explorar os recursos do mar, que nos pertence por herança e por direito.
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