O encalhe e perda do rebocador “Aghios Georgios II”
Um cargueiro de 4.000 toneladas com as luzes acesas e
sem sinal algum de vida a bordo encalhou na Ericeira e os
habitantes da vila assistem surpreendidos ao naufrágio.
Ericeira, 1 (às 3 horas e 30 minutos) – Cerca das 2 horas, alguns habitantes desta localidade viram, com grande surpresa, um cargueiro de umas 4.000 toneladas aproximar-se, com todas as luzes acesas, vindo a encalhar a uns vinte metros da areia desta praia, e a uns dez metros da muralha do hotel da Ericeira.
Assestando luzes de automóveis, sobre o barco, lançando foguetes e disparando pistolas, foi tentado chamar a atenção da tripulação, mas esta, até agora, não respondeu. É de supôr, por isso, que tenha abandonado o barco, ou que qualquer coisa de muito extraordinário se tenha passado a bordo.
Pela maneira como as luzes decrescem de intensidade, é de admitir a hipótese das caldeiras estarem apagadas ou a diminuir a sua pressão. De qualquer modo, o barco, dados o local onde se encontra e a grande rebentação do mar, deve considerar-se perdido, pois é varrido, constantemente, de um lado ao outro, por vagas alterosas.
Quanto à tripulação, se o abandonou e navega em lanchas, corre grande perigo de naufragar. Ninguém por aqui acredita, que se trate de um barco português, pois só um piloto que desconheça completamente a nossa costa cometeria o erro de se aproximar tanto de terra, nesta zona. É no entanto possível, que o piloto, dado o facto do hotel da Ericeira se encontrar fortemente iluminado, por motivo da festa da passagem do ano, se tenha convencido que estava em Cascais.
Enfim, fazem-se muitas conjecturas, mas nada se pode afirmar concretamente senão isto: o barco encontra-se à mercê das vagas, ignora-se o paradeiro da tripulação e não há aqui qualquer meio de salvamento, que lhes possa acudir.
(In jornal “O Século”, sábado, 1 de Janeiro de 1949)
Não foram encontradas as características do rebocador de alto-mar “Aghios Georgios II”, encalhado e desfeito pelo mar na Ericeira. Por tratar-se de navio idêntico ao rebocador sinistrado, eis as características do “Marigo Matsa”, como segue:
Assestando luzes de automóveis, sobre o barco, lançando foguetes e disparando pistolas, foi tentado chamar a atenção da tripulação, mas esta, até agora, não respondeu. É de supôr, por isso, que tenha abandonado o barco, ou que qualquer coisa de muito extraordinário se tenha passado a bordo.
Pela maneira como as luzes decrescem de intensidade, é de admitir a hipótese das caldeiras estarem apagadas ou a diminuir a sua pressão. De qualquer modo, o barco, dados o local onde se encontra e a grande rebentação do mar, deve considerar-se perdido, pois é varrido, constantemente, de um lado ao outro, por vagas alterosas.
Quanto à tripulação, se o abandonou e navega em lanchas, corre grande perigo de naufragar. Ninguém por aqui acredita, que se trate de um barco português, pois só um piloto que desconheça completamente a nossa costa cometeria o erro de se aproximar tanto de terra, nesta zona. É no entanto possível, que o piloto, dado o facto do hotel da Ericeira se encontrar fortemente iluminado, por motivo da festa da passagem do ano, se tenha convencido que estava em Cascais.
Enfim, fazem-se muitas conjecturas, mas nada se pode afirmar concretamente senão isto: o barco encontra-se à mercê das vagas, ignora-se o paradeiro da tripulação e não há aqui qualquer meio de salvamento, que lhes possa acudir.
(In jornal “O Século”, sábado, 1 de Janeiro de 1949)
Imagem do encalhe do rebocador publicada no jornal
Não foram encontradas as características do rebocador de alto-mar “Aghios Georgios II”, encalhado e desfeito pelo mar na Ericeira. Por tratar-se de navio idêntico ao rebocador sinistrado, eis as características do “Marigo Matsa”, como segue:
Armador: Loucas Matsas & Sons, Pireu, Grécia
Nº Oficial: N/d - Iic: S.V.A.A. - Porto de registo: Pireu
Construtor: L. Smit & Zoon, Kinderdijk, Holanda, 1900
ex “Poolzee”, N.V.L. Smit & Co., Sleepdienst, Holanda
Arqueação: Tab 304,00 tons - Tal -,- tons
Dimensões: Pp 40,97 mts - Boca 8,38 mts - Pontal 3,86 mts
Propulsão: Maats. de Schelde, 1:Te - 3:Ci - 141 Nhp
Equipagem: 15 tripulantes
Nº Oficial: N/d - Iic: S.V.A.A. - Porto de registo: Pireu
Construtor: L. Smit & Zoon, Kinderdijk, Holanda, 1900
ex “Poolzee”, N.V.L. Smit & Co., Sleepdienst, Holanda
Arqueação: Tab 304,00 tons - Tal -,- tons
Dimensões: Pp 40,97 mts - Boca 8,38 mts - Pontal 3,86 mts
Propulsão: Maats. de Schelde, 1:Te - 3:Ci - 141 Nhp
Equipagem: 15 tripulantes
O mar está a destruir o barco que encalhou na Ericeira e que foi
abandonado, devido ao temporal, pelo navio que o rebocava
abandonado, devido ao temporal, pelo navio que o rebocava
Um pequeno navio encalhou na praia da Ericeira, na madrugada de sábado, facto que provocou ali grande alarme, pois uma parte da população, por ser noite de festa, encontrava-se ainda a pé. Foi do hotel da Ericeira onde, entre outros, se encontrava o ex-rei Humberto de Itália e o sr. engº. Aulânio Lobo, da Sociedade Geral de Transportes, seu filho Artur Lobo e o médico municipal, dr. Franco, que primeiramente notaram o sinistro e logo tomaram providências para socorrerem o barco e os seus tripulantes, pois aqueles senhores avisaram de imediato as autoridades.
Verificaram, porém, que o navio inicialmente pensado ser um vapor de grande tonelagem, não tinha ninguém a bordo, o que levou a crer que se tratasse de um barco que vinha a reboque de outro, tanto mais que todas as luzes estavam acesas, o que está previsto pelo regulamento marítimo, sempre que um navio navega a reboque e sem tripulação.
De terra fizeram sinais luminosos, desfecharam tiros e lançaram foguetes, para atrair a atenção de possíveis tripulantes. Mas de bordo não veio nenhum sinal de vida, e o navio, batido pelas vagas, foi atirado de encontro às rochas e ao areal da praia de banhos, no local denominado “Lago da Baleia”.
De manhã, na baixa-mar, verificaram que o barco – um rebocador de alto-mar de nacionalidade grega – tinha um grande rombo na proa, no ponto em que assentou nos rochedos. Como o navio estivesse apenas a 20 metros da praia e a 10 da muralha do hotel e o mar o consentisse, de manhã foram a bordo os srs. Domingos Leitão Correia, delegado marítimo; João de Deus Oliveira, comandante dos bombeiros locais, que acorreram logo que o navio encalhou; o cabo-de-mar Luís Álvaro Lopes, os quais verificaram que a bordo apenas se encontrava um gato, que trouxeram para terra e que as portas dos beliches estavam fechadas e seladas, sinais evidentes que o navio vinha a reboque e em regime de despacho.
De facto na manhã de ante-ontem entrou no Tejo o rebocador de alto-mar “Marigo Matsa”, de 309 toneladas, da praça do Pireu, com quinze homens de tripulação, sob o comando de Demetrios Polemis, consignado à casa Pinto Basto.
Foi percebido então o que se passara. Este rebocador, que procedia de Southampton, trazia a reboque outro rebocador de alto-mar da mesma tonelagem, o “Aghios Georgios II”, que fora adquirido na Inglaterra, onde tinha o nome de “Trinit” (?) e se destinava ao Pireu, onde iria ser reconstruído, visto tratar-se de um barco já velho.
Os dois rebocadores fizeram escala por Vigo, para o “Marigo Matsa” ser reabastecido e substituir alguns tripulantes. Estes são de nacionalidade inglesa, grega e mexicana. O rebocador com o outro a reboque saíram de Vigo com destino a Gibraltar, onde fariam escala. O “Aghios Georgios II” seguia sem tripulação e, como é da lei marítima, um dispositivo de relojoaria, próprio para o efeito, acendia as luzes a determinada hora e apagava-as ao nascer do dia.
Verificaram, porém, que o navio inicialmente pensado ser um vapor de grande tonelagem, não tinha ninguém a bordo, o que levou a crer que se tratasse de um barco que vinha a reboque de outro, tanto mais que todas as luzes estavam acesas, o que está previsto pelo regulamento marítimo, sempre que um navio navega a reboque e sem tripulação.
De terra fizeram sinais luminosos, desfecharam tiros e lançaram foguetes, para atrair a atenção de possíveis tripulantes. Mas de bordo não veio nenhum sinal de vida, e o navio, batido pelas vagas, foi atirado de encontro às rochas e ao areal da praia de banhos, no local denominado “Lago da Baleia”.
De manhã, na baixa-mar, verificaram que o barco – um rebocador de alto-mar de nacionalidade grega – tinha um grande rombo na proa, no ponto em que assentou nos rochedos. Como o navio estivesse apenas a 20 metros da praia e a 10 da muralha do hotel e o mar o consentisse, de manhã foram a bordo os srs. Domingos Leitão Correia, delegado marítimo; João de Deus Oliveira, comandante dos bombeiros locais, que acorreram logo que o navio encalhou; o cabo-de-mar Luís Álvaro Lopes, os quais verificaram que a bordo apenas se encontrava um gato, que trouxeram para terra e que as portas dos beliches estavam fechadas e seladas, sinais evidentes que o navio vinha a reboque e em regime de despacho.
De facto na manhã de ante-ontem entrou no Tejo o rebocador de alto-mar “Marigo Matsa”, de 309 toneladas, da praça do Pireu, com quinze homens de tripulação, sob o comando de Demetrios Polemis, consignado à casa Pinto Basto.
Foi percebido então o que se passara. Este rebocador, que procedia de Southampton, trazia a reboque outro rebocador de alto-mar da mesma tonelagem, o “Aghios Georgios II”, que fora adquirido na Inglaterra, onde tinha o nome de “Trinit” (?) e se destinava ao Pireu, onde iria ser reconstruído, visto tratar-se de um barco já velho.
Os dois rebocadores fizeram escala por Vigo, para o “Marigo Matsa” ser reabastecido e substituir alguns tripulantes. Estes são de nacionalidade inglesa, grega e mexicana. O rebocador com o outro a reboque saíram de Vigo com destino a Gibraltar, onde fariam escala. O “Aghios Georgios II” seguia sem tripulação e, como é da lei marítima, um dispositivo de relojoaria, próprio para o efeito, acendia as luzes a determinada hora e apagava-as ao nascer do dia.
O encalhe do “Aghios Georgios II”
O temporal obrigou o comandante do “Marigo Matsa”
a cortar o cabo que o prendia ao outro rebocador
O temporal obrigou o comandante do “Marigo Matsa”
a cortar o cabo que o prendia ao outro rebocador
Ao norte das Berlengas, o temporal assumiu tais proporções, que o “Marigo Matsa” começou a estar em perigo. As vagas cobriam o rebocador, que dificilmente conseguia avançar açoitado pelo mar e pelo vento. Foi então que o comandante, como é de uso ser feito em tais emergências, mandou cortar o cabo que o prendia ao navio rebocado, abandonando-o aos caprichos do mar. Ao mesmo tempo fez um aviso à navegação para se precaver naquelas paragens – a seis milhas das Berlengas – contra o casco abandonado.
O “Marigo Matsa” veio então para Lisboa, onde o seu
comandante deu parte do sinistro às autoridades marítimas.
comandante deu parte do sinistro às autoridades marítimas.
Atraídas pela notícia centenas de pessoas foram até à Ericeira, para admirar o rebocador encalhado. Este considera-se perdido, não só pelo local onde encalhou, mas também pelos danos que nele está a causar o mar tempestuoso.
Já começaram a dar à praia alguns utensílios de bordo e apareceu no areal um cachorro morto, que se crê ter estado a bordo do barco sinistrado. Este como não trazia tripulantes, também não tinha a bordo roupas ou quaisquer outros objectos usados por pessoas.
Ontem estiveram na Ericeira o comandante do “Marigo Matsa” e o agente do Lloyds, a fim de verificarem a posição do barco. Muita gente dos arredores também afluiu ontem ao local.
(In jornal “O Século”, segunda-feira, 3 de Janeiro de 1949)
Já começaram a dar à praia alguns utensílios de bordo e apareceu no areal um cachorro morto, que se crê ter estado a bordo do barco sinistrado. Este como não trazia tripulantes, também não tinha a bordo roupas ou quaisquer outros objectos usados por pessoas.
Ontem estiveram na Ericeira o comandante do “Marigo Matsa” e o agente do Lloyds, a fim de verificarem a posição do barco. Muita gente dos arredores também afluiu ontem ao local.
(In jornal “O Século”, segunda-feira, 3 de Janeiro de 1949)
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