sexta-feira, 1 de julho de 2016

História trágico-marítima (CXCII)


Naufragou na Papôa o vapor “Duisburg”
Lisboa, 2 – Na ponta da Papôa, em Peniche de Cima, encalhou ontem de madrugada o vapor alemão “Duisburg”, que vinha do Havre para Lisboa, com carga de mineral e vários géneros.
Apesar dos esforços empregues, não foi possível desencalhá-lo. Parte da tripulação desembarcou.
(In jornal “Comércio do Porto”, terça, 3 de Novembro de 1903)

Ainda sobre o encalhe do vapor “Duisburg”
Lisboa, 3 – O vapor “Duisburg”, encalhado em Peniche, está completamente perdido, pois o casco abriu a meio e tem enormes rombos. O mar vai-se encarregando de o despedaçar. O resto da tripulação, que se encontrava a bordo, já desembarcou.
Entretanto, estão agora a tratar de salvar a carga, composta de 500 fardos de algodão, 200 toneladas de carvão, 200 fardos de peles, 200 toneladas de mineral, caixotes de chá, sacas de café e cacau, etc.
(In jornal “Comércio do Porto”, quarta, 4 de Novembro de 1903)

Foto provável do vapor "Duisburg"
Imagem da Photoship.Uk

Características do vapor “Duisburg”
Armador: Dampf. - Gesellshaft “Argo”, Bremen, Alemanha
Nº Oficial: N/s - Iic.: N/s - Porto de registo: Duisburgo
Construtor: Jos. L. Meyer, Papenburg, Alemanha, 09.1899
Arqueação: Tab 895,00 tons
Dimensões: Pp 64,20 mts - Boca 8,20 mts
Propulsão: Motor de tripla-expansão - 9 m/h

O naufrágio do vapor “Duisburg”
Peniche, 10 – Tem estado aqui o vapor “Nerva” (1) para receber os salvados do vapor “Duisburg”, que há tempos naufragou no sítio da Papôa, não tendo ainda sido possível retirar toda a carga que trazia, por causa da contínua agitação do mar.
(1) A indicação do nome do navio alemão “Nerva”, muito provavelmente está incorrecto, devendo tratar-se do vapor “Minerva”. Neste caso, se assim fôr, este navio "Minerva" pertence à companhia Dampfschiffahrts-Gesellschaft "Neptun", de Bremen, tendo sido construído em 1903 e navegado com este nome até 1914.
Visto ter citado o sítio da Papôa, dou algumas informações dela e refiro alguns factos ali passados.

Localização da área da Papôa, em Peniche

A Papôa é um cachopo em forma de pirâmide triangular, ficando-lhe ao Noroeste (N-O). Outros mais pequenos eriçam a parte Oeste-Noroeste (O-N-O) desta península, tornando perigosa a navegação neste sítio. Ainda em Fevereiro de 1828, havendo uma grande cerração, uma nau inglesa, perdendo o rumo, meteu-se no canal que separa a península das ilhotas das Berlengas, despedaçando-se contra os rochedos, não tendo escapado ninguém.

Foto do modelo do galeão "S. Pedro de Alcantara"
(In blog Cabo Carvoeiro - Memórias)

Em 1786, o galeão castelhano “S. Pedro de Alcantara”, vindo de Lima, capital do Perú, para Cadiz, com um carregamento de 75 milhões de cruzados em moedas de ouro e prata, barras e baixelas do mesmo metal e 470 pessoas, deu contra o morro da Papôa, pelas 11 horas da noite de 2 de Fevereiro, perdendo-se o navio, morrendo afogadas para cima de 300 pessoas e salvando-se apenas da carga uma parte do dinheiro em moedas de prata e ouro.
Os que escaparam mandaram erigir na igreja de S. Pedro, na vila, uma capela dedicada a Nossa Senhora das Dores, com as imagens de Cristo e S. Pedro de Alcantara, de excelente escultura, vindas de Espanha. Estabeleceram também culto perpétuo e missas de requiem pelas almas dos que pereceram no naufrágio.
Ainda hoje, (convém chamar a atenção para as datas das notícias) ocasionalmente, aparecem algumas moedas arrojadas pelo mar à praia.
(In jornal “Comércio do Porto”, terça, 15 de Dezembro de 1903)

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