sexta-feira, 16 de outubro de 2015

História trágico-marítima (CLXVIII)


O naufrágio do vapor “Mira”

Segundo comunicação recebida no ministério da Marinha, o vapor português “Mira”, antigo navio alemão, que se encontra fretado pelo governo inglês, foi abalroado pelo vapor holandês “Arundo” (a), quando seguia viagem de Huelva para Inglaterra.
A colisão deu-se em ocasião de nevoeiro espesso e toda a tripulação do “Mira” foi salva pelo “Arundo”, que desembarcou os 27 tripulantes do navio português no porto de Corcubion.

O sr. ministro da Marinha não recebeu telegrama algum com pormenores do naufrágio do vapor “Mira”, ocorrido no dia 26.
(In jornal “Comércio do Porto”, terça, 28 de Novembro de 1916)

(a) O vapor holandês “Arundo” (1913-1928) era propriedade da companhia Zeevaart Maatschapij sendo operado pela firma W.C. Hudig & J.C. Veder, encontrando-se registado no porto de Roterdão. Tinha 3.196 toneladas de arqueação bruta e 101 metros de comprimento.

Imagem do vapor "Mira" conforme registo fotográfico
Desenho de Luís Filipe Silva

Características do vapor “Mira”
1916-1916
Armador: Transportes Marítimos do Estado, Lisboa
Construtor: J.C. Tecklenborg, Geestemunde, Alemanha, 11.1912
ex “Rolandseck”, D.D.G. Hansa, Bremen, Alemanha, 1912-1916
Arqueação: Tab 1.663,16 tons - Tal 756,78 tons
Dimensões: Pp 83,70 mts - Boca 12,30 mts
Propulsão: Máquina do construtor - 1:Di - 11,5 m/h

Imagem do vapor "Mira"
(In "Ilustração Portuguesa", Nº 565 de 18 de Dezembro de 1916)

Os sobreviventes do “Mira”
Chegaram a Lisboa, vindos de Vigo, os náufragos do navio “Mira”, ex-alemão “Rolandseck”, que a 80 milhas do Cabo Finisterra abalroou há dias com um vapor holandês, afundando-se.
O comandante do “Mira”, sr. Carlos Pinto diz o seguinte:
«O meu navio ia de Huelva para Gladston, com minério. No dia 24 navegava com todas as cautelas, apitando consecutivamente, porque a cerração era densíssima, acusando a derrota do “Mira” apareceu a curta distancia outro vapor, que depois se soube ser o “Arundo”. Ambos manobraram no sentido de evitar o choque, mas a máquina do “Mira” negou-se à marcha à ré. Parou e a colisão deu-se terrível, abrindo o “Mira” enorme rombo por onde a água entrou em cachão. As bombas de bordo não esgotavam a água, pelo que se abandonou o navio».
«O “Arundo” de 1.978 toneladas dirigia-se de Roterdão para Buenos-Aires, e, apesar de muito avariado, parou e não abandonou o local, a 74 milhas da costa, senão depois de recolher todos os náufragos, desembarcando-os em Corcubion, próximo de Vigo».
«Salvaram-se todos os homens, o cão e os coelhos de bordo. Alguns homens salvaram pequenas trouxas de roupa; mas a maioria trouxe apenas a roupa que trazia vestida».
«Três horas depois de abandonado, o “Mira” desapareceu. Depois de todos salvos, voltei a bordo, já quando o navio se afundava, e consegui retirar a palamenta, o cronómetro e o dinheiro».
«O sinistro deve-se ao facto do “Arundo” não apitar, como é da praxe quando há nevoeiro».
Três maquinistas e cinco azeitadores do “Mira” ficaram em Vigo, donde seguem, repatriados, para a Inglaterra.
(In jornal “Comércio do Porto”, terça, 5 de Dezembro de 1916)

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