quarta-feira, 26 de novembro de 2014

Histórias do mar português!


A passageira clandestina

A bordo do “D. Pedro I”, 5 de Novembro de 1932
Não há mulheres a bordo?
Há.
Viaja connosco uma passageira clandestina, de volta a Portugal, seu país de origem.
Vive toda e sempre escondida. Nem a oficialidade, nem o pessoal de bordo, nem os agentes de polícia que nos espiam, nem a escolta que nos... que nos inveja – ninguém notou ainda a sua presença entre nós, na prisão flutuante.
E, no entanto ela está por toda a parte.
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O vapor “D. Pedro I”
1926-1935

Foto do vapor “Wyreema” da Australasian United Steam Ltd.
Imagem do State of Victoria Library, Victoria, Australia

Armador: Lloyd Brasileiro, Rio de Janeiro, Brasil
Construtor: Alexander Stephen & Sons Ltd., Govan, 1908
ex “Wyreema”, Australasian United Steam Navigation, 1908-1926
Arqueação: Tab 6.338 tons - Tal 3.362 tons
Dimensões: Pp 122,02 mts - Boca 16,51 mts - Pontal 9,30 mts
Propulsão: Alex. Stephens - 2:Te - 2x3:Ci - 1.038 Nhp - 14 m/h
dp “Dom Pedro I”, Lloyd Brasileiro, Rio de Janeiro, 1935-1958
O vapor foi demolido no Rio de Janeiro em Agosto de 1958

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E ela divide, a clandestina, por todos nós, o seu carinho santo, com a piedade generosa de uma irmã de caridade. Vai, de cabine em cabine, de mesa em mesa, de pensamento em pensamento. Senta-se no beliche, naturalmente, à cabeceira daquele que a insónia atormenta, e repete o gesto antigo que cobriu, como uma asa, o nosso berço; apoia-se, como uma cruz suavíssima, ao ombro daquele que, sentado num rolo de cordas da popa, finge olhar o crepúsculo enxague; debruça-se sobre o que escreve ou o que lê, e conduz a mão sobre o papel, ou volta as páginas do livro...
Quando ela veio de Portugal, era loira e leve; parecia a “velida” de D. Diniz, a “bem talhada”, a “delgada”, a “muito alongada de gente”, bailando “solo verde ramo florido”...
Mas aqui, nos trópicos americanos, queimou-se de sol e amolentou-se no balanço das redes e das palmas.
E eis, agora, regressa mais lânguida e mais humana à sua pátria...
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Viaja connosco uma passageira clandestina de volta a Portugal, seu país de origem.
Ela é a Saudade.
Almeida, Guilherme de, O Meu Portugal, pp. 17/19, Companhia Editora Nacional, Rua dos Gusmões, 26-30, São Paulo, 1933

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