domingo, 10 de fevereiro de 2013

O Brasil na Iª Grande Guerra


O torpedeamento dos vapores brasileiros “Paraná” e “Tijuca”
1ª Parte

O Brasil desde os tempos coloniais portugueses, aos tempos do Império e da primeira república, foi sempre um país cobiçado pela sua enorme dimensão, pelo papel que teve no acolhimento às emigrações chegadas principalmente dos países europeus e do Japão e simultaneamente fulcral no que respeitava às trocas comerciais com o exterior, sendo que o principal produto disponível para exportação era o café.
É pois fácil entender, que o Brasil e seus governantes não conseguiam competir com os principais países europeus, casos da Inglaterra e Alemanha, mantendo-se por esse motivo com uma balança comercial sistematicamente endividada, em função da exigência de importar a maior parte dos bens de consumo, tais como os minérios e o carvão, produtos quais faziam parte de uma extensa lista de artigos de primeira necessidade.
O governo do país sob a presidência de Venceslau Brás, à data do início do conflito armado, tinha na pessoa do ministro das relações exteriores Lauro Muller, de origem alemã, o seu maior defensor no sentido do Brasil se manter neutral, salvaguardando-se através da Convenção de Haia, desde 4 de Agosto de 1914. Essa tomada de posição iria permitir que a frota mercante alemã abrigada em portos brasileiros ficasse resguardada de eventuais ataques e paralelamente mantinha abertas as estradas marítimas ao transporte do seu precioso café, desde que os navios brasileiros se mantivessem afastados das zonas de bloqueio alemão.
Sendo a Inglaterra o principal importador do café brasileiro e simultaneamente o país privilegiado nas trocas comerciais, certamente não via com bons olhos a política de neutralidade do governo brasileiro, pelo que terão inicialmente sugerido um claro distanciamento do processo em curso, a que se seguiu uma posição de força em 1917, com a proibição das importações de café, sob o pretexto de ser dada uma melhor utilização nos espaços dos porões de carga dos navios, de outros produtos considerados de interesse vital, reveladoras das dificuldades inglesas, provocadas pelas enormes perdas dos seus navios afundados pelos submarinos alemães.
Nem mesmo o facto do vapor brasileiro “Rio Branco”, fretado a interesses ingleses, mas a navegar com tripulação norueguesa, ter sido torpedeado em 3 de Maio de 1916, quando a navegar em águas internacionais, alterou a linha de pensamento oficial, face à aceitação tácita de não corresponder a actividade ilegal por parte dos alemães, não obstou, porém, a que houvesse no país uma forte comoção e repulsa pelo sucedido.
A obrigação de exportar café, com o Brasil a viver tempos de grande austeridade, levou à exigência de colocar os seus navios nas zonas de bloqueio alemães, ao encontro dos submarinos, levando ao torpedeamento dos vapores “Paraná” a 5 de Abril, seguindo-se o afundamento do “Tijuca” a 20 de Maio de 1917, exactamente 9 dias após o Brasil ter cortado relações diplomáticas com o governo Alemão.
Em resultado da violenta reação popular contra os habitantes que compunham a colónia alemã residente no país e seus haveres e que igualmente levou à demissão compulsiva do ministro Lauro Muller, o governo decidiu formalizar a declaração de guerra contra a Alemanha em Outubro de 1917, tendo desde logo confiscado 45 navios mercantes amarrados em portos brasileiros, por forma a compensar a destruição das diversas unidades mercantes afundadas, em resultado dos actos de guerra.
Para terminar devo confessar que me interessei pela história destes dois navios, porque nele estiveram presentes dois oficiais da marinha mercante portuguesa. No caso do vapor “Paraná”, o maior da frota brasileira da época, era comandando pelo sr. José da Silva Peixe, natural de Ílhavo, que sobre o assunto deu uma entrevista aos jornalistas de Lisboa, que será publicada na íntegra na terceira parte deste texto. E da mesma forma devo fazer referência a outro ilhavense, o sr. Júlio António da Silva, que ocupava o posto de Piloto a bordo do vapor “Tijuca”, quando este foi torpedeado por um submarino alemão.

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