quinta-feira, 30 de agosto de 2012

60 anos a salvar vidas no mar


A balsa insuflável
2ª Parte


O que originava os aviadores a flutuar
A balsa salva-vidas auto insuflável teve origem um pouco antes da IIª Grande Guerra Mundial. Terminadas as hostilidades, o Ministério Britânico dos Transportes constatou com amarga ironia, que cerca de 40 mil homens da marinha inglesa, adestrados para o mar, se haviam perdido depois de abandonarem em segurança os navios, enquanto centenas de aviadores norte-americanos abatidos sobre a água sobreviveram. Por exemplo: três aviadores que caíram no Pacifico mantiveram-se a flutuar durante 34 dias numa balsa de borracha, até serem recolhidos.
Para averiguar porque os aviadores sobreviviam e os marinheiros morriam, o Governo Inglês constituiu uma comissão, chegando à seguinte conclusão: «o resultado do êxito em termos de sobrevivência, deve-se à extraordinária eficiência das balsas insufláveis que dispunham». Daí que os fabricantes das balsas salva-vidas alertaram o Governo sobre as possibilidades de dotar também os navios com idêntico equipamento, até porque os proprietários dos navios escandinavos já as utilizavam. Nos primeiros anos da década de 1950, as marinhas de guerra britânica, canadiana e australiana optaram por adotá-las, ainda que com desenho e formas melhoradas. E da mesma forma, o governo inglês passou desde então a recomendar a utilização de modelos semelhantes, também para equipar os navios mercantes.
Na verdade, pôr as balsas em navios não militares foi mais difícil. Os navios de comércio empregues no tráfego internacional funcionavam de acordo com regras nacionais, oriundas das disposições propostas pela Convenção Internacional de Segurança da Vida no Mar – a SOLAS. Este organismo resistiu à mudança dos escaleres por troca com as balsas insufláveis. A Convenção Internacional de 1948 não arredava pé da decisão firmada dezenas de anos antes, quando os insufláveis eram pequenos botes de borracha, que não mereciam confiança e eram um permanente convite à acção de vândalos.
No decénio seguinte as tempestades de inverno continuaram a dizimar anualmente em média 65 vidas só de pescadores ingleses. Então, num dia catastrófico, em 1956, a frota de traineiras britânica perdeu 112 homens no mar. Depois disso, as balsas insufláveis tornaram-se obrigatórias a bordo de todos os navios da pesca de arrasto. O efeito foi fantástico: nos três anos que se seguiram não se perdeu uma única vida.

Testes a baixas e altas temperaturas
As provas continuaram a amontoar-se em favor da balsa salva-vidas de insuflar. O Ministério dos Transportes constatou, num estudo de 42 emergências marítimas, que em quase metade dos casos os escaleres tinham sido inúteis – foram despedaçados ou ninguém conseguira desce-los. Ao mesmo tempo, os insufláveis revelaram-se maravilhosos. Em diversos naufrágios, informou o Ministério, «não houve tempo sequer para vestir os coletes salva-vidas, pelo que os tripulantes foram salvos somente graças à rapidez com que puderam ser lançadas ao mar as respectivas balsas».
Em 1960, a SOLAS reuniu-se outra vez. Nessa conferência de 45 países marítimos, os representantes ingleses pleitearam a adoção obrigatória de balsas insufláveis, como equipamento suplementar para toda a navegação internacional. A SOLAS decretou então, que todos os navios de passageiros fossem equipados com balsas suficientes para um mínimo de 25% da sua capacidade total e os navios cargueiros para 50% - além do complemento regular de escaleres.
As balsas insufláveis apresentaram bons resultados em diversos oceanos e em condições muito diferentes. Uma balsa, totalmente lastrada, ficou amarrada no litoral atlântico norte-americano durante 30 dias em pleno inverno. No fim ainda flutuava, com o toldo empastado de gelo, mas em perfeita condição de navegabilidade. Quatro balsas foram lançadas de 43 metros de altura, de bordo de um helicóptero no Pacífico: todas as quatro se encheram normalmente.
Noutra prova, ao largo da costa do Canadá, 10 voluntários usando coletes salva-vidas saltaram na água, com apenas um grau positivo de temperatura, nadaram para uma balsa e lá ficaram durante cinco dias, aquecidos apenas com o calor do corpo. Uma prova de verão, efectuada ao largo do Panamá, para verificar se a temperatura no interior da balsa era suficientemente fresca, os resultados foram igualmente bons, pois o toldo tem uma parede dupla com um espaço cheio de ar no seu interior, condicionando o isolamento térmico.

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