quarta-feira, 6 de junho de 2012

A vila de Azurara


Factos históricos

Imagem da praia de Azurara, foto do húngaro Zoltan Balogh,
vencedora do concurso "Foto Travel, 2010", promovido pelo
jornal Washington Post, retirada do sítio Surfer Today

3ª parte

Edificada em terreno acidentado e um pouco elevado junto ao rio Ave, na sua margem esquerda, Azurara desfruta uma posição muito aprazível e risonha. O Ave, que lhe beija os muros, Vila do Conde, que se ergue em frente, o oceano, que se dilata a pouca distancia, os viçosos campos que a cercam, e um extenso panorama de prados verdejantes, de arvoredos frondosos, de diferentes povoações a alvejarem entre perenes verdores, oferecem-lhe variadas perspectivas, qual delas a mais formosa.
Pertence Azurara à província do Minho, distrito administrativo e diocese do Porto, comarca e concelho de Vila do Conde. Dista do Porto 25 km para o norte e de Lisboa 335 km para o sul. Na época agora retratada está reduzida a 190 fogos com uns 760 moradores.
Tem uma única paróquia, da invocação de Santa Maria a Nova. É um grande e magnífico templo de arquitectura gótica, de três naves, divididas por esbelta arcaria, sustentada por grossas colunas de pedra. Tem de comprimento uns 50 metros e de largura uns 18. Na abóbada da capela-mor vêem-se esculpidas as armas reais e as esferas armilares, divisas de el-rei D. Manuel, que foi, como se disse, o fundador. Além da capela-mor tem sete altares.
No altar colateral da capela-mor, do lado do Evangelho, está uma imagem de Cristo, denominada «Ecce Homo», que é muito perfeita, e consta fora trazida de Inglaterra, no tempo em que Henrique VIII, tendo abjurado a religião católica, perseguia os seus ministros e mandava destruir as santas imagens.
A igreja da Misericórdia é um bom templo, e está situado na rua do Espírito Santo. Foi fundada no princípio do século XVI. Em 1516 já nela se achava estabelecida a confraria da Misericórdia. Tinha anexado um hospital que administrava. Há na povoação e nas suas cercanias várias ermidas, algumas de formação remota, e concorridas de romagens.
Na praça, que fica junto à rua principal, ergue-se um pelourinho, padrão que comemora a sua proeminência de outrora. Oito fontes e muitos poços abasteceram de água, durante largo tempo, os moradores.
São deliciosos os arrabaldes de Azurara, concorrendo a vizinhança do Ave, a multiplicidade das fontes e o bem cultivado dos campos para a beleza, frescura e amenidade das paisagens. Vê-se nela, a pouca distância de Azurara, o edifício do extinto convento de Nossa Senhora dos Anjos. Foi construído em tempos muito antigos, numa quinta que pertenceu aos templários, para habitação de religiosos de S. Francisco. Depois tomaram conta dela os frades claustrais, que o reedificaram. Em 1518, sendo provincial dos claustrais, adiante extintos, frei João de Chaves, foi cedido por este prelado, a instâncias de D. Jaime IV, duque de Bragança, aos frades capuchos piedosos, da província da Soledade, introduzidos no reino havia poucos anos. Por esta ocasião foi novamente reedificado pelo referido duque. Tinha junto uma bonita cerca, agora propriedade particular. O edifício do convento era pequeno; apenas tinha acomodações para 21 frades.
Era muito formosa a situação em que se achava, gozando-se das suas janelas dilatadas vistas de terras, de rio e de mar.
Os terrenos circunvizinhos são muito férteis, e produzem cereais, especialmente milho, legumes, vinho verde, frutas e linho. Havia neles criação de gado de diferentes espécies, e não eram faltos de caça. O rio e o mar fazem a terra farta de diversidade de peixes. A feira anual decorria a 5 de Agosto.
Pela proximidade que dista de Vila do Conde, desfruta a comunicação do caminho-de-ferro, que liga esta vila à cidade do Porto, e dos carros americanos que percorriam o espaço entre a mesma vila e a de Póvoa de Varzim.
Azurara foi berço de muitos homens, que se ilustraram nas armas, nas letras, no episcopado, no púlpito, no foro e no magistério. Nomearemos dentre estes frei Pedro Nunes da Costa, comendador de Malta; Gomes Eanes de Azurara, guarda-mor da torre do Tombo, autor de várias crónicas, falecido no reinado de D. Afonso V, e o dr. João Carneiro de Morais, chanceler-mor do reino.

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