A história de um dia de azar...
A corveta-couraçada "Vasco da Gama"
Postal ilustrado - minha colecção
Muito honestamente não estava ainda previsto voltar a falar sobre o célebre “Pimpão”, todavia porque neste mesmo dia, em 1488, o grande navegador Vasco da Gama aportava a Calcutá, na Índia, aproveito a oportunidade para relatar mais uma ocorrência, que a imprensa da época relatou pelo caricato do acontecimento, justificando o seu quê de imprevisto.
Referi a propósito detalhes da viagem da corveta couraçada “Vasco da Gama”, desde a sua entrega pelo estaleiro inglês, até à chegada do navio ao rio Tejo. Por lá deveria manter-se amarrada, pois em caso de agressão bélica por eventual potencia estrangeira, o navio estaria posicionado no local certo, para colaborar na protecção e defesa da cidade de Lisboa.
Seria porventura exagerado pensar, que o melhor e mais bem equipado navio de guerra português, ficasse no Tejo eternamente à espera da guerra, pelo que logicamente depois de terminado o período de experiências, cumpriu o objectivo de ser colocado a navegar, tendo por isso mesmo regressado ao mar.
Mas qual infelicidade à primeira passagem pela barra de Lisboa, o navio tocou com o casco em zona rochosa, pelo que logo sofreu avarias, provadas ser de pouca gravidade pelo facto de estar construído com fundo duplo, podendo continuar a navegar até ver chegada a hora das necessárias reparações.
Obviamente o caso foi largamente comentado, tendo sido aberto um rigoroso inquérito às causas do sinistro e à falta de melhor responsável pelo acidente, o distinto estado-maior da Armada decidiu atribuir as culpas ao piloto da barra, que por esse motivo foi suspenso das suas funções e regalias durante vários meses.
Este é portanto o princípio da história, que vai ser complementada com a notícia do jornal, que dá o navio a chegar ao Arsenal de Marinha, onde viria a ser vistoriado e reparado, como segue:
« Já está no dique o couraçado “Vasco da Gama”, para concertar a avaria que sofreu ao sair a barra. A avaria é no talão da pilha da vante, na extensão de 5 metros. A pancada foi tão forte que o ferro, que é de grande espessura torceu e quebrou naquela extensão. Podia ter havido grande prejuízo, porque foi exactamente no sítio em que acaba o segundo fundo do navio.
Agora que o couraçado está no dique é que se vê quão ridícula é a figura de proa, representando o nosso grande navegador. É um boneco mal feito, de uma cor escura e para que o artista não quisesse deixar dúvidas da sua incapacidade, até lhe pôs ao peito a grande cruz da Torre e Espada!
Se isto era inadmissível em Inglaterra, é impossível aceitá-lo em terra portuguesa, situação amplamente agravada por tratar-se duma altura em que o navio tem sido muito visitado por oficiais superiores, da esquadra inglesa fundeada no Tejo. »
(In jornal “Comércio do Porto”, sábado, 3 de Fevereiro de 1877)
Posto isto, lamento não conseguir perceber através da imagem disponível se a figura de proa de Vasco da Gama foi entretanto mantida ou retirada do navio. Mas com figura de proa ou não, como acontecem múltiplas situações que ultrapassam de longe a minha compreensão, realmente neste país tudo pode acontecer…
P.s.- Depois do texto concluído e publicado, saiu nos jornais uma nova notícia referente ao mesmo assunto, que informa da incapacidade do navio poder ser reparado em Lisboa, pelo que se revelou indispensável o regresso do navio a Inglaterra, eventualmente até ao estaleiro da empresa construtora, onde foi reparado.
Em aditamento à noticia anterior confirmou-se a saída da corveta-couraçada "Vasco da Gama" para Londres no dia 25 de Fevereiro, transportando a bordo um grupo de técnicos e operários do Arsenal de Marinha, para assistirem, aprenderem e colaborarem na referida reparação. Na viagem para norte, o navio escalou o porto de Vigo no dia 26, para meter carvão (isto faz-me pensar que já naquela altura o combustível em Espanha era mais barato!), seguindo viagem acto contínuo.
Notícias vindas de Inglaterra a 23 de Março davam o navio como reparado, tendo nessa altura sido transferido de uma doca-seca para uma doca-molhada, onde foi possível conferir da estanquicidade do casco. As melhores previsões apontavam para a chegada a Lisboa, durante os primeiros dias do mês de Abril.
Postal ilustrado - minha colecção
Muito honestamente não estava ainda previsto voltar a falar sobre o célebre “Pimpão”, todavia porque neste mesmo dia, em 1488, o grande navegador Vasco da Gama aportava a Calcutá, na Índia, aproveito a oportunidade para relatar mais uma ocorrência, que a imprensa da época relatou pelo caricato do acontecimento, justificando o seu quê de imprevisto.
Referi a propósito detalhes da viagem da corveta couraçada “Vasco da Gama”, desde a sua entrega pelo estaleiro inglês, até à chegada do navio ao rio Tejo. Por lá deveria manter-se amarrada, pois em caso de agressão bélica por eventual potencia estrangeira, o navio estaria posicionado no local certo, para colaborar na protecção e defesa da cidade de Lisboa.
Seria porventura exagerado pensar, que o melhor e mais bem equipado navio de guerra português, ficasse no Tejo eternamente à espera da guerra, pelo que logicamente depois de terminado o período de experiências, cumpriu o objectivo de ser colocado a navegar, tendo por isso mesmo regressado ao mar.
Mas qual infelicidade à primeira passagem pela barra de Lisboa, o navio tocou com o casco em zona rochosa, pelo que logo sofreu avarias, provadas ser de pouca gravidade pelo facto de estar construído com fundo duplo, podendo continuar a navegar até ver chegada a hora das necessárias reparações.
Obviamente o caso foi largamente comentado, tendo sido aberto um rigoroso inquérito às causas do sinistro e à falta de melhor responsável pelo acidente, o distinto estado-maior da Armada decidiu atribuir as culpas ao piloto da barra, que por esse motivo foi suspenso das suas funções e regalias durante vários meses.
Este é portanto o princípio da história, que vai ser complementada com a notícia do jornal, que dá o navio a chegar ao Arsenal de Marinha, onde viria a ser vistoriado e reparado, como segue:
« Já está no dique o couraçado “Vasco da Gama”, para concertar a avaria que sofreu ao sair a barra. A avaria é no talão da pilha da vante, na extensão de 5 metros. A pancada foi tão forte que o ferro, que é de grande espessura torceu e quebrou naquela extensão. Podia ter havido grande prejuízo, porque foi exactamente no sítio em que acaba o segundo fundo do navio.
Agora que o couraçado está no dique é que se vê quão ridícula é a figura de proa, representando o nosso grande navegador. É um boneco mal feito, de uma cor escura e para que o artista não quisesse deixar dúvidas da sua incapacidade, até lhe pôs ao peito a grande cruz da Torre e Espada!
Se isto era inadmissível em Inglaterra, é impossível aceitá-lo em terra portuguesa, situação amplamente agravada por tratar-se duma altura em que o navio tem sido muito visitado por oficiais superiores, da esquadra inglesa fundeada no Tejo. »
(In jornal “Comércio do Porto”, sábado, 3 de Fevereiro de 1877)
Posto isto, lamento não conseguir perceber através da imagem disponível se a figura de proa de Vasco da Gama foi entretanto mantida ou retirada do navio. Mas com figura de proa ou não, como acontecem múltiplas situações que ultrapassam de longe a minha compreensão, realmente neste país tudo pode acontecer…
P.s.- Depois do texto concluído e publicado, saiu nos jornais uma nova notícia referente ao mesmo assunto, que informa da incapacidade do navio poder ser reparado em Lisboa, pelo que se revelou indispensável o regresso do navio a Inglaterra, eventualmente até ao estaleiro da empresa construtora, onde foi reparado.
Em aditamento à noticia anterior confirmou-se a saída da corveta-couraçada "Vasco da Gama" para Londres no dia 25 de Fevereiro, transportando a bordo um grupo de técnicos e operários do Arsenal de Marinha, para assistirem, aprenderem e colaborarem na referida reparação. Na viagem para norte, o navio escalou o porto de Vigo no dia 26, para meter carvão (isto faz-me pensar que já naquela altura o combustível em Espanha era mais barato!), seguindo viagem acto contínuo.
Notícias vindas de Inglaterra a 23 de Março davam o navio como reparado, tendo nessa altura sido transferido de uma doca-seca para uma doca-molhada, onde foi possível conferir da estanquicidade do casco. As melhores previsões apontavam para a chegada a Lisboa, durante os primeiros dias do mês de Abril.
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