Males de ontem, males de sempre!…
Chegou a barra do Douro a tais condições de navegabilidade, que pode afirmar-se, que é esta, hoje, a questão magna para a praça do Porto.
O porto de Leixões tem assegurada a sua conclusão, pelo modo decidido como o governo dotou as obras e estabeleceu a respectiva administração. Está, pois, permitida a chamada grande navegação, especialmente a dos transatlânticos, para o nosso porto. Resta, apenas, assegurar a chamada pequena navegação, que não pode dispensar-se, porque ela tem uma função especial no comércio marítimo. Essa navegação faz-se principalmente para o rio Douro. Para isso, é indispensável, porém, que a barra do Douro seja praticável e é isso, precisamente, o que não sucede.
Há dias, a barra chegou a não poder permitir a entrada senão de navios de arqueação mínima e, ainda assim, com grave risco. Não tem sido poucos os navios que encalharam, os que bateram nas pedras – tudo isso com grave prejuízo para o comércio da nossa praça. Efectivamente, em face do que se passa, as Companhias de seguros elevam os prémios. As companhias de navegação não se limitam a agravar os fretes: algumas tem chegado a resolver não frequentar o nosso porto, porque não querem estar sujeitas aos prejuízos e transtornos resultantes da perda ou avarias graves das suas embarcações.
Vai, pois, um clamor geral contra as condições desfavoráveis em que está a barra do Douro, em manifesto descrédito para o nosso porto. Esse clamor tem chegado aos poderes públicos. Cabe-lhes, portanto, adoptar providencias enérgicas e imediatas, antes que a situação se agrave, novos desastres se produzam e os prejuízos aumentem.
Estamos profundamente convencidos de que, se se fizer um inquérito rigoroso às condições de navegabilidade da barra do Douro, se chegará a averiguações mais horríveis do que aquelas que podem tirar-se das nossas palavras. O jornal julga cumprir um dever de patriotismo defendendo a causa de que nos ocupamos. Não é, porém, apenas um dever de patriotismo, em atenção aos interesses prejudicados e ao bom nome do país e da praça do Porto. É também um dever de humanidade; porque, enquanto a barra do Douro estiver nas condições em que se encontra, pode considerar-se um sorvedoiro de vidas e de bens.
Perante estas considerações não há que hesitar: as responsabilidades do presente estado de coisas é de um peso incomensurável. Mãos à obra, pois! O Porto saberá ser grato a quem o liberte de uma situação que tanto o vexa, tanto o deprime, tanto o prejudica.
Artigo de opinião sobre as condições da barra do rio Douro, assinados por Bento Carqueja, distinto director e jornalista do jornal o “Comércio do Porto”, em 3 de Fevereiro de 1934.
O texto sendo perfeitamente compreensível pela preocupação de ser conseguida uma notória melhoria nas condições da barra do Douro, tem todo o cabimento por fazer justiça à noticia do dia, recordando um dos piores sinistros no local, como segue:
O porto de Leixões tem assegurada a sua conclusão, pelo modo decidido como o governo dotou as obras e estabeleceu a respectiva administração. Está, pois, permitida a chamada grande navegação, especialmente a dos transatlânticos, para o nosso porto. Resta, apenas, assegurar a chamada pequena navegação, que não pode dispensar-se, porque ela tem uma função especial no comércio marítimo. Essa navegação faz-se principalmente para o rio Douro. Para isso, é indispensável, porém, que a barra do Douro seja praticável e é isso, precisamente, o que não sucede.
Há dias, a barra chegou a não poder permitir a entrada senão de navios de arqueação mínima e, ainda assim, com grave risco. Não tem sido poucos os navios que encalharam, os que bateram nas pedras – tudo isso com grave prejuízo para o comércio da nossa praça. Efectivamente, em face do que se passa, as Companhias de seguros elevam os prémios. As companhias de navegação não se limitam a agravar os fretes: algumas tem chegado a resolver não frequentar o nosso porto, porque não querem estar sujeitas aos prejuízos e transtornos resultantes da perda ou avarias graves das suas embarcações.
Vai, pois, um clamor geral contra as condições desfavoráveis em que está a barra do Douro, em manifesto descrédito para o nosso porto. Esse clamor tem chegado aos poderes públicos. Cabe-lhes, portanto, adoptar providencias enérgicas e imediatas, antes que a situação se agrave, novos desastres se produzam e os prejuízos aumentem.
Estamos profundamente convencidos de que, se se fizer um inquérito rigoroso às condições de navegabilidade da barra do Douro, se chegará a averiguações mais horríveis do que aquelas que podem tirar-se das nossas palavras. O jornal julga cumprir um dever de patriotismo defendendo a causa de que nos ocupamos. Não é, porém, apenas um dever de patriotismo, em atenção aos interesses prejudicados e ao bom nome do país e da praça do Porto. É também um dever de humanidade; porque, enquanto a barra do Douro estiver nas condições em que se encontra, pode considerar-se um sorvedoiro de vidas e de bens.
Perante estas considerações não há que hesitar: as responsabilidades do presente estado de coisas é de um peso incomensurável. Mãos à obra, pois! O Porto saberá ser grato a quem o liberte de uma situação que tanto o vexa, tanto o deprime, tanto o prejudica.
Artigo de opinião sobre as condições da barra do rio Douro, assinados por Bento Carqueja, distinto director e jornalista do jornal o “Comércio do Porto”, em 3 de Fevereiro de 1934.
O texto sendo perfeitamente compreensível pela preocupação de ser conseguida uma notória melhoria nas condições da barra do Douro, tem todo o cabimento por fazer justiça à noticia do dia, recordando um dos piores sinistros no local, como segue:
O naufrágio do vapor alemão “ Deister “
Sufrágios
Sufrágios
Passando amanhã o 5º aniversário do naufrágio do vapor alemão “Deister”, à entrada da barra e em que pereceram 24 tripulantes, além do piloto da barra Jacinto José Pinto, a Corporação dos Pilotos da barra do Douro e porto de Leixões, querendo perpetuar a memória do seu desditoso colega e dos restantes tripulantes, manda rezar amanhã, pelas 9 horas da manhã, na capelinha de Nossa Senhora da Lapa, na Foz do Douro, uma missa, por alma daqueles desventurados. É celebrante o rev. Tomaz da Luz.
A mesma corporação convida as agremiações locais e marítimas e pessoas que desejem assistir a comparecerem a este piedoso acto.
(In jornal “O Comércio do Porto”, de 2 de Fevereiro de 1934)
E ainda…
A mesma corporação convida as agremiações locais e marítimas e pessoas que desejem assistir a comparecerem a este piedoso acto.
(In jornal “O Comércio do Porto”, de 2 de Fevereiro de 1934)
E ainda…
Relembrando
Faz hoje cinco anos que a cidade viveu algumas horas trágicas com a catástrofe do “Deister”, que vitimou o piloto Jacinto José Pinto e 24 tripulantes alemães. A corporação dos pilotos da barra e porto de Leixões em memória do trágico acontecimento manda rezar hoje uma missa na capelinha de Nossa senhora da Lapa, por alma dos náufragos.
Se a recordação desta tragédia é pungente, o facto da necessidade urgente das obras da barra chama-nos ainda mais a atenção visto que o Porto merece uma barra compatível com o grande trafego comercial da segunda cidade do país.
(In jornal “O Comércio do Porto”, de 3 de Fevereiro de 1934)
Acontecimento anual, a evocação da efeméride repetiu-se ainda durante as décadas seguintes:
Se a recordação desta tragédia é pungente, o facto da necessidade urgente das obras da barra chama-nos ainda mais a atenção visto que o Porto merece uma barra compatível com o grande trafego comercial da segunda cidade do país.
(In jornal “O Comércio do Porto”, de 3 de Fevereiro de 1934)
Acontecimento anual, a evocação da efeméride repetiu-se ainda durante as décadas seguintes:
(In jornal “O Comércio do Porto”, de 2 de Fevereiro de 1941)
Até que um dia, não mais se lembraram dos colegas e amigos!
Sempre actual, sempre presente, as palavras de Raul Brandão assumem o retrato da vida rude e cruel, dos que por lá passaram e dos que por lá ficaram. “Os meus mortos estão cada vez mais vivos”, disse... (In “Os pescadores”, Junho de 1921, p.12).
Sempre actual, sempre presente, as palavras de Raul Brandão assumem o retrato da vida rude e cruel, dos que por lá passaram e dos que por lá ficaram. “Os meus mortos estão cada vez mais vivos”, disse... (In “Os pescadores”, Junho de 1921, p.12).
1 comentário:
Esse navio alemão afundou-se no dia em que estava a nascer um tio meu.
Ainda nos anos 70 dse conseguia ver parte dos destroços (Cavernas) desse navio alemão.
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