quarta-feira, 29 de junho de 2011

História trágico-marítima (XV)


A colisão e afundamento do “ Begoña Nº 1 “

Afundamento do vapor hespanhol “ Bigonia “
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Hontem encontrava-se em perigo a sete milhas do Cabo da Roca o vapor hespanhol «Bigonia», em socorro do que tinha ido o rebocador «Walkirien», ao serviço da Mala Real Ingleza.
Quando o «Walkirien» chegou junto do «Bigonia» ainda alli estava o paquete inglez «Avontoron», com o qual chocara o barco hespanhol. Para o «Avontoron» já tinham passado bastantes tripulantes e o «Walkirien», depois de recolher a bordo a tripulação do barco hespanhol rebocou-o até defronte de Cascaes, no intuito de o encalhar. Não se pôde, porém, pôr em pratica este intento, pois que o «Bigonia» se afundou completamente.
O «Bigonia» que tinha 2.298 toneladas e 32 homens de tripulação, procedia de Argel, de onde trazia um carregamento completo de mineral para Brake. O choque com o «Avontoron» deu-se defronte do Cabo da Roca, sendo motivado pelo nevoeiro, começando logo o «Bigonia” a metter agua.
O «Avontoron» tem 1.095 toneladas e 22 tripulantes e procedia de Cardiff, donde trazia um importante carregamento de carvão. O «Avontoron» entrou tambem hoje no Tejo. Estão salvos todos os tripulantes do barco afundado.
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Cópia (sic) da notícia publicada no jornal “O Comércio do Porto”, de 20 de Setembro de 1922.

Depois de algum exercício de pesquisa, para confirmar as características de ambos os navios envolvidos na colisão, concluí tratar-se de:

“ Begoña No. 1”
1920-1922
J.M. de Urquijo & Cia., San Sebastian, Espanha

Construtor: W. Gray & Co., Ltd., West Hartlepool, 02.1899
ex “Craigleith”, Russel Huskie & Co., Inglaterra, 1899-1900
ex “Otoyo”, Garteiz & Mendialdua, Espanha, 1900-1920
Arqueação: Tab 3.460,00 tons - Tal 2.021,00 tons
Dimensões: Pp 100,58 mts – Boca 14,36 mts – Pontal 7,53 mts
Propulsão: Eng. Works, 1898 - 1:Te - 3:Ci - 275 Nhp - 11 m/h
Equipagem: 32 tripulantes
Afundado de acordo com o relato acima transcrito, em 19 de Setembro de 1922.

“ Avontown “
1915-1925
Town Line (London) Ltd.
Harrison, Sons & Co., Londres, Inglaterra

O vapor "Castillo Butron" ex "Avontown" em Leixões
Imagem de autor desconhecido - Col. Francisco Cabral

Construtor: A. Rodger & Co., Port Glasgow, Escócia, 12.1899
ex “Citrine”, William Robertson, Londres, 1899-1915
Arqueação: Tab 1.743,00 tons - Tal 1.095,00 tons
Dimensões: Pp 79,22 mts - Boca 11,40 mts - Pontal 5,15 mts
Propulsão: Muir & Houston, 1899 - 1:Te - 3:Ci - 167 Nhp - 11 m/h
Equipagem: 22 tripulantes
dp “Copeman”, G.A. Harrison, Londres, 1925-1931
dp “Pomaron”, L.W.B. Hitchin, Londres, 1931-1938
dp “Bilbao”, Governo Espanhol, 1938-1939
dp “Castillo Butron”, Governo Espanhol, 1939-1959
dp “Rio Jiloca”, Vasco-Cantabrica, Santander, 1959-1963
Demolido em Santander em Setembro de 1963

Esteve igualmente presente no local da colisão o salvadego “Valkyrien”, que esteve posicionado durante um longo período de tempo nos portos da costa ocidental portuguesa, tendo prestado relevantes serviços de assistência a larga quantidade de navios em perigo. Apresentava os seguintes detalhes:

“ Valkyrien “
1907-1948
A. SemZ. Svitzer’s Bjorg Enterprise, Copenhaga, Dinamarca

O salvadego "Valkyrien" no rio Douro
Imagem de autor desconhecido - Col. Francisco Cabral

Construtor: Akt. Burneister & Wain, Copenhaga, 09.1907
Arqueação: Tab 343,00 tons - Tal 118,00 tons
Dimensões: Pp 46,12 mts - Boca 7,68 mts - Pontal 3,99 mts
Propulsão: Burmeister & Wain, 1907 - 1:Te - 3:Ci - 97 Nhp - 11 m/h
Depois de vendido em 1948 foi adaptado a navio para transporte de carga convencional, tendo ainda navegado com os nomes “Knudshoved” e “Ingela”. Seguiu finalmente para abate a 1 de Agosto de 1974.

2 comentários:

Rui Amaro disse...

Na madrugada de 11/11/1958, o vapor Holandês ORION, da KNSM, de Amesterdão, que procedia do Mediterrâneo, foi protagonista do salvamento do vapor Espanhol CASTILLO BUTRON, que navegava do porto de Safi para o de Gijon com um carregamento completo de fosfatos, que com água aberta fora abandonado pela sua tripulação, devido ao receio de explosão das caldeiras, tendo aquela sido recolhida pelo ORION, que tomando de reboque o vapor abandonado, o conduziu ao porto de Leixões, tendo ambos fundeado nas imediações cerca das 06h00, aguardando prático e autorização de entrada das autoridades marítimo-portuárias.
Pelas 09h00 os dois vapores demandaram aquele porto, tendo o ORION, pelos seus próprios meios, fundeado na Bacia ao Sul, e o CASTILLO BUTRON trazendo alguma tripulação Holandesa, e assistido pelo rebocador VANDOMA, foi fundear ao Norte da Bacia, junto do cais das Gruas na eventualidade de ser necessário vará-lo num pequeno areal, ali próximo, o que não se concretizou, porque com auxilio de moto-bombas, a água depositada a bordo foi escoada e a avaria consolidada.
O ORION que ficou de posse do vapor sinistrado, como salvado de alto-mar, por abandono da respectiva tripulação, cuja regulação viria a ser mais tarde realizada pelo Lloyd’s, saiu ao fim do dia para o porto de Amesterdão, e no que respeita ao CASTILLO BUTRON deixou o porto de Leixões passados três dias de rumo ao porto de Gijon. Resta acrescentar que os capitães de ambos os vapores ratificaram os respectivos protestos de mar na autoridade marítima local.
A foto da colecção de Francisco Cabral mostra o CASTILLO BUTRON após a arribada a Leixões.
Saudações marítimo-entusiásticas
Rui Amaro

Rui Amaro disse...

Adicional á meNsagem anterior.
Na foto vislumbra-se o vapor Holandês ORION fundeado por EB do CASTILLO BUTRON.
Saudações marítimo-entusiásticas
Rui Amaro