segunda-feira, 20 de junho de 2011

História trágico-marítima (XI)


O naufrágio do “ Hammonia “ (3)
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Demos ontem a explicação do sinistro, que parece realmente confirmar-se: a entrada de água no depósito do carvão de estibordo, por não ter sido bem fechado, ou por um golpe de mar ter feito ceder as porcas dos parafusos. Só a 120 milhas a oeste é que o capitão se apercebeu da avaria, mandando regressar o “Hammonia” a toda a velocidade. Infelizmente passadas poucas horas a água invadiu a casa das máquinas, sendo preciso apagar um grupo de caldeiras, o que retardou o salvamento. Podemos reconstituir hoje com mais precisão e novos detalhes a cena apavorante do naufrágio.
Desde as primeiras horas da madrugada alguns passageiros notaram a inclinação do transatlântico sobre estibordo, supondo contudo que era devida ao estado do mar. Só das 6 para as 7 é que todos se levantaram e dirigiram para a coberta, onde os mais animosos procuravam sossegar as mulheres e as crianças. A confusão era grande. O capitão dava ordens enérgicas procurando manter a ordem e a disciplina a todo o custo. Os passageiros que não estavam munidos de cintos de salvação voltaram aos seus camarotes, conforme instruções rigorosas recebidas nesse sentido, voltando depois a reunir-se aos seus companheiros na coberta. Entretanto os S.O.S. cruzavam-se em todas as direcções, pedindo desesperadamente um socorro, que já tardava a chegar.
Naturalmente devido ao grande número de passageiros e com o receio de que o transatlântico se afundasse dentro em pouco, às 10 e meia da manhã arriaram-se os escaleres do “Hammonia”. Desgraçadamente a confusão aumentou com as precipitações da manobra e com os primeiros náufragos que se debatiam nas ondas. Quando se avistou ao longe uma coluna de fumo, engrossando constantemente, e apareceram os mastros e o casco de um vapor que vinha em auxílio do “Hammonia” a toda a velocidade, a coragem e a esperança, que já tinham abandonado quase toda a gente, renasceram naqueles pobres corações. Era o “Kinfauns Castle”.
Logo que chegou à fala com o “Hammonia” recomeçou a faina trágica dos escaleres. O primeiro bateu contra o costado. As pessoas que o ocupavam caíram à água. Uma criança foi arrebatada dos braços de sua mãe. Quatro mulheres conseguiram suster-se, por espaço de 2 horas e meia, agarradas a tábuas que flutuavam, sendo finalmente salvas por um bote, que as recolheu ao “Euclid”. Uma menina e dois homens, ao voltar-se o segundo escaler, agarram-se a uma corda que pendia do costado. Ela esteve assim muito tempo, fazendo um enorme esforço, até que puderam iça-la por meio dum «croque», habilmente manejado. Eles parece que foram arrastados pelas ondas.
Durante 8 horas duma faina extenuante o “Kinfauns Castle” trabalhou no salvamento do “Hammonia”. À 1 da tarde apareceu o “Euclid”, que lutou com o mesmo denodo. Houve um passageiro do transatlântico alemão, o súbdito inglês M. Jubb, que praticou actos da maior valentia e heroicidade, chegando a atirar-se ao mar para salvar uma criança.
(In jornal “O Comércio do Porto”, de 15 de Setembro de 1922).

O naufrágio do “Hammonia”
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Segundo uma nota do capitão Day, comandante do “Kinfauns Castle” o “Hammonia” tinha a bordo aproximadamente 360 passageiros e 197 tripulantes, ao todo umas 557 pessoas. O “Kinfauns Castle” salvou e desembarcou em Southampton 150 homens, 70 mulheres e 40 crianças e 122 homens e 3 mulheres da tripulação. Total 385. O “Euclid” transportou para Vigo 42 tripulantes e 46 passageiros. Total 88. O “Soldier Prince” levou para Gibraltar 40 passageiros e 21 tripulantes, ao todo 61. O “City of Valencia” tomou a bordo 4 homens e 3 mulheres, salvos num escaler do “Kinfauns Castle”. Total 7.
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Por informação da «Hamburg Amerika-Linie» sabe-se que mais alguns passageiros e tripulantes foram recolhidos pelo “Darro”, “Bolway” e “City of Chester”.
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A «Hamburg Amerika-Linie» mandou abonar as seguintes quantias aos náufragos desembarcados em Vigo: 5 libras aos de 3ª classe, 10 libras aos de 2ª e 15 libras aos de 1ª. Os que desejarem seguir viagem podem faze-lo, embarcando no dia 23, no transatlântico holandês “Leerdam”. Os que desejarem rescindir o contrato podem faze-lo recebendo o preço do bilhete por inteiro, desde Vigo, sem desconto algum.
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O “Hammonia”, primitivamente “Hollandia” da Mala Real Holandesa, foi construído nem 1909 por Stephen & Son, de Glasgow e deslocava 7.197 toneladas.
(In jornal “O Comércio do Porto”, de 16 de Setembro de 1922)

Detalhes dos navios que participaram nas operações de salvamento:

“ City of Valencia “
1919 - 1934
City Line Ltd.
W.S. Workman, Glasgow, Escócia

O "City of Valencia" - Imagem Photoship.Uk

Construtor: Reiherstigs Schiffswerft, Hamburgo, 04.1908
ex “Roda”, Deutsche Damp. Kosmos, Hamburgo, 1908-1919
Arqueação: Tab 7.329,00 tons - Tal 4.539,00 tons
Dimensões: Pp 134,85 mts - Boca 16,13 mts - Pontal 9,02 mts
Propulsão: Reiherstigs, 1908 - 2:Te - 6:Ci - 532 Nhp - 11 m/h
Vendido para demolir em Blyth, a 20 de Maio de 1934.

“ Darro “
1912 - 1933
Elder Dempster Lines
Royal Mail Steam Packet Co., Belfast

O "Darro" - Imagem Photoship.Uk

Construtor: Harland & Wolf, Ltd., Belfast, 30.10.1912
Arqueação: Tab 11.484,00 tons - Tal 7.252,00 tons
Dimensões: Pp 152,61 mts - Boca 19,29 mts - Pontal 12,25 mts
Propulsão: Harland & Wolf, 1912 - 2:Qe - 8:Ci - 680 Nhp - 15 m/h
Vendido para demolir em Osaka, Japão, a 28 de Julho de 1933.

(Por associação de possibilidades)
“ Boldway ”
1922 - 1923
Saint Mary Steam Shipping Co., Ltd., Hull, Inglaterra
Cttor.: Furness, Withy & Co. Ltd., Hartlepool, 04.1906
ex “Bessborough”, Hull Steam Shipping, Hull, 1906-1910
ex “Gothic”, W.H. Cockerline & Co., Hull, 1910-1920
ex “Gothic”, Bride Steam Shipping, Hull, 1920-1922
Arqueação: Tab 3.807,00 tons - Tal 2.463,00 tons
Dimensões: Pp 103,63 mts - Boca 14,33 mts - Pontal 6,22 mts
Prop.: Richd., Westgarth, 1906 - 1:Te - 3:Ci - 317 Nhp - 12 m/h
dp “Dimitrius”, S. & C. Daniolos, Andros, 1923-1925
dp “Dimitrius L. Daniolos”, S. & C. Daniolos, 1925-1934
Vendido para demolir em La Spezia, Itália, a 20.07.1934

“ City of Chester “
1910 - 1934
Ellerman Lines Ltd.,
G. Smith & Sons, Ltd., Glasgow

O"City of Chester" - Imagem Photoship.Uk

Construtor: Barclay, Curle & Co. Ltd., Glasgow, 06.1910
Arqueação: Tab 5.413,00 tons - Tal 3.521,00 tons
Dimensões: Pp 125,12 mts - Boca 15,84 mts - Pontal 9,27 mts
Propulsão: Barclay, Curle, 1910 - 1:Te - 3:Ci - 362 Nhp - 11 m/h
Demolido em Dalmuir, Escócia, a 30 de Janeiro de 1932.

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