O naufrágio do vapor " Tiber "
Tem já três ou mais anos, que encontrei um livro publicado em Inglaterra, escrito por alguém cujo nome não recordo, com relatos de tesouros escondidos em destroços de navios, espalhados por vários locais à volta do globo. Entre os diversos casos citados, lembro-me de numa primeira situação, ter encontrado informações relativas à possibilidade de ainda existir uma grande quantidade de barras de ouro, uma considerável quantia em dinheiro e jóias de grande valor, que poderiam estar a ser transportadas nos cofres do paquete “Titanic”. Confesso que devido à minha pouca apetência enquanto pesquisador de naufrágios, não me deixou impressionado, até porque para chegar aos destroços do navio, teria de reunir um pecúlio exageradamente exorbitante, que anularia qualquer hipótese de competir com o famoso explorador americano Dr. Robert Ballard, que com todo o mérito teve a capacidade de se antecipar, mostrando ao mundo imagens históricas do colosso, afundado a impressionante profundidade.
Sem melhores argumentos, decidi optar por uma segunda situação, relacionada com o naufrágio de um outro vapor, também Inglês, que muito embora de menores dimensões, teria nos seus porões um pequeno tesouro, ainda por explorar, com a vantagem de se encontrar no litoral de Vila do Conde. Atraído pela proximidade, decidi-me partir à descoberta do navio, que no tal livro surgia referenciado como tendo sido baptizado “Tiber”.
Não posso negar, que o resultado às primeiras diligências, mostraram resultados decepcionantes. Afinal não era segredo e não existia tesouro nenhum. Consegui inclusive o acesso à correspondência enviada por um grupo de mergulhadores nacionais, a solicitar autorização à Marinha para efectuarem mergulhos nos destroços, que foram obviamente recusados. Mais decepcionante ainda, foi ter tido conhecimento, que mesmo sem autorização oficial, alguém (logicamente não identificado), tinha realizado mergulhos na embarcação, que se encontra naufragada próximo à costa, de lá retirando dois canhões, que à falta de melhor lugar, foram colocados em frente à porta de acesso do Clube Náutico da Póvoa de Varzim. Entretanto, como os tais canhões caíram lá de forma abusiva, soubemos terem já sido retirados, pelo que se espera estejam em poder da autoridade marítima, em local não especificado.
Em função do atrás exposto, conclui-se que não havendo tesouro, pelo menos restava o navio, daí que no meu parecer justificava pelo menos averiguar outros elementos disponíveis, sabendo de antemão da existência de mais canhões a bordo, que mais ninguém ousou descarregar ou dar-lhe desnecessária visibilidade.
Eis portanto o que me foi dado constatar, apresentando inicialmente o resumo histórico do navio, juntando igualmente a narração do naufrágio, assinada por um dos náufragos, que se encontra publicada nos cadernos das Ligações postais com a barra do Porto, como segue:
Sem melhores argumentos, decidi optar por uma segunda situação, relacionada com o naufrágio de um outro vapor, também Inglês, que muito embora de menores dimensões, teria nos seus porões um pequeno tesouro, ainda por explorar, com a vantagem de se encontrar no litoral de Vila do Conde. Atraído pela proximidade, decidi-me partir à descoberta do navio, que no tal livro surgia referenciado como tendo sido baptizado “Tiber”.
Não posso negar, que o resultado às primeiras diligências, mostraram resultados decepcionantes. Afinal não era segredo e não existia tesouro nenhum. Consegui inclusive o acesso à correspondência enviada por um grupo de mergulhadores nacionais, a solicitar autorização à Marinha para efectuarem mergulhos nos destroços, que foram obviamente recusados. Mais decepcionante ainda, foi ter tido conhecimento, que mesmo sem autorização oficial, alguém (logicamente não identificado), tinha realizado mergulhos na embarcação, que se encontra naufragada próximo à costa, de lá retirando dois canhões, que à falta de melhor lugar, foram colocados em frente à porta de acesso do Clube Náutico da Póvoa de Varzim. Entretanto, como os tais canhões caíram lá de forma abusiva, soubemos terem já sido retirados, pelo que se espera estejam em poder da autoridade marítima, em local não especificado.
Em função do atrás exposto, conclui-se que não havendo tesouro, pelo menos restava o navio, daí que no meu parecer justificava pelo menos averiguar outros elementos disponíveis, sabendo de antemão da existência de mais canhões a bordo, que mais ninguém ousou descarregar ou dar-lhe desnecessária visibilidade.
Eis portanto o que me foi dado constatar, apresentando inicialmente o resumo histórico do navio, juntando igualmente a narração do naufrágio, assinada por um dos náufragos, que se encontra publicada nos cadernos das Ligações postais com a barra do Porto, como segue:
O vapor “ Tiber “
1846 – 1847
Peninsular Steam Navigation Co., Ltd.
Londres, Inglaterra
1846 – 1847
Peninsular Steam Navigation Co., Ltd.
Londres, Inglaterra
Desenho do vapor "Tiber"
no livro sobre a história da companhia armadora
no livro sobre a história da companhia armadora
Construtor : Caird & Co., Greenock, Escócia, 10.1846
Arqueação : Tab 764,00 to
Comprimentos : Pp 60,10 mts e boca 8,10 mts
Máquina : Caird & Co., 1846 > 1:Pv > Veloc. 9 m/h
Arqueação : Tab 764,00 to
Comprimentos : Pp 60,10 mts e boca 8,10 mts
Máquina : Caird & Co., 1846 > 1:Pv > Veloc. 9 m/h
Este navio construído em ferro, inicialmente previsto ter sido baptizado “Ceylon”, como se pode verificar pelas datas estaria muito provavelmente a cumprir a sua viagem inaugural, motivo pelo qual não pode ser identificado doutra forma, que não seja através do desenho apresentado, efectuado por mãos de quem supostamente conheceu o trabalho desenvolvido pelos respectivos construtores.
Esteve colocado no serviço postal, entre o Mediterrâneo, norte de África, Espanha e Portugal (Lisboa e Porto), para Inglaterra. Quanto aos canhões referidos previamente, que se encontravam a bordo, foram carregados durante a escala do navio em Gibraltar, porque o tempo e a falta de utilidade justificaram a sua devolução ao país de origem.
Esteve colocado no serviço postal, entre o Mediterrâneo, norte de África, Espanha e Portugal (Lisboa e Porto), para Inglaterra. Quanto aos canhões referidos previamente, que se encontravam a bordo, foram carregados durante a escala do navio em Gibraltar, porque o tempo e a falta de utilidade justificaram a sua devolução ao país de origem.
O naufrágio
No dia 20 de Fevereiro de 1847, às oito horas e meia da manhã, saiu o vapor “Tiber” de Lisboa, navegando com tempo favorável até às três horas da manhã do dia 21. Achando-se então defronte da barra do Porto, pairou fazendo os costumados sinais com tiros de peças, a fim de lhe ser enviada a mala da correspondência de Londres e mais terras do Norte. O nevoeiro e a cerração eram tão densos, que à equipagem não foi possível orientar-se pela terra e, deste modo, assim perderam o verdadeiro rumo, que o vapor devia seguir.
Seria hora e meia da tarde do mesmo dia 21, bateu o navio num rochedo defronte da praia de Vila Chã, meia légua ao Sul de Vila do Conde. Todas as pessoas, que seriam duzentas e trinta, entre tripulação e passageiros, ficaram assustadas com tal sucesso; e muito particularmente quando logo em seguida o navio bateu segunda vez, sem poder continuar a navegar. Então rompeu de todos os lados um alarido geral, misturado com aterradoras exclamações. Alguém lançou logo ao mar alguns escaleres, que imediatamente se encheram de gente; e, ou fosse pela violência das ondas, ou por falta do preciso equipamento, estes escaleres despedaçaram-se logo contra o costado do vapor, salvando-se das muitas pessoas já embarcadas três, que puderam agarrar-se a um cabo estendido do vapor. A tripulação conhecendo a inutilidade do recurso, não lançou ao mar as lanchas que ainda lhe restavam.
Enquanto a tripulação fazia os últimos esforços para salvar as vidas, as ondas passavam por cima da coberta de um a outro bordo, arrastando ao mar tudo quanto não estava bem seguro; - a caldeira e o fogão ameaçaram um incêndio, que foi logo apagado pela água que entrou pelo fundo do navio; - a mastreação desarvorou, matando algumas pessoas na queda. A tripulação completamente desanimada, tocou por final a sineta de bordo, anunciando que já nenhuma esperança podia haver.
Já todos se achavam resignados à sorte que encaravam, achando-se muitos em muda expectativa esperando os últimos momentos e, outros de joelhos com as mãos erguidas pedindo ao céu a salvação das suas almas. Neste momento apareceu ao longe uma lancha de pesca do sitio de Vila Chã e, então em todos raiou a esperança de vida, gritando salvação, salvação! Os pescadores sem muito se aproximarem, reconheceram o estado do vapor, acenando para ele, retirando-se de seguida. A ansiedade foi horrorosa neste momento, pela incerteza de qual seria o procedimento da lancha; porém passado pouco tempo todos lhe tributaram sinceros votos de agradecimento, reconhecendo que trazia para o socorro nove ou dez barcos, os quais se esforçaram por salvar os que ainda se achavam vivos, transportando-os do vapor naufragado ao sítio da praia de Vila Chã.
Julga-se que as pessoas mortas nos diferentes sucessos deste naufrágio seriam trinta a quarenta; as que escaparam não puderam salvar as suas bagagens; e muitos mesmo ficaram apenas vestidos com camisa e ceroulas. Alguns militares, pela diferença de opinião pública, depois de estarem em terra, correram o perigo de ser presos pelas autoridades pertencentes ao Porto.
Texto assinado por um náufrago, com data em Valença, 28 de Fevereiro de 1847.
Seria hora e meia da tarde do mesmo dia 21, bateu o navio num rochedo defronte da praia de Vila Chã, meia légua ao Sul de Vila do Conde. Todas as pessoas, que seriam duzentas e trinta, entre tripulação e passageiros, ficaram assustadas com tal sucesso; e muito particularmente quando logo em seguida o navio bateu segunda vez, sem poder continuar a navegar. Então rompeu de todos os lados um alarido geral, misturado com aterradoras exclamações. Alguém lançou logo ao mar alguns escaleres, que imediatamente se encheram de gente; e, ou fosse pela violência das ondas, ou por falta do preciso equipamento, estes escaleres despedaçaram-se logo contra o costado do vapor, salvando-se das muitas pessoas já embarcadas três, que puderam agarrar-se a um cabo estendido do vapor. A tripulação conhecendo a inutilidade do recurso, não lançou ao mar as lanchas que ainda lhe restavam.
Enquanto a tripulação fazia os últimos esforços para salvar as vidas, as ondas passavam por cima da coberta de um a outro bordo, arrastando ao mar tudo quanto não estava bem seguro; - a caldeira e o fogão ameaçaram um incêndio, que foi logo apagado pela água que entrou pelo fundo do navio; - a mastreação desarvorou, matando algumas pessoas na queda. A tripulação completamente desanimada, tocou por final a sineta de bordo, anunciando que já nenhuma esperança podia haver.
Já todos se achavam resignados à sorte que encaravam, achando-se muitos em muda expectativa esperando os últimos momentos e, outros de joelhos com as mãos erguidas pedindo ao céu a salvação das suas almas. Neste momento apareceu ao longe uma lancha de pesca do sitio de Vila Chã e, então em todos raiou a esperança de vida, gritando salvação, salvação! Os pescadores sem muito se aproximarem, reconheceram o estado do vapor, acenando para ele, retirando-se de seguida. A ansiedade foi horrorosa neste momento, pela incerteza de qual seria o procedimento da lancha; porém passado pouco tempo todos lhe tributaram sinceros votos de agradecimento, reconhecendo que trazia para o socorro nove ou dez barcos, os quais se esforçaram por salvar os que ainda se achavam vivos, transportando-os do vapor naufragado ao sítio da praia de Vila Chã.
Julga-se que as pessoas mortas nos diferentes sucessos deste naufrágio seriam trinta a quarenta; as que escaparam não puderam salvar as suas bagagens; e muitos mesmo ficaram apenas vestidos com camisa e ceroulas. Alguns militares, pela diferença de opinião pública, depois de estarem em terra, correram o perigo de ser presos pelas autoridades pertencentes ao Porto.
Texto assinado por um náufrago, com data em Valença, 28 de Fevereiro de 1847.
(In “Diário do Governo, Nº 55 de 5 de Março de 1847)
P.s.- Neste relato do naufrágio, que se supõe verdadeiro, confirma as datas, a rota e trajectória traçada pelo navio, desde o porto de Lisboa, com a indicação precisa do processo utilizado pelos navios do serviço postal, seguindo com destino a Londres. No entanto, subsiste a dúvida em relação ao facto de ter existido um muito razoável número de vitimas, não consideradas nos canais habituais de consulta.
P.s.- Neste relato do naufrágio, que se supõe verdadeiro, confirma as datas, a rota e trajectória traçada pelo navio, desde o porto de Lisboa, com a indicação precisa do processo utilizado pelos navios do serviço postal, seguindo com destino a Londres. No entanto, subsiste a dúvida em relação ao facto de ter existido um muito razoável número de vitimas, não consideradas nos canais habituais de consulta.
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