sábado, 12 de janeiro de 2019

Memorativo da Armada


O lançamento à água do contra-torpedeiro "Tejo"

O contra-torpedeiro “Tejo”, será lançado à água, na quarta-feira (1)
Na próxima quarta-feira, pelas 15 horas, realiza-se nos estaleiros da Sociedade de Construções Navais, junto da Avenida 24 de Julho, a cerimónia do lançamento à água do grande contra-torpedeiro “Tejo”, que ali foi construído.
Assistirão o chefe do Estado, todo o Governo, corpo diplomático e altos comandos da Armada e Exército, devendo a cerimónia revestir-se de grande solenidade. O “Tejo” vai para o mar já com chaminés e caldeira, o que pela primeira vez se faz entre nós.

Amanhã será lançado à água o contra-torpedeiro “Tejo” (2)
O Sr. ministro da Marinha teve hoje uma demorada conferência com o engenheiro Yarrow, representante da casa construtora inglesa, acerca da construção dos contra-torpedeiros para a nossa marinha de guerra.
Esse engenheiro fazia-se acompanhar do representante da mesma casa em Lisboa, Sr. Pinto Basto, que veio directamente para assistir amanhã ao lançamento ao mar do contra-torpedeiro “Tejo”.
Para essa cerimónia a Sociedade de Construções e Reparações Navais distribuiu cerca de 2.000 convites.

Imagem do contra-torpedeiro "Tejo" em Leixões
Foto da minha colecção

Características do N.R.P. F335 “Tejo”
1935 - 1965
Propriedade da Marinha de Guerra Portuguesa
Construtor: Sociedade de Construções Navais, Lisboa, 1935
Data de lançamento: 1935 - Material do casco: Aço
Deslocamento máximo: 1.588,45 tons
Dimensões: Pp 93,58 mts - Boca 10,00 mts
Autonomia: 4.800 milhas à velocidade de 15 nós
Propulsão: 2 motores turbinas a vapor - 36 m/h

Foi hoje lançado à água o contra-torpedeiro “Tejo”, tendo assistido
à cerimónia o presidente do ministério e membros do Governo (3)
Teve grande imponência a cerimónia que hoje se realizou nos estaleiros da Sociedade de Construções Navais, para o lançamento à água do contra-torpedeiro “Tejo”, ali construído em 11 meses, por operários nacionais, sob a direcção técnica do engenheiro Sr. Maurice Tabar.
O acontecimento despertou grande interesse na população.
Muito antes das 15 horas, era já numerosa a afluência de povo nas proximidades dos estaleiros, nos cais e a bordo dos paquetes e outros barcos surtos no Tejo, uns atracados e outros a pairar ao largo.
Os convidados para o recinto das carreiras, cerca de 5.000, começaram a chegar pelas 14 horas, sendo grande o número de senhoras.
Cá fora, os cachos humanos, nos mastros dos navios, nos guindastes e nos telhados dos armazéns, engrossavam a cada momento.
Meia hora depois, calculava-se em 15.000 o número de pessoas que na parte exterior dos estaleiros se preparavam para assistir à cerimónia.
Os convidados oficiais chegavam a pouco e pouco, sendo recebidos pelos engenheiros francês Sr. Tabar e inglês Sr. Yarrow.
Uma companhia de Marinha, de baioneta armada, com bandeira, terno de clarins e banda de música, alinha junto à carreira, por bombordo do novo navio de guerra.
Um enxame de fotógrafos e de operadores cinematográficos povoam o local. Os camiões de sonorização da Tobis tomam lugar especial para a realização do primeiro filme sonoro português de actualidades. Entretanto, o público continua a chegar em massa e, pouco antes das 15 horas, enche quase por completo todo o recinto.
O contra-torpedeiro “Douro”, em construção ao lado do “Tejo”, está apinhado de operários e marinheiros.
Há bandeiras e galhardetes de todas as cores, nos estaleiros.
O “Tejo” está embandeirado em arco e pintado de cinzento claro. No convés estão apenas dois operadores cinematográficos e duas dezenas de operários. O movimento aumenta a cada instante.

A chegada da oficialidade superior da Armada
e do Exército, diplomatas e convidados oficiais
Chegam os srs. almirantes Magalhães Correia, autor e iniciador da execução do programa naval; António da Câmara, intendente do Arsenal; Hugo de Lacerda Sarmento Saavedra, comandante geral da Armada e Augusto Osório; os generais Amílcar Pinto, administrador geral do Exército; Daniel de Sousa e Alexandre Malheiro, comandante da Guarda Fiscal.
Outros nomes ao acaso entre tantos: Coronel Lobato Guerra, sub-chefe do Estado Maior do Exército; capitão de mar-e-guerra Francisco de Sequeira, director das Construções Navais; capitão de fragata Sousa Mendes, sub-director dos mesmos serviços; comandantes Pereira da Silva, antigo ministro da Marinha; Fernando Branco, antigo ministro dos Negócios Estrangeiros; Azevedo Franco, Sales Henriques e Fortes Rebelo; José Maria Alvarez, tenente-coronel Linhares de Lima e major Barreto, pela Câmara Municipal; governador-geral de Angola, coronel Eduardo Viana; coronel Lopes Mateus, oficiais se todos os navios da esquadra e serviços terrestres em número superior a uma centena, comandantes das unidades da guarnição e muitos elementos da classe civil. Chegam depois o Sr. ministro da França e o Sr. Galop, representando o embaixador inglês.
Entretanto, na carreira, donde o “Tejo” vai sair, ultimam-se os preparativos para o lançamento. Dez aviões militares e navais voam a pouca altura, em curiosas evoluções. A tribuna da imprensa está cheia.
Cerca das 15 horas, chegaram aos estaleiros os srs. ministros da Guerra, do Interior, do Comércio e o Sr. sub-secretário das Finanças. Foram recebidos pelos engenheiros directores e ficaram junto ao portão principal aguardando a chegada do Sr. dr. Oliveira Salazar.

A chegada do chefe do Governo
Às 15 horas em ponto apeou-se do seu automóvel o chefe do Governo. Vinha de frack e chapéu alto. Após rápidos cumprimentos o presidente do conselho, seguido pelos ministros presentes, atravessou os estaleiros, por entre as grandes oficinas, dirigindo-se para a tribuna armada junto à proa do “Tejo”.
Em outras tribunas elevadas no extremo de um dos cais, tomaram lugar os srs. generais e almirantes, o ministro da França, comandantes de unidades e muitas senhoras.
À chegada do Sr. dr. Oliveira Salazar junto ao novo navio de guerra, produziu-se uma manifestação, ouvindo-se vivas à Pátria, à República, ao chefe do Governo e à Marinha.
Na carreira, o mestre do lançamento, o velho operário José Saraiva, coadjuvado por duas dezenas de camaradas, vai ordenando o retirar das escoras, umas após outras.
A multidão compacta oferece agora um espectáculo grandioso. Há gente por toda a parte, em pequenos e grandes grupos. As senhoras são numerosas e emprestam ao cenário um interessante colorido.
Chegam ainda à tribuna, os ministros da Marinha, das Colónias, das Obras Públicas e da Justiça. Está tudo a postos para o lançamento.

O lançamento do “Tejo” à água
São 15 horas e 14 minutos e o rio está na praia-mar. Os aviões baixam e descrevem curvas caprichosas.
A multidão está suspensa do grande espectáculo. Às 15 horas e 15 minutos o engenheiro Sr. Tabar anuncia que é o momento.
Duas bombas hidráulicas obrigam ao deslocamento do navio e ao mesmo tempo o Sr. dr. Oliveira Salazar, coloca a mão na proa do “Tejo” e simula empurrá-lo dizendo apenas: - Vai, em nome da Nação.
O grande contra-torpedeiro, vagarosamente, começa a deslizar pela carreira. A guarda de honra apresenta armas. Ouvem-se os acordes da Portuguesa. As sereias do rio silvam num coro ensurdecedor. De todos os lados soam vivas entusiásticos à Pátria, à República, ao Sr. dr. Oliveira Salazar e à Marinha de Guerra.
Os aviões, agora em número de doze, baixam mais ainda. E o “Tejo” imponente, entra nas águas do rio. É uma verdadeira apoteose. Vinte mil pessoas aclamam delirantemente a Armada que ressurge.
Não se extinguiram ainda os últimos vivas e o Sr. dr. Oliveira Salazar felicita o engenheiro Tabar. Desce da tribuna para passar revista à guarda de honra ao som da «Maria da Fonte», e abandona os estaleiros, acompanhado pelos membros do Governo, produzindo-se à sua saída uma nova manifestação.
Às restantes entidades foi, depois, oferecido, nos escritórios da Empresa, um copo de água, não havendo discursos.
O “Tejo” vai atracar à muralha para ser concluído e entregue à Armada, antes do fim do ano.

- - - - - -
Depois da cerimónia do lançamento do “Tejo”, os Srs. presidente do Ministério e ministro das Colónias tiveram uma demorada conferência no gabinete do Sr. ministro das Finanças.
- - - - - -
Telegrama do chefe do governo ao Sr. presidente da República O Sr. presidente do Conselho dirigiu hoje o seguinte telegrama ao chefe do Estado, que está no Buçaco: «Acaba de ser lançado à água o contra-torpedeiro “Tejo” entre aclamações de enorme multidão. Por este motivo saúdo V.Exª., em nome do Governo, que preside como prestigioso chefe da Nação ao ressurgimento nacional».

Notícias publicadas no jornal “Comércio do Porto”, em:
(1) sexta-feira, 3 de Maio; (2) sábado, 4 de Maio; (3) Domingo, 5 de Maio de 1935

Sem comentários: